Carlos Barbosa: Monaco ao quadrado

O objeto é quadrado, mas o número é redondo. O objeto é o modelo Monaco da TAG Heuer; o número é aquele que corresponde à sua idade: 50 anos. Para encerrar a celebração do meio século de um dos mais icónicos e reconhecíveis designs de relógios da atualidade — uma celebração que decorreu durante o ano de 2019 — decidimos falar com quem conhece bem o Mónaco Principado e o Monaco relógio. Carlos Barbosa, Presidente do ACP, é um connaiseur de ambos. Um ‘monegasco’ ao quadrado, poder-se-ia dizer, não fosse o caso de evidenciar muito mais paixão pelo relógio do que pela cidade. A conversa, no entanto, saiu do quadrado e acabou nas curvas da Sicília…

O TAG Heuer Monaco nasceu em 1969. Que relógio usava o Carlos Barbosa nessa altura?
(pausa) Em 1969, tinha um Chopard, um cronógrafo que media as pulsações. Exatamente. Um relógio de coleção muito pouco habitual para a época.

E qual foi o seu primeiro Monaco?
Sei que foi o Pedro Torres que mo vendeu, mas já não me lembro de quando. Mais tarde, cheguei a comprar um dos primeiros Monaco, em Paris, na loja do Antoine Macedo, um grande amigo, que é fornecedor e colecionador de relógios antigos e que me conseguiu arranjar um — ainda Heuer, porque os originais foram produzidos antes da associação à TAG. Mas também já não me lembro em que ano é que foi.

O que o atraiu no modelo?
O design e a forma do próprio relógio, porque um relógio quadrado é muito pouco comum. Veja que, hoje em dia, os relógios são quase sempre arredondados, com as caixas curvex, ou ovais, tirando a Bell & Ross e pouco mais. O que me seduziu foi a forma, porque acho a caixa quadrada extremamente masculina. E depois a ligação que o relógio tem ao circuito, a relação com o filme Le Mans e com o Steve McQueen. Tudo isso levou a que me apaixonasse pelo relógio.

Tem muitos relógios de forma? Porque nem toda a gente gosta.
Tenho. Tenho Bell & Ross, tenho os Monaco, tenho um Patek, que já é ligeiramente arredondado, tenho outros. Gosto de relógios de forma, sim.

Alguns modelos Monaco da coleção de Carlos Barbosa © Susana Gasalho / Espiral do Tempo Alguns modelos Monaco da coleção de Carlos Barbosa © Susana Gasalho / Espiral do Tempo
Alguns modelos Monaco da coleção de Carlos Barbosa © Susana Gasalho / Espiral do Tempo

E o Mónaco, enquanto principado, o que lhe sugere? O que representa para si do ponto de vista lúdico e profissional?
Do ponto de vista profissional, sendo eu presidente da Comissão do Campeonato do Mundo de Ralis, representa obviamente estar presente todos os anos na primeira prova no Mónaco, que corresponde ao lançamento do campeonato, se se pode assim dizer. Isto embora, hoje em dia, o rali do Mónaco decorra todo em França. No Mónaco, já decorre apenas o início e o fim da prova. Associo a parte lúdica do Mónaco a um certo glamour, ao luxo, aos casinos, aos hotéis, tudo isso, embora eu não seja jogador. E associo obviamente à Fórmula 1, já que tem um circuito icónico, embora extremamente perigoso.

Lembra-se da primeira vez que esteve no Mónaco?
Lembro. Foi há muitos anos, por volta de 1969, 1970. Fui ver o rali do Monte-Carlo Histórico.

Que imagem é que Portugal tinha do Mónaco nessa altura?
Nessa altura, o Mónaco não tinha nada que ver com aquilo que é hoje. Naquela altura, era mais um símbolo de famílias reais do que propriamente de luxo. Hoje em dia, o Mónaco é símbolo de luxo, é onde vivem as pessoas que, sendo milionárias, não querem pagar impostos e, portanto, é um Mónaco completamente diferente. E é o pior circuito de Fórmula 1 para quem está a assistir, porque onde se estiver, é onde se fica, não se consegue sair do sítio.

A presença da TAG Heuer no Grand Prix do Monaco © DR
A presença da TAG Heuer no Grand Prix do Monaco © DR

Na opinião de um duplo connaisseur, de relógios e do principado, acha que o relógio tem mais que ver com o universo das corridas de automóveis, com o ambiente do principado ou com ambos?
Eu acho que tem mais que ver com as corridas de automóveis, com o circuito em si. Para mim, o TAG Heuer Monaco tem que ver com as corridas, não tanto com a cidade. Lembro-me muito de uma das primeiras vezes no «mundo moderno» em que eu fui convidado para ir ao Mónaco e foi justamente pelo Gerhard Berger, quando ele corria com o Senna na McLaren.

Pode-se dizer que, apesar do formato, nem o relógio nem o principado são square?Eu diria que o principado é completamente square, no sentido em que aquilo é uma caixa de onde não se consegue sair. Para crescerem, só o podem fazer para o mar, como fizeram no caso do estádio de futebol que construíram enchendo a zona de areia. Diria que o principado é completamente square.

Perguntas que pedem respostas curtas: que carro faz pendant com um Monaco no pulso?
Um Porsche.

Um TAG Heuer Monaco no pulso fica bem em que hotel?
Em qualquer um.

Carlos Barbosa © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Carlos Barbosa © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Onde é a refeição ideal para quem está com um TAG Heuer Monaco no pulso? Numa tasca alentejana, num rooftop de Lisboa, num restaurante da skyline de Londres ou Xangai, no Gigi, num acampamento na Gorongosa?
Volto a dizer em qualquer um, porque uma das caraterísticas do Monaco é ser um relógio que pode ser utilizado no dia-a-dia ou numa cerimónia chique, com um smoking, com fato escuro. Pode ser utilizado com qualquer vestuário.

O Monaco é mais indoors ou outdoors?
Outdoors.

Para se usar mais de verão ou de inverno?
É um relógio mais de verão. Como ocupa mais espaço do que um relógio redondo e como no verão não se usa tantas camisas com botões de punho, diria que é mais indicado para o verão.

Estamos conversados sobre o Monaco, mas não posso perder a oportunidade de lhe fazer mais uma pergunta. É que um ‘passarinho’ disse-me que o Carlos Barbosa tinha participado recentemente na Targa Florio Classic, que, por sinal, tem a TAG Heuer como cronometrista oficial.
É uma prova histórica que eu fiz pela primeira vez com o meu querido amigo e copiloto Carlos Seruya. A única coisa de que eu não sou grande entusiasta neste rali é que tem as médias muito baixas, embora no segundo dia já tenhamos feito o percurso com mais velocidade. É uma prova mítica, extraordinária, com um percurso tramado de fazer, porque é curva e contracurva e, sobretudo, porque o alcatrão vai-se desfazendo. A Sicília é uma ilha vulcânica, está permanentemente a mexer, pelo que no dia seguinte a repararem o alcatrão ele já apresenta desníveis. Não são buracos, é completamente diferente, são desníveis com os quais é preciso ter muito cuidado. Mas foi um rali que me deu um gozo extraordinário fazer e espero voltar a fazê-lo outra vez para o ano.

As cinco edições especiais que a TAG Heuer lançou este ano para celebrar os 50 anos do cronógrafo. Todos lançados em edições limitadas a 169 exemplares.
As cinco edições especiais que a TAG Heuer lançou em 2019 para celebrar os 50 anos do cronógrafo. Todos lançados em edições limitadas a 169 exemplares.

E em que carro correu?
No meu Porsche 356, um carro antigo, mas sem nenhuma espécie de problemas, extremamente maleável para este tipo de provas, porque é um carro que se porta lindamente em curvas.

Viu muitos e bons relógios na Targa Florio?
Vi. Quando estamos a conversar ou a almoçar, acabamos por ver relógios realmente muito bons. Sabe que o mundo dos carros clássicos, quer nos circuitos quer nos ralis, tem carros extraordinários, carros que nos leilões valem 14, 15 milhões, o (Ferrari) 250LM que vale não sei quanto, o (Ferrari) GTO que vale cerca de 40 milhões. Os proprietários desses carros obviamente que também têm relógios fabulosos.

Entrevista originalmente publicado no número 69 da Espiral do Tempo (edição inverno 2019).

Outras leituras