Tudor Black Bay GMT: companheiro ideal

Em Basileia e Lisboa | Foi uma proposta totalmente inesperada mas inserida numa estratégia de grupo e plenamente conseguida: o Black Bay GMT rapidamente se tornou no mais cobiçado exemplar do catálogo da Tudor e é claramente um dos relógios do ano. A par do seu primo Rolex com cognome de refrigerante.

Para começar, uma declaração de interesse: tenho um Tudor Heritage Black Bay Blue, que é especial para mim por diversas razões – entre as quais se encontram a combinação do azul com o preto que aprecio particularmente e também aquele perfume vintage que sempre me fascinou. E como admirador da linha Heritage da Tudor, só podia ter ficado satisfeito com o lançamento do Black Bay GMT na edição deste ano de Baselworld… mesmo que se trate de um relógio dotado de uma complicação funcional que nunca esteve em grande evidência ao longo da história da marca, ao contrário do que sucede relativamente à sua ‘irmã’ mais velha. Sim, a Rolex.

Tudor Black Bay GMT com bracelete em aço © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Tudor Heritage Black Bay GMT com bracelete em aço. © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Tudor Black Bay GMT © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Black Bay GMT: detalhes do acabamento polido e escovado nas asas. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Desde a sua renovação na transição para a presente década tem sido consistentemente uma das marcas favoritas da imprensa especializada e dos aficionados da relojoaria, pelo que há sempre grande expectativa a rodear as novidades apresentadas na maior feira relojoeira do mundo. O lançamento da linha Heritage em 2010 deu o mote e o advento do Heritage Black Bay de mergulho em 2012 (após o Heritage Chronograph e o Heritage Advisor nos anos precedentes) catapultou a marca para fora da sombra da sua ‘grande irmã’ Rolex. Estilo apurado e grande qualidade a um bom preço são argumentos sempre muito fortes. Tem-se visto isso no pulso dos jornalistas e nos quatro troféus já recolhidos no Grand Prix d’Horlogerie de Genève (2013, categoria Revival: Black Bay; 2015, categoria Relógio Desportivo: Pelagos; 2016, Petite Aiguille: Black Bay Bronze; 2017, Petite Aiguille: Black Bay Chrono). O novo Black Bay GMT pode dar um novo troféu à Tudor porque está a concurso na categoria Challenge de relógios até 4.000 francos suíços e é claramente um dos relógios de 2018 – para o confirmar está o simples facto de ser impossível encontrá-lo em qualquer montra: já têm destino quando chegam à loja e a lista de espera é considerável, fazendo recordar o que sucede com vários modelos da Rolex e sobretudo com o seu modelo vedeta deste ano. Também dotado da função GMT.

Rolex GMT-Master II em ouro branco e mostrador azul, Tudor Black Bay GMT e Rolex GMT-Master II em aço. © Rolex e Tudor
Estratégia de grupo em dose tripla: Rolex GMT-Master II em ouro branco e mostrador azul, Tudor Black Bay GMT e Rolex GMT-Master II em aço. © Rolex e Tudor

É que o tal caminho de emancipação encetado pela Tudor em 2010 teve em 2018 uma convergência estratégica numa edição de Baselworld precisamente dominada pelas lunetas bicolores apelidadas ‘Pepsi’ e pela complicação GMT – precisamente devido às duas marcas, que alinharam pelo diapasão cromático do logótipo da marca de refrigerantes americana com o intuito de apresentar um produto forte e identificável em diversos patamares de preço. A Rolex relançou o GMT-Master II em aço com a emblemática luneta bicolor azul/vermelha dos seus históricos modelos alcunhados de ‘Pepsi’, atualizou o GMT-Master II em ouro branco de luneta bicolor azul/vermelha com um mostrador azul mate que substitui o preto e ainda introduziu duas novas variantes do GMT-Master II em aço/ouro (Rolesor) e ouro (Everose) com luneta preta/castanha (designada ‘Root Beer’); a Tudor complementa a oferta com o Black Bay GMT que passa a ser o primeiro preço nessa estratégia mas com um perceived value bem superior, já que muitos analistas até o consideram o mais estiloso do lote. E eu sou um deles, embora também tenha gostado particularmente da nova bracelete Jubilee no novo GMT-Master II.

Tudor Black Bay GMT  com bracelete em aço © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
Black Bay GMT com bracelete em aço num pulso masculino. © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
O Tudor também num pulso feminino: Black Bay GMT com bracelete têxtil © Cesarina Sousa / Espiral do Tempo
O Black Bay GMT também num pulso feminino e com bracelete têxtil. © Cesarina Sousa / Espiral do Tempo

E tenho um forte fraquinho pelo Black Bay GMT porque exala aquele perfume retro que tanto aprecio, para além de ser ao mesmo tempo um relógio despretensioso e que não está envolvido nos jogos de status quo a que tantos donos do GMT-Master II (ou de outros cobiçados modelos Rolex) se prestam. Claro que a luneta bicolor remete imediatamente para o lendário modelo primeiramente lançado pela Rolex em 1957 e contribui muito para o impacto visual, mas – apesar de também ter recebido a alcunha de ‘Pepsi’ por parte da crítica – não é propriamente vermelha e azul: o vermelho é o vermelho velho ou mesmo Bordeaux presente na luneta do Black Bay inaugural, sendo que o azul é mais escuro e vem da segunda variante do Black Bay (a que eu tenho). Outro factor de diferenciação da Rolex e de afirmação Tudor pode ser encontrado no ponteiro suplementar para o segundo fuso horário com leitura de 24 horas através da escala na luneta bidirecional: apresenta a mesma ponta geométrica ‘Snow Flake’ que está presente no ponteiro dos segundos de todos os modelos Black Bay e que foi inspirada pelos antigos modelos de mergulho da Tudor nos anos 70.

E, de facto, a linha Black Bay é uma linha de mergulho com conotação rétro, ao passo que o GMT-Master da Rolex foi criado especificamente para os pilotos das linhas aéreas. Mas essa contradição só existe se cruzarmos as duas fontes de inspiração, porque o Black Bay GMT é um produto extremamente bem conseguido e não suscitou quaisquer dúvidas relativamente à sua pertinência (um pouco ao contrário do Black Bay Chronograph do ano passado, do qual alguns disseram não fazer muito sentido uma luneta com escala taquimétrica num cronógrafo de mergulho).

Tudor Black Bay GMT © Paulo Pires / Espiral do Tempo
A luneta bicolor e os dois ponteiros ‘snowflake’ em destaque sobre o mostrador preto mate. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Para além desses evidentes pormaiores – luneta bicolor em alumínio e ponteiros Snow Flake – que tanto contribuem para a identidade visual do Black Bay GMT, há outras afinações estéticas a ter em consideração relativamente aos modelos Black Bay anteriores: a coroa apresenta a rosa gravada em relevo (e não desenhada) e o tubo da coroa passou a ser da mesma cor do metal da caixa, que também surge retocada para que as pontas das asas não sejam tão bicudas. De resto, a caixa estanque a 200 metros é no seu geral um grande trunfo da coleção Black Bay: com 41 milímetros de diâmetro, não é excessivamente grande nem verdadeiramente pequena (embora a marca tenha lançado este ano o Fifty Eight com 39 milímetros para os mais saudosistas); tem ligeiras superfícies polidas para oferecer contraste com o acabamento geral escovado que acentua o caráter de instrumento do relógio; e o volume dá charme de robustez ao conjunto, sem que a espessura de 15mm seja excessiva porque um par de milímetros vão para o grosso vidro de safira sobressaído.

Calibre do Tudor Black Bay GMT © Tudor
O novo Calibre MT5652 de manufatura que equipa o Black Bay GMT. © Tudor

Essa espessura que não é excessiva torna-se particularmente relevante tendo em conta a parte técnica: graças ao novo calibre MT5652, a complicação adicional do segundo fuso horário foi integrada e não adicionada através de um módulo – fazendo com que o volume se mantivesse igual. Para mais, o sistema do ponteiro da hora local é particularmente sofisticado: através de uma posição intermediária da coroa, pode-se ajustar com precisão e de maneira independente porque o ponteiro salta de hora para hora (em vez de deslizar) e, andando para trás ou para a frente da meia-noite, faz-se acompanhar pelo correspondente ajuste da data sem que o relógio deixe de funcionar. E convém não esquecer que, como a luneta é giratória e bidirecional, também pode servir para proporcionar um terceiro fuso horário! Com certificação de precisão cronométrica atribuída pelo COSC e 70 horas de reserva de corda num movimento de manufatura, o Black Bay GMT apresenta significativas valências técnicas que potenciam exponencialmente os já referidos argumentos estéticos. E que o tornam quase imbatível no seu segmento de preço, se considerarmos todos os fatores em equação e que vão desde essas qualidades intrínsecas até ao tal perceived value

Três variantes

Tudor Black Bay GMT. As três variantes da bracelete: pele, aço e têxtil © Tudor
Os três diferentes visuais do Tudor Black Bay GMT consoante a ‘roupagem’: pele, aço e têxtil. © Tudor
Tudor Black Bay GMT: correia em pele © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Pormenor do fecho de báscula que equipa a correia em pele envelhecida ‘Terra di Siena’. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Ainda por cima, esse carisma pode ser afirmado de três distintas maneiras – tantas quantas as braceletes disponibilizadas pela Tudor, como tem sucedido nos últimos anos. Mas essa disponibilização é agora diferente. Normalmente, todos os relógios da linha Heritage eram comercializados com a habitual combinação dupla (bracelete em aço de estilo vintage/bracelete têxtil ou correia em pele envelhecida/bracelete têxtil); a partir deste ano, os Black Bay estão à venda com uma única correia ou bracelete. E o Black Bay GMT com bracelete em aço custa 3.740 euros, com pele envelhecida vale 3.440 euros e com a bracelete têxtil vende-se por 3.440 euros.

Tudor Black Bay GMT com bracelete têxtil © Paulo Pires / Espiral do Tempo
O Black Bay GMT com a emblemática bracelete têxtil da linha Heritage. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

As três propostas dão uma personalidade bem distinta ao Black Bay GMT e devo dizer que, não sendo eu um adepto indefetível do look 100 por cento metálico, prefiro a variante com bracelete metálica porque está idealizada para reforçar a personalidade rétro do relógio, com os seus protetores dos eixos dos elos em relevo; sou um grande fã das braceletes têxteis Tudor com fivela regulável fabricadas na secular empresa francesa de tecelagem Julien Faure, mas mais noutros modelos Heritage com outros padrões; também gosto de correias de pele envelhecida e a cor conhaque da correia de calfe italiano ‘Terra di Siena’ é muito atraente, mas fica um espaço demasiado grande para a caixa na zona das asas e o meu pulso não é suficientemente grande para o fecho de báscula utilizado.

Notas Finais

Tudo considerado, é mesmo um dos melhores relógios do ano. Para além da funcionalidade e da descontração que fazem dele um perfeito companheiro de viagens e de aventuras, o Black Bay GMT tem carisma. Sim, porque há relógios que têm mais carisma do que outros. Se têm dúvidas, ponham-no no pulso…

Visite o site oficial da Tudor para mais informações.

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