O Watches of Switzerland Group, o maior retalhista no setor de relógios do Reino Unido, vai fazer uma oferta pública de ações (IPO) em junho. A venda de 30% da empresa deverá permitir arrecadar 155 milhões de libras, que serão investidas em parte no crescimento no mercado americano. Mais um episódio das relações entre a indústria relojoeira suíça e o mercado britânico, face às incertezas do Brexit.
—
O Brexit está a ser uma dor de cabeça para todos os que fazem comércio entre os dois lados do Canal da Mancha. O nervosismo é evidente. Sem saber o que vai acontecer, as importações de relógios suíços pelos distribuidores britânicos aumentaram exponencialmente nos últimos meses. A ideia é acumular reservas para o caso de nada correr bem nas negociações entre Londres e Bruxelas. É à luz dessa incerteza que também se pode ler a confirmação que o Watches of Switzerland Group (WSG), o maior retalhista britânico na área dos relógios, vai colocar à venda em junho, através de uma oferta pública (IPO), 30% das suas ações. Ainda não está definido o preço das ações, já que o proprietário do WSG, o fundo Apollo Global Management (que já teve interesses em empresas portuguesas) ainda não decidiu qual o valor total da empresa.
O retalhista britânico, que também é proprietário da Goldsmiths, da Mapping & Webb, da Watch Shop e da Watch Lab, parece estar a preparar-se para investir no mercado norte-americano de uma forma mais ativa. Em 2017, o WSG abriu uma loja dentro do casino Wynn de Las Vegas e em novembro do ano passado passou a ter a sua primeira loja em nome próprio no Soho de Nova Iorque. Mais recentemente abriu uma loja em Nova Iorque, no Hudson Yards. São locais alargados: a loja do Soho tem também um bar e apresenta exposições de arte, ao mesmo tempo que tem à venda relógios vintage. A loja no Hudson Yards tem um auditório para as marcas poderem fazer apresentações.
Nos EUA e Reino Unido as receitas da empresa, no período anual que terminou em 27 de Janeiro, atingiram os 973 milhões de dólares, incluindo as das 21 lojas que dispõe no mercado americano, incluindo as 18 da cadeia Mayor’s na Florida, que tem a Rolex como principal marca âncora. Segundo o CEO do Watches of Switzerland, Brian Duffy, “há excelentes oportunidades de crescimento no futuro para nós, seja no Reino Unido seja nos Estados Unidos, que já estamos a concretizar”. O WSG foi adquirido pelo fundo Apollo em 2012 e no Reino Unido tem 35% do mercado retalhista na área relojoeira. A Rolex, segundo os dados financeiros do WSG, tem sido central no crescimento da empresa. Trata-se de uma relação muito antiga, desde quando em 1919 a Northern Goldsmiths se tornou o primeiro revendedor autorizado da Rolex no Reino Unido. Hoje o WSG representa 50% das vendas da Rolex no Reino Unido.
Este IPO surge numa altura em que há ainda muita incerteza nos mercados sobre o futuro do Brexit e das relações comerciais entre o Reino Unido e a União Europeia. Não é um acaso o forte aumento, nos últimos meses, das vendas de relógios suíços para o mercado britânico, demonstrando que as empresas retalhistas se estão a precaver, aumentando os seus stocks, face a futuras taxas alfandegárias e de cotação da libra. E, sem ser por acaso, a incontornável coluna Lex do Financial Times, escrevia há dias que apesar do desafio dos smartwatches (sobretudo da Apple), o mercado de relógios suíços (excepto o de valor inferior a 200 euros), mantinha-se saudável. E rematava, com convicção: «O slogan da Patek, “You only look after one for the next generation”, pode parecer velho. Mas a caducidade inerente dos dispositivos inteligentes deu-lhe um novo valor».
Imagem em destaque: © Callison, London UK watches
—