José Luís Peixoto: navegando nas margens do tempo

A escrita de José Luís Peixoto atravessa fronteiras culturais e emocionais. Um dos nomes mais reconhecidos da literatura contemporânea tem cativado leitores em todo o mundo com a sua prosa envolvente e profundamente emotiva. Exploramos o tema do tempo e mergulhamos na vida do autor como poeta, romancista e nómada, sempre em constante viagem e em espanto pelo mundo. A entrevista completa está disponível na edição de verão 2023 da Espiral do Tempo.

Exclusivo na edição impressa | Nascido em Galveias, uma pequena freguesia no coração do Alentejo, em Portugal, descobriu a sua paixão pela escrita desde jovem. Ao longo da sua carreira, tem explorado temas universais, como o do amor, da perda, da identidade e da memória, através de histórias que transbordam de sensibilidade e autenticidade. As suas obras são aclamadas pela crítica e já foram traduzidas para várias línguas, alcançando um público diversificado ao redor do globo.

José Luís Peixoto no Restaurante & Bar Infame, em Lisboa | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Além das conquistas literárias, José Luís Peixoto é conhecido pela curiosidade insaciável e a paixão por viagens. Cada destino visitado é uma fonte de inspiração para a sua escrita, um convite para explorar novas perspetivas e mergulhar em diferentes culturas. Ao embarcar em jornadas pelo mundo, encontra nas pessoas, paisagens e experiências uma rica tapeçaria que permeia as suas narrativas. Os seus livros não apenas transportam os leitores para lugares distantes, mas também os convidam a refletir sobre a essência humana e a conexão universal que compartilhamos.

A sua escrita transcendente tem, assim, desafiado fronteiras culturais e emocionais, conquistando admiradores em todo o mundo com uma prosa envolvente e profundamente emocional. Entramos aqui no universo do autor, explorando a temática do tempo e mergulhando na sua vida multifacetada como poeta, romancista e nómada, sempre em busca de novas experiências e maravilhado com a diversidade. Aprofundando-se na relação entre arte e vida, Peixoto revela que o filho mais novo, de 18 anos, é um apaixonado entusiasta dos relógios. Admirando a sua paixão visual e estética, bem como o seu profundo conhecimento sobre o design, funcionamento e história das marcas, o escritor observa nesse vínculo geracional uma fonte inesgotável de aprendizagem mútua, onde os filhos se tornam mestres e os pais, aprendizes, mergulhando em universos como música e relógios, que antes desconheciam.

Editadas em Portugal pela Quetzal, aqui estão algumas obras de José Luís Peixoto, autor cujos livros estão traduzidos em mais de 30 idiomas: A Mãe que Chovia (2012); Galveias (2014); Nenhum Olhar (2000); Morreste-me (2000).

Como poeta, romancista e nómada, a tua vida está intrinsecamente ligada à busca de novas experiências e perspetivas. Como é que essa constante movimentação e nomadismo influenciam a tua escrita?
O nomadismo tem sido uma parte fundamental da minha vida e escrita. Através das viagens, tenho a oportunidade de me conectar com diferentes culturas, pessoas e lugares. Essas experiências enriquecem a minha visão de mundo e permitem-me explorar uma diversidade de temas e narrativas. O nomadismo desperta a minha curiosidade e incita-me a questionar as minhas próprias crenças e perspetivas. Acredito que a escrita deve ser uma busca constante, e o nomadismo alimenta essa busca, inspirando-me a continuar a explorar novos horizontes literários.

Escritor José Luís Peixoto durante a entrevista que teve lugar no Restaurante & Bar Infame, em Lisboa | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Onde encontras a tua casa em meio a tanta viagem e mudança constante?Tenho refletido muito sobre isso ultimamente. É curioso perguntares. Encontrei conforto na escrita e nos projetos que mantenho, como os romances e os textos em que estou a trabalhar. São uma forma de estabilidade, mesmo em meio às viagens. A diversidade de lugares e pessoas com as quais me encontro durante as minhas jornadas muitas vezes contribui para enriquecer as minhas histórias ou até mesmo desafiá-las. Em relação aos horários e às condições, confesso que me acostumei com o tempo e aprendi a tirar o melhor proveito dele. O avião, por exemplo, é um lugar onde gosto de desenvolver ideias e raciocinar sobre enredos e personagens. Já o quarto de hotel torna-se um espaço propício para focar-me no texto e fluir com a escrita. A leitura também desempenha um papel importante durante as viagens, aproveitando as horas nas escalas e esperas. A tecnologia também é uma aliada, permitindo-me estar em contacto com familiares e amigos. Ainda vejo as viagens como algo desejável, mas não tenho a certeza se isso se manterá no futuro. É possível que chegue o momento em que essa intensidade diminua, e tudo isso se torne uma memória.

Essa vontade de viajar sempre existiu em ti?
Sempre tive uma grande paixão por viagens, e os meus pais, apesar de não terem viajado tanto quanto eu, inspiraram-me muito nesse sentido. Viajar não significa necessariamente fazer grandes deslocações ou voar para longe. Basta um impulso, um sonhar.

O tempo: como é que o sentes e como é que te influencia?Incontornavelmente, é uma presença constante na minha vida e na minha escrita. Vejo o tempo como uma dimensão fluida, cheia de nuances e possibilidades. Os livros são feitos de tempo, são uma forma de congelar momentos e emoções para que possam ser compartilhados com outros. Para mim, é uma fonte inesgotável de inspiração e reflexão.

Escritor José Luís Peixoto com a escritora do artigo Sandra Gonçalves
Uma entrevista que se prolongou bastante mais do que o esperado, conduzida por Sandra Gonçalves, é o resultado de ter José Luís Peixoto como interlocutor. Um cidadão do mundo mas com o coração no seu Alentejo e nas suas ligações familiares. | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Nascido em Galveias, uma pequena freguesia no Alentejo, isso influenciou a tua escrita? Há raízes alentejanas na tua obra?
A minha origem alentejana tem um lugar especial no meu coração e na minha escrita. Aliás, por muito que viaje, os meus sonhos são sempre passados em Galveias. O Alentejo é uma região de grande beleza natural e rica em tradições. Crescer nesse ambiente moldou a minha sensibilidade e a minha relação com a terra, o tempo e as histórias que emergem dessa paisagem única. O Alentejo é uma fonte de inspiração constante para mim, tanto nas suas paisagens vastas como nas suas pessoas acolhedoras. As memórias e as histórias da minha infância e adolescência estão presentes nas entrelinhas dos meus livros, conferindo-lhes uma autenticidade e uma conexão com a terra que tanto amo.

Leia a entrevista completa no nº 83 da Espiral do Tempo (verão 2023).


O Restaurante & Bar Infame, em Lisboa, foi o espaço escolhido para a realização desta entrevista. A Espiral do Tempo agradece a simpatia e atenção com que fomos mais uma vez acolhidos.

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