Um espectador da história

Ao recordar vários momentos da minha ligação ao mundo da relojoaria sinto-me como um espectador da história e esse sentimento saiu reforçado com a última viagem à Suíça, a convite da Zenith. Ao receber o roteiro fui assolado por um nervoso miudinho como há muito não sentia. O programa era em termos relojoeiros, de topo e, em termos humanos um privilégio ao alcance de poucos. Na noite que antecedeu a partida a ansiedade instalou-se, lembrando-me que deveria abandonar os lirismos e concentrar-me no trabalho a fazer.

Equipamento utilizado: Leica CL, Leica D-Lux 7

Histórias por trás da capa do número 81 da Espiral do Tempo (inverno 2023):

•Em viagens assim todos os minutos contam o que significa viajar leve e apenas com o equipamento essencial. Nas pesquisas que fiz deduzi que certos espaços onde iria estar requeriam uma grande angular o que é perfeito para uma companheira que nunca me deixou ficar mal, a minha D-Lux 7. Além de mais, o modo macro é excelente para algum pormenor que seja necessário captar. Pensamentos técnicos quando à minha frente se fala de beleza é quase sacrilégio!

No atelier de Kari Voutilainen
No atelier de Kari Voutilainen | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

•No famoso sótão da Zenith, em Le Locle, onde Charles Vermot escondeu planos, ferramentas e máquinas do Calibre El Primero e após assistir ao seu emocionado testemunho numa gravação vídeo, fui confrontado com a total ausência de luz. A Zenith deixou o local exatamente como o encontrou e a iluminação é quase toda natural. A Leica CL apesar de não ser full-frame tem um excelente desempenho em baixa luz. ISO 3200 é perfeitamente aceitável e mesmo a 6400 o “digital noise” é, quanto a mim, bastante bonito. Novamente assolado pelos ISOS da vida, enquanto estou no local onde, provavelmente, se salvou a relojoaria mecânica moderna.

O famoso sotão da Zenith
O famoso sotão da Zenith | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

•Tinha a máquina no mini-tripé e tentava fazer algo com a lupa que tinha no gift bag da Zenith. O azul metalizado resultava bem, mas as pessoas a caminharem à minha volta faziam o tripé vibrar impossibilitando fotografar a baixo ISO. Até que o meu colega Miguel Seabra veio em meu auxílio, pedido a todos um pouco de calma, e pude captar cinco frames.

ZENITH x Kari Voutilainen x Phillips Calibre 135 Observatoire
A imagem de capa da Espiral do Tempo 81: ZENITH x Kari Voutilainen x Phillips Calibre 135 Observatoire | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

•Esta imagem resume bastante bem o making of da capa desta edição. De manhã cedo e apenas momentos antes do início do leilão, foi-nos dada oportunidade de ter a peça em mãos por uma hora. Normalmente tenho um dia para fotografar uma capa no conforto do estúdio e, mesmo quando fora, posso levar o meu equipamento habitual. Aqui tinha uma câmara, um mini tripé, um tabuleiro numa mesa com o relógio e seis pessoas atrás de mim a querê-lo para fazerem os seus conteúdos também.

Foi-nos dada oportunidade de ter a peça em mãos por uma hora | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

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