Jaeger-LeCoultre Duomètre: uma tríade que afinal é bicéfala

EdT41 — A Jaeger-LeCoultre baseou-se num conceito mecânico denominado Dual-Wing para desenvolver a sua prestigiada linha Duomètre — que já está declinada numa troika de grande prestígio: o Duomètre à Chronographe, o Duomètre à Quantième Lunaire e o Duomètre Sphérotourbillon.

EdT41 | Jaeger-LeCoultre | Duomètre

Na mitologia greco-romana da antiguidade clássica existia um cão selvagem denominado Cérbero que defendia as portas do inferno e que se caracterizava pelas suas três cabeças. Com o conceito Dual-Wing, a Jaeger-LeCoultre defende a sua reputação de mítica manufatura relojoeira e captura o imaginário dos aficionados com um sistema mecânico assente em dois cérebros que é tão evoluído que deu origem a uma linha autónoma denominada Duomètre – composta por três modelos desde a sua estreia com pompa e circunstância, em 2007.

A linha começou com o Duomètre à Chronographe e, no espaço de cinco anos, foi enriquecida com o Duomètre à Quantième Lunaire e o Duomètre Sphérotourbillon. Cada elemento da tríade apresenta uma apurada estética que exalta os valores da relojoaria clássica tradicional através de uma expressão estilística original e todos destacam no mostrador a bicefalia que está por trás do nome Duomètre, mas o revolucionário conceito Dual-Wing desenvolve-se de maneira diferente de modelo para modelo. O princípio de dois mecanismos e correspondentes fontes de energia reunidos num mesmo relógio é o mesmo; no entanto, as funções e a funcionalidade são distintas. E todos os três são tão cobiçados que existem listas de espera para cada um deles.

Duomètre à Chronographe
Duomètre à Chronographe © Espiral do Tempo / Nuno Correia

Novo paradigma
A complexidade de execução e a intensa procura fazem com que os Duomètre entrem no mercado a conta-gotas e sejam entregues com parcimónia, mas vale a pena esperar por qualquer exemplar da nobre linhagem instaurada pela Jaeger-LeCoultre: o presidente da manufatura de Le Sentier, Jérôme Lambert, afirma convictamente que a nova linha de alta-relojoaria da sua marca estabelece mesmo um novo paradigma relativamente a relógios dotados de complicações.
O conceito de dois mecanismos com um órgão regulador comum já tinha sido abordado no passado por várias casas relojoeiras (a inspiração até vem de um cronómetro de 1880), mas nunca foi concretizado da maneira ideal; Christian Laurent, o mestre-relojoeiro que lidera o atelier dedicado à família Duomètre, aprecia particularmente a metáfora da bicefalia: «Cada modelo é um relógio com dois cérebros; o sistema Dual-Wing consiste em dois mecanismos distintos reunidos numa mesma caixa de relógio e o conceito assenta sobretudo numa força constante dedicada à precisão que não só dá ao relógio a exatidão de um cronómetro como também a possibilidade de se adicionarem complicações que não incidem perniciosamente sobre a precisão».

Jaeger-LeCoultre Duomètre
© Espiral do Tempo / Nuno Correia

O aspeto estético também se reveste de extrema importância, tendo em conta o patamar de qualidade e o metal precioso em que são concebidos: ouro amarelo, ouro rosa ou ouro branco. A caixa redonda é clássica e a superfície polida com alternâncias acetinadas. O mostrador apresenta sempre a dualidade característica da linha e é embelezado com um tratamento granulado; os mecanismos podem ser apreciados através do fundo transparente e surgem arquiteturalmente divididos. As pontes são confecionadas em maillechort para fazer recordar a arte decorativa dos relógios de bolso; rodas, pinhões e parafusos também são devidamente ornamentados, saltando imediatamente à vista os dois tambores de corda, além do apurado nível de acabamento.

Jaeger-LeCoultre Duomètre
Duomètre à Chronographe © Jaeger-LeCoultre

Duomètre à Chronographe
O modelo inaugural não deixou ninguém indiferente porque se tratou da estreia de uma nova abordagem técnica num relógio clássico com a mais desportiva das complicações — o cronógrafo, para mais acompanhado do sempre espetacular ponteiro fulminante. O Duomètre à Chronographe assenta no Calibre JLC 380 com dois trens de rodagem: um dedicado à precisão das horas e dos minutos; o outro dedicado à função cronográfica, que apresenta a particularidade de medir parcelas de tempo até ao 1/6 de segundo.

O sistema Dual-Wing impede que o consumo de energia por parte do cronógrafo ‘canibalize’ a energia necessária para o relógio (horas, minutos), permitindo-lhe manter a elevada precisão de um cronómetro. O Calibre JLC 380 é o primeiro a não ter um sistema de embraiagem para dar as informações da medida do tempo e é alimentado por corda manual através de uma única coroa: num sentido, alimenta-se o relógio; no outro, o cronógrafo — e ambos com uma reserva de marcha de 50 horas, com os correspondentes indicadores no mostrador. Outra das suas principais especificidades é a roda de escape com duas rodas em planos sobrepostos; um que serve para regular o escape do relógio, outro para regular o cronógrafo quando está em posição de marcha.

Jaeger-LeCoultre  Duomètre
Duomètre à Quantième Lunaire © Jaeger-LeCoultre

Duomètre à Quantième Lunaire
O Duomètre à Quantième Lunaire foi desvelado em 2010 e declina-se em dois tamanhos: o primeiro é ligeiramente maior (42 mm de diâmetro, como os restantes modelos Duomètre) e apresenta o mostrador recortado de modo a deixar entrever parte da mecânica e dos indicadores de reserva de corda num plano inferior; o segundo é um pouco menor (40,5 mm), não conta com nenhuma abertura e tem os indicadores de reserva de marcha à superfície. Também existe uma versão de 42 mm em ouro branco e com mostrador preto.

O destaque vai para o ciclo lunar no submostrador esquerdo: um duplo ponteiro indica respetivamente a idade da Lua e a fase da Lua no hemisfério sul. Para que a duração do ciclo lunar seja transmitida fielmente, o mecanismo apresenta uma roda em estrela com 59 dentes que realiza o ciclo em 29,5 dias; como a indicação das fases da Lua apresenta uma diferença de somente 44 minutos e 2,8 segundos por mês, num total de um dia completo ao cabo de três anos, o acerto faz-se facilmente através do corretor que surge inserido na caixa. Mas por mais fascinante que seja a Lua e por mais hipnótica que seja a velocidade do ponteiro fulminante, é precisamente na parte mecânica semiescondida — mas passível de ser apreciada através de um fundo transparente — que reside o grande trunfo: o Calibre JLC 381 de 369 peças, que tem a particularidade de apresentar uma primeira rodagem unicamente dedicada à precisão, enquanto o segundo sistema de rodagens, que no Duomètre à Chronographe estava somente associado ao cronógrafo, é afeto às horas, aos minutos, aos segundos e ainda ao calendário e às fases lunares no hemisfério norte e no hemisfério sul.

Contrariamente a um relógio tradicional que para os segundos durante o acerto, o Duomètre à Quantième Lunaire permite acertar o relógio sem parar o balanço e basta puxar a coroa para que o ponteiro dos segundos e o ponteiro suplementar foudroyante (1/6 de segundo) volte ao zero para um acerto mais preciso.

Jaeger-LeCoultre  Duomètre
Duomètre à Sphérotourbillon © Jaeger-LeCoultre

Duomètre à Sphérotourbillon
O mais recente elemento da linhagem é o Sphérotourbillon, que se tornou instantaneamente num dos relógios mais relevantes de 2012 e se vangloria de ser o primeiro turbilhão com acerto ao segundo, graças a um mecanismo flyback com re-start instantâneo. Coloca em evidência um novo tipo de turbilhão que rompe com a tradição devido ao facto de não efetuar uma rotação sobre si ao cabo de um minuto: uma observação mais atenta constatará que se trata de um turbilhão de eixo duplo em que a gaiola principal em titânio ultraleve, inclinada a 20 graus e montada sobre um rolamento de esferas de cerâmica, dá uma volta em 30 segundos enquanto o núcleo efetua uma revolução em 15 segundos. A combinação dos dois movimentos resulta numa rotação completa de 30 segundos e compensa os efeitos da gravidade em todas as posições, enquanto um turbilhão tradicional apenas compensa na posição vertical. A espiral cilíndrica evoca as que se encontravam em cronómetros de marinha do século XVIII e reforça a tridimensionalidade do conjunto.

EdT41 | Jaeger-LeCoultre | Duomètre
© Espiral do Tempo / Nuno Correia

O fascinante bailado mecânico do turbilhão volante, com o seu ângulo peculiar e original modo de rotação, domina o lado esquerdo do mostrador — enquanto a elegante parte direita é dedicada não só à leitura do tempo essencial num submostrador com uma disposição circular da data no perímetro, mas também a pequenos segundos com sistema zero-reset num submostrador à parte (e controlado por um botão às duas horas que permite o acerto sem que o turbilhão pare de trabalhar), segundo fuso num submostrador de 24 horas e ainda ponteiros separados para a indicação da reserva de corda de 45 horas dos dois tambores independentes (para o órgão regulador e para as funções). No total, o Duomètre Sphérotourbillon é composto por 460 peças e engloba a esmagadora maioria dos mesteres executados na Jaeger-LeCoultre. Os acabamentos polidos e acetinados da caixa em ouro rosa (existe uma edição limitada em platina) de 42 milímetros de diâmetro para 14,1 de espessura são excecionais, tal como a minuciosa decoração do Calibre 382 é fabulosa e pode ser admirada através do fundo transparente em vidro de safira.

Jaeger-LeCoultre  Duomètre
Janek Deleskiewicz, Diretor artístico e de design da Jaeger-LeCoultre © Espiral do Tempo / Nuno Correia

Direitos sucessórios
Uma estética descentrada inconfundível mas clássica com a assinatura de Janek Deleskiewicz, prestação relojoeira do mais alto nível mas de irrepreensível elegância: na linha Duomètre, a técnica está diretamente ligada à estética através da reinterpretação dos códigos e das complicações tradicionais. O que se segue? Calendários perpétuos, equações do tempo, repetições de minuto? E convém não esquecer que o fabuloso e ultraexclusivo Hybris Mechanica à Grande Sonnerie — que reúne um carrilhão Westminster, turbilhão volante e calendário perpétuo — já apresenta um pendor estético muito inspirado no conceito Duomètre.
Aguarda-se então pela próxima dualidade de tão nobre e elegante linhagem. O certo é que continuará a apresentar funções e complicações tradicionais com uma precisão reforçada numa roupagem inédita na alta-relojoaria… mas sempre elegante.  ET_simb

Galeria de imagens:

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