Em destaque na edição impressa: automaticamente

Para aguçar o apetite: se o mecanismo relojoeiro é considerado uma das mais perfeitas invenções do homem pela capacidade de funcionamento permanente, os calibres automáticos reforçam essa ideia de autonomia ao gerarem a sua própria energia através da força da gravidade. Em teoria, são movimentos perpétuos – que também personificam uma filosofia de vida: simbolizam autossuficiência, sustentabilidade e continuidade. Um artigo para ler, na totalidade, no número 74 da Espiral do Tempo, já nas bancas.


Imagem de abertura: o rotor do Patek Philippe Calatrava Pilot Travel Time Ref. 7234G | © Patek Philippe


Em 1992, quando o grupo de rock alternativo R.E.M. lançou o álbum Automatic for the People (considerado o melhor dos seus oito álbuns), a relojoaria mecânica estava num lento processo de renascimento – após década e meia sob o jugo dos movimentos de quartzo que tinham tomado conta da indústria e quase condenavam a relojoaria tradicional ao desaparecimento. O nome do álbum foi inspirado no slogan do restaurante favorito da banda norte-americana; e também se afigura como um excelente título para definir o advento dos relógios automáticos e a sua adoção automática pelo público em geral, sendo hoje em dia considerado o sistema
mais prático e comum de funcionamento no âmbito da relojoaria mecânica.

Rotor de alto rendimento utilizado pela Cvstos, com uma combinação própria de paládio e titânio na massa oscilante para facilitar a circulação.
Rotor de alto rendimento utilizado pela Cvstos, com uma combinação própria de paládio e titânio na massa oscilante para facilitar a circulação | © Cvstos

A popularização do conceito self-winding aconteceu sobretudo a partir da década de 50 e começou a ganhar grande relevância no início dos anos 60 – de tal modo que os relógios de corda manual passaram então a ser considerados ultrapassados. Hoje em dia, já não há esse estigma; encaram-se
os movimentos de corda manual e corda automática como sendo equivalentes, tendo simplesmente princípios mecânicos diferentes. Aliás, a maior parte das obras-primas da relojoaria nas últimas duas décadas até assenta em calibres de corda manual: a ausência do rotor não só desobstrui a vista sobre o movimento como permite aos relógios de corda manual serem mais delgados e, por isso mesmo, mais elegantes. Mas, numa década de 60 em que o futurismo associado à conquista do espaço capturou o imaginário das pessoas, o que estava a dar era mesmo a novidade – e os relógios automáticos eram então considerados o último grito da tecnologia… embora o seu princípio mecânico não fosse propriamente novo.

Polo Skeleton e o seu microrrotor
A Piaget especializou-se na conceção de movimentos dotados de microrrotor, como sucede no Polo Skeleton. | © Piaget

Uma questão de massa (oscilante)

A energia transmitida pela movimentação do braço é tudo o que um relógio de pulso automático necessita para se manter em funcionamento. Ao longo dos séculos, conceber um relógio que conseguisse carregar-se sozinho sempre foi um sonho dos relojoeiros. E a paternidade do mecanismo de corda automática tem sido rodeada de controvérsia; o primeiro modelo dotado de uma massa oscilante terá sido idealizado por um jesuíta no século XVII, enquanto historiadores consideram Abraham-Louis Perrelet como o verdadeiro progenitor – em 1777, apresentou o conceito que precedeu os princípios dos relógios automáticos de hoje. Só que, na altura, os relógios eram usados no bolso e não no pulso; à falta de uma maior movimentação, o projeto não ganhou unanimidade. O seu relógio de bolso estava dotado de um rotor bidirecional de eixo central e bastava caminhar com ele oito minutos para assegurar um dia de autonomia; dizia-se então que, com a carga máxima, podia funcionar ao longo de oito dias. O incontornável Abraham-Louis Breguet debruçou-se sobre o sistema e o relógio que concebeu para a rainha Maria Antonieta incluía, igualmente, um rotor em platina. Também no final do século XVIII, Louis Recordon patenteava em Londres um sistema automático. Mas eram exemplares muito onerosos e de reparação prolongada. Foi necessário esperar pelo século XX e pela normalização dos relógios de pulso para que o conceito self-winding ganhasse fiabilidade e fosse adotado em larga escala.


Leia o artigo completo no número 74 da Espiral do Tempo, já nas bancas, e que pode também ser adquirido através do nosso site.

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