Edição impressa | A relojoaria mecânica tem estado umbilicalmente associada a uma disposição do tempo analógica e circular, através de ponteiros – pelo que as variantes com indicações digitais se destacam pela diferença e originalidade, sem esquecer todo o virtuosismo técnico a elas associado.
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Versão completa do artigo publicado no número 63 da Espiral do Tempo (primavera 2018)
Habitualmente, o conceito circular de tempo está fielmente reproduzido através de ponteiros que efetuam voltas completas sobre o seu próprio eixo – quer seja em mostradores redondos, retangulares, tonneau ou mesmo assimétricos. A apresentação digital afigura-se como um conceito diferente que transforma a lógica habitual do tempo e lhe dá um toque mais extravagante, ao mesmo tempo que abre novos espaços para a arquitetura do mostrador. Foi por isso e pelo significado histórico que um dos mais mediáticos modelos do início do ano foi o Tribute to Pallweber, inserido na coleção destinada a celebrar o 150.º aniversário da IWC e que se inspirou num modelo de bolso de 1881.
Os responsáveis da marca de Schaffhausen procuravam um produto emblemático que fosse capaz de fazer a diferença e souberam que dois relojoeiros austríacos, pai e filho, ambos chamados Josef Pallweber, tinham inventado um sistema original; tratava-se de um módulo colocado entre o movimento e o mostrador que assentava em discos com algarismos pintados que surgiam depois em janelas recortadas no mostrador – com a particularidade de os discos avançarem através de saltos a cada 60 segundos (de minuto em minuto) e 60 minutos (de hora em hora), em vez de girarem continuamente. Em sua homenagem, a IWC lançou exemplares de bolso e de pulso que se tornaram ex-líbris da coleção do jubileu.
Técnicas e tendências
Na sua aparência, a disposição digital do tempo parece simples – até porque, hoje em dia, esse tipo de apresentação está banalizado. Mas, num relógio mecânico, encerra uma complicação que constitui um desafio. Os níveis de complexidade são vários e estão ligados à sofisticação técnica inerente à tipologia, fiabilidade, originalidade e autonomia. Porque na década de 70, quando os relógios de quartzo com mostrador em LED ou LCD começavam a inundar o mercado, também os relógios mecânicos digitais se banalizaram com o recurso à solução de substituir os ponteiros por discos – numa guerra que se tornou impossível de ganhar, porque o que era novo e revolucionário (e mais preciso, sendo o quartzo imbatível nesse aspeto) é que era bom… Quando a Hamilton anunciou o lançamento da coleção Pulsar assente num pioneiro calibre eletrónico com apresentação digital, fez questão de sublinhar que se tratava da «primeira maneira verdadeiramente nova de mostrar o tempo nos últimos 500 anos».
No entanto, os primeiros relógios de pulso que recorriam ao tempo digital surgiram na década de 20 do século XX, e os primeiros relógios de bolso desse tipo surgiram no século XIX. Abraham-Louis Breguet desenvolveu um sistema de horas saltantes que equipou alguns dos seus relógios de bolso no início desse século, e, por volta de 1830, a Le Roy já usava discos da hora e o mestre Blondeau utilizava o sistema num relógio para o rei de França. Na Alemanha, Ferdinand A. Lange idealizava um original relógio digital de parede para os espetadores da Ópera Semper de Dresden. Cerca de 50 anos depois e em plena revolução Industrial, o sistema preconizado pelo pai e filho Pallweber oferecia um modo radicalmente diferente de leitura do tempo – o investimento então efetuado pela IWC para que esse sistema se tornasse realidade, desde a aquisição da patente até aos custos de produção, equivale a mais de dez milhões de euros ao câmbio atual.
O então designado ‘relógio sem ponteiros’ foi um sucesso e as encomendas não paravam; mas, mesmo que os ateliers da IWC também não parassem, tudo se complicou devido à complicação do conceito: os discos necessitavam de uma considerável energia para fazer a rotação em incrementos porque eram pesados e a fricção requerida para que permanecessem imóveis antes do momento do salto também era nefasta para as peças. Sobretudo, desgaste induzido pelos minutos saltantes. Nem todas as afinações técnicas efetuadas ou a utilização de materiais distintos melhoraram significativamente a autonomia, sendo que a reserva de corda ficava abaixo das 24 horas; além disso, quase três quartos dos componentes do calibre tinham de ser feitos à mão, pelo que os elevados custos com o fabrico e o trabalho acabaram por impedir a companhia de Schaffhausen de conquistar a cota de mercado que preconizava. Até porque outro fator contribuiu para isso: outras marcas começaram a enveredar pela mesma via em detrimento da invenção da IWC, porque ficou juridicamente determinado que a patente protegida tinha mais a ver com parte mecânica do que com a disposição digital.
Ao longo dessa década de 80 do século XIX, a febre digital agudizou-se a ponto de haver mais de 36 calibres digitais manufaturados por 11 marcas diferentes. A IWC ainda concebeu 20 mil exemplares até ser, tal como outras casas relojoeiras, forçada a cessar produção: essa moda deixou de ser apelativa logo na década seguinte. No entanto, a Revolução Industrial acabaria por dar um outro uso à disposição digital do tempo.
Da parede para o pulso
Com o desenvolvimento industrial e o crescente número de fábricas, passou a ser necessário gerir o período laboral e o tempo passou a ser encarado de outra maneira – mediante o tal adágio capitalista do ‘tempo é dinheiro’. Os trabalhadores passaram a entrar e a sair ao som de sirenes, em muitos casos tendo de picar o ponto com o cartão a ficar marcado em dígitos.
Entretanto, a transição dos relógios de bolso para o pulso abriu um novo campo de experimentalismo técnico e estético devido à necessária redução das dimensões. E a década de 20 do século XX foi rica no plano das artes e do design. A Audemars Piguet seguiu a inspiração dos omnipresentes relógios de ponto para fazer uma incursão no campo digital, lançando um relógio de estética retangular, muito art déco, em 1929 que se caraterizava por uma janela para as horas saltantes e um segmento de círculo aberto sobre um disco dos minutos de rotação contínua. Essa combinação vertical de horas saltantes e minutos deslizantes tornou-se a norma da nova moda digital, mas não era uma grande novidade: afinal assentava num tipo de mecanismo semelhante ao existente em relógios de calendário mais elaborado.
A Grande Depressão e a Segunda Grande Guerra fizeram com que os relógios de pulso se tornassem mais práticos, mais robustos e até mais militares; a austeridade que se seguiu ao conflito mundial e o consequente classicismo também assentava quase exclusivamente na tradicional disposição analógica… até ao advento da revolucionária década de 70 e da futurista febre digital, primeiro, por via mecânica, graças a simples discos de rotação contínua sob o mostrador e depois com a invasão do quartzo – com combinações ana-digi pelo meio, como no famoso Heuer Chronosplit Manhattan. Chegou a pensar-se que a relojoaria tradicional estava condenada, faliram centenas de marcas/empresas ligadas ao setor e milhares foram para o desemprego só na Suíça, incapazes de fazer face à avalanche asiática liderada pela Casio e companhia. Mas, enquanto o fenómeno Swatch trazia novamente o velho sistema de ponteiros para a moda mesmo com base em calibres de quartzo (a meio da década de 80), um movimento de resistência logrou puxar de volta a relojoaria mecânica…
Ressurreição mecânica
Subitamente, no início dos anos 90, a relojoaria tradicional estava de regresso à ribalta. E para conquistar um novo público, tinha de apresentar não só sofisticação, mas também inovação técnica relativamente aos relógios mecânicos ditos normais.
Foi o tempo em que Franck Muller escolheu para se afirmar como Mestre das Complicações, e o famoso designer Gerald Genta lançava modelos que combinavam horas saltantes (numa janela digital) e minutos retrógrados (numa escala semicircular), apoiados tecnicamente em duas molas que iam armazenando energia até se soltarem na altura da mudança de hora. Gerald Genta insistiu tanto nessa combinação que a marca com o seu nome quase se tornou sinónima de sistema retrógrado. E a verdade é que foi com Gérald Genta que se começou finalmente a dispor com precisão os minutos retrógrados numa escala de 60 marcas correspondente aos minutos. A linha Retro Classic incluía a gama Fantasy, dotada de mostradores com personagens bem conhecidas do imaginário de… Walt Disney.
Entretanto, a Audemars Piguet apresentava o Star Wheel – em cujo mostrador três discos de safira dotados da indicação de quarto horas cada surgiam associados a uma roda central e iam girando para apresentar a hora por via digital e os minutos numa escala. O modelo acabaria por não ter um enorme sucesso comercial, mas foi seguramente um dos mais emblemáticos da manufatura de Le Brassus nesse período e tem regressado pontualmente à coleção.
Com a recuperação em força da relojoaria tradicional, assistiu-se a um grande boom de marcas e experimentalismo no final da década de 90 e, sobretudo, após a viragem do milénio. Com a proliferação de criadores vieram novos sistemas numéricos, desde os mais acessíveis até aos mais exclusivos. Os modelos digitais da Ventura, uma marca que surgiu demasiado cedo no tempo porque não sobreviveu, assentavam num rotor de princípios automáticos associado a um microgerador. E o projeto Goldpfeil, animado por vários mestres num conceito de parcerias que depois redundaria na lendária série Opus da Harry Winston (destacando-se o Opus 3 de Vianney Halter, o Opus 5 de Felix Baumgartner e o Opus 8 de Frédéric Garinaud) e levaria à criação da MB&F, foi fundamental para o lançamento de uma relojoaria independente em que o recurso às indicações digitais surge bem presente.
Portentoso Indicator
Já no novo milénio, a Porsche Design contratou Paul Gerber para desenvolver um cronógrafo de indicação digital. A base técnica foi estabelecida e, a partir do final de 2001, a Eterna (que então fabricava os relógios Porsche Design após ter sido adquirida pela família Porsche) abraçou apaixonadamente o conceito com uma dúzia de engenheiros, técnicos e relojoeiros; depois de mais de três anos de desenvolvimento, o Indicator ficou finalmente pronto para conquistar o mundo. No cerne do projeto estava a necessidade de legibilidade absoluta. A solução foi encontrada com o recurso a uma dupla janela panorâmica onde vai rodando a indicação digital dos minutos e das horas do cronógrafo até uma cronometragem de 9 h 59 min.
Para chegar a essa inovadora apresentação de dados num cronógrafo mecânico, foi necessário transformar o calibre de base Valjoux 7750: em vez da opção por um módulo que tornaria a espessura incomportável, a platina e as pontes foram redesenhadas numa solução integrada com 400 novos componentes – elevando para 800 o número total de peças! Para uma leitura ótima dos totalizadores digitais, as janelas teriam de ser de consideráveis dimensões; logo, também o diâmetro do mostrador teria de ser bem grande. Assim, o mecanismo adaptado cresceu até aos 36 mm de diâmetro e 14,3 mm de espessura, para poder albergar as oito centenas de peças e os quatro tambores de corda necessários para fornecer a enorme quantidade de energia exigida (um para o mecanismo do relógio; os outros para cada um dos três discos do cronógrafo digital). A produção anual andava entre os dois e os quatro exemplares…
O incomparável Zeitwerk
Em 2009, a Lange & Söhne apresentou um instrumento do tempo revolucionário dotado de um rosto surpreendente: o Zeitwerk, animado por duas grandes janelas onde as horas e os minutos vão saltando em formato digital na companhia de dois indicadores analógicos para os segundos e a reserva de corda. Se a abertura para a inovadora data grande do Lange 1 foi inspirada pelas duas janelas sobre o palco da Ópera Semper de Dresden que indicavam o tempo de cinco em cinco minutos, o Zeitwerk foi mais longe e aproximou-se ainda mais dessa relojoaria grossa através da apresentação do tempo em dois orifícios panorâmicos. O Lange 1 foi pioneiro na apresentação de uma data sobredimensionada a partir de dois discos (no seu caso, uma cruz para os dígitos das dezenas e um disco para o das unidades); já o Zeitwerk foi pioneiro no sentido em que se tornou no primeiro relógio de pulso a apresentar horas e minutos com algarismos saltantes.
O funcionamento é fascinante: de 60 em 60 segundos, o mecanismo murmura um clique e o(s) disco(s) na janela dos minutos avança(m) 60 vezes até à altura em que também o disco sob a janela das horas efetua a sua própria rotação: nesse instante, há três discos a deslizar em simultâneo e o momento mais ansiado verifica-se às 11 h 59 min – quando o ponteiro dos segundos faz a sua rotação até se chegar às 12 horas.
A energia necessária para fazer saltar um/dois discos dos minutos a cada 60 segundos sempre foi o óbice que impediu a adoção de um sistema digital num relógio mecânico de elevada precisão e razoável autonomia de funcionamento. Os três discos necessários (um para as horas, dois para os minutos) requerem um consumo de energia tremendo; a Lange & Söhne resolveu o problema através de um sistema patenteado de força constante que assegura uma tensão permanente e que foi inspirado no princípio da reserva de marcha. Ao dar-se corda ao Zeitwerk, é utilizada a posição do tambor que está sujeita à fricção; o funcionamento que consome corda faz com que a roda do tambor rode na posição que está submetida a menor fricção. Entre a roda do tambor e o volante situa-se um mecanismo de reajuste de tensão patenteado que despoleta o salto das horas e dos minutos. Graças ao sistema de escape de força constante, a energia é fornecida de maneira uniforme ao longo das 36 horas de autonomia do Zeitwerk – assegurando a tão almejada precisão ao longo desse espectro de tempo.
Após o modelo de base, a família Zeitwerk cresceu graças a uma projeção acústica com modelos que necessitam de um fornecimento de energia ainda maior. Primeiro foi o Zeitwerk Striking Time, que se faz ouvir à passagem da hora e do quarto de hora; depois surgiu o Zeitwerk ‘Decimal’ Minute Repeater, com o martelo da esquerda a bater as horas, o da direita a bater os minutos e ambos a fazerem soar combinadamente as dezenas de minutos em dois tons.
A trilogia Vagabondage
Também a F.P. Journe apresenta uma linha assente na estética digital e numa mecânica de grande mestria técnica. O primeiro elemento da família Vagabondage surgiu em 2004, primeiro numa tiragem exclusiva para um leilão de beneficência e depois numa edição limitada a 69 peças; colocava em destaque um disco saltante das horas que girava à volta de um balanço exposto ao centro e acompanhava a indicação dos minutos. O Vagabondage II (igualmente restrito: 69, 68 e 10 exemplares, consoante o metal e variante joalheira) foi apresentado em 2010, também num formato tonneau, mas de tamanho um pouco maior – e indicava tanto as horas como os minutos em discos saltantes acompanhados de um submostrador analógico para os pequenos segundos.
O Vagabondage III constituiu uma estreia mundial em 2017, sendo o primeiro a apresentar horas digitais saltantes e segundos digitais saltantes – acompanhando a indicação analógica dos minutos (ao centro) e da reserva de corda de 40 horas (à 1 hora). A inclusão dos segundos saltantes é a grande novidade, requerendo um sistema de força constante para fazer disparar o(s) disco(s) a cada segundo que passa sem que a energia consumida para o efeito afete a precisão do relógio. O design assimétrico faz dele o mais contemporâneo da trilogia, com um vidro de safira que, apesar de fumado, deixa entrever a maior parte do mecanismo. Os algarismos não são impressos: são escavados e enchidos com esmalte branco. Como os seus antecessores, o Vagabondage III também foi pensado em edição limitada com números idênticos aos do Vagabondage II… mas só quem tem o II está habilitado a adquirir o III. E, segundo François-Paul Journe, a ‘vagabundagem’ chegou ao fim.
Popularização de sistema
Até a Jaeger-LeCoutre investiu na indicação digital para enriquecer dois modelos seus de grande gabarito – horas saltantes no ultracomplicado Hybris Mechanica 55 (sim, 55 funções/complicações) e, sensacionalmente, dois discos de cronógrafo no Master Grande Tradition Gyrotourbillon 3 Jubilée. São muitas as marcas ditas de mainstream a incluir uma variante numérica no seu catálogo, de maior ou menor nomeada e desde a média à alta-relojoaria, da Oris e da Raymond Weil à Chanel ou à Bovet, sem esquecer a própria Patek Philippe e sobretudo a Vacheron Constantin – que assenta muito os seus modelos Métiers d’Art (incluindo a recentemente apresentada série Les Aérostiers) numa apresentação do tempo em quatro discos que, além da data e do dia da semana, inclui a indicação das horas e dos minutos.
A Chronoswiss, que graças ao mestre Gerd-Rüdiger Lang contribuiu para o renascimento da relojoaria mecânica na década de 80, destacou-se muito nos anos 90 com o Digiteur retangular em edição limitada, e, sobretudo, graças ao Delphis de hora digital saltante, minutos retrógrados com eixo central e pequenos segundos num mostrador subsidiário – sendo que a estratégia atual da marca passa muito pelo conceito ‘Regulador’ com vários exemplares a combinarem os emblemáticos modelos Delphis e Régulateur.
A Bvlgari, tendo absorvido a Gerald Genta e a Daniel Roth, manteve a forte tradição de horas digitais conjugadas com minutos retrógrados presente nos relógios anteriormente vistos nas coleções das marcas fundadas por esses dois mestres – desde os Gefica Bi-Retro com o selo Genta até às variantes Papillon preconizadas por Roth; a mais recente criação ‘digital’ da Bvlgari prende-se com os modelos Octo que celebram a sua associação à escuderia Maserati.
Além de várias incursões no plano ana-digi de marcas mais ou menos reputadas, há toda uma plêiade de marcas de nicho ou experimentais com relevantes incursões numéricas. Que não são poucas.
Um dos melhores relógios de Baselworld em 2017 foi mesmo o Dodekai da agora ‘adormecida’ Manufacture Contemporaine du Temps, com uma série de discos a desenharem a hora digital ao centro. A excelente De Bethune também tem no seu catálogo o DB28 Digitale que coloca em evidência toda uma estética neoclássica que destaca a hora saltante, os minutos retrógrados e fases lunares numa lua esférica ao centro – sem esquecer o Dream Watch em forma de avião espacial com discos das horas e minutos. A Hautlence inclui vários modelos em que a indicação digital assume preponderância técnica e estética, como sucede nas especialidades HL2 e Vortex.
A Meistersinger junta no Salthora uma hora saltante ao seu habitual ponteiro único. A Akrivia tem o Tourbillon Chiming Jumping Hour, que associa a hora saltante a um turbilhão e a uma sonnerie; apesar do consumo de energia, garante uma reserva de marcha de 100 horas. A Urwerk utiliza um sistema satélite e telescópico assente em braços que, ao mesmo tempo que indicam os minutos numa escala retrógrada, incluem as horas digitais num bloco multifacetado que roda sobre si. A Hysek surgiu o ano passado com o extraordinário Colossal, com 1080 peças e cuja vertente digital assenta em rolos E a MB&F de Max Büsser assenta a loucura das suas Horological Machines na disposição digital do tempo, através de esferas ou discos dispostos de vários modos em exemplares inspirados por naves espaciais ou ‘muscle cars’ americanos. Finalmente, um dos mais recentes modelos desvelados pela H. Moser Cie, o Endeavour Flying Hours, evidencia uma disposição orbital do tempo com três discos rotativos.
E depois há as marcas que assentam exclusivamente numa disposição do tempo digital parcial ou total. A Cabestan tem toda a sua produção baseada em variantes de um modelo caraterizado por discos verticais acionados pelo sistema de fuso e corrente. A 4N de François Quentin (um dos cofundadores da Hautlence) assenta num calibre de corda manual feito em titânio, alumínio e fibra de carbono que beneficia de uma transparência total no mostrador, vendo-se os discos a cruzarem-se e a sobreporem-se para mostrar o tempo, com algarismos largos (cerca de 5,5 mm). A um nível de preço mais ‘acessível’ do que o dessas especialidades de tiragem extremamente limitada está a Reservoir, cuja coleção é inspirada por antigos manómetros ou painéis de instrumentos – sendo inteiramente composta pela combinação da data digital saltante com minutos retrógrados numa escala de 240 graus e indicador da reserva de corda.
Onde muitos vêm uma ameaça modernista, há quem veja uma oportunidade na combinação de conceitos. A relojoaria mecânica digital continuará a ser ‘diferente’ e, ao mais alto nível, uma área preferencial de experimentação que nos continuará a oferecer alguns dos exemplares mais originais na história da arte relojoeira.
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