Este ano a Montblanc celebra 110 anos e calhou ser num dia anormalmente quente que estivemos com o seu responsável internacional, Olivier Laurian, e ‘tirámos a temperatura’ à marca que é alemã mas cujo coração relojoeiro é bem suíço.
Director International Business Development: este é um novo cargo na estrutura da Montblanc. Qual é o seu âmbito e o que se pretendeu ao criá-lo?
Há três anos o novo CEO, que veio de uma outra Maison do grupo, trouxe com ele algumas pessoas para a Montblanc. Foi o meu caso, que também vim da Jaeger-LeCoultre e antes da A. Lange & Söhne. Quando começámos na Montblanc reparámos que não havia uma organização internacional de vendas a sério e então criámos um departamento de vendas internacional que definisse a direção do desenvolvimento do negócio, qualquer que fosse o produto e qualquer que fosse o território. De facto, reformámos a organização e criámos uma posição.
E essa posição pressupõe o quê?
A ideia era criar melhores sinergias e integrar uma organização que era muito diferente da organização do grupo Richemont. Por exemplo, nos EUA, o nosso maior mercado, a Richemont está baseada em Nova Iorque enquanto que a Montblanc estava sediada em Nova Jersey. Estávamos isolados do resto do grupo e estávamos um bocado longe da realidade. É em Londres ou em Nova Iorque que as coisas acontecem e nós queríamos estar mais perto dos nossos parceiros, dos nossos clientes, dos retalhistas, da imprensa. Na América Central e do Sul trabalhamos com parceiros, exceto no Brasil e no México. O resto são países que eram geridos a partir de Hamburgo — alemães a gerir a Colômbia, o Perú, Chile, etc. A Arábia Saudita também era gerida a partir de Hamburgo e éramos a única empresa do grupo a fazê-lo. Neste caso, criámos uma plataforma no Dubai que gere o Médio Oriente, África e Índia e no caso americano criámos uma em Miami para gerir a América do Sul e Central. Criámos mais proximidade, melhores relações, não temos a diferença cultural, nem a diferença de fuso horário, coisas que são importantes nos negócios de hoje, sobretudo nestes países onde a relação humana é especialmente importante. Fazer as coisas pelo telefone com visitas muito de vez em quando não nos pareceu a melhor maneira de gerir. Tivemos que remodelar, reorganizámo-nos, mudámos de posição, de Hamburgo para o mercado, reforçando essa posição para estar mais perto dos nossos clientes.
E quais são os desafios a que se propuseram para celebrar os 110 anos da marca?
Há muitas coisas excitantes a sair este ano. As equipas trabalham durante muitos meses nas coleções, por vezes anos, e isto é como preparar uma festa. Não sabemos se as pessoas vão gostar, mas nós estamos muito empenhados na sua preparação e em que as pessoas se divirtam. Com os 110 anos queremos prestar tributo e perseguir o espírito pioneiro dos fundadores da Montblanc e a sua demanda pelo desempenho e pela excelência. Criámos uma coleção para celebrar os 110 anos que é uma coleção multiprodutos que abrange várias linhas, de relógios, de pele, de canetas e de joalharia. A linha Rouge et Noire, que nasceu na Montblanc inspirada no romance de Stendhall com o mesmo nome, replica o primeiro clip (grampo usado para prender a caneta) usado numa caneta Montblanc, a serpente. É uma inspiração Arte Nova sendo a cobra um símbolo de desejo, de tentação, de renascimento, de vida. O traço vermelho que estamos a usar nesta coleção de pele pretende transmitir a vida e a criatividade da Montblanc.
A serpente também é um símbolo de pecado…
(Risos) Sim. Há uma certa ambiguidade, o que é bom, jogar com todos esses símbolos pareceu-nos interessante.
No que diz respeito aos relógios, como é que a Montblanc sente o momento e quais os desafios que a indústria enfrenta?
Na nossa coleção de relógios as maiores mudanças deram-se nos últimos três anos. Criámos várias coleções, instituímos os seus fundamentos e refocámos-nos na política de preços. No segmento dos relógios somos um challenger, não somos líderes; a nossa filosofia é partilhar a paixão pela bela relojoaria. Antes estávamos no intervalo entre os 8000 e os 10.000 euros, agora estabelecemos preços entre os 2000 e os 5000 euros — que já é muito dinheiro. O mercado global hoje é desafiante por causa do que se passa na China e em Hong Kong com as questões dos impostos, pelo que acreditamos que a nova política de preços é um bom posicionamento. Quando se é um challenger podemo-nos permitir certas coisas e nós estamos a desenvolver a nossa distribuição, a estabelecer novos parceiros, a atrair clientes locais. Em Portugal, em Espanha ou em França um relógio de 3000 euros é caro e acho que muitas das marcas deixaram estas áreas nos últimos anos e aumentaram drasticamente os preços. Nós acreditamos que cada vez mais os clientes querem algo pelo seu dinheiro, querem a realidade em troca do seu dinheiro, querem trocar valor pelo seu dinheiro. Nem é tanto uma questão de preço, é o que se consegue com esse preço. A noção com que ficamos das conversas com os nossos clientes e retalhistas é que os preços Montblanc são justos e combinam valor com inovação, habilidade, competência relojoeira e a legitimidade no mundo relojoeiro graças a Villeret. No mundo dos relógios a Montblanc está a conquistar o seu espaço e esta combinação de diferentes fatores torna-se atrativa num mundo que está a mudar.
Mas o que fazem em Villeret não pode ser assim tão acessível.
Adaptámos a organização entre Le Locle e Villeret. Estavam completamente separadas e nós não as fundimos, mas colocámos uma pessoa a tomar conta de ambas as manufaturas para criar sinergias entre as duas de forma a que uma beneficie com a experiência da outra. Os relógios saídos de Villeret continuarão no pico das nossas coleções e nas altas complicações continuamos com o mote de ‘um relógio, um relojoeiro, um ano’. Trazendo o savoir-faire e a experiência artesanal de Villeret, desafiando os relojoeiros de ambas as equipas, não competindo mas caminhando juntos, inevitavelmente sobe-se o nível e ambas as estruturas ganham.
A linha Vasco da Gama é para perdurar?
Lançámos a linha Vasco da Gama no ano passado, num evento específico no lançamento da coleção Heritage Chronometrie. Per se, a linha Vasco da Gama é uma edição limitada em que um dos símbolos dessa coleção era a representação da fase da lua com o cruzeiro do sul, que rapidamente se tornou muito identificável como um produto Montblanc. Isso vamos manter e desenvolver mas não com o tópico Vasco da Gama.
Do muito que certamente já preparam para o futuro, o que nos pode revelar?
Como sabe, nesta indústria não podemos estar a pensar no próximo ano, temos que projetar e pensar as coisas a dois, a três anos. Temos muitas ideias dentro da coleção Heritage, da Bohème, da 1857 que não posso antecipar mas o próximo SIHH trará muitas coisas novas e será importante para o desenvolvimento futuro da coleção Montblanc, sempre assente em conceitos como inovação, funcionalidade, sofisticação e elegância.
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