Se Wimbledon é o reino da Rolex e muitos dos melhores tenistas mundiais estão vinculados à marca da coroa, várias outras marcas que apostam no ténis surgiram com interessantes propostas e uma nova visibilidade durante os encontros.
Em Wimbledon | Wimbledon é Rolex e Rolex é Wimbledon. Desde 1978. Ao longo dos anos, e com múltiplas reportagens a partir do All England Club, a Espiral do Tempo mostrou o quão íntima é a parceria entre o mais famoso torneio de ténis do mundo e a mais famosa marca relojoeira do planeta, considerada mesmo uma perfeita associação pelo mundo do marketing — e, obviamente, também pelos meros observadores. Está lá tudo: o espírito, a tradição, a longevidade, o prestígio… mesmo a cor corporate. É uma ligação tão umbilical que a Rolex até dispensou ser incluída no rol dos patrocinadores apresentado no website do Grand Slam britânico. Porque não é preciso.
A Rolex iniciou a sua ligação ao ténis precisamente a partir de Wimbledon e, 45 anos depois, a manufatura genebrina é mesmo uma das três principais patrocinadoras da modalidade à escala global. Todos os principais eventos do planeta têm a Rolex como official timekeeper. A lista de velhas glórias, presentes campeões e futuras promessas vinculadas à marca da coroa não pára de crescer. E mesmo que Roger Federer — considerado como o embaixador perfeito — já se tenha retirado do circuito, mantém toda a sua enorme força mediática e isso viu-se quando foi homenageado com a presença no Camarote Real ao lado da Princesa de Gales. Com um Rolex Sky-Dweller de mostrador azul no pulso.
Roger Federer também tem um Datejust especificamente ligado a Wimbledon, um modelo em três declinações que não tem oficialmente a designação do torneio (a Rolex praticamente nunca utiliza o nome de embaixadores ou provas nos seus relógios) mas que tem um mostrador de algarismos romanos verdes que é definido pela marca como ‘mostrador Wimbledon’. Neste próximo domingo, o prodígio espanhol Carlos Alcaraz — que tem usado um Daytona em ouro com bracelete Oysterflex quando não está a jogar — irá tentar dar à Rolex uma conclusão perfeita para a 136ª edição do lendário torneio… se vencer o campeoníssimo Novak Djokovic numa cimeira individual masculina que está a ser apontada como uma final de sonho.
Mesmo que as outras companhias relojoeiras aceitem a natural hegemonia da Rolex no ténis, não deixam de apostar na modalidade e nos seus protagonistas. O ténis é um desporto de prestígio e os seus intérpretes normalmente gozam de uma excelente reputação. E algumas dessas marcas até levam vantagem sobre a Rolex num determinado aspeto: aparecem no pulso dos seus patrocinados durante os encontros oficiais, ganhando redobrada visibilidade durante as transmissões televisivas e até nos portefólios fotográficos — deixando muitos adeptos da modalidade espantados e muitos aficionados da relojoaria a salivar. É mais um motivo de conversa e debate!
No entanto, já houve um tempo em que um jogador atuar de relógio não causava tanta estranheza. Boris Becker e Stefan Edberg ganharam Wimbledon com relógios Ebel no pulso durante a década de 80, embora com versões de quartzo mais leves e menos espessas: estava-se em plena era do quartzo, mesmo no que dizia respeito a relógios de prestígio. Posteriormente, nos anos 2000, Justine Hénin ganhou títulos do Grand Slam com um Rolex mecânico no pulso — mas a belga batia a pancada de esquerda a uma mão (a direita), pelo que não havia verdadeiramente um impacto com a bola que pudesse afetar o calibre automático do seu Datejust.
Pulsações
Em 2010, as coisas mudaram quando Rafael Nadal passou a utilizar um Richard Mille de preço milionário nos seus encontros. No caso dele, havia mesmo impacto — na esquerda executada a duas mãos. E sabe-se que o maiorquino bate com força na bola. Mas, mesmo sendo dotado de um sempre sensível turbilhão, o vanguardista relógio foi preparado pela Richard Mille para aguentar forças G brutais. E se os desportistas são supersticiosos e não gostam de mudar aspetos significativos do seu equipamento ou adereços supérfluos, Rafael Nadal arrancou da melhor maneira a sua colaboração com a Richard Mille ao vencer os três primeiros torneios do Grand Slam que jogou de relógio. O campeoníssimo espanhol mantém uma bem sucedida ligação à Richard Mille, traduzida por seis cobiçados modelos turbilhão e várias outras peças sem turbilhão com a sua assinatura, mas está a convalescer após um par de intervenções cirúrgicas e não pôde marcar presença no All England Club. E a jovem aposta da Richard Mille, Sebastian Korda (que também joga de relógio no pulso), foi surpreendentemente afastado na primeira eliminatória.
Mais de uma década depois, e após a retirada de Serena Williams e o término do contrato de Stan Wawrinka (ganharam ambos vários títulos do Grand Slam com Royal Oak Offshores da Audemars Piguet no pulso), vêem-se outras marcas seguir o exemplo da Richard Mille — com modelos quase tão leves, embora não tão complexos. Mas devidamente preparados para a prática da modalidade, com a coroa criteriosamente colocada de modo a não irritar a pele ou a perturbar a execução das esquerdas a duas mãos dos jogadores que adotam essa solução técnica para a pancada de esquerda. Nesse aspeto, destacaram-se a Bulgari, a De Bethune (ambas uma estreia) e a Gerald Charles (já uma habitué nos últimos tempos).
A Bulgari entrou há dois anos no ténis através de uma parceria com Andrey Rublev, um dos mais queridos jogadores do circuito e que participou numa sessão de moda para a revista GQ que envolveu a casa romana. Era frequentemente visto com modelos Octo Finissimo ou BB Aluminium e a Espiral do Tempo foi mesmo entrevistá-lo a Barcelona sobre essa associação, não prevendo ele então atuar de relógio no pulso. Mas, desde então, a Bulgari trabalhou numa solução mais robusta do que os Finissimo e mais leve do que os Aluminium; criou a edição especial BB Aluminium Match Point, menos espessa e com a coroa à esquerda após os engenheiros da marca terem adaptado o mecanismo automático para manter a sua fiabilidade com a nova configuração e perante a força dos impactos na bola.
Andrey Rublev adotou imediatamente o novo BB Aluminium Match Point, que para mais foi concebido numa conjugação da cor verde (a cor dominante em Wimbledon) com branco pérola especialmente atrativa. O moscovita jogou muito bem em Wimbledon e atingiu os quartos-de-final na relva da Catedral do Ténis pela primeira vez. Já Jiri Lehecka, o jovem checo que é ‘amigo’ da Bulgari e tem desenvolvido ultimamente o seu gosto pela relojoaria, usa um BB Aluminium Chronograph fora dos courts mas não (ainda) em competição; curiosamente, chegou aos oitavos-de-final após bater pelo caminho um dos protagonistas das novidades relojoeiras de Wimbledon: o americano Tommy Paul e o seu De Bethune DB28 LTC.
Tal como Andrey Rublev, também Tommy Paul fez a sua estreia absoluta de relógio no pulso na presente edição de Wimbledon. No caso do modelo base específico, não foi preciso mudar a posição da coroa — que é tradicionalmente às 12 horas — para não provocar irritação no pulso. A tradicional leveza dos modelos em titânio polido da De Bethune e o sistema de asas flutuantes também ajudaram a que se tornasse mais fácil para o norte-americano começasse a jogar com um adereço suplementar no pulso. A De Bethune é uma marca exclusiva de grande prestígio e, para mais, trata-se de um exemplar único — elaborado com as cores de Wimbledon e ornamentado com courts estilizados nos marcadores das horas. O CEO da De Bethune, Pierre Jacques, é um amante da modalidade, tal como os parceiros americanos da marca, que já antes tinha estado associada ao tenista francês Gael Monfils.
A Gerald Charles tem marcado presença no circuito há já algum tempo, impelida pela paixão dos seus responsáveis pela modalidade das raquetas. E conta com vários embaixadores que jogam mesmo de relógio no pulso — com a marca fundada pelo mítico designer Gerald Genta a desenvolver mesmo uma linha de modelos desportivos especialmente inspirada pelo ténis e vocacionada para a sua prática, graças a caixas em titânio e movimento automático ultraplano adaptado com a coroa à esquerda. Essa linha inclui um modelo azul evocativa dos hardcourts que equipam o Open da Austrália e o Open dos Estados Unidos, um cor de tijolo que pisca o olho à terra batida de Roland Garros e um verde que alude à relva de Wimbledon.
Mesmo que os quatro torneios do Grand Slam estejam associados à Rolex e o seu nome não possa ser utilizado na comunicação de qualquer outra marca. No entanto, a associação é feita à superfície de jogo. E na relva de Wimbledon, o mais cotado embaixador da Gerald Genta — o polaco Hubert Hurkacz, que já passou pelo top 10 — atingiu os oitavos-de-final e complicou muito a vida a Novak Djokovic. Sempre com o seu Gerald Charles Maestro GC Sport Grass no pulso, depois de ter jogado a temporada de terra batida (do Millennium Estoril Open a Roland Garros) com o Maestro GC Sport Clay de tons ocres.
Outra marca que surgiu, algo inesperadamente, em destaque no pulso de um conhecido jogador foi a Bianchet — uma jovem companhia suíça virada para um estilo moderno e técnico da alta relojoaria, com turbilhões em caixas ultraleves. O popular Grigor Dimitrov, que chegou a ser número três mundial e a ganhar o Masters de final de ano (ATP Finals), foi embaixador da Rolex durante vários anos, mas está agora associado à Bianchet e competiu no All England Club (onde já chegou a ser semifinalista em 2014, após ter-se sagrado campeão de juniores) com um relógio da marca no pulso: o Tourbillon Openwork B1.618. O jogador búlgaro é tão apaixonado pela relojoaria que até está a colaborar com os fundadores Rodolfo e Emmanuelle Bianchet na criação de novos modelos.
Na vertente feminina, há já alguns anos que a croata Donna Vekic compete com um F.P. Journe Élégante (que tem um movimento eletrónico) no pulso — usando braceletes de diversas cores para combinar com a roupa que usa ou com o ambiente do torneio que joga. Este ano escolheu até jogar com uma bracelete colorida, em vez da branca que habitualmente adopta quando participa no torneio de Wimbledon.
Entretanto, Novak Djokovic continua a bater todos os recordes — e vai jogar neste domingo mais uma final de torneios do Grand Slam, procurando estender a sua liderança na lista dos melhores de todos os tempos com um 24ª troféu que seria também o seu oitavo em Wimbledon. Ao longo do seu trajeto profissional, o campeoníssimo sérvio já esteve associado a três marcas: a Audemars Piguet, a Seiko e agora a Hublot… mas sem jogar com qualquer relógio no pulso. Coloca-o logo que os encontros acabam, tal como faz a ucraniana Elina Svitolina, também associada à Hublot, que usou o seu Orlinski ao longo de uma quinzena que a viu atingir as meias-finais… nove meses após ter sido mãe.
Mas houve muitos mais relógios a passar pelo All England Club… aqui deixamos mais imagens de alguns que tivemos em mão ou que encontrámos no pulso de amigos: