A jovem marca portuguesa Meia Lua entrou para uma nova dimensão com o lançamento do seu segundo modelo — o Callisto. Se o seu fundador puxou pelo seu lado lunar para arriscar uma aventura relojoeira, a caminhada tem sido feita com os pés na terra.
Portugal tem a fama de ser um país com assinalável cultura relojoeira — e na parte que nos toca, temos feito tudo para que a Espiral do Tempo seja um agente catalisador dessa paixão. Mas não há muitas marcas portuguesas que acompanhem o entusiasmo dos aficionados da relojoaria mecânica tradicional; as exceções são escassas e posicionam-se no universo de micromarcas tendo em mira o chamado preço de entrada, situado entre os 200 e os 600 euros: a Borealis e a Prometheus são operadas a partir da Amadora; a Isotope nasceu em Londres; e a Meia Lua despontou na Costa do Estoril com o nome mais português de todas. Pertence também à Meia Lua o mais recente lançamento, com a apresentação do modelo Callisto a ser oficializada há um par de semanas.
O projeto Meia Lua nasceu em março de 2018 pela mão de Gonçalo Lopes, um aficionado de relógios que, então com apenas 34 anos, resolveu materializar a sua paixão com a criação de uma marca própria. O primeiro modelo, lançado pouco depois em setembro, foi adequadamente apelidado Inception e apresentou logo detalhes de qualidade: caixa em aço cirúrgico 316L, vidro de safira com tratamento antirreflexo e correias em couro premium italiano; os robustos e acessíveis movimentos automáticos japoneses Miyota permitiram à marca oferecer uma simpática indicação de 24 horas no mostrador e situar os preços das diversas versões entre os 329 e os 369 euros. Os novos Callisto representam claramente uma nova dimensão qualitativa e também um novo patamar de preço, entre os 529 e os 569 euros. Apesar do considerável aumento percentual, a nova linha mostra ser mais um passo seguro na evolução da marca do que propriamente um salto na noite sem luar.
A incepção da Meia Lua remonta aos tempos de criança de Gonçalo Lopes, quando — numa altura em que estava habituado ao salto do ponteiro de segundos dos relógios de quartzo — ficou fascinado com o movimento contínuo de um Seiko automático do avô. Depois o fascínio evoluiu na idade adulta: «Pensei em fazer um relógio para mim e dei por mim a desenhar relógios da meia-noite às 4 da manhã», confessa. «Depois mandei fazer protótipos sem acreditar que iria fazer qualquer encomenda em massa, mas acabou por acontecer. Trabalhei em banca 13 anos, sempre quis fazer algo de diferente e usei todas as minhas skills para levar o conceito um pouco mais além.»
A designação Meia Lua sobressai pela originalidade… e pela portugalidade. «Escolhi o nome tendo a ver com algo com que me identificasse e eu sempre gostei da lua e do luar, a cidade de Lisboa tem uma luz incrível à noite e a Lua também está muito presente na relojoaria — achei que Meia Lua também seria uma forma de chamar a atenção e fiz mesmo questão que o nome fosse português, sendo uma marca portuguesa», esclareceu o fundador, cujas preferências relojoeiras vão mais para exemplares dotados de um certo perfume militar: «Gosto muito da Panerai, dos Oris, da Hamilton, dos chamados relógios de piloto e field watches; o ponto de partida para a minha coleção foi um modelo da coleção Vintage da Bell & Ross», confessa.
O modelo inaugural Inception foi supervisionado integralmente à distância com os respetivos fornecedores, através de WhatsApp e e-mail — mesmo que os mostradores tivessem de ser refeitos três vezes até se encontrar um nível satisfatório. E o arranque foi satisfatório. «Tive um bom começo; vendemos bem, dentro do expectável e tendo presente que somos uma marca nova», reconheceu Gonçalo Lopes. O conceito comercial assenta exclusivamente no online, embora vários dos contactos estabelecidos a partir do website redundassem depois em encontros presenciais e em vendas offline. «Vendemos em Portugal, Estados Unidos, Reino Unido, Espanha e França; é esse, para já, o nosso top 5», refere.
Mitologia astral
Se o registo comercial do Inception correspondeu às expectativas do fundador, o Callisto promete dar um novo élan à Meia Lua no que diz respeito às vendas — porque é claramente um produto mais maduro do que o seu antecessor, apresentando caraterísticas que poderão satisfazer uma clientela mais alargada. Mesmo que seja mais caro. «Se prefiro relógios de estilo militar, também gosto de dress watches; o meu objetivo era conseguir um relógio descontraído mas que também dê para usar com roupa mais formal. Foi um relógio que criei à minha imagem», diz Gonçalo Lopes. Com um bom tamanho e bracelete em aço, entra na mais popular de todas as tipologias: a que é dominada pela Rolex. O nome foi inspirado numa das maiores luas do sistema solar, com uma história associada à mitologia greco-romana. «Callisto é castigada, morre, sobe ao céu e dá origem à constelação da Ursa Maior. E Callisto é também o nome da terceira maior lua de Saturno», sublinha.
Com um tamanho forte de 42mm numa era em que a tendência tem pendido para diâmetros um pouco mais pequenos, a silhueta do Callisto também se distingue pela característica coroa sobredimensionada. O mostrador, com a já habitual tipografia e a menção à frequência do calibre, inclui indexes aplicados com inserção luminescente SuperLuminova e dois submostradores com a indicação analógica do dia da semana e do mês — o que, a juntar à janela para a data, faz do Callisto um relógio de calendário triplo. Os flancos da caixa em aço apresentam um acabamento escovado, em contraste com as arestas polidas e a luneta polida. O fundo transparente oferece vista para o movimento Miyota 9122 de corda automática e rotor personalizado.
A calculada subida de preço também se justifica pelo facto de o Callisto ser comercializado exclusivamente com uma bracelete metálica do tipo Jubilee com fecho de báscula duplo e botões de segurança. Embora possa ser obviamente utilizado com uma correia em pele da marca ou qualquer outro tipo de correia/bracelete com 22mm de largura entre as asas, a bracelete metálica original assume mesmo importância no contexto em que o Callisto foi idealizado: o de ser um produto sólido e despretensioso a preço acessível e excelente para uso diário em qualquer circunstância. O certo é que não há muitos calendários triplos com a aura casual desportiva do Callisto, o que o torna particularmente interessante. E as versões de submostradores contrastantes (mais caras 40 euros do que as de mostrador monocromático) acentuam ainda melhor essa faceta.
«Somos uma microbrand que quer apresentar relógios exclusivos, de edição limitada, automáticos, com bons acabamentos e materiais de grande qualidade. E com isso pretendemos colocar Portugal no mapa da relojoaria», vaticina Gonçalo Lopes. Se ninguém lhe pisar os calos, o Callisto será seguramente um passo importante nessa caminhada rumo ao reconhecimento nacional e internacional.
Características Técnicas
Meia Lua
Callisto Silver Ice e Callisto Blue Moon
Limitados a 30 exemplares
Referências | SKU: CAL-SLV-ICE (Silver Ice); SKU: CAL-SLV-BLU (Semi Blue)
Movimento | Mecânico de corda automática Calibre MIYOTA 9122, 40 horas de reserva de corda, 28.800 alt/h.
Funções | Horas, minutos, segundos, data, mês, dia da semana.
Mostrador | Raiado com indexes aplicados. Super-luminova suíça verde e branca nos indexes principais.
Caixa Ø 42 mm | Aço. Estanque até 10ATM. Vidro de safira com tratamento antirreflexo no interior.
Bracelete | Aço, tipo Jubilee.
Preços | 529 €