Oris Jazz Limited Editions: É tudo música

EdT53 — A Oris tem uma sólida história de ligação ao mundo do jazz, numa aposta que arrancou com o patrocínio do London Jazz Festival, em 1996, e se foi desenrolando com o lançamento de edições especiais dedicadas a artistas de renome. O ano de 2015 traz mais uma novidade: um relógio que presta homenagem a Thelonious Monk.

Crónica originalmente publicada na edição 53 da Espiral do Tempo.

Oris Jazz Limited Editions
Thelonious Monk Limited Edition, de 2015, uma edição de perfil discreto limitada a 1000 exemplares. © Oris

«É tudo música» — dizia Duke Ellington a propósito da difícil definição de jazz enquanto género musical. Ao longo dos tempos, o termo jazz tem sido associado a uma grande variedade de estilos e há alas que defendem diferentes perspetivas: alguns teóricos  consideram definições mais restritas e alguns artistas têm mesmo dificuldades a considerar como jazz os seus trabalhos musicais. Seja como for, houve mesmo quem defendesse que a música do próprio Duke Ellington não deveria ser considerada jazz, perspetiva ancorada no facto de o jazz, supostamente, não poder ser orquestrado e no facto de Ellington ter sido precisamente líder de uma orquestra de jazz. Improviso surge assim como palavra-chave, independentemente do tipo, da variedade ou do género de jazz que está em causa. De qualquer forma, e problemáticas de teoria musical à parte, a verdade é que também para a Oris «é tudo música», pelo que a marca suíça não teve nenhum problema em evocar Duke Ellington enquanto performer de jazz através do lançamento de uma edição limitada de homenagem ao artista americano, assim como não teve nenhum problema em lançar muitas mais edições especiais que prestam tributo a outros nomes de referência do mundo do jazz.


Improviso assinado Oris

Oris Jazz Limited Edition
Louis Armstrong Limited Editions, 2000 © Oris

Não deixa de soar um pouco estranho o facto de a Oris insistir há cerca de 20 anos numa continuada homenagem ao mundo do jazz. A marca suíça é conhecida pelas suas criações relojoeiras especialmente robustas e utilitárias distribuídas em três distintos pilares — mergulho, aviação e desporto motorizado. No entanto, há um outro pilar, menos ligado ao mundo prático e mais ancorado no inesperado e na aposta em relógios esteticamente diferentes, apelativos para quem aprecia um discreto dress watch, com caraterísticas especiais. Designado «cultura», este pilar surge como uma espécie de área criativa na qual os relógios dedicados ao mundo do jazz se enquadram perfeitamente. Isso e o gosto pessoal que Ulrich Herzog tem por este género musical. «Toda a minha vida, estive ligado ao jazz», explica o CEO da Oris, «nos finais da década de 60, colaborei com a produção de algumas gravações de jazz, com alguns ícones do jazz de Basileia. Foi um sonho tornado realidade quando a Oris se tornou parceira oficial do renomado London Jazz Festival, em 1996, celebrando o lançamento do nosso primeiro relógio ligado ao jazz, uma peça dedicada ao saxofonista britânico Andy Sheppard à qual se seguiram uma série de edições limitadas em honra de grandes nomes do jazz».

Oris Jazz Limited Edition
Andy Sheppard Limited Edition, primeiro relógio ligado ao jazz, lançado em 1996. © Oris

A relação entre a Oris e o jazz não surge assim fruto do acaso, nas palavras de Ulrich Herzog: «Sempre senti que o jazz e a Oris se encaixam na perfeição — a relação entre os músicos de jazz e a audiência é muito ‘real’, os instrumentos são, na sua maioria, obras-primas mecânicas e os músicos são pessoas com um espírito livre e independente.» Atualmente, o portefólio da Oris contempla já um considerável número de relógios dedicados a personalidades do jazz — 14 ao todo, se referirmos o mais recente lançamento, que evoca Thelonious Monk —, com especial incidência para artistas norte-americanos.


Homenagens ao jazz

Oris Jazz Limited Edition
John Coltrane Limited Edition, de 2014 © Oris

De Andy Sheppard (em 1996) a John Coltrane (em 2014), passando por McCoy Tyner (em 1997), John McLaughlin (em 1998), Lionel Hampton (em 1999), Louis Armstrong (em 2000), Miles Davis (em 2001), Duke Ellington (em 2002), Charlie Parker (em 2003), Frank Sinatra (em 2005), Dizzy Gillespie (em 2007), Oscar Peterson (em 2010) e Chet Baker (em 2012), as jazz limited editions da Oris podem ser já referenciadas como uma linha à parte no seio da coleção «Cultura». No entanto, o facto de estarem incluídas numa linha não faz delas peças de estilo uniformizado e claramente identificativo. A linha condutora é mesmo o tema: artistas de jazz, e pronto. De resto, tal como acontece no carismático e (in)compreendido género musical, a coleção vive de diferentes variantes, com diversos relógios de edição para edição. Temos assim relógios das famílias Artix, Artelier, Rectangular e Junior, de formato redondo, retangular e tonneau, com mostradores cinzentos, pretos, castanhos e azuis, com distintas opções de materiais de caixa, com diferentes tipos de numerais e indexes, e com caraterísticas específicas alusivas à personalidade homenageada.

Oris Jazz Limited Editions
Oris Jazz Limited Editions: Charlie Parker, 2003; Frank Sinatra, 2005 e Dizzy Gillespie, 2007. © Oris

Em alguns casos, os relógios distinguem-se por incluírem elementos evocativos de tributo especialmente óbvios, como fundos personalizados com a silhueta dos artistas — como acontece com a Miles Davis Limited Edition, de 750 exemplares, lançada no âmbito dos dez anos da morte daquele que é considerado uma das mais importantes figuras do jazz — ou com a alusão a elementos óbvios de relação com o nome em causa — caso da homenagem a Louis Armstrong, no qual se descobre a representação do trompete de Satchmo the Great.

Oris Jazz Limited Editions
Miles Davis Limited Edition, de 2001, com a silhueta do artista no fundo. © Oris
Oris Jazz Limited Editions
O fundo das Louis Armstrong Limited Editions é personalizado com a representação de um
trompete. © Oris

Também há a situação de edições que apostam em elementos mais simbólicos e essas merecem redobrada atenção pelos detalhes: no relógio dedicado a Oscar Peterson, o mostrador preto divide-se em duas partes, com um padrão concêntrico que evoca um LP de vinil numa referência aos inúmeros discos gravados pelo pianista canadiano; por outro lado, os indexes foram concebidos de modo a evocar simbolicamente as teclas de piano, já o número oito surge salientado num tom alaranjado, em referência aos oito prémios Grammy conquistados pelo ‘Marajá das teclas’, como era chamado por Duke Ellington. O fundo é personalizado com a gravação do célebre logo do leão que evoca a constelação alusiva à sua data de nascimento. Fica a nota ainda de que este relógio contou com uma versão cronográfica, como forma de realçar a precisão e noção de tempo perfeitas do pianista, um detalhe um pouco rebuscado que não deixa de ser interessante.

Oris Jazz Limited Editions
A Oscar Peterson Limited Edition, de 2010, apresenta vários elementos simbólicos. © Oris

Já interessante foi também o extra que ofereceu a Chet Baker Limited Edition: o relógio era entregue com um metrónomo mecânico, numa dupla que traduzia na perfeição a relação entre música e tempo.

Oris Jazz Limited Editions
Chet Baker Limited Edition, de 2012, com o metrónomo que o acompanha. © Oris

Quanto a Frank Sinatra, cujo centenário do nascimento é celebrado este ano, chegou também a ser homenageado pela Oris. Mas a marca não se limitou a criar apenas um relógio e optou mesmo por lançar uma subcoleção evocativa do carismático Ol’Blue Eyes is Back, que veio a incluir um cronógrafo e uma complicação com indicação do dia, da data, segundo fuso horário e fases da Lua.


Oris ALWAYS KNOW

Oris Jazz Limited Editions
Thelonious Monk Limited Edition 2015 © Oris

E 2015 foi também ano de lançamentos no âmbito das jazz limited editions da Oris. Desta vez, Thelonious Monk foi o talento celebrado numa edição de 1000 exemplares que brilha especialmente pelo seu perfil discreto. Com caixa de 40 mm em aço de formato redondo, um mostrador azul com acabamento soleil fumado e pontos polidos no lugar de indexes, o relógio surge com o que até poderia ser uma sugestiva alusão a «Round midnight», peça da autoria de Monk e que se tornou no standard mais gravado alguma vez composto por um músico de jazz. A dissonância surge como um dos aspetos referenciados na música do artista norte-americano e esta caraterística é subtilmente evocada no mostrador do relógio com uma espécie de desarranjo dos indexes, entre as 10 e as 12 horas.

Oris Jazz Limited Editions
Um subtil desarranjo dos índexes, entre as 10 e as 12 horas procura espelhar dissonância. © Oris

De estilo clássico, mas simultaneamente sofisticado, a edição limitada dedicada a Thelonious Monk tem o fundo gravado com as míticas palavras «MONK ALWAYS KNOW», um dos sofismas inspirados pelas letras do anel personalizado que o artista usava. Segundo o próprio, para o público, o anel parecia gravado com a palavra KNOW, mas, quando se observava mais de perto, poderia ler-se MONK. Aliás, basta um espelho para perceber a simetria que permite dar um segundo sentido à palavra.

Oris Jazz Limited Editions
O fundo  apresenta a expressão «MONK ALWAYS KNOW». © Oris

São pormenores como este que fazem das edições limitadas Oris dedicadas ao mundo do jazz um mundo que vale a pena descobrir. Graças ao relógio que alberga, cada estojo é uma caixa de surpresas que nos permite conhecer melhor artistas incontornáveis. Seria curioso se o estojo pudesse ser também uma espécie de caixa de música: ao abrir, a caixa libertaria uma peça musical que nos permitisse usufruir do talento do artista homenageado e que tornaria cada relógio ainda mais vivo, enquanto peça de tributo.

Oris Jazz Limited Editions
As notas musicais que decoram o mostrador da edição limitada de Chet Baker, fazem parte da sua famosa música «My funny valentine» © Oris

A verdade é que, mesmo sem nenhum som, a Oris Jazz Collection fala por si ao ser composta por relógios que não tocam música, mas contam histórias. O relógio dedicado a Chet Baker, por exemplo, revela-nos a relação especial que o trompetista tinha com o sucesso «My funny valentine», pois o mostrador é decorado com as notas que compõem esta música; o relógio dedicado a Charlie Parker diz-nos que o saxofonista era também conhecido como ‘bird’, nickname referido no mostrador como indexe no lugar das 4 horas; e o relógio dedicado ao já mencionado Duke Ellington apresenta a silhueta do grande pianista e compositor norte-americano no fundo e era complementado com um certificado de tributo e inúmeras fotografias. Por motivos óbvios, esta coleção parece indicada para um verdadeiro apreciador de jazz. Mas também não deixa de fazer sentido para um verdadeiro apreciador de relógios — tendo em conta o modo discreto como a alusão aos artistas é feita em cada instrumento do tempo.

Oris Jazz Limited Editions
Duke Ellington Limited Edition, de 2002, personalizada com a silhueta do músico no fundo. © Oris

Voltando a Duke Ellington, o eloquente pianista dizia que se limitou a canalizar a energia que se gasta a fazer ‘beicinho’ para compor alguns blues e que é preciso encontrar uma forma de o dizer sem se dizer de facto. Assim vivia a sua música. Já a Oris canalizou a sua energia para levar a cabo um tributo ao mundo do jazz através de uma coleção intemporal e conseguiu encontrar uma forma de falar de uma paixão sem falar de facto. Em jeito de conclusão e pegando nas palavras de John McLaughlin, outro nome homenageado: «I hope you find something in the music»* ou melhor «in these watches». ET_simb

* Palavras de John McLaughlin na apresentação do seu próprio álbum intitulado Black Light.
In: johnmclaughlin.com

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