A missão: levar um cronógrafo suíço de estilo contemporâneo ao estabelecimento de uma secular marca britânica localizado numa tradicional zona lisboeta. Aqui fica a história do Vanguard Grande Date da Franck Muller no ambiente Barbour do Príncipe Real.
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Confesso que não sou um assíduo frequentador da zona do Príncipe Real, embora não haja nenhuma razão para não o ser. Pelo contrário, trata-se de uma fascinante zona de Lisboa e o miradouro ali ao pé até proporciona extraordinários wristshots — mas, residente em Cascais, fica um pouco fora de mão… embora desta vez tivesse de levar lá tanto a mão como o pulso para um test drive relojoeiro. A ideia da equipa da Espiral do Tempo em levar um Vanguard Grande Date da Franck Muller até à loja da Barbour na zona pode parecer bizarra à primeira vista, mas é mais pertinente do que possa parecer e aqui ficam as nossas impressões fotográficas e escritas dessa visita.

Antes de tudo, convém abordar o espírito do relógio em questão. A Franck Muller decidiu lançar a linha Vanguard em 2013 para poder seguir um rumo de arrojo técnico e estético mais acentuado comparativamente com a sua tradicional coleção Cintrée Curvex, que rapidamente se tornou no ex-libris da marca a partir da sua fundação no início dos anos 90. Apesar desse rumo distinto, obviamente que há pontos em comum e que fazem parte do ADN caraterístico da Franck Muller — os códigos estéticos originais são reinterpretados num formato familiar mas estruturalmente diferente no design e na conceção de modo a satisfazer um tipo de consumidor moderno, com gostos mais urbanos associados a tons escuros e a materiais inovadores.

Simultaneamente, a marca aproveita também para mostrar ao mundo que os seus ateliers criativos são igualmente capazes de interpretar novas soluções técnicas e estéticas. Qualquer modelo Vanguard redistribui as voluptuosas formas curvas do Cintrée Curvex num perfil mais depurado e com uma arquitetura da caixa baseada numa construção em sandwich, graças a duas metades separadas por uma ranhura lateral. Os tradicionais algarismos da Franck Muller também foram redesenhados de modo a adquirir relevo e oferecer maior noção de tridimensionalidade — que, no caso específico do Vanguard Grande Date, é ainda mais potenciada pelo mostrador parcialmente desbastado/recortado que potencia o caráter industrial e modernista da peça.

Por oposição aos modelos Cintrée Curvex, a abolição das tradicionais asas que prendem a correia possibilitou um produto final mais compacto e integrado, sendo que a bracelete mais parece um prolongamento do relógio e é concebida a partir de uma resistente base em cauchu com inserção/aplicação em pele. A escolha do modelo que levámos até ao Príncipe Real não foi feita ao acaso: optámos deliberadamente pela versão do Vanguard Grande Date de caixa negra com tratamento PVD (Ref. V45CCGDSQT/TTBRNR.NR/NR.NRBR) para um look escurecido — embora com indicações brancas altamente contrastantes — perfeitamente adequado ao espírito ‘motoqueiro’ da boutique Barbour, com uma Triumph Bonneville Street Twin colocada em cima de um pedestal logo no meio da loja e muitos artigos de vestuário condizente.

Quando se fala em moda britânica, muitas vezes pensa-se erradamente numa moda excessivamente tradicionalista e conservadora. Puro engano, a moda britânica tem a sua vertente conservadora, mas é muito vasta e também esteve na vanguarda do modernismo. Muitas das tradicionais marcas souberam reinventar-se e adaptar-se aos tempos modernos, outras foram declaradamente iconoclastas logo a partir da sua nascença. E a Inglaterra esteve sempre na vanguarda de muitas tendências irreverentes, para além de toda uma tradição histórica associada aos desportos motorizados — seja na área automóvel, seja no que diz respeito às motocicletas.

A Barbour celebrizou-se pelo seu casaco verde seco oleado que oferece a proteção ideal para os frios e chuvosos invernos britânicos — com um estilo inicial que era marcadamente country. A qualidade e história da Barbour valeu-lhe mesmo ser reconhecida pela Casa Real Britânica, mas entretanto alargou o seu horizonte para novas vertentes de estilo britânico e soube adaptar-se ao século XXI para apresentar atualmente roupa e acessórios contemporâneos, por vezes mesmo com o tal twist irreverente ou um estilo decididamente motard. Em 2014 e para celebrar os seus 120 anos, a marca aumentou a loja no Príncipe Real (número 93-95 da Rua Dom Pedro V), transformando-a na sua flagship store.

Gosto do modo como o Vanguard Grande Date assenta no pulso; é um instrumento do tempo de tamanho que se pode qualificar de ‘moderno’ — para não utilizar o termo ‘sobredimensionado’. Até porque não é demasiado grande: a sua arquitetura torna-o adaptável a pulsos menos grandes, como o meu, fazendo com que seja um relógio imponente mas de proporções equilibradas e, sobretudo, confortável no pulso.

E depois há a parte visual. O mostrador recortado é impressionante e diferente do que muitas outras marcas fazem — é parcialmente recortado, destacando-se os dois discos (um maior das unidades, outro mais pequeno para as dezenas) que compõem a janela dupla para a data. Também os submostradores e a parte central do mostrador são parcialmente abertos, seguindo o estilo que foi batizado de ‘openworked’ mas que é interpretado à maneira da Franck Muller. A configuração do mostrador é teoricamente bicompax, devido aos dois submostradores, embora o disco das unidades da data quase lhe dê uma disposição tricompax.

No fundo, o Vanguard Grande Date preto exala aquela sofisticação do negro tão popular entre os motoqueiros sofisticados e os visitantes noturnos do Príncipe Real e do vizinho Bairro Alto. Mas acho que ficaria bem a acelerar uma Triumph num qualquer asfalto do planeta, com um blusão negro da Barbour e um capacete a condizer. Acho que vou pensar num test drive desse género, do tipo Easy Rider…

Galeria de Imagens
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Rua Dom Pedro V, 93 – 95
Segunda a sábado.
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