A força da customização

Como ter no pulso um relógio mais ajustado às preferências de cada um? A personalização tem conquistado cada vez mais adeptos na relojoaria e proliferam as companhias especializadas na transformação de relógios exclusivos em objetos de culto ainda mais especiais.

Individualidade ou reconhecimento? Há quem goste de ter no pulso um relógio de status quo facilmente reconhecível, mas há cada vez mais aficionados que querem ir mais além e escolher não só um relógio que se adeqúe ainda mais às suas preferências como algo que mais ninguém tenha. A crescente popularidade da relojoaria de luxo e a maior profundidade do conhecimento dos aficionados, combinadas com a eclosão do universo digital e a explosão das redes sociais, criaram novas dinâmicas de mercado — e também novos nichos de negócio. Um deles tem a ver com a transformação de modelos da coleção regular de uma qualquer marca à vontade do freguês.

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Um Zenith Cronometro Tipo CP2 personalizado pela Bamford Watch Department © Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Sempre houve clientes especiais com estatuto para encomendar peças únicas elaboradas pelas melhores manufaturas, mas a maior parte dos casos permanece em sigilo. E há sempre aficionados que recorrem a relojoeiros ou restauradores para mudar a cor de um ponteiro ali ou pintar um submostrador acolá. Também se torna fácil executar a mais simples de todas as personalizações: trocar de correia ou bracelete. As marcas têm respondido com um número crescente de edições limitadas, mas os primeiros anos do presente século trouxeram consigo o estabelecimento de companhias totalmente vocacionadas para profundas alterações em prestigiados modelos.

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A proposta escurecida da Project X Designs para um Patek Philippe Nautilus © Project X Designs

A moda da modificação começou sobretudo com a maior importância do mercado vintage e o surgimento em força dos relógios escurecidos com o sistema DLC (Diamond-Like Carbon) face à resistência de algumas manufaturas na adesão a essas tendências. Como a Rolex. Logo surgiram empresas como a Project X Designs, que pegou em modelos clássicos da marca da coroa e lhes deu um ar mais parecido com históricas versões desses mesmos modelos lendários ou os escureceu totalmente para um visual black-out. Ou a Bamford Watch Department, sempre com uma comunicação muito forte. Mais recentemente tem sido a Artisans de Genève a destacar-se com variantes esqueletizadas. A Rolex, a Audemars Piguet e a Patek Philippe, as marcas de prestígio mais ‘visadas’, sempre tentaram combater o fenómeno e a  Rolex ganhou mesmo vários processos — sendo o mais conhecido aquele que opôs a marca da coroa à firma americana La Californienne. Hoje em dia, essas empresas não podem divulgar os produtos modificados usando o nome das marcas em questão e a garantia é proporcionada por elas, sendo que qualquer modificação implica a perda da garantia original das marcas oficiais.

Da Artisans de Genève: o 'La Montoya', um Rolex Daytona modificado para o piloto Juan Pablo Montoya © Artisans de Genève
Da Artisans de Genève: o ‘La Montoya’, um Rolex Daytona modificado para o piloto Juan Pablo Montoya © Artisans de Genève

Entretanto, a Bamford Watch Company seguiu um rumo diferente. Na sequência de um acordo entre George Bamford e Jean-Claude BIver, a firma londrina passou a apresentar-se como modificadora oficial da TAG Heuer, da Zenith e da Bulgari (marcas do grupo LVMH), tendo juntado recentemente a Girard-Perregaux (grupo Kering) ao seu portefólio. Essa ligação institucional permite que os relógios oficiais se mantenham abrangidos pela garantia original das respetivas marcas.

Edição especial de um Carrera Calibre 5 customizada pela Bamford Watch Department com mostradores Fordite elaborados por James Thompson/Black Badger © Bamford Watch Department
Edição especial de um Carrera Calibre 5 customizada pela Bamford Watch Department com mostradores Fordite elaborados por James Thompson/Black Badger © Bamford Watch Department

A Artisans de Genève é um atelier capaz de produzir grandes modificações para clientes privados, mas ocasionalmente divulga edições especiais associadas a nomes reconhecidos em várias áreas de atividade, desde o cineasta Spike Lee, ao lendário tenista John McEnroe – passando pelo futebolista Andrea Pirlo e pelo piloto Juan Pablo Montoya. Essas parcerias dão visibilidade ao atelier, que depois capitaliza nas encomendas feitas por clientes anónimos. Os relógios são habitualmente Rolex (cujo nome nunca aparece na comunicação oficial do atelier), com variações que vão desde a adaptação para esquerdinos até à inserção de um turbilhão ou à esqueletização de mostradores.

Uma edição do Rolex Sea-Dweller DeepSea modificada pela Artisans de Genève em honre do genial esquerdino John McEnroe © Artisans de Genève
Uma edição do Rolex Sea-Dweller DeepSea modificada pela Artisans de Genève em honra do genial tenista esquerdino John McEnroe © Artisans de Genève

Outro tipo de modificação tem a ver com trabalhos de gravação na caixa e bracelete ou a incrustação de pedras preciosas. Ou seja, o adornar de caixas e braceletes com gravações inspiradas no acabamento das antigas armas ou com motivos à escolha do freguês – e a transformação de modelos regulares em versões mais joalheiras com a adição de diamantes, rubis ou outro tipo de joias.

A estrutura de um Rolex Oyster Perpetual personalizada com um aturado trabalho de aturado gravação © DR
A estrutura de um Rolex Oyster Perpetual personalizada com um aturado trabalho de aturado gravação © DR

Mas a mais original empresa de customização que surgiu nos últimos tempos é a Seconde/Seconde do criativo francês Romaric André: troca o ponteiro dos segundos em modelos vintage e substitui-os por um imaginativo elemento icónico que surpreende qualquer observador e torna a peça especial, ou então simplesmente retira o ponteiro dos segundos e coloca algo de suplementar que torne o mostrador mais surpreendente.

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Um Omega customizado pela Seconde/Seconde numa edição especial para a MAD Gallery © Seconde Seconde

O relógio é entregue com o ponteiro original numa caixinha à parte, pelo que é sempre possível regressar à versão original. A ideia até seduziu o próprio Max Büsser, que comercializa os modelos Seconde/Seconde nas suas MAD Gallery!

O toque 'abelhudo' da Seconde/Seconde no ponteiro dos segundos de um exemplar vintage Master Memovox da Jaeger-LeCoultre © Seconde Seconde
O toque ‘abelhudo’ da Seconde/Seconde no ponteiro dos segundos de um exemplar vintage Master Memovox da Jaeger-LeCoultre © Seconde Seconde

 

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