Décantheure: um (projeto de) relógio para enófilos

É um relógio de mergulho? De piloto? Náutico? Não, é uma nova categoria, um ‘relógio decantador’ embora inspirado tecnicamente nos anteriormente mencionados. O vinho e o tempo são, como sabemos, aliados incontornáveis, desde a produção à degustação. Parece, portanto, natural que surja um relógio que associe estes dois fatores, o vinho e o tempo — nomeadamente o tempo para o qual o vinho foi criado, aquele em que ele vai à boca. Apresentamos o Décantheure.

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© Décantheure

O projeto de relógio Décantheure — associação das palavras decantador e hora, em francês — está a ser desenvolvido em regime de crowdfunding e pretende combinar a qualidade de um relógio mecânico automático com características originais ligadas à enofilia.

Sustentado por um fiável mecanismo mecânico, o Seiko NH35, o Décantheure ostenta uma luneta rotativa interna, acionada por uma coroa às 2 horas, com os nomes das castas, como os worldtimers ostentam nomes de cidades ou de outros pontos geográficos. O mostrador tem um vidro de safira, mas o fundo conta com um vidro mineral…verde como os das garrafas de vinho tinto.

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© Décantheure

Ao ponteiro dos segundos, em forma de saca-rolhas, foi atribuído o nome Milliége. ‘Milha’ deriva do latim e quer dizer mil, ‘liége’ é a palavra francesa para cortiça. Supostamente beber 1000 garrafas de vinho terá sido a inspiração para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do design do Décantheure. A investigação pode ser uma coisa divertida, diz o autor, e nós acreditamos que sim.

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O Baco de Caravaggio fica muito bem com o Décantheure no pulso, como refere a marca. Imagem cedida e adaptada pela Décantheure.

Por detrás desta ideia está, naturalmente, a paixão pelo vinho e o facto de a maioria das castas poder ser agrupada de acordo com o tempo recomendado para a decantação e ‘respiração’ do vinho antes de ser servido. Isto seguindo o princípio expresso por Carveth Read de que «é melhor estar aproximadamente certo que exatamente errado».

Só em Portugal haverão cerca de 300 castas, no mundo certamente mais de 1000, pelo que seria difícil colocá-las a todas na luneta de um relógio. Encontrou-se espaço para 23 castas das quais consta a ‘nossa’ Touriga Nacional.

Segundo o dinamarquês Soren Jensen, autor do projeto, as letras com os nomes das castas são mais visíveis que as usadas nos nomes das cidades dos worldtimers para que possam continuar a ser lidas depois de bebida a primeira garrafa…

Como proceder:

1. Escolha do vinho
Se o quiser fazer de forma aleatória e confiar no tempo e no seu Décantheure para o efeito, pode simplesmente olhar para o original ponteiro dos segundos e seguir a sua indicação. Nesse caso pede um vinho com a casta que o ponteiro indicar no momento em que para ele olhar.

2) Se beber a copo
Verta o vinho para o copo e, usando a coroa às duas horas, mova a luneta da forma que é usual em relógios de mergulho, p.e., colocando o triângulo junto ao ponteiro dos minutos. Assim verá facilmente quanto tempo o elixir passou no copo, a respirar, antes de o beber.

3) Se usar um decantador
Neste caso, os tempos de decantação variam entre a ½ hora e as 3 horas, consoante as castas.
Abra a garrafa e deixe o vinho respirar na garrafa ou no decantador. Coloque o ponteiro das horas no traço correspondente ao início do período correspondente à casta que escolheu, e aguarde serenamente pelo tempo ideal para degustar o elixir.

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© Décantheure

Como se percebe o conceito funciona, sobretudo, para vinhos varietais. Acaso estejamos a falar de vinhos que não sejam monocasta, bem, então estamos perante aquilo que no setor relojoeiro se chama de ‘grande complicação’.

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© Décantheure

Eu sugeriria, no entanto, que o consumidor se regulasse pela casta aconselhada a uma maior espera. Tomemos como exemplo o Quinta do Vale Meão 2013, produzido com 60% Touriga Nacional, 30% Touriga Franca, 5% Tinta Barroca e 5% Tinta Roriz. Eu esperaria as 2 horas atribuídas à Touriga Nacional, até porque as outras castas portuguesas não estão na luneta. Em caso de dúvida poderá provar o vinho inicialmente e usar o relógio para, a espaços regulares, voltar a provar até achar que ele está ‘no ponto’.

Por ainda não se encontrar em fase de produção, aceitam-se ideias que possam entretanto surgir para o desenvolvimento do Décantheure. Eu sugeriria duas: uma edição com castas portuguesas e uma versão com sistema de alarme.

Se quiser saber mais, pode espreitar o site de apresentação do projeto.

Acaso pretenda enviar propostas, pode apresentá-las por email: decantheure @ heveas.com

Houve, noutros tempos, uma política de Estado que incentivava ao consumo patriótico de vinho em abundância. Por todo o país havia cartazes com a frase «beber vinho é dar o pão a 1 milhão de portugueses». Acaso o vinho dessa altura não fosse, na generalidade, uma zurrapa, e o conhecimento das castas não fosse residual, apesar da brutal quantidade consumida, este teria certamente sido um relógio de sucesso no Portugal desses tempos.

Aqui fica a dica deste vosso apreciador de sangria… ET_simb

Características técnicas

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© Décantheure

Movimento/ Seiko NH 35 Automático. Um calibre japonês razoável que equipa os relógios de diversas marcas.
Caixa Ø 40 mm/ Aço
Espessura/ 11.5 mm
Estanqueidade/ Até 50 m. A garantia do fabricante vai no sentido de que se o relógio cair numa pipa de vinho não se fique nem com o vinho, nem com o relógio, estragados.
Sistema de coroas/ Às 2 horas, a coroa roda a luneta; a coroa às 4h ajusta a hora e a data.
Preço previsto/ entre as 2 e as 3 centenas de euros

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