Aproveitámos as férias portuguesas do mestre Karsten Fraessdorf para o convidar a visitar as instalações da Espiral do Tempo e almoçar com amigos da revista. Aqui ficam algumas imagens da sua visita e das versões do Spirograph Tourbillon Sport que trouxe consigo.
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De origem alemã, Karsten Fraessdorf não é um nome imediatamente reconhecível no contexto da alta-relojoaria. No entanto, é um daqueles geniais relojoeiros que, ao longo dos anos, vai idealizando movimentos e complicações para grandes marcas sem que o seu nome apareça – mantendo-se habitualmente na sombra, à exceção dos casos em que é indicado como responsável técnico de uma marca ou no lançamento dos seus próprios produtos. E sem podermos adiantar muito mais, há por aí alguns relógios extraordinários de marcas de topo cuja concepção saiu da mente do mestre germânico radicado na Suíça.
Com um papel ativo na indústria desde os anos 80 e atualmente baseado em La Chaux-de-Fonds, na presente década começou por dar que falar enquanto diretor da nóvel Heritage Watch Manufactory – uma marca de nicho com produtos mecanicamente interessantes e dotados de uma estética muito peculiar. A estrela da companhia era o Firmamentum, um relógio de navegação inspirado no sextante português capaz de estabelecer o posicionamento do utilizador em qualquer ponto do globo. Infelizmente, essa tão interessante e elogiada marca acabou por não resistir e o projeto ficou em suspenso após várias apresentações na GTE (Geneva Time Exhibition) e em Baselworld (no antigo Palace).
Mais recentemente, Karsten Fraessdorf lançou a marca com o seu próprio nome (KF Montres) e logo tendo por vedeta um relógio especialmente atraente e de interessantes caraterísticas técnicas: o Spirograph Tourbillon Sport, um turbilhão de grandes dimensões “pensado para uso diário”, segundo o mestre, particularmente resistente aos choques e de grande impacto visual. Trouxe três exemplares com ele aquando da sua visita às nossas instalações, durante as recentes férias familiares com a família na zona de Lisboa – a sua cidade preferida.
Karsten Fraessdorf vem regularmente a Portugal desde 1982 e na sua juventude chegou mesmo a tirar um curso de Português durante o verão, expressando-se razoavelmente bem na língua de Camões. Na passagem pelas instalações da Espiral do Tempo e durante o almoço com amigos da revista relembrou como o nosso país era diferente nessa década de 80 e como a relojoaria tradicional suíça atravessou um grave período de crise entre a década de 70 e os anos 90.
Eis algumas das recordações que partilhou, numa autêntica viagem ao tempo inspirada no tema da última edição da Espiral do Tempo: quando começou na relojoaria no início dos anos 80, disseram-lhe que a profissão de relojoeiro (mecânico) não tinha futuro; considera que o facto de a Swatch se ter aventurado a lançar os primeiros relógios automáticos em plena era do quartzo foi fundamental para que a Nivarox mantivesse a produção de espirais e acabasse por se tornar num sustentáculo da relojoaria mecânica; afirmou que a Rolex, com os seus elevados padrões de exigência no campo da precisão e da fiabilidade, fez com que – por comparação – a qualidade global da indústria suíça não fosse por aí abaixo devido a cortes nos custos operados “pelos gajos das folhas Excel”.
Resumidamente, um bom conversador com muitas histórias para contar e uma enorme bagagem de cultura relojoeira. Que teve a oportunidade de revelar tanto na visita à Espiral do Tempo como no almoço informal ‘Espiral Apresenta…’ realizado no restaurante Marisco na Praça, em Cascais, com a presença de uma dúzia de amigos da revista. Obviamente que, como bom adepto da gastronomia lusa, Karsten Fraessdorf também é um grande apreciador de marisco…
Quanto ao Spirograph Sport Tourbillon propriamente dito, a versão com blocos luminescentes no próprio balanço é sensacional e particularmente fotogénica em condições mais precárias de luz. O mostrador alveolado, em homenagem à ‘sua’ La Chaux-de-Fonds, uma das mais importantes cidades para a produção da relojoaria mecânica, também impressionou particularmente e é feito de modo a que assuma diferentes cores na sua textura consoante a incidência de luz. Apesar das grandes dimensões da caixa, é um relógio que assenta bem no pulso e que dá aquela sensação de robustez raramente proporcionada por um turbilhão. Afinal de contas, foi precisamente esse o intuito que esteve por trás da sua criação…
Obrigado pela companhia, Karsten. E até à próxima — em Baselworld ou aqui em Portugal!
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