A relevância do papel

Por mais estranho que pareça, propor-me escrever sobre a relevância do chamado ‘print’ na imprensa especializada em relojoaria, quando escrevo estas linhas na edição online da Espiral do Tempo, é um exercício potencialmente contraditório, mas que me parece nestes dias bastante pertinente.

Quando sucessivamente se vaticina o declínio e a morte do papel como suporte de informação, face à ascensão meteórica dos meios e plataformas de informação digitais, a relevância do tema torna-se clara numa altura em que a Espiral do Tempo acabou de lançar há poucas semanas a sua 59ª edição.

Mas segundo muitos especialistas o ‘print’ não está moribundo. O número de exemplares impressos por parte de muitas publicações pode ter baixado, é um facto, mas em muitos casos, isso apenas significa que o leitor da publicação é agora aquele que realmente mais interessa ao meio em questão, o que aliás torna tudo muito mais interessante do ponto de vista das marcas abordadas em cada edição.

A edição impressa de uma publicação torna-se efetivamente interessante porque é capaz de impelir as pessoas a lê-la. O simples facto de se comprar a revista ou a receber pelo correio, estimula o leitor a interagir com a mesma de uma forma que uma edição digital não consegue.

A atenção e o detalhe colocados na composição e produção de uma boa revista é exponencialmente maior do que a que uma edição online implica. Por acaso já tiveram oportunidade de pegar no último número da Espiral do Tempo? O toque do papel, o cheiro da tinta e da cola, a qualidade das imagens, a relevância dos temas, o tempo que dispensamos a cada página, a apreciar o grafismo, a apreciar o detalhe e a qualidade de cada fotografia… Não, definitivamente o online ainda não chegou lá, terão de concordar comigo.

E um bom exemplo disso é o percurso inverso que alguns meios online parecem querer percorrer, ao anunciar a publicação de versões em papel dos seus títulos digitais. A última, e também a mais relevante para o tema da relojoaria que nos apaixona a todos, é o da Hodinkee.

Ben Clymer, o fundador do site norte americano, deixou escapar recentemente numa entrevista que irá lançar lá para o final do ano a sua primeira edição em papel. Um primeiro número que manterá a estratégia do site em propor conteúdos exclusivos, e que, neste caso, não irão estar disponíveis na edição online.

O sucesso desta iniciativa é já palpável, com Clymer a anunciar ter tido a necessidade de recusar anunciantes, tal o entusiasmo e interesse manifestado por parte de diversas marcas. A relevância e o percurso da Hodinkee nos últimos anos assim o justifica, o que me leva a olhar mais uma vez para o trabalho feito ao longo dos últimos anos pela equipa editorial da Espiral do Tempo.

Habituei-me ao longo dos anos a observar a expressão de surpresa e admiração dos mais variados CEOs e responsáveis de comunicação das melhores marcas de relojoaria, sempre que folheavam uma edição da Espiral do Tempo. E isto, sem sequer saber ler uma palavra que fosse de português. Imaginem só o que se poderia alcançar com uma versão internacional em inglês…

E ao pegar nas últimas edições da Espiral, comparo-as com as de outros títulos internacionais que tenho sobre a secretária. Revolution (diversas nacionalidades), Chronos e Uhren Magazin (Alemanha), Europa Star, Tourbillon, GMT (Suíça), etc, etc.. E o facto é que fico sempre surpreendido por este exercício de avaliação e escrutínio colocar repetidamente a Espiral do Tempo no topo deste grupo.

Uma das melhores publicações europeias sobre relojoaria? Não tenho dúvida. Uma das melhores publicações sobre relojoaria a nível global? Vamos esperar pelo fim do ano para ver como sai a edição da Hodinkee.

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