Ulysse Nardin: Le Freak c’est chic!

Com o lançamento do Freak em 2005, a Ulysse Nardin saltou para a dianteira da inovação técnica e revolucionou o design relojoeiro com um relógio sem coroa, ponteiros ou mostrador. Desvelada no início de 2019, a mais recente geração Freak X apresenta uma estética mais apurada e, sobretudo, consensual: o novo Freak é mesmo chic!

Para alguém que já tenha umas décadas de bagagem musical, torna-se quase impossível ser confrontado com a designação ‘freak’ sem uma associação imediata ao famoso tema disco «Le Freak», do duo Chic, que chegou ao topo das tabelas em 1978, precisamente com o refrão «Le freak c’est chic… freak out!» – embora o significado mais corrente do termo tenha a ver com uma pessoa ou animal que seja diferente, seja de uma boa ou má maneira. E é no significado positivo do dicionário urbano que se deve incluir o nome de batismo daquela que será a mais famosa criação relojoeira da secular manufatura Ulysse Nardin.

Rolf Schnyder e Ludwig Oechslin quiseram ir mais longe: logo após a viragem do milénio, e a partir de um conceito de Caroline Forestier-Kasapi, mergulharam no futuro e lançaram o Freak em 2001.
Rolf Schnyder e Ludwig Oechslin quiseram ir mais longe: logo após a viragem do milénio, e a partir de um conceito de Caroline Forestier-Kasapi, mergulharam no futuro e lançaram o Freak em 2001. © DR

Fundada por Ulysse Nardin em 1846 na tradicional localidade relojoeira de Le Locle, a companhia do mesmo nome rapidamente se destacou na produção de cronómetros de marinha – e não é por acaso que o seu logótipo inclui uma âncora. Desde o ano da fundação até 1975, o Observatório de Neuchâtel atribuiu à Ulysse Nardin 95% dos certificados de precisão, num total de 4504 atribuídos a cronómetros de marinha essenciais para a navegação. A chegada de Rolf Schnyder ao comando da marca em 1983 significou uma autêntica revolução – com o carismático líder a recrutar o genial Ludwig Oechslin para fazer da Ulysse Nardin uma ponta de lança da ressurreição da relojoaria mecânica, quando ainda vigorava a chamada ‘crise do quartzo’. A Trilogia do Tempo formada pelo Astrolabium Galileo Galilei, pelo Planetarium Copernicus e pelo Tellurium Johannes Kepler constituiu um hino à engenhosidade, e as complicações astronómicas desses três relógios lançados entre 1985 e 1992 maravilharam o mundo.

Freak X Titanium Black © Ulysse Nardin
Freak X Titanium Black DLC © Ulysse Nardin

A relojoaria mecânica tradicional regressou em força a partir dos anos 90 com o destacado contributo da Ulysse Nardin, mas Rolf Schnyder e Ludwig Oechslin quiseram ir mais longe: logo após a viragem do milénio, e a partir de um conceito de Caroline Forestier-Kasapi, mergulharam no futuro e lançaram o Freak em 2001. O revolucionário turbilhão-carrossel com sete dias de reserva de corda estabeleceu um novo paradigma: a caixa do relógio não era propriamente caixa, e não apresentava qualquer coroa ou sequer ponteiros – o movimento rodava em si mesmo para indicar o tempo, com ajuste a partir da luneta e corda manual a partir de outra luneta no fundo da caixa! Mas a grande inovação que abalou a indústria relojoeira foi a introdução do silício na composição da espiral, o toque disruptivo suplementar numa arquitetura mecânica que dispensava o incontornável escape de âncora e assentava em camadas: a primeira, servindo de base, era constituída por um tambor de corda de grandes dimensões; a segunda é formada pela platina, que serve de chassis para o resto; e a terceira é uma espécie de nave que viaja no tempo para dar as horas.

Freak X Carbonium © Ulysse Nardin
Freak X Carbonium © Ulysse Nardin

O recurso ao silício para um componente tão fundamental para a relojoaria como a espiral, cujo fabrico ainda hoje se mantém muito restrito e com um principal fornecedor global (Nivarox), constituiu uma espécie de corte epistemológico no setor. Devido à especificidade geométrica da construção, a força da corda mantinha-se constante ao logo do arco da reserva de marcha.  E, em breve, outras manufaturas de grande prestígio seguiram a via futurista mostrada pela Ulysse Nardin, não só no que diz respeito à espiral em silício propriamente dita, mas também relativamente à forma revolucionária de apresentar o tempo. É por isso que o Freak se mantém percursor e granjeou merecidamente — e praticamente de modo instantâneo — o sempre difícil estatuto de ícone.

Freak X Titanium Blue © Ulysse Nardin
Freak X Titanium Blue © Ulysse Nardin

Toda uma linhagem

Obviamente, o Freak original tornou-se no patriarca de uma linhagem que foi tendo descendência. Em 2005, surgiu o Freak Diamond Heart, com um sistema de escape patenteado concebido a partir de diamantes sintéticos; o Freak DiamsonSil nasceu em 2007, com a combinação do diamante e do silício a eliminar a sempre nefasta fricção e a tornar desnecessário o uso dos tradicionais lubrificantes – uma nanotecnologia usada no escape que melhorou ainda mais o seu rendimento.

FREAK X Ref. 2305-270/02 | Ouro rosa | FREAK X Ref. 2303-270.1/BLACK | Titânio com DLC | FREAK X Ref. 2303-270/03 | Titânio com PVD | FREAK X Ref. 2303-270/CARB | Carbonium® | © Ulysse Nardin
FREAK X Ref. 2305-270/02 | Ouro rosa | FREAK X Ref. 2303-270.1/BLACK | Titânio com DLC | FREAK X Ref. 2303-270/03 | Titânio com PVD | FREAK X Ref. 2303-270/CARB | Carbonium® | © Ulysse Nardin

Na sequência de exercícios de estilo como o FreakLab, o Freak Cruiser e o Freak Diavolo, as linhas Freak Out e Freak Vision foram os mais recentes desenvolvimentos da família até à introdução da ramificação Freak X no início do presente ano de 2019. Estrategicamente, constituiu um lançamento de enorme importância porque passou a ser a variante de preço (maioritariamente entre 20 e 30 mil euros) comparativamente mais acessível… e também porque apresenta caraterísticas mais consensuais sem perder o rosto: uma coroa para acerto do tempo (em vez da luneta) e um tamanho mais universal (43 mm em vez dos 45 mm). Globalmente, a estética do recém-chegado é mesmo muito apelativa em todas as diferentes versões já disponíveis — desde a caixa mais arredondada ao próprio corpo orbital sobre o mostrador, com o novo calibre automático UN-230 a ostentar menos rodagens e aparência mais simples.

Freak Vision © Ulysse Nardin
Freak Vision © Ulysse Nardin

A grande diferença reside no facto de a base do mecanismo do Freak X, baseado no calibre UN-118 de corda automática, ficar por baixo do mostrador e com um rotor visto a partir do fundo transparente em vidro de safira. E de ter um escape convencional. Mas mantém-se a baguete como ponteiro dos minutos e uma das rodas a destacar um ponteiro para indicação das horas. E, claro, o que a marca diz ser o ‘regulador volante’: um balanço ultraleve de grandes dimensões em silício, com pesos em níquel e microlâminas estabilizadoras. A luminescência torna o funcionamento do escape orbital ainda mais espetacular em condições de luz precárias.

© Ulysse Nardin
© Ulysse Nardin

Para combinar com a tecnologia de ponta na vertente mecânica, os materiais usados na caixa do Freak X são igualmente vanguardistas — desde o carbonium (com menos 40% de impacto ambiental do que outros tipos de carbono) ao titânio, além do próprio ouro. E até as correias apresentam um aspeto inovador, com costuras point de bride a assumirem uma estética contemporânea em face das correias rétro com costura ‘de mosca’, ultimamente tão usadas em modelos vintage ou neo-vintage.

Freak Next, a nova variante conceptual da família Freak da Ulysse Nardin. © Ulysse Nardin
Freak Next, a nova variante conceptual da família Freak da Ulysse Nardin. © Ulysse Nardin

Será o Freak X um Freak ‘politicamente correto’ e menos ‘esquisito’? Nem por isso. Continuará a ser um Freak orbital de corpo e alma – mas talvez mais chic, mais convencional, resistente a 50 metros de profundidade, com cinco anos de garantia. E já com um primo conceptual mais complexo e irreverente: o Freak Next, também lançado no início de 2019, quase tão radical como o original que está perto de celebrar o seu 20.º aniversário.

Texto originalmente publicado no número 69 da Espiral do Tempo (edição inverno 2019) e aqui complementado com mais imagens.

Outras leituras