F.P. Journe Octa Divine

Tivemos a oportunidade de passar algumas horas com o novo Octa Divine da F.P.Journe Invenit et Fecit e escolhemos um lugar à altura: a Casa-Museu Medeiros e Almeida, em pleno coração de Lisboa. O resultado da experiência? As imagens falam certamente por si, mas também temos algo para contar sobre a visita.

Octa Divine
A entrada da Casa-Museu Medeiros e Almeida: um lugar que casa na perfeição com o Octa Divine de F.P.Journe Invenit et Fecit. © Espiral do Tempo / Paulo Pires

Em janeiro passado, num dos vários acontecimentos paralelos realizados durante a semana genebrina do Salon International de la Haute Horlogerie, François-Paul Journe anunciou a atualização do seu modelo Octa Divine. Uma medida que se afigurava previsível: depois de há um ano ter revelado que abandonaria o tamanho de 38 mm para concentrar exclusivamente a sua coleção nos diâmetros 40 e 42 mm, o mestre marselhês tem redesenhado paulatinamente todos os modelos do seu catálogo porque a nobreza das suas criações assim o exige — não basta aumentar o mostrador juntamente com a caixa, é preciso manter o sentido das proporções e adaptar os seus característicos elementos de estilo a um espaço maior. E adaptar novas ideias que entretanto lhe vão surgindo.

Octa Divine
O Octa Divine posado sobre uma mesa do século XVIII dos Ateliers A.C. Boulle. na sala Luís XIV. A reluzente caixa em ouro rosa é a moldura certa para o mostrador redesenhado e com os ponteiros centrais das horas e dos minutos. © Espiral do Tempo / Paulo Pires

Foi o caso do Octa Divine, o modelo escolhido para suceder ao Octa Lune (renovado em 2015) na mesa cirúrgica de François-Paul Journe. É certo que se nota que o novo Octa Divine (Ref. FPJ.DN42.OV.V) se trata de uma versão maior, mas há muito mais para além desse crescimento; vários detalhes e pormenores foram repensados para tornar melhor a experiência do utilizador. E foi precisamente isso que fizemos ao pensar num futuro comprador ou mesmo colecionador — fomos até à Casa-Museu Medeiros e Almeida, na rua Rosa Araújo (perpendicular à avenida da Liberdade, em Lisboa, no lado direito de quem desce do Marquês de Pombal), e aproveitámos para desfrutar do Octa Divine nos seus belos salões.

Octa Divine
© Espiral do Tempo / Paulo Pires

Conhecendo François-Paul Journe e fazendo a ponte para a coleção da marca F.P. Journe por ele idealizada ou até mesmo para a sede da manufatura na Rue de l’Arquebuse, em Genebra, a mansão afigura-se como um habitat natural para o Octa Divine: o respeito pela história e pelo passado, a sublimação das artes decorativas, a visão de mecenato. Ainda recentemente François-Paul Journe adquiriu (por cerca de 750 mil euros) o acervo da biblioteca do historiador relojoeiro Jean-Claude Sabrier, formado por cerca de um milhar de livros, para o expor publicamente no magnífico hall de entrada do seu edifício.

Octa Divine
Aqui, o Octa Divine posado na encantadora mesa de 4 tampos (séc. XVIII) que é a estrela do Salão B, no 1º andar. Entre as 4 e as 5 horas pode ver-se a indicação dos pequenos segundos. © Espiral do Tempo / Paulo Pires

Esse hall de entrada é dominado pelo imponente relógio astronómico concebido por Constantin Louis Detouche e agraciado com uma medalha de ouro na Exposição Universal de Paris em 1855; António Medeiros e Almeida (1895-1986) certamente que gostaria muito de o ter na casa que habitou durante 30 anos até a transformar em museu e convertê-la em fundação para a doar ao país com todo o seu conteúdo. E sim, também inclui uma importante coleção e extensa coleção de relógios — para além de porcelanas da China, mobiliário raro, exemplares de ourivesaria e joalharia, têxteis e, evidentemente, pintura e escultura.

Octa Divine
No novo Octa Divine a tradicional janela da data com mecanismo de dois discos é sensivelmente 50 por cento maior em relação ao modelo anterior.© Espiral do Tempo / Paulo Pires

Quanto ao relógio que suscitou a nossa visita, como se pode constatar pelas imagens, fica perfeitamente enquadrado no ambiente da Casa-Museu. Mas mais importante ainda, na perspetiva do utilizador e/ou colecionador, é que fique bem no pulso e seja um fiel companheiro em qualquer circunstância. Da minha parte, que não tenho pulsos demasiado grandes nem estou preso a qualquer dogma relacionado com o tamanho de relógios ditos elegantes, achei o novo diâmetro de 42 mm tão perfeito, como também perfeitamente assenta o diâmetro de 40 mm. É curioso constatar que, numa década que tem servido como contra-peso aos excessos sobredimensionados de há 10 anos e praticamente todas as marcas têm diminuído a média do tamanho dos seus relógios para satisfazer uma clientela mais oriental (e com pulsos pequenos), François-Paul Journe seguiu o caminho inverso….

Octa Divine
O tom acobreado da base do mostrador exala classe e tradição, sendo a opção mais frequentemente utilizada com caixas em ouro rosa. © Espiral do Tempo / Paulo Pires

Mas, lá está, o novo Octa Divine é mais do que o simples crescimento de uma referência. Só a tradicional janela da data com mecanismo de dois discos é sensivelmente 50 por cento maior. O indicador da reserva de corda é mais depurado e dispensa os algarismos intermediários. O submostrador com ponteiro dos segundos dá lugar a uma ranhura onde os segundos correm através de um disco, de modo a estabelecer paralelismo com a ranhura vizinha do lado, onde outro disco vai girando muito mais lentamente — o das fases da lua, assente em vidro de safira.

Octa Divine
Sobre um piano de meia cauda da Erard Paris, datado de 1889, o Octa Divine revela o Calibre 1300.3, manufaturado — como é hábito há mais de uma década — em ouro rosa de 18 quilates e com autonomia para cinco dias.© Espiral do Tempo / Paulo Pires

Mais do que esses detalhes, é a estética global que se afigura diferente para além do tamanho. A disposição descentrada tão típica do conceito F.P. Journe Invenit et Fecit não é utilizada como em tantos outros modelos seus, mas também não o era na versão mais pequena do Octa Divine; o mostrador apresenta-se mais convencional com os ponteiros principais (horas e minutos) num eixo central; o anel que (con)centra o mostrador é claramente inspirado no Calendário Perpétuo que François-Paul Journe lançou há cerca de três anos — o mestre afirma que, hoje em dia, as pessoas estão a ver cada vez menos bem, daí a opção centralizada para as horas e os minutos. E, por falar em horas, há uma subtil e deliciosa variação no tamanho dos algarismos correspondentes às horas que dá um efeito óptico especial quase elíptico ao mostrador.

Octa Divine
O mostrador é claramente inspirado no Calendário Perpétuo que François-Paul Journe lançou há cerca de três anos. © Espiral do Tempo / Paulo Pires

A combinação de cores é também emblemática de François-Paul Journe: o tom acobreado da base do mostrador exala classe e tradição, sendo a opção mais frequentemente utilizada com caixas em ouro rosa (as caixas em platina geralmente têm o cinza como cor dominante; nas versões exclusivas das boutiques F.P. Journe domina o preto). Os ponteiros azulados combinam perfeitamente com o disco lunar e há pequenos detalhes em vermelho, por mais pequenos que sejam, que dão um toque especial ao conjunto.

Octa Divine
Os ponteiros azulados combinam bem, nesta foto, com os tons dos vitrais da Capela, no rés-do-chão da Casa-Museu. © Espiral do Tempo / Paulo Pires

No verso, é possível admirar o Calibre 1300.3, manufaturado — como é hábito há mais de uma década — em ouro rosa de 18 quilates e com autonomia para cinco dias. O rotor em ouro de 22 quilates tem um sistema otimizado de rolamento de esferas que aproveita qualquer movimento do pulso para garantir energia.

Octa Divine
Um sistema de troca rápida permite retirar a correia sem o recurso a qualquer ferramenta específica para o efeito. © Espiral do Tempo / Paulo Pires

Para terminar, a correia em pele de crocodilo é simplesmente soberba — clássica mas idealizada especificamente para ‘vestir’ o relógio, com bordos arredondados para acompanhar a curvatura da caixa sem no entanto se ‘colar’ em demasia, forte mas suficientemente maleável para se adaptar ao pulso. E com um sistema de troca rápida que, mediante o empurrar de uma pequena mola, permite retirar a correia sem o recurso a qualquer ferramenta específica para o efeito. Há quem prefira fecho de báscula, que existe em opção, mas a fivela clássica parece-me ideal para um relógio de características neo-clássicas que se quer sempre elegante. ET_simb

Octa Divine
Há uma subtil variação no tamanho dos algarismos correspondentes às horas que dá um efeito óptico especial quase elíptico ao mostrador. © Espiral do Tempo / Paulo Pires

Galeria de Imagens
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Casa-Museu Medeiros e Almeida

A Casa-Museu Medeiros e Almeida está situada no centro de Lisboa e contempla uma impressionante coleção de artes decorativas construída ao longo dos tempos por António de Medeiros e Almeida, prestigiado empresário português que se destacou na importação de automóveis ingleses, na aviação comercial e na indústria açoriana do açucar. Com 27 salas, este verdadeiro tesouro inclui obras de arte nacionais e estrangeiras, nomeadamente mobiliário, pintura, escultura, têxteis, ourivesaria, porcelana, arte sacra, leques e relógios. No caso dos relógios, destaque para um surpreendente relógio de noite que pertenceu à rainha D. Catarina de Bragança e um relógio de bolso Breguet encomendado pelo general Junot, mas que acabou nas mãos do general Wellington.

Informações práticas

Morada/ Rua Rosa Araújo, n.º 41 – 1250-194 Lisboa
Tel/ 213 547 892
Fax/ 213 561 951
Email/ info@casa-museumedeirosealmeida.pt
Mais informações/ casa-museumedeirosealmeida.pt

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