Um bonito conjunto de instrumentos do tempo que nos conta histórias de encantar. Em Genebra, a marca francesa voltou mais uma vez a deslumbrar com os lançamentos deste ano. E o autómato Fontaine au Oiseaux captura o nosso imaginário por todos os motivos e mais alguns.
Em Genebra | Não há palavras que façam jus às criações relojoeiras da Van Cleef & Arpels. Mais do que gostar ou não gostar, trata-se de admirar. Porque aquilo que à partida parece ser apenas um relógio de pulso com flores, fadas ou borboletas revela-se na prática uma peça mecânica com uma complexidade que vai muito além dos apontamentos decorativos. É preciso criar afastamento ou descobrir á lupa e é preciso olhar para cada peça como nunca sendo óbvia. Principalmente quando falamos das Poetic Complications™, uma marca registada pela marca que tão bem caracteriza os relógios incluídos nesta sua vertente.
Poetic Complications™
No campo das Poetic Complications™ (complicações poéticas), a Van Cleef & Arpels tem um catálogo recheado de peças que unem mundos encantados de histórias a elaboradas e engenhosas soluções técnicas e mecânicas. Foi a Van Cleef & Arpels que nos levou a sonhar com o relógio Pont des Amoureaux no qual dois amantes caminham numa ponte até se encontrarem à meia noite para um beijo e se voltarem a despedir, graças a um movimento que permite a indicação retrógrada das horas e dos minutos.
Foi ainda a Van Cleef & Arpels que nos deslumbrou com o Lady Arpels Ballerine Enchanté, cujo mostrador violeta apresenta no centro uma bailarina — personagem recorrente nas coleções da marca desde 1940 — com um tutu que indica as horas e os minutos. E foi a Van Cleef & Arpels que deslumbrou com o Féerie, no qual as asas e a varinha mágica da fada indicam as horas.
As Poetic Complications™ têm vindo, assim, a interpretar «o tempo com um toque poético, uma interpretação que é traduzida pela delicadeza de um design original que conta uma história», nas palavras da marca, e através do qual o tempo se torna animado acrescido ainda de um lado emocional. Para levar a cabo os seus projetos, a Van Cleef trabalha com nomes conceituados, como Jean-Marc Wiederrecht e é o próprio que refere: «Trabalhar com companhias como a Van Cleef & Arpels, a Hermès e a Fabergé deu-me a oportunidade de explorar novos caminhos para expressar o tempo. É um trabalho bonito, difícil e estimulante — exigindo-me toda a experiência que fui adquirindo na alta-relojoaria e puxando toda a minha criatividade de modo a corresponder ao desafio proporcionado por esses projetos.»
Podemos continuar com mais exemplos de complicações poéticas, como o Heure d’Ici & Heure d’Ailleurs, com um sistema próprio de múltiplos fusos horários e o autómato Fée Ondine, em colaboração com François Junod. Depois temos ainda o Midnight Planétarium que, desenvolvido pelo atelier Christian van der Klaauw, representa um orrery no qual as pequenas esferas de pedras preciosas se deslocam ao ritmo real dos planetas. Este ano, no Watches and Wonders, a Van Cleef & Arpels apresentou um conceito semelhante no autómato Planétarium, um autómato que replica parcialmente o sistema solar. Nele tudo parece estar parado e, no entanto, tudo nele se move – ao ritmo real.
Objetos extraordinários 2022
O novo Planétarium Automaton foi inspirado nos antigos planetários, apresentando o Sol, bem como alguns dos planetas do nosso sistema solar. Fora a vertente ligada à seleção de pedras preciosas e a componente decorativa, o mais impressionante é que cada corpo move-se de acordo com a atual rotação do tempo, tendo mesmo a Lua a orbitar a Terra. Ao ser ativada a animação, uma estrela cadente emerge, acompanhando os planetas ao som de uma melodia. Com 50cm de altura e 66,5 com de largura (com as portas abertas), trata-se de um instrumento do tempo que indica ainda as horas, minutos e calendário perpétuo e tem uma reserva de corda de 15 dias.
Depois temos o autómato Fontaine aux Oiseaux que conta uma história que dura um hipnótico momento: junto a uma fonte, um pássaro enamora-se de uma pássaro fêmea, num delicioso jogo de sedução. Entre olhares, hesitações e movimentos incrivelmente reais, as duas aves ficam juntas, com um final feliz que pode ser contado inúmeras vezes. A animação acontece a pedido, depois de dar corda.
À medida que a água começa a ondular, os dois pássaros movem-se e cantam, enquanto um nenúfar abre as suas pétalas deixando escapar uma libélula. Segundo a marca, a criação deste objeto poético contou com a colaboração de diferentes artesãos, e exigiu passos delicados como a desconstrução e articulação do movimento dos pássaros e a criação de asas e ondulações suficientemente finas para serem conduzidas pelo movimento. Ao vivo, esta fonte mecânica revela-se um verdadeiro objeto encantado.
Por fim, a Van Cleef & Arpels apresentou também o Rêveries de Berylline Automaton que presta tributo a graciosidade da natureza, com a representação de uma flor que desabrocha para desvelar um pequeno beija-flor que voa ao som de uma melodia. Tal como os anteriores, este objeto evidencia todo um minucioso trabalho artesanal que não deixa de ser realmente extraordinário. E aqui há que destacar a importância da arte de criação de joalharia que faz parte do ADN da marca. Assim como se cria autómatos, cria-se relógios e cria-se jóias. E é na confluência de todos estes mundos que a Van Cleef & Arpels consegue traçar um percurso muito próprio.
Os novos relógios
Além dos três autómatos que capturam o nosso imaginário de forma única, a Van Cleef & Arpels apresentou ainda este ano novos relógios de pulso no âmbito das complicações poéticas, precisamente. Durante a apresentação a que assistimos, tivemos a oportunidade de contactar com os novos modelos Lady Arpels Heures Florales e Lady Arpels Ballerine Enchantée.
No Lady Arpels Heueres Florales o conceito é simplesmente original. Se está à espera de olhar para o relógio e descortinar as horas de imediato, mais vale pensar duas vezes. Primeiro, há que admirar com calma o mostrador tridimensional em madrepérola decorado com flores esmaltadas, pedras preciosas, borboletas e ramos em ouro. Ativada a animação, as flores abrem e é através da contagem do número de flores abertas que ficamos a saber que horas são.
Já os minutos são indicados através de uma abertura na lateral da caixa. Movidos por um calibre automático, os novos Lady Arpels Heueres Florales, disponíveis numa versão em tons de azul e tons de rosa (Lady Arpels Heueres Florales Ceriser), são inspirados no relógio floral de Linnaeus, um conceito de relógio desenvolvido pelo botânico e naturalista sueco do século XVIII que aproveita a diferente regularidade com que as plantas diferentes abrem e fecham ao longo do dia para assim indicar o tempo.
Por outro lado, os novos Lady Arpels Ballerine Enchantée recupera o mundo encantado das fadas reiventando no já referido Lady Arpels Ballerine Enchanté, uma criação de 2013 que conquistou o Grand Prix de L’Horlogerie de Genève, na categoria de Complicação. Apresentado este ano numa versão em ouro branco e outra em ouro rosa, o novo relógio tem um mostrador animado que volta a dar vida ao tempo através de uma bailarina.
O corpo da bailarina em ouro é esculpido em relevo, enquanto o vestido, rosto, busto e cintura são agraciados por diamantes. Na periferia do mostrador – à esquerda e à direita – surgem as escalas das horas e dos minutos e ao pressionar a alavanca, que se encontra na lateral da caixa, o vestido eleva-se indicando as horas certas. Mais uma vez, este é um relógio que esconde o tempo consigo, como um segredo bem guardado. Cabe-nos a nós decidir se queremos ou não aproveitar esta poética suspensão da contagem do tempo para usufruirmos do próprio tempo da melhor forma…