Richemont: mais lucros, menos margens

O grupo de produtos de luxo Richemont, que integra marcas como a Cartier ou a IWC, anunciou resultados positivos para o ano fiscal que terminou em 31 de Março de 2019, com as receitas a aumentarem 27% e os lucros a crescerem 5%. Há um lado menos brilhante nestes números: as margens operacionais caíram para 13,9%. É o efeito da consolidação das compras das plataformas online Yoox Net-a-Porter e Watchfinder, que representam 16,2% das vendas. Sem estas plataformas as margens teriam sido de 19,5%. Ou seja, o grupo enfrenta um problema comum que aflige outros vendedores online: mais volumes de vendas, mas margens mais estreitas.

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O grupo Richemont anunciou que teve bons resultados de vendas nos mercados da China e dos Estados Unidos. Os investidores estavam apreensivos sobre o volume de vendas naqueles que são os dois mercados fundamentais para a Richemont, depois do lento crescimento nas exportações suíças de relógios este ano e da rival Kering ter reportado um crescimento mais letárgico da sua marca Gucci nos EUA. A Richemont, conhecida pela marca de luxo Cartier, assegurou que o crescimento nos mercados dos EUA e China chegou aos dois dígitos, no ano fiscal terminado em Março. O grupo referenciou que os esforços do governo chinês para estimular o consumo estavam a resultar, fazendo com que as vendas tivessem crescido cerca de 15% naquele mercado, enquanto as vendas para turistas chineses no resto do mundo aumentaram metade desse valor.

No conjunto as vendas cresceram 27%, incluindo as provenientes das plataformas de vendas online recentemente adquiridas, e 8% se elas não forem incluídas. Atingiram, no total, 13,99 biliões de euros em 2018/19. Os analistas aplaudiram o comportamento a nível de vendas, mas criticaram a fraca rentabilidade do sector de relógios do grupo, que está a reestruturar o sector de distribuição para se focar nos canais online e nas lojas próprias das marcas que controla, desligando-se dos distribuidores multimarcas. Johann Rupert, o “chairman” da Richemont, no seu comentário anual à apresentação de resultados da divisão de relógios, assinalou a mudança do modelo de negócio onde “a oferta é combinada com a procura final e as vendas são, cada vez mais, geradas nas lojas monomarca, online e em poucas mas fortes lojas multimarcas de parceiros de vendas”, e disse que estava esperançado num sólido e sustentado crescimento. Em termos reais Rupert estava a dizer que os produtores vão reduzir os níveis de “stock”, caminhando para uma produção “just-in-time”, e vão concentrar-se nas vendas através das próprias boutiques ou em plataformas online próprias, trabalhando menos com parceiros.

O grupo Richemont tem como principais fontes de negócio, no sector das jóias, as marcas Cartier e Van Cleef & Arpels, que geram quase todos os lucros do grupo, segundo os analistas, enquanto as marcas de relógios estão a lutar para se refocar no novo mundo da distribuição. Refira-se que as marcas de joalharia cresceram fortemente a nível de resultados operacionais (31,5%), enquanto a margem do sector de relógios se situou nos 12,7%, embora seja melhor que no ano fiscal anterior. Asia, Japão e Américas tiveram as melhores performances, com as boutiques da Vacheron Constantin, Jaeger-LeCoultre e IWC a terem aumentos de dois dígitos. As vendas online geraram um prejuízo operacional de 264 milhões de euros. No ano passado o grupo Richemont adquiriu a Yoox Net-A-Porter e a Watchfinder (especialista em relógios em segunda mão) e fez um acordo com o gigante chinês de vendas online, Alibaba. A Richemont acrescentou que espera expandir os seus negócios através destas plataformas. O lucro líquido do grupo foi de 2,79 biliões de euros (o dobro de há um ano), sendo proposto um dividendo de 2 francos suíços por ação aos acionistas.

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