Tal como a Espiral do Tempo, também o Grand Prix d’Horlogerie de Genève cumpriu em 2021 o seu 20º aniversário – e a edição deste ano foi a mais internacional de sempre, com algumas estreias e surpresas pelo meio. E também com a esperada celebração de arromba de toda uma comunidade relojoeira que se juntou institucionalmente pela primeira vez desde o advento da pandemia.
Depois de, há um ano, o Grand Prix d’Horlogerie de Genève ter decorrido com balões (sim, balões) em lugar de público na plateia do Théâtre du Léman e de o júri ter sido composto exclusivamente por residentes suíços para evitar viagens em tempo da pandemia, a edição deste ano apresentou uma particularidade digna da comemoração do 20º aniversário dos chamados Óscares da Relojoaria: o palmarés foi o mais internacional de sempre!

Essa particularidade passou despercebida à esmagadora maioria dos observadores, mas cá estamos para a realçar antes de mais – já que o Grand Prix d’Horlogerie de Genève é supostamente um bastião da fina relojoaria suíça e Genebra a cidade da alta-relojoaria por excelência. Atente-se bem à ‘internacionalização’: a marca recipiente do mais prestigiado troféu, a Bulgari (graças ao Octo Finissimo Perpetual Calendar), é italiana e tem um CEO francês; o Prémio do Relógio Masculino foi para o nipónico Grand Seiko Hi-Beat 36000 80 Hours Caliber 9SA5; o Prémio do Relógio Astronómico e de Calendário foi para a holandesa Christiaan Van der Klaauw com o CVDK Planetarium Eise Eisinga, o Prémio do Relógio de Mergulho foi para a francesa Louis Vuitton graças ao Tambour Street Diver Skyline Blue e a Louis Vuitton depois conseguiu um segundo galardão através do Tambour Carpe Diem no Prémio da Audácia; o Prémio Challenge para relógios de primeiro preço marcou a estreia absoluta de uma marca chinesa graças ao Blue Planet da CIGA Design; o alemão Bernhard Lederer impôs-se na categoria da inovação com o seu Central Impulse Chronometer; o Prémio da Revelação Relojoeira foi alcançado por uma marca – a Furlan Marri — fundada por um designer de ascendência italiana e por um árabe (Andrea Furlan e Hamad Al Marri); e o Prémio Especial do Júri foi unanimemente atribuído à Dubai Watch Week, o evento do médio oriente que ultrapassou os principais certames helvéticos na preferência dos líderes de opinião da indústria relojoeira.


Ou seja, um prémio criado há vinte anos para celebrar a excelência da relojoaria suíça transformou-se numa autêntica homenagem às nações unidas da relojoaria – e não só houve pouca gente a reparar nesse ângulo como ninguém se importou com tal intrusão forasteira no meio do ambiente festivo do Théatre du Léman, com todos os protagonistas da indústria que marcaram presença a revelarem mais do que satisfação por poderem novamente estar todos juntos. O último grande evento presencial tinha sido a Dubai Watch Week de 2019, apesar de duas edições do Geneva Watch Days em 2019 e 2020 terem contado com alguma participação internacional. E o regresso à abertura e internacionalização prosseguirá lá mais para o final do mês com a quinta edição da Dubai Watch Week, o melhor evento relojoeiro do planeta que este ano se realiza a par de uma exposição universal no Dubai (a Expo 2020, adiada para este ano) e que muito justamente foi consagrado com o Prémio Especial do Júri.


A cerimómia teve novamente como anfitrião o comediante Edouard Baer, tendo atribuído um total de 19 galardões atribuídos por um júri verdadeiramente intercontinental liderado pelo historiador britânico Nick Foulkes – devidamente apoiado por uma votação preliminar de mais de 500 elementos pertencentes à Academia do Grand Prix d’Horlogerie de Genève, constituída pela Fundação da Alta Relojoaria em 2020. E, nos momentos de entrega dos troféus, talvez a tirada mais simbólica tenha sido a que foi proferida pelo colecionador chinês Austen Chu: “E uma honra fazer parte do júri e quando regressar a casa já sei que vou ter de fazer uma quarentena de 21 dias fechado num quarto, o que mostra bem o doido que eu sou por relógios”.


Entre os destaques, há que começar obrigatoriamente pelo galardão máximo: o Octo Finissimo recebeu o prémio da Aiguille d’Or (Ponteiro de Ouro) através da sua variante Octo Finissimo com calendário perpétuo e reforça o seu estatuto de ícone contemporâneo. Lançado a partir de 2014 com design de Fabrizio Buonamassa (chamado ao púlpito e apelidado de ‘Leonardo Da Vinci’ pelo CEO da Bulgari, Jean-Christophe Babin), o Octo Finissimo tem acumulado prémios por todo o mundo e batido recordes no que diz respeito a movimentos ultraplanos. O estatuto já alcançado foi devidamente salientado na mais recente edição da Espiral do Tempo, tendo sido o modelo mais votado pelas 40 individualidades que participaram no inquérito relativo ao relógio mais carismático da relojoaria contemporânea.


Outras duas marcas – que, tal como a Bulgari, também apresentam uma forte conotação joalheira e associada ao mundo da moda – saíram com dois troféus do Théâtre du Léman: a Louis Vuitton, inesperadamente vencedora na categoria dos relógios de mergulho através do Tambour Street Diver Skyline Blue e premiada pela sua audácia com o Tambour Carpe Diem, está de novo a investir fortemente na área relojoeira com Thibaut Pellegrin na gestão de produto e Jean Arnault na liderança (o jovem irmão de Frédéric Arnault, CEO da TAG Heuer, e filho de Bernard Arnault, dono do grupo LVMH); e a Piaget, que se impôs na categoria do Relógio de Senhora com o Limelight Gala Precious Rainbow e na categoria de Excepção Mecânica com o Altiplano Ultimate Automatic.


Quem também saiu com dois troféus na mão foi Max Busser, que ganhou o Prémio da Complicação Masculina com o LMX Titanium que celebra os 10 anos da linha Legacy Machine e ainda o Prémio do Artesanato com um modelo Legacy Machine abrilhantado pelo baixo relevo de Eddy Jacquet sobre a temática da Volta ao Mundo em 80 Dias alusiva ao romance de Júlio Verne com o mesmo nome. Curiosamente, a ideia para a série de oito modelos gravados por Eddy Jacquet nasceu de um pedido do artista para que fossem assinados os papeis para o fundo de desemprego… a equipa da MB&F não ficou parada e rapidamente o contratou para uma série de oito peças únicas com mostradores profusamente gravados em honra do imaginário de Júlio Verne. Uma bela história de redenção e ressurreição ao mais alto nível.


Duas históricas manufaturas suíças foram justamente premiadas em duas categorias simbólicas. A Audemars Piguet impôs-se na Categoria Icónica com uma execução do seu célebre Royal Oak com um mostrador dégradé verde em vez do tradicional padrão Clous de Paris azulado do original; o Royal Oak é um dos mais cobiçados relógios do mundo há já alguns anos e qualquer variante gera uma busca frenética, que é redobrada no caso de uma variante especial como a que foi galardoada no Théâtre du Léman. E a Zenith ganhou finalmente o Prémio do Cronógrafo, galardão alcançado pelo novo Chronomaster Sport e a sua cronometragem mecânica capaz de calcular tempos até ao décimo de segundo graças a uma nova declinação do calibre El Primero; sendo o El Primero o mais mítico de todos os movimentos cronográficos, o prémio há muito que era perseguido pela marca de Le Locle…


Gerou-se alguma controvérsia relativamente ao Prémio da Revelação Relojoeira atribuído à Furlan Marri, que se lançou na primavera com uma série de cronógrafos mecaquartzo a menos de 400 euros cujo design se inspirou num modelo lendário da Patek Philippe; o prémio justifica-se pelo facto de ser uma marca nova que conseguiu um enorme apoio financeiro via Kickstarter e se tornou mesmo num fenómeno comercial. A Tudor também tem sido um fenómeno no Grand Prix d’Horlogerie de Genève, somando o seu sétimo galardão no espaço de dez anos – mais uma vez às custas de uma variante do Black Bay. A De Bethune, que em 2011 ganhou mesmo o Grand Prix ‘Aiguille d’Or’, também continua a forrar a sua sala de troféus com criações do outro mundo saídas da cabeça do mestre Denis Flageollet. E um mestre ‘desconhecido’ que, a caminho da reforma e depois de décadas a conceber em segredo especializações mecânicas para marcas de relevo, fundou uma marca com o seu próprio nome, saiu agraciado com o Prémio da Excepção Mecânica: o Bernhard Lederer Central Impulse Chronometer é mesmo uma peça especial.


Após a cerimónia, a celebração prosseguiu no tradicional jantar de gala restrito a um reduzido número de convidados. A Espiral do Tempo esteve representada e comemorou com o Grand Prix d’Horlogerie de Genève o bolo do seu vigésimo aniversário. Que venham mais vinte…
Lista de Galardoados
‘Aiguille d’Or’ Grand Prix: Bulgari, Octo Finissimo
Ladies’ Watch Prize: Piaget, Limelight Gala Precious Rainbow
Ladies’ Complication Watch Prize: Van Cleef & Arpels, Lady Féerie Watch
Men’s Watch Prize: Grand Seiko, Hi-Beat 36000 80 Hours Caliber 9SA5
Men’s Complication Watch Prize: MB&F, LMX Titanium
Iconic Watch Prize: Audemars Piguet, Royal Oak ‘Jumbo’ Extra-Thin
Tourbillon Watch Prize: De Bethune, DB Kind of Two Tourbillon
Calendar and Astronomy Watch Prize: Christiaan Van Der Klaauw, CVDK Planetarium Eise Eisinga
Mechanical Exception Watch Prize: Piaget, Altiplano Ultimate Automatic
Chronograph Watch Prize: Zenith, Chronomaster Sport
Diver’s Watch Prize: Louis Vuitton, Tambour Street Diver Skyline Blue
Jewellery Watch Prize: Chopard, Flower Power
Artistic Crafts Watch Prize: MB&F, LM SE Eddy Jaquet ‘Around the World in Eighty Days’
‘Petite Aiguille’ Prize: Tudor, Black Bay Ceramic
Challenge Watch Prize: CIGA Design, Blue Planet
Innovation Prize: Bernhard Lederer, Central Impulse Chronometer
Audacity Prize: Louis Vuitton, Tambour Carpe Diem
Horological Revelation Prize: Furlan Marri, Mr. Grey Ref. 1041-A
Special Jury Prize: Dubai Watch Week



