Museu do Relógio em Serpa reabre portas e com surpresas…

O Museu do Relógio em Serpa reabriu as suas portas ao público na passada terça-feira, dia 26 de maio, depois de ter estado encerrado desde março, devido à pandemia de Covid-19. Durante o período de encerramento, a família Tavares d’Almeida, proprietária do Museu, aproveitou para levar a cabo a renovação e rejuvenescimento do espaço, assim como transformar o antigo escritório numa nova sala expositiva. Em 2020, o Museu do Relógio celebra 25 anos.

«Se ir para fora cá dentro» é uma das melhores coisas que neste momento podemos fazer pelo nosso país, os aficionados da relojoaria têm agora razões a dobrar para darem um saltinho a Serpa. Poderíamos estar a falar dos restaurantes ou da bonita cidade, motivos mais do que válidos, mas o destino que sugerimos é mesmo o Museu do Relógio. Claro que este museu é, desde há muitos anos, visita obrigatória para aficionados de relojoaria e não só, mas, agora, há ainda mais motivos para o visitar ou revisitar.

Museu do relógio
A entrada do Museu do relógio em Serpa. © Espiral do Tempo

Devido à pandemia de Covid-19 e ao Estado de Emergência, entretanto, declarado no nosso país, o Museu do Relógio esteve encerrado desde o passado dia 17 de março. Agora, foi anunciada a sua reabertura, algo que aconteceu no passado dia 26 de maio, terça-feira. Mas com novidades. Durante este período de confinamento, a família Tavares d’Almeida, proprietária deste lugar intemporal, resolveu aproveitar para «renovar e rejuvenescer o Museu» com uma nova disposição para os relógios mecânicos, com a pintura das salas e com a renovação da iluminação, como se refere em comunicado. Além disso, o antigo escritório foi remodelado de modo a oferecer mais uma sala para a exposição permanente. «Poderia ser “mais uma sala”… mas trata-se de uma das mais nobres salas do Convento do Mosteirinho, edifício do Séc. XVII onde está sediado o Museu, na qual na sua abóboda se encontrava um imponente brasão de armas em estado parcialmente degradado e desgastado pelo tempo e pelas imensas intervenções (obras, pinturas) que a sala teve ao longo de três séculos», explica-se.

O brasão da nova sala

O Museu do Relógio celebra em 2020 o seu 25º aniversário, pelo que a renovação e rejuvenescimento deste incontornável lugar dedicado ao tempo acontece no momento certo. Apesar de ter estado encerrado durante cerca de dois meses, aquele que é referido como um «projeto romântico do seu fundador António Tavares d’Almeida (1948-2012)» acorda agora ainda com mais história e com mais histórias. É que, no teto da nova sala, os visitantes poderão agora admirar o brasão de armas dos Bocarro, de Beja, família que, de acordo com o comunicado do Museu, terá sido, em 1620, «o principal “mecenas” para a construção do Convento do Mosteirinho, tendo ficado numa das entradas interiores do edifício o seu brasão de armas para eternizar o nobre gesto.» A confirmação da origem do brasão foi levada a cabo durante três anos por Eugénio Tavares d’Almeida — filho do fundador e atual diretor do Museu — através da consulta de especialistas em heráldica e na área de conservação e restauro.

O restauro do brasão dos Bocarro esteve nas mãos de Micaelo, um artista de Gondomar. Refere-se que o especialista selecionado está habituado a restaurar e a pintar frescos de arte sacra em paredes e tetos de igrejas, capelas e palácios. A obra ficou concluída no dia 18 de maio (Dia Internacional dos Museus).

Mas além do brasão, a nova sala terá, claro, mais para mostrar, nomeadamente um relógio de mesa inglês, também do século XVII, que é o instrumento do tempo mais raro do Museu. Esta peça estará exposta no centro da sala, mesmo por baixo do brasão. Depois, todas as paredes terão em exposição mais 320 relógios de bolso — abarcando um período que vai desde 1676 até 1900.

Museu do relógio
A nova sala do Museu do Relógio. Fotos cedidas pelo Museu do Relógio

A génese

A génese do Museu do Relógio remonta a 1972, quando António Tavares d’Almeida herdou dos avós três relógios de bolso avariados. A partir daí, o pai do atual diretor colecionou relógios durante quase quatro décadas.  Já, em 1995, o Museu abriu as suas portas no Convento do Mosteirinho, em Serpa, com cerca de 700 relógios em exposição e, atualmente, a coleção contempla mais de 2600 instrumentos do tempo distribuídos entre o Museu principal e o Pólo de Évora, no Palácio Barrocal, inaugurado em 2011. António Tavares d’Almeida faleceu em 2012 e foi sucedido pelo filho Eugénio Tavares d’Almeida que, desde muito jovem, partilhou a mesma paixão e dedicação por colecionismo, investigação e restauro de relógios mecânicos — tornando-se assim o diretor e conservador daquele que é um dos poucos museus do género à escala mundial e único na Pensínsula Ibérica.

Além do seu acervo e de exposições temáticas, como a exposição «Omega 170» em 2018 que celebrou o 170º aniversário da marca suíça, o Museu do Relógio disponibiliza ainda serviços de restauro ou reparação de instrumentos do tempo através de uma Oficina de Restauro — relógios de pulso, de bolso, de sala e parede. E para se auto-financiar e promover a cultura relojoeira mecânica, desde 1999 que também desenha e produz relógios com a sua marca, em parceria com manufaturas alemãs e russas, relógios em edição limitada que podem ser adquiridos na Loja do Museu ou através do seu site.

«Sendo o Museu do Relógio uma iniciativa familiar, de pura auto-sustentabilidade orçamental, pequenas estratégias institucionais são projetadas de forma a reforçar a imagem institucional do Museu e ainda o incremento do fluxo turístico ao Alentejo», disse Eugénio Tavares d’Almeida à Espiral do Tempo, há cerca de cinco anos, a propósito de planos para o futuro na sequência do então 20º aniversário do Museu do Relógio. E a avaliar pelos passos dados já em 2020, os 25 anos deste espaço de visita obrigatória não estão esquecidos, pelo que as palavras de há cinco anos fazem ainda todo ou ainda mais sentido.

Quanto a nós, fica a garantia de uma visita para breve.

Visite o site oficial do Museu do Relógio para mais informações.

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