Tivemos a oportunidade de passar algumas horas com o novo Octa Divine da F.P.Journe Invenit et Fecit e escolhemos um lugar à altura: a Casa-Museu Medeiros e Almeida, em pleno coração de Lisboa. O resultado da experiência? As imagens falam certamente por si, mas também temos algo para contar sobre a visita.
Em janeiro passado, num dos vários acontecimentos paralelos realizados durante a semana genebrina do Salon International de la Haute Horlogerie, François-Paul Journe anunciou a atualização do seu modelo Octa Divine. Uma medida que se afigurava previsível: depois de há um ano ter revelado que abandonaria o tamanho de 38 mm para concentrar exclusivamente a sua coleção nos diâmetros 40 e 42 mm, o mestre marselhês tem redesenhado paulatinamente todos os modelos do seu catálogo porque a nobreza das suas criações assim o exige — não basta aumentar o mostrador juntamente com a caixa, é preciso manter o sentido das proporções e adaptar os seus característicos elementos de estilo a um espaço maior. E adaptar novas ideias que entretanto lhe vão surgindo.
Foi o caso do Octa Divine, o modelo escolhido para suceder ao Octa Lune (renovado em 2015) na mesa cirúrgica de François-Paul Journe. É certo que se nota que o novo Octa Divine (Ref. FPJ.DN42.OV.V) se trata de uma versão maior, mas há muito mais para além desse crescimento; vários detalhes e pormenores foram repensados para tornar melhor a experiência do utilizador. E foi precisamente isso que fizemos ao pensar num futuro comprador ou mesmo colecionador — fomos até à Casa-Museu Medeiros e Almeida, na rua Rosa Araújo (perpendicular à avenida da Liberdade, em Lisboa, no lado direito de quem desce do Marquês de Pombal), e aproveitámos para desfrutar do Octa Divine nos seus belos salões.
Conhecendo François-Paul Journe e fazendo a ponte para a coleção da marca F.P. Journe por ele idealizada ou até mesmo para a sede da manufatura na Rue de l’Arquebuse, em Genebra, a mansão afigura-se como um habitat natural para o Octa Divine: o respeito pela história e pelo passado, a sublimação das artes decorativas, a visão de mecenato. Ainda recentemente François-Paul Journe adquiriu (por cerca de 750 mil euros) o acervo da biblioteca do historiador relojoeiro Jean-Claude Sabrier, formado por cerca de um milhar de livros, para o expor publicamente no magnífico hall de entrada do seu edifício.
Esse hall de entrada é dominado pelo imponente relógio astronómico concebido por Constantin Louis Detouche e agraciado com uma medalha de ouro na Exposição Universal de Paris em 1855; António Medeiros e Almeida (1895-1986) certamente que gostaria muito de o ter na casa que habitou durante 30 anos até a transformar em museu e convertê-la em fundação para a doar ao país com todo o seu conteúdo. E sim, também inclui uma importante coleção e extensa coleção de relógios — para além de porcelanas da China, mobiliário raro, exemplares de ourivesaria e joalharia, têxteis e, evidentemente, pintura e escultura.
Quanto ao relógio que suscitou a nossa visita, como se pode constatar pelas imagens, fica perfeitamente enquadrado no ambiente da Casa-Museu. Mas mais importante ainda, na perspetiva do utilizador e/ou colecionador, é que fique bem no pulso e seja um fiel companheiro em qualquer circunstância. Da minha parte, que não tenho pulsos demasiado grandes nem estou preso a qualquer dogma relacionado com o tamanho de relógios ditos elegantes, achei o novo diâmetro de 42 mm tão perfeito, como também perfeitamente assenta o diâmetro de 40 mm. É curioso constatar que, numa década que tem servido como contra-peso aos excessos sobredimensionados de há 10 anos e praticamente todas as marcas têm diminuído a média do tamanho dos seus relógios para satisfazer uma clientela mais oriental (e com pulsos pequenos), François-Paul Journe seguiu o caminho inverso….
Mas, lá está, o novo Octa Divine é mais do que o simples crescimento de uma referência. Só a tradicional janela da data com mecanismo de dois discos é sensivelmente 50 por cento maior. O indicador da reserva de corda é mais depurado e dispensa os algarismos intermediários. O submostrador com ponteiro dos segundos dá lugar a uma ranhura onde os segundos correm através de um disco, de modo a estabelecer paralelismo com a ranhura vizinha do lado, onde outro disco vai girando muito mais lentamente — o das fases da lua, assente em vidro de safira.
Mais do que esses detalhes, é a estética global que se afigura diferente para além do tamanho. A disposição descentrada tão típica do conceito F.P. Journe Invenit et Fecit não é utilizada como em tantos outros modelos seus, mas também não o era na versão mais pequena do Octa Divine; o mostrador apresenta-se mais convencional com os ponteiros principais (horas e minutos) num eixo central; o anel que (con)centra o mostrador é claramente inspirado no Calendário Perpétuo que François-Paul Journe lançou há cerca de três anos — o mestre afirma que, hoje em dia, as pessoas estão a ver cada vez menos bem, daí a opção centralizada para as horas e os minutos. E, por falar em horas, há uma subtil e deliciosa variação no tamanho dos algarismos correspondentes às horas que dá um efeito óptico especial quase elíptico ao mostrador.
A combinação de cores é também emblemática de François-Paul Journe: o tom acobreado da base do mostrador exala classe e tradição, sendo a opção mais frequentemente utilizada com caixas em ouro rosa (as caixas em platina geralmente têm o cinza como cor dominante; nas versões exclusivas das boutiques F.P. Journe domina o preto). Os ponteiros azulados combinam perfeitamente com o disco lunar e há pequenos detalhes em vermelho, por mais pequenos que sejam, que dão um toque especial ao conjunto.
No verso, é possível admirar o Calibre 1300.3, manufaturado — como é hábito há mais de uma década — em ouro rosa de 18 quilates e com autonomia para cinco dias. O rotor em ouro de 22 quilates tem um sistema otimizado de rolamento de esferas que aproveita qualquer movimento do pulso para garantir energia.
Para terminar, a correia em pele de crocodilo é simplesmente soberba — clássica mas idealizada especificamente para ‘vestir’ o relógio, com bordos arredondados para acompanhar a curvatura da caixa sem no entanto se ‘colar’ em demasia, forte mas suficientemente maleável para se adaptar ao pulso. E com um sistema de troca rápida que, mediante o empurrar de uma pequena mola, permite retirar a correia sem o recurso a qualquer ferramenta específica para o efeito. Há quem prefira fecho de báscula, que existe em opção, mas a fivela clássica parece-me ideal para um relógio de características neo-clássicas que se quer sempre elegante.
Galeria de Imagens
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Casa-Museu Medeiros e Almeida
A Casa-Museu Medeiros e Almeida está situada no centro de Lisboa e contempla uma impressionante coleção de artes decorativas construída ao longo dos tempos por António de Medeiros e Almeida, prestigiado empresário português que se destacou na importação de automóveis ingleses, na aviação comercial e na indústria açoriana do açucar. Com 27 salas, este verdadeiro tesouro inclui obras de arte nacionais e estrangeiras, nomeadamente mobiliário, pintura, escultura, têxteis, ourivesaria, porcelana, arte sacra, leques e relógios. No caso dos relógios, destaque para um surpreendente relógio de noite que pertenceu à rainha D. Catarina de Bragança e um relógio de bolso Breguet encomendado pelo general Junot, mas que acabou nas mãos do general Wellington.
Informações práticas
Morada/ Rua Rosa Araújo, n.º 41 – 1250-194 Lisboa
Tel/ 213 547 892
Fax/ 213 561 951
Email/ info@casa-museumedeirosealmeida.pt
Mais informações/ casa-museumedeirosealmeida.pt
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