EdT56 — No dia 9 de setembro, Tim Cook, CEO da Apple, iniciou a apresentação que fez do novo Apple Watch com um diagrama intitulado «2015 Worldwide Watch Sales». Nesta tabela, a Apple afirmava ser o segundo maior vendedor de relógios, logo a seguir ao gigante Rolex.
Editorial publicado no número 56 da Espiral do Tempo (edição de outono 2016)
Por muito que a relojoaria tradicional mecânica queira ignorar o fenómeno do Apple Watch e, de uma forma mais abrangente, o crescente interesse pelos relógios conectados, a onda de choque deste anúncio atravessou tudo, desde os profissionais, às marcas, aos fornecedores e aos jornalistas. O nosso colega Brice Goulard, editor executivo da Monochrome, uma excelente publicação on-line dedicada à relojoaria, chegou mesmo a escrever um editorial muito emotivo, onde professava a sua fé incondicional na relojoaria mecânica e onde pedia aos fabricantes para não caírem na tentação de produzir relógios conectados. Outros, como o editor do site Business Montres, Grégory Pons, profetizaram um futuro bastante negro para a relojoaria tradicional, que, para sobreviver, tinha de mudar profundamente os seus métodos. Mas há mais pontos de vista: a propósito deste tema, e precisamente nesta edição, convidamos, por exemplo, à leitura da crónica do nosso editor técnico, Miguel Seabra
Parafraseando Heráclito de Éfeso, certo é que «a mudança é a única constante na vida». A relojoaria mecânica não pode continuar a enfiar a cabeça na areia e fingir que tudo vai continuar igual nos próximos anos. Porque não vai. Se analisarmos o sucesso dos relógios conectados e, em específico, da Apple, encontramos o design e a ergonomia como os principais fatores no processo de decisão. As novas funcionalidades propostas no Apple Watch Series 2 (GPS, estanqueidade…) só vêm tranquilizar os clientes que já tinham escolhido o objeto. Em suma, o futuro da relojoaria tradicional passa também por considerar o relógio um objeto de design. Com a sua tradição e os seus artesãos, é certo. Mas, principalmente, como um objeto, à semelhança dos acessórios que tornam o nosso quotidiano mais belo: o novo quebra-nozes The Strongman, produzido pelos italianos da Alessi e pensado pelo designer holandês Marcel Wanders (e, de uma forma geral, a espantosa coleção dedicada aos arts de la table, inspirada no mundo do circo), reflete perfeitamente a transformação de uma empresa tradicional, apostando nas parcerias com os mais famosos designers do Planeta. O resultado é ímpar.
Sintomático desta realidade foi o facto de nós, na redação da Espiral do Tempo, termos apresentado, no nosso site, uma análise ao excelente Casio G-Shock MT-G1000D, ao mesmo que apostamos, nesta edição, num extenso artigo sobre o Montblanc Villeret Tourbillon Cylindrique Geosphères Vasco da Gama… Dois mundos aparentemente distintos (nem que seja pelos respetivos valores comercias), mas que chamaram a atenção da equipa também pelo seu design fora do comum… enquanto esperamos por uma análise aprofundada do novo Apple. Sem preconceito, nem julgamento de valor, porque «a bela relojoaria é eterna».
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