A. Lange & Söhne: 1815 Rattrapante e um toque de nobreza

A manufatura germânica enriqueceu o seu portfólio cronográfico com mais uma execução de grande classicismo. O 1815 Rattrapante está limitado a somente 200 exemplares em platina e revela toda a sofisticação de um cronógrafo de recuperação preparado para calcular dois tempos distintos separadamente.

Para além de complicações menores como a da data, a função cronográfica é — no que diz respeito às principais complicações da relojoaria mecânica — a mais popular. A quantidade de cronógrafos à disposição é, no entanto, enganadora; a engenharia necessária para concretizar um novo movimento cronográfico está ao nível da que é exigida por complicações consideradas mais nobres e complexas. Até porque o cronógrafo é a função que oferece ao seu utilizador um melhor nível de interação: enquanto a complexidade técnica de um calendário perpétuo ou de um turbilhão permanece geralmente ocultada, um cronógrafo é frequentemente posto a funcionar, a ser parado e a ser reiniciado. A intransigente ambição dos relojoeiros das melhores manufaturas é a de que, após muitos anos de utilização, as sequências de partida, paragem e retorno a zero dos cronógrafos da respetiva marca sejam sempre executadas de modo fiável e preciso. Como sucede na A. Lange & Söhne.

A. Lange & Söhne 1815 Rattrapante
Glashütte na Saxónia: a assinatura do novo 1815 Rattrapante| © A. Lange & Söhne para Espiral do Tempo

A manufatura germânica renasceu em 1994, após a queda do Muro de Berlim ter permitido o regresso de Walter Lange a Glashütte para recuperar a glória relojoeira dos seus antecessores. E extasiou o mundo relojoeiro com o lançamento do Datograph em 1999. A possibilidade de medir frações de tempo sempre foi uma das mais úteis e entusiasmantes funções complementares de um relógio mecânico; e isso torna-se particularmente verdade quando é possível observar todos os componentes do cronógrafo em ação. Nesse aspeto, o Datograph passou a ser a principal referência e levou mesmo outras históricas manufaturas de topo a desenvolverem também os seus próprios calibres cronográficos em vez de usaram movimentos adaptados de fornecedores especializados. Posteriormente, a A. Lange & Söhne adicionou o 1815 Chronograph à sua coleção em 2004 — para representar o paradigma do design clássico dos relógios de bolso em combinação com a mais avançada tecnologia. Em 2010, o calibre do 1815 foi atualizado com 60 horas de reserva de corda e uma espiral de fabrico próprio. Em 2013 surgiu o 1815 Rattrapante Perpetual Calendar (duplamente premiado no Grand Prix d’Horlogerie de Genève), reeditado em 2017 através de uma fabulosa edição Handwerkskunst. Cinco anos depois, eis o novo 1815 Rattrapante.

Anthonie de Haas no stand da Lange no Watches and Wonders 2022
Anthony de Haas falou-nos dos segredos por trás do novo 1815 Rattrapante | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

«Não é um lançamento de grande mediatismo e o calibre não é completamente novo, daí termos escolhido apresentá-lo agora e não na Watches & Wonders», confessou-nos Anthony de Haas — o carismático responsável de pesquisa e desenvolvimento da manufatura saxónica. «É sobretudo um relógio de grande classe para quem gosta de um luxo discreto». E é verdade. Numa altura em que proliferam os cronógrafos espampanantes, trata-se de um exemplar de grande charme que fica bem em qualquer pulso. Tal como todos os exemplares da linha 1815, também o 1815 Rattrapante apresenta os tradicionais elementos de estilo reminiscentes da era dos relógios de bolso — que incluem uma escala dos minutos tipo caminho de ferro e submostradores simetricamente distribuídos no mostrador.

Fundo de caixa do A. Lange & Söhne 1815 Rattrapante
O fabuloso movimento cronográfico do 1815 Rattrapante | © A. Lange & Söhne para Espiral do Tempo

O 1815 Chronograph adquiriu estatuto de culto entre os puristas e aficionados da A. Lange & Söhne devido à sua perfeição essencial — tanto no plano da função como do design, caraterizado pelos seus dois submostradores ligeiramente descaídos (às 8 e às 4 horas) relativamente ao eixo dos ponteiros centrais. O 1815 Rattrapante mantém os dois submostradores, mas numa disposição vertical (às 12 e às 6 horas). Mas, sobretudo, apresenta a útil função suplementar de cronógrafo de recuperação: um segundo ponteiro central de medição dos segundos, dito de recuperação (ou rattrapante), permite efetuar cronometragens dentro de uma mesma cronometragem efetuada pelo primeiro ponteiro.

Mostrador do A. Lange & Söhne 1815 Rattrapante
Se o 1815 Chronograph tem uma apresentação horizontal dos submostradores, no 1815 Rattrapante a configuração é vertical | © A. Lange & Söhne

Ou seja, no arranque da contagem a partir da pressão do botão às duas horas, os dois ponteiros permanecem juntos. O ponteiro de recuperação pode ser parado independentemente do ponteiro principal dos segundos do cronógrafo e depois sincronizado com ele (a tal função de recuperação). O que permite contabilizar independentemente o tempo de voltas dentro de uma corrida que está a ser cronometrada, por exemplo. Os cronógrafos dotados de rattrapante são considerados um exemplo de superlatividade relojoeira e normalmente integram as chamadas grandes complicações, a par do turbilhão, dos calendário perpétuo e da repetição minutos ou grande/pequena sonnerie.

Lateral da caixa em platina do A. Lange & Söhne 1815 Rattrapante
Pormenor do acabamento dos flancos da caixa e dos botões do cronógrafo | © A. Lange & Söhne

A nobreza da platina

O 1815 Rattrapante surge declinado numa caixa em platina que realça não só todo o seu classicismo mas também a nobreza de uma manufatura de alta relojoaria como a A. Lange & Söhne — sempre intransigente no que diz respeito aos seus ideais estéticos. O mostrador prateado reforça o visual germânico, e tanto os caraterísticos algarismos árabes como a minuteria tipo caminho-de-ferro têm a companhia de ponteiros azulados, outra caraterística clássica da linha que tem por nome o ano de nascença de Ferdinand Adolph Lange. E ainda uma escala taquimétrica adicional para cálculos de velocidade.

Pormenor do mostrador e ponteiros do A. Lange & Söhne 1815 Rattrapante
A beleza contrastante dos ponteiros revenidos a azul | © A. Lange & Söhne

Uma sofisticada tecnologia reside sob o mostrador de configuração clarividente. O fundo transparente em vidro de safira permite a observação das sequências de funcionamento do Calibre L101.2 de carga manual com 58 horas de reserva de corda — todos os movimentos da linha 1815 são de corda manual, evocando o passado épico dos relógios Lange de bolso. O mecanismo rattrapante foi colocado de maneira a que possa ser visto a partir do fundo, com duas rodas de colunas em ação. Trata-se do sétimo calibre desenvolvido pela Lange com a função rattrapante, mas não é propriamente uma novidade absoluta: foi estreado no 1815 Rattrapante Honeygold ‘Homage to F. A. Lange’ de 2020, uma edição limitada a 100 exemplares que celebrou o 175º aniversário da relojoaria saxónica de precisão.

Pormenor do movimento do A. Lange & Söhne 1815 Rattrapante
A roda de colunas em destaque e a qualidade decorativa do movimento | © A. Lange & Söhne

Superlatividade mecânica

Quanto mais complexo é um movimento mecânico, mais rigorosos são os requerimentos impostos aos relojoeiros designados para o processo de montagem. Um dos maiores desafios é o de montar o mecanismo cronográfico, especialmente se o movimento inclui complicações como a função flyback ou a função rattrapante. É por essa razão que, na A. Lange & Söhne, uma experimentada equipa de especialistas é responsável pelas complicações cronográficas. Só um e sempre o mesmo relojoeiro tem a responsabilidade de concretizar a primeira e a segunda sequências da montagem, uma prática que se afigura tradicional na Lange. E convém não esquecer que a manufatura germânica inclui no seu portefólio portentos cronográficos como o Double Split (de 2004) com dupla função rattrapante e o Triple Split (de 2018) com tripla função rattrapante!

Pormenor do mostrador e ponteiros do A. Lange & Söhne 1815 Rattrapante
Mostrador prateado serve de tela ideal para o grafismo negro e os ponteiros azulados | © A. Lange & Söhne

O 1815 Rattrapante apresenta uma caixa de 41,2mm e, apesar da complexidade do movimento composto por 365 componentes, a espessura é de somente 12,6mm. A decoração e os acabamentos são tradicionais da A. Lange & Söhne. O Calibre L101.2 inclui as pontes em alpaca, os parafusos azulados, os chatons em ouro aparafusados e o galo do balanço gravado à mão que são há muito consideradas caraterísticas distintivas dos movimentos dos históricos relógios de bolso; os desenvolvimentos e elementos típicos da prolífica carreira de Ferdinand Adolph Lange foram elegantemente reproduzidos e transpostos para o presente. Ou seja: o 1815 Rattrapante afigura-se como a escolha perfeita para todos os puristas em busca de um cronógrafo tecnicamente perfeito.

movimento visto do fundo de caixa do A. Lange & Söhne 1815 Rattrapante
O fascinante universo mecânico do 1815 Rattrapante | © A. Lange & Söhne para Espiral do Tempo

Características técnicas

A. Lange & Söhne
1815 Rattrapante

Ano de lançamento | 2022
Edição limitada a 200 exemplares.

A. Lange & Söhne 1815 Rattrapante frente e verso
| © A. Lange & Söhne

Referência | 425.025
Movimento | Mecânico de corda manual. Calibre L101.2 decorado e montado à mão. 36 rubis. 58h de reserva de corda, 21.600 alt/h.
Funções | Horas, minutos, pequenos segundos com stop-seconds. Cronógrafo rattrapante.
Caixa ø 41,2 mm | Platina 950. Vidro e fundo em cristal de safira.
Bracelete | Pele preta de aligátor cosida à mão. Fivela em platina 950.
Preço | Sob consulta

Visite o site oficial da A. Lange & Söhne para mais informações.

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