Rui Unas e a inevitabilidade do moustache (e da barba também)

Há coisas na vida que são inevitáveis e, para Rui Unas, a barba (e o bigode) era mesmo inevitável. Expliquemos melhor. Foi a barba (e o bigode) que se tornou na sua imagem de marca enquanto Maluco Beleza, uma forma de ser e de estar no mundo digital que acaba por ser mais Unas do que nunca. Foi também a barba (e o bigode) um dos motivos que levou a Oris a convidar o humorista para rosto da edição especial Movember no nosso país. Depois de alguns meses com o relógio, Rui Unas aceitou falar connosco sobre a sua experiência e a causa que representa, mas também sobre o tempo e a febre dos relógios que o assola há uns anitos. Uma conversa séria com toques q.b. de galhofa, complementada ainda com uma inesperada coincidência de bastidores que fizemos questão de registar.

Versão completa da entrevista originalmente publicada no número 62 da Espiral do Tempo (primavera 2018)

Perguntas: Cesarina Sousa e Miguel Seabra

Pegando num post que publicaste há uns tempos no Instagram: que Oris são?
(risos) Pois, agora por causa da Oris sublinhei o gosto pelos relógios, por esta peça que é um dos poucos acessórios que os homens têm para poderem brincar um pouco e afirmarem a sua identidade. Estou sempre a ver ‘que Oris são’ durante o dia. Já não uso o telemóvel como usava antes. Comecei a usar cada vez mais o relógio – o que é muito mais prático, ao contrário do que as pessoas pensam, tendo em conta que o telemóvel costuma estar em sítios de difícil acesso como o bolso…

E, acabaste por passar do ‘relógio de bolso’ que é o telemóvel para o relógio de pulso…
Sim, o relógio de pulso acaba por ser muito mais prático. Além disso, as pessoas talvez não reparem, mas até é muito mais elegante ver discretamente ‘as Oris’ no pulso do que tirar o telemóvel do bolso e interromper uma conversa para olhar para ele.

Fotografia: © Paulo Pires / Espiral do Tempo
O Oris Movember Edition no pulso de Rui Unas. Para a entrevista, o humorista optou por levar o relógio com a correia em pele. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

O que te levou a aceitar esta parceria com a Oris?
Eu já tinha o bichinho dos relógios, mas não conhecia a Oris. E, sendo efetivamente honesto, a primeira razão que me levou a aceitar o convite foi o look do relógio, mesmo antes da causa em si, que, como é óbvio, também foi muito importante para a minha decisão. A verdade é que gosto de relógios com este look mais rétro, e depois de uma investigação sobre a Oris, percebi que era um relógio com história, um relógio inspirado num modelo dos anos 60 que, ainda para mais, era um modelo de mergulho. Ora, eu gosto muito de relógios de mergulho. O meu pai foi mergulhador durante muitos anos e eu sempre vi relógios de mergulho em casa. Portanto, antes de mais, eu tinha de gostar do relógio. Estar a usar um relógio, por muito que gostasse da causa, com o qual não me identificasse não faria sentido. Depois, a segunda razão foi naturalmente a causa através de uma iniciativa que parte da Movember Foundation e acontece no mês de novembro, com o objetivo de ajudar a financiar projetos para a cura ou prevenção de doenças masculinas. Por fim, uma terceira camada, que acho também muito interessante, é o facto de a Oris, em específico, ser uma casa conceituada, centenária, que tem ali uma história curiosa que passa pelo facto de ter sido adquirida pelos funcionários quando estava quase na falência, sendo, por isso, um exemplo de resiliência e de superação. Portanto, há aqui um conjunto de fatores que me fizeram associar à Oris com especial simpatia ainda com a nota de se tratar de relojoaria mecânica a preços mais democráticos. E parece-me interessante dar a conhecer às pessoas a possibilidade de poderem adquirir um relógio mecânico, com estilo, com qualidade e com tudo o que têm direito, a preços mais acessíveis.

Fotografia: © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Rui Unas recebeu-nos no seu estúdio e falou-nos sobre o seu gosto por relógios. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Achas que tens conseguido transmitir a mensagem do movimento Movember?
Agora já passou um pouco o tempo, porque, apesar de novembro ser um mês que já está instituído, as coisas vão-se diluindo e temos de esperar que passe mais um ano para as pessoas se relembrarem da necessidade de alertar para esta causa e levar as pessoas a estarem mais atentas a esta problemática e ajudarem também a fundação. Eu, como tenho aqui o relógio alusivo a essa data, lembro-me da causa sempre que o uso. Não sei se, ao longo do ano, se vão promovendo outras iniciativas ligadas ao movimento. No meu caso, vou promovendo o relógio e, nesse sentido, promovo a causa indiretamente, mas não sei se, sinceramente, poderia fazer mais…

Quando publicas uma foto do Oris, há pessoas que, mais do que reagirem ao relógio, reagem ao preço…
As coisas valem o preço que valem. No meu entender, as coisas só são caras se o preço não equivaler à qualidade: isso para mim é que é o caro. O preço tem de corresponder à qualidade. As coisas custam muito ou pouco dinheiro. É tudo muito relativo e depende de muitos fatores, entre eles o ordenado, claro. Agora pessoalmente considero que é possível ter um relógio mecânico muito singular, nem que tentemos juntar algum dinheiro ao longo dos anos. Obviamente que não pretendo ferir suscetibilidades e, claro, que é mais difícil adquirir um Rolex ou um Patek Philippe, mas, sempre que posso, sublinho que dentro da relojoaria mecânica talvez a Oris seja das marcas mais acessíveis, com a mais-valia de ter relógios com um design muito singular, de ser uma casa centenária independente e de contar com uma coleção diversificada – desde modelos ligados aos automóveis e ao mergulho, passando pela aviação. Portanto, considero que, se alguém pretender subir um pouco o patamar da sua gama de relógios, a Oris é uma excelente opção.

Fotografia: © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Rui Unas é o rosto português associado ao Oris Movember Edition. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Então, como disseste, já gostavas de relógios…
A Oris apanhou-me já com a febrezinha a fazer-se sentir. Eu comecei com um relógio icónico de mergulho: o Seiko SKX009.

(Nisto, inicia-se uma conversa paralela:

Acho que esse é o relógio do Paulo, o fotógrafo… Ó Paulo, qual é o teu relógio?
Paulo — é um SKX007.
Rui Unas — o meu é um Seiko SKX009.
Paulo — Malandro! Era o que eu queria. O meu comprei recentemente, numa ourivesaria em Fafe…
Rui Unas — Isto é bom falar com alguém que percebe de relógios, porque normalmente eu começo a falar de relógios e ninguém percebe do assunto. O que é que está aqui? Um relógio de guerra…
Paulo — Mais nada!
Rui Unas — Quando vou à praia é o relógio que eu uso. Eu acho mais piada ao 009.
Paulo — É um relógio de mergulho.
Rui Unas — Exatamente! É o relógio de porrada, à séria. )

Portanto, o primeiro relógio que comprei recentemente foi este Seiko que mandei vir da Amazon e acabei por usá-lo durante muito tempo. Mas como sou apologista de um relógio que as pessoas devem usar todos os dias, acabei por adquirir um TAG Heuer Aquaracer Calibre 5 que, apesar de ser um relógio de mergulho, é muito versátil. Depois, precisava de um relógio para usar com fato em eventos mais formais. Comecei a pesquisar e descobri a Portuguesa da IWC, que acho que é um relógio que todo o homem deve ter: um cronógrafo com mostrador branco e ponteiros dourados, que associo ao amarelo do Maluco Beleza. Para situações mais formais, e a escolher, teria de ser aquele. Tenho ainda um Rolex Submariner que é também um relógio icónico: foi o presente que ofereci a mim próprio, e é quase alusivo ao Maluco Beleza, com os tons amarelo (dourado) e preto. E agora tenho o Oris. É este o meu set de relógios.

Ofereceste o relógio a ti próprio. E isso é algo que acontece muito: o relógio como a recompensa, como símbolo de um achievement. Qual foi o marco que quiseste ver recompensado?
Eu comprei o Submariner quando senti que já tinha afirmado a marca do Maluco Beleza por mérito do meu trabalho e do trabalho da minha equipa, a partir do nada, pelo que quis materializar esta conquista em alguma coisa. Decidi, assim, recompensar-me e esse relógio tem essa carga, é o relógio do Maluco Beleza, é um marco, um presente que dei a mim próprio. No caso da Portuguesa, foi mesmo a procura de um relógio para situações mais formais, um relógio de fato. Há pessoas que cometem o erro de usar relógios de mergulho muito caros com fato, mas mais vale ter um relógio mais em conta que assente num fato do que um relógio de mergulho mais caro que não resulta neste contexto. Parece-me despropositado. Para mim, os relógios têm de ser usados nas circunstâncias certas.

Fotografia: © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Oris Movember Edition. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

No entanto, tu projetas uma imagem algo irreverente…
Sim, mas sou mais conservador do que aquilo que as pessoas pensam e, com a idade, vamos também ganhando alguma noção de estilo…. Quero acreditar que sim.

É interessante porque há pessoas que vêm o relógio apenas como adorno e há outras pessoas que os encaram mais pela parte funcional…
Eu vejo como ambas as coisas. É uma questão de identidade, de nos afirmarmos. Há dias em que estou mais bem-disposto, outros em que estou com um espírito mais desportivo ou mais clássico, e escolho determinado relógio em função disso. Ou seja, o relógio tem também essa função de comunicar com o nosso estado de espírito, de ir ao encontro de como é que nós nos estamos a sentir. E, depois, sim, pela funcionalidade.

Portanto, os relógios ainda servem para dizer as horas…
Os relógios não servem só para dizer as horas, mas não podemos esquecer de que essa é a sua principal função. E, no caso específico do homem, como não temos muitos adornos ou outras possibilidades, acho que o relógio é a peça para o homem poder usar de uma forma sóbria um adorno. Claro que há quem faça camadas de vários adornos e estão no seu direito, mas um relógio serve para ver as horas, apesar de ser muito mais do que isso.

Fotografia: © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Para Rui Unas, os relógios não servem ‘só’ para dizer as horas. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

E nunca te sentiste tentado por um smartwatch? Vês os smartwatches como concorrentes dos relógios tradicionais?
Eu cresci com a febre da tecnologia, mas nunca experimentei nenhum e acho que é um gadget que não entra em concorrência direta com os relógios tradicionais — apesar de, em alguns casos, dar para configurar e escolher o mostrador que quisermos. Mas eu não sei como é que me hei de relacionar com um smartwatch. Não faço ideia. Só experimentando. Mas, há uns tempos, andei a namorar um TAG Heuer Connected.

Em que ocasiões é que usas o teu Oris? Tens de partilhar connosco um momento íntimo que tenhas passado com o teu relógio…
(esboçando um sorriso) Por acaso, tiro o relógio nos momentos íntimos! Nas férias do Natal, levei-o a passear ao Panamá, e é curioso porque acabei por tirar muitas fotos por lá com o relógio na praia. Depois vem aquela questão de que há relógios em que é uma chatice ter de os tirar na praia, mas não é o caso. Aliás, poderia mergulhar até aos 100 metros, o que é ridículo, porque jamais irei aos 100 metros de profundidade. Mas não tenho resposta para essa pergunta: enfim… momentos íntimos com o relógio… difícil de responder. Porém, lá está, como tenho uma ligação emocional com os relógios e uso-os consoante o meu estado de espírito, não foi por acaso que levei o Oris Movember Edition ao Panamá. Não levei o TAG ou o Rolex porque me apeteceu levar o Oris e achei que fazia sentido levá-lo para o Panamá.

Tens bem enraizado o protocolo da relojoaria mecânica – dar corda, acertar horas e data antes de o colocar no pulso?
Não consigo sair de casa sem o relógio estar certo. Tenho andado a usar o TAG e, por acaso, ontem resolvi usar o Oris. Mas não o coloquei no pulso sem o ritual de acertar as horas e o dia do mês. É psicológico. Falta-me qualquer coisa se não acertar o relógio. É como se não tivesse lavado os dentes. Mas há pessoas, que se calhar, não se importam.

© Paulo Pires / Espiral do Tempo
Sempre bem disposto, o humorista tem vindo nos anos mais recentes a reforçar o seu gosto e interesse por relógios de pulso. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

O Miguel escreveu uma crónica sobre as pessoas que sofrem de um ‘grave’ problema: são strapaholics, viciadas em braceletes. Achas que és propenso a este tipo de vício?
Quando comprei o Seiko, comprei logo um set de cinco ou seis NATO straps, e houve uma fase em que andava com o Seiko e estava sempre a mudar de strap, a fazer pandã com as meias etc., mas confesso que isto depois passou. Tenho lá as straps e já brinquei também com este Oris, porque ambos os relógios têm a mesma largura de asas (20 mm), mas não sou um addicted. Acho que no verão sou mais propenso a isso. No verão, temos o pulso mais descoberto, logo posso brincar mais. No inverno, como o pulso está mais escondido, sou mais sóbrio. É curioso. Acho que já começo a descobrir um padrão de comportamento com os relógios. Mas é uma opção muito interessante, porque muda de imediato e completamente a cara do relógio.

E no Oris, qual das duas opções preferes?
Em termos práticos, prefiro a NATO porque é muito mais fácil de usar; para a correia de pele, tenho de recorrer à pecinha que vem incluída no estojo e que me permite mudar. Hoje, como vim para aqui e ontem estava a usar a NATO, achei que se enquadrava mais a de pele. Agora tenho é de comprar a lupa porque os meus olhos já não aguentam muito bem o processo até porque tirar as molas de asa é uma operação muito delicada e depois tenho receio de riscar o relógio.

© Oris Movember Edition
As duas opções de bracelete do Oris Movember Edition: correia em pele e pulseira de tecido tipo NATO. © Oris

Achas que as mulheres olham para ti de maneira diferente desde que usas o teu Oris?
Sinceramente, nunca reparei. Eu acho que as mulheres reparam nos relógios dos homens. Li não sei onde. Se reparam, são muito discretas. Mas vou ter de começar a reparar nisso… Quero acreditar que reparam. Por acaso eu gosto de ver uma mulher com relógio de homem.

Há pouco disseste que gostas do look rétro do Oris, porquê?
É uma questão de gosto mesmo. Acho que é porque eu próprio já me sinto um pouco rétro e não há nada como assumir que já não sou propriamente um jovem de vinte anos. Vou fazer 44 anos esta semana e acho que já tenho uma história de vida e background suficientes para perceber o que é rétro ou não e para perceber e espírito que lhe está associado. Sinto-me confortável com algo que transmite essa pátina, digamos assim, que eu acho que já começo a ter.

Sim, até porque o facto de ser um relógio mecânico é um pouco contracorrente face à velocidade dos nossos tempos, não é? Identificas-te com esta ideia?
Completamente. No fundo, é um pouco o ir às origens, e eu valorizo muito esse aspeto: as raízes, a essência das coisas. E o relógio, essencialmente, é isto. É um objeto mecânico que tem um propósito que é termos acesso às horas, indo contra a corrente nesta tecnologia. Ainda por cima, sou uma pessoa ligada às novas tecnologias, aos media e ao digital. Logo, agrada-me haver este ponto de equilíbrio.

Fotografia: © Paulo Pires / Espiral do Tempo
O Oris Movember Edition tem uma caixa de 40 mm em aço e segue os padrões estéticos da linha Sixty-Five. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

E já que estamos a falar de tempo, és uma pessoa que olha mais para o passado, o presente ou o futuro?
Apesar de ter este gosto pelo rétro, pela pátina, por coisas que têm alguma história, penso sobretudo no presente. Evidentemente que, às vezes, é bom olharmos para trás e valorizar o que já fizemos para chegarmos aonde estamos, mas não perco muito tempo a pensar nem no futuro, nem no passado. Eu vivo essencialmente no presente. Acho que o segredo da felicidade passa muito por aí, passa cada vez mais pelas horas que são agora, por aquilo que está a acontecer e desfrutar no momento. O agora é muito importante.

Atualmente, o que é estas a fazer profissionalmente?
Estou a desfrutar muito do presente, lá está, daquilo que tenho agora. Claro que, na minha profissão, temos de andar sempre à procura de novos projetos, de novos desafios e de oportunidades. Não posso estar parado no tempo. Eu quero que o Maluco Beleza cresça e não seja só aquilo que é hoje. Depois, estou sempre entre projetos. Há sempre um filme que hei de fazer, há sempre uma novela que hei de fazer – não sei se já este ano ou se para o próximo —, há sempre uma peça de teatro que irei fazer, mas não gosto de falar dessas coisas antes de acontecerem.

O Maluco Beleza surge como sequência do Cabaret da Coxa?
O facto de ser ‘Maluco’ por acaso não tem nada a ver, porque o Maluco Beleza vem do tempo em que fiz um filme no Brasil. Na altura, conheci lá a obra de Raúl Seixas — um músico que, entretanto, já faleceu — e ao ouvir a música do Maluco Beleza identifiquei-me tanto com a letra, que acabou por ser quase como um mantra para mim. Decidi, então, que quando tivesse um projeto digital o chamaria de Maluco Beleza. Acho que é um nome perfeito e projeta bem o espírito que eu acho que é o espírito certo para andar aqui na vida: misturar a lucidez com a ‘maluquês’. É verdade que o Maluco Beleza tem algo de maluco, mas é pura coincidência, não há uma relação direta com o Cabaret da Coxa.

Fotografia: © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Com Maluco Beleza, Rui Unas sente que tem o privilégio de se expressar profissionalmente, sendo ele próprio. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

O ‘Maluco Beleza’ é uma personagem que tu criaste?
Não. Ao contrário de tudo aquilo que já fiz até agora, o Maluco Beleza não é nenhuma personagem. Nunca fui tão eu e é altamente libertador podemos fazer algo de que gostamos sendo nós próprios. Durante muito tempo, eu fazia aquilo de que gostava, mas não era exatamente eu, era obrigado a ser um maluco que não era eu, porque eu sinto-me um pouco mais sóbrio. Mas, na televisão, num talk show, eu tenho de ser um entertainer e há dias em que, se calhar, não estou para aí virado. E aqui, no Maluco Beleza, não faço fretes, não sou obrigado a ser aquilo que não sou. As pessoas que veem o Maluco Beleza vão-me ver a mim, e se me virem como o Maluco Beleza eu considero isso um elogio. Para mim, o ser Maluco Beleza é ouvir a letra da música, perceber o que ela representa. Tenho o privilégio de ser eu próprio, de me expressar profissionalmente sendo eu próprio, o que é ótimo.

Qual é o teu relacionamento com o tempo? Quando é que, para ti, o tempo anda mais depressa e anda mais devagar?
A vida de artista é tramada, e, na minha profissão, seria bom termos o dom da ubiquidade, para podermos estar em dois sítios ao mesmo tempo. Sendo da Margem Sul, tenho de fazer alguma ginástica, tenho de dar sempre umas margens de meia-hora ou uma hora, porque tudo pode acontecer. Estou um pouco refém nesse sentido. Mas, para contrabalançar, o tempo para mim para quando estou com a minha família. É aí que eu não tenho compromisso absolutamente nenhum. Os fins de semana são praticamente sagrados para mim – só uma razão muito forte me pode afastar nestes dias. O meu melhor programa é estar em casa com a minha família. Não gosto muito de sair à noite e só se tiver mesmo de trabalhar é que saio. E, à noite então, durante a semana, sempre que posso, estou com a minha família. O tempo mais precioso que tenho é o tempo com a minha família. Aí o tempo para.

Fotografia: © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Rui Unas vê os relógios de pulso são também uma questão de identidade, de nos afirmarmos. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Já que estamos no registo família, a campanha ‘Generations’ da Patek Philippe, passa uma mensagem muito bonita: nunca somos verdadeiramente donos de um Patek Philippe. Apenas cuidamos dele para a geração seguinte. Quando compras relógios, pensas nesta questão? Que os vais passar para os teus filhos?
Claramente. Eu quando os compro, nomeadamente a Portuguesa e o Submariner, eu sei que vão ser pedacinhos de mim que vão estar no pulso deles, ou dos netos. Espero que isto seja algo que só vá acontecer num futuro longínquo, mas quero pensar nisso. E sou daquele tipo de pessoas que quer chegar ao final da existência sem dinheiro absolutamente nenhum no banco. Eu não lhes quero deixar nada. Acho que tenho o direito de gastar tudo o que tenho no banco. Vou gastar tudo em viagens, em comer e em beber, mas a deixar-lhes qualquer coisa, se calhar vou deixar-lhes os relógios. Talvez seja a única coisa que lhes vou deixar. E eles não fazem ideia do privilégio que é ter este set de relógios.

Quando é que percebeste que a barba e o bigode eram inevitáveis na tua vida?
Eu percebi isso quando tive noção de que tinha aqui algo altamente invejado pelos jovens, porque os jovens podem ter farta cabeleira, mas há muitos jovens que não têm esta densidade capilar no rosto. Além disso, de há uns anos para cá a barba é moda e eu dou por mim a ser invejado por putos de vinte e poucos anos. Sei que me dá para aí mais cinco anos na aparência, mas gosto muito da minha barba e descobri há pouco tempo que tinha uma boa barba também.

Fotografia: © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Fotografia: © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Visite o site oficial da Oris ou o site oficial da Torres Disribuição para mais informações sobre o Oris Movember Edition.

Outras leituras