O mundo do ténis – e não só, especialmente este ano! – esteve centrado em Wimbledon nas duas últimas semanas, com um grande pico de audiência na épica final do passado domingo. Num evento historicamente ligado à Rolex, sagraram-se campeões de singulares Novak Djokovic (Seiko) e Simona Halep (Hublot). E ao longo da quinzena houve muitas histórias relojoeiras para contar, umas mais bizarras do que outras…
Wimbledon nunca desilude. Há sempre algo de místico a acontecer na Catedral do Ténis. E a 133ª edição do mais prestigiado evento tenístico do planeta ficou marcada por uma das mais extraordinárias finais de torneios do Grand Slam na história da modalidade – depois de a maior parte delas ter tido como palco precisamente o vetusto Centre Court. E, no mais antigo torneio do mundo, o tempo tem-se juntado à qualidade e à emoção para dotar essas finais de uma aura lendária que não existe em mais lado nenhum, nem mesmo nas outras três provas do Grand Slam. Porque Wimbledon é mesmo Primus Inter Pares.
As cimeiras individuais masculinas de 1980 (entre Bjorn Borg e John McEnroe) e de 2008 (entre Rafael Nadal e Roger Federer) eram consideradas os melhores encontros de ténis de todos os tempos e a de 2009 (entre Roger Federer e Andy Roddick) foi a que teve os parciais mais equilibrados com um quinto set mais longo. Sem esquecer outros duelos que entraram para a lenda, como o mais longo de sempre entre John Isner e Nicholas Mahut que se prolongou por três dias na primeira ronda da edição de 2010 ou a meia-final mais longa de sempre, jogada entre Kevin Anderson e John Isner no ano passado. A final de singulares homens deste ano entre Novak Djokovic e Roger Federer tornou-se num clássico instantâneo e entrou diretamente para o galarim dos recordes – contrastando com uma sucinta final de singulares senhoras entre Simona Halep e Serena Williams que demorou quatro horas menos. Embora ambos os campeões tenham embolsado exatamente a mesma quantia.
As noções de tempo, história e recordes reforçam ainda mais a fama de um torneio visto como anacrónico devido à escolha dos pisos relvados e intemporal devido ao peso das tradições. No plano relojoeiro, a associação entre Wimbledon e a Rolex também é lendária – já a abordámos várias vezes no passado, tanto aqui no site como nas duas mais recentes edições da revista – e mesmo recordista: iniciada em 1978, é a mais antiga ligação de uma marca relojoeira a um evento desportivo e é reforçada pelo facto de o Centre Court permanecer virgem de patrocinadores à exceção de discretas menções e do visível logótipo da manufatura genebrina no painel de resultados; para além disso, Wimbledon e a Rolex partilham a mesma cor corporativa e o mesmo ideal de estar constantemente a melhorar fazendo parecer que nada muda…
A Rolex está omnipresente no All England Club, não só com relógios estrategicamente colocados e misturados com o ambiente do clube mas também através de uma grande operação de marketing durante o torneio propriamente dito – com convidados de luxo (na maior parte campeões do mundo do desporto que são também seus embaixadores) a desfilarem na suite da Rolex e no Camarote Real. Sem esquecer nos courts propriamente ditos, tendo em conta o enorme contingente de tenistas de elite vinculados à marca da coroa. No entanto, se em várias das edições da presente década a Rolex teve um campeão/campeã a erguer o troféu – e nalguns casos a conseguir mesmo a dobradinha –, na edição deste ano não adornou o pulso dos vencedores. Apesar de o seu principal embaixador, Roger Federer, ter estado muito, muito, muito perto. Os triunfos individuais pertenceram à Seiko, graças a Novak Djokovic, e à Hublot, através de Simona Halep.
Na final de singulares homens, Novak Djokovic bateu Roger Federer por 7-6 (7/3), 1-6, 7-6 (7/4), 4-6, 13-12 (7/3) ao cabo de 4h57m. Nunca antes uma final de um torneio do Grand Slam tinha reunido tantos títulos do Grand Slam (35; 20 de Federer e 15 de Novak) e tantos títulos de Wimbledon (12; 8 do suíço e 4 do sérvio). A qualidade de jogo e o dramatismo não desiludiram, sobretudo na ponta final. Djokovic esteve a liderar por 4-2 e Federer não só recuperou a desvantagem como fez um break aos 7-7 para servir para o título aos 8-7 e dispor da vantagem de 40/15 no seu serviço. Dois matchpoints! Cometeu um erro no primeiro e viu o adversário concretizar um passing-shot no segundo, perdendo de seguida o serviço. O set decisivo continuou equilibrado até aos 12-12, altura em que a contenda se resolveu no tie-break – uma novidade este ano, para impedir que o quinto set se prolongasse indefinidamente, como os 70-68 entre Isner e Mahut em 2010 ou os 26-24 entre Anderson e Isner no ano passado. Uma novidade instaurada este ano que não foi necessária em qualquer encontro de singulares da 133ª edição até ao último, precisamente a final individual masculina… uma coincidência que contribuiu para a aura mística que pasou a rodear esse duelo de titãs.
No momento crítico, e apesar de Roger Federer ter jogado globalmente melhor (a maior parte das estatísticas e mesmo a evolução do marcador mostra isso), Novak Djokovic foi mais duro e o sérvio ergueu o mais cobiçado troféu da modalidade com um Seiko Astron GPS Solar SSH003 no pulso. Do outro lado, e mesmo perante a gigantesca frustração da derrota após ter estado tão perto da vitória, o suíço não se esqueceu de colocar o Day-Date em ouro rosa e mostrador verde que utilizou ao longo da quinzena.
No contexto relojoeiro, a final feminina não correu tão bem para a feliz vencedora. Simona Halep ficou tão entusiasmada por ter derrotado a campeonísssima Serena Williams por 6-2 e 6-2 em apenas 57 minutos que se esqueceu de colocar o seu Hublot – apesar de não ter o estatuto de ‘embaixadora’, a romena é ‘amiga da marca’ e normalmente coloca o relógio no pulso quando ganha um torneio e levanta o troféu. Mas Wimbledon é Wimbledon. Não se lembrou e a marca não poderá fazer posters da campeã no momento mais importante da sua carreira, mesmo que tivesse ganho antes um título do Grand Slam em Roland Garros (2018, após três finais perdidas anteriormente). Só colocou o relógio no dia seguinte, quando tirou novas fotografias com o troféu e roupa à civil… e mesmo assim sem nunca colocar o pulso no ângulo recomendado para a fotografia, como Novak Djokovic tão bem exemplificou. Talvez se passar de ‘amiga da marca’ a ‘embaixadora’, Simona Halep comece a lembrar-se melhor…
Simona Halep não foi a primeira a esquecer-se. O próprio Roger Federer, sempre exemplar em tudo o que tenha a ver com patrocinadores, se esqueceu de colocar o seu Maurice Lacroix em 2005, impedindo a marca que então o patrocinava (durante dois anos, porque a Rolex comprou o resto do contrato de cinco anos para fazer dele a sua principal figura desportiva) de publicitar a sua imagem com o prestigiado troféu de Wimbledon. Algo de semelhante aconteceu em 2012 quando Andy Murray, que tinha assinado com a Rado semanas antes, não colocou o relógio no pulso após a final – não ganhou, mas como foi o primeiro britânico a jogar a final desde 1938 teve grande visibilidade e a ‘ausência’ foi tão notada que constituiu a sua maior preocupação logo após vencer o US Open, dois meses depois, não celebrando devidamente por não saber onde tinha posto o relógio.
A maior curiosidade relojoeira foi proporcionada por Serena Williams. A norte-americana ganhou o título de Wimbledon em 2012 com um Casio Calculator retro que tinha arranjado para uma festa temática dos anos 80 e logo depois tornou-se amiga da marca da Audemars Piguet e posteriormente embaixadora, jogando sempre e ganhando de relógio no pulso. Mas em 2015 viu-se em Wimbledon a americana usar um modelo Millennary especial com coroa à esquerda para que a coroa (normalmente colocada à direita) não raspasse na pele da sua mão na preparação da sua esquerda batida a duas mãos. Depois voltou a usar modelos convencionais de coroa à direita até surgir este ano em Wimbledon com um Royal Oak Offshore Chronograph 37mm com luneta em diamantes… mas colocado ao contrário. Precisamente para que a coroa e os botões não raspassem na pele da mão. E foi assim que surgiu em todos os encontros e também nas conferencias de imprensa – com o relógio ao contrário…
As restantes saliências relojoeiras de Wimbledon vão para os suspeitos do costume, incluindo Rafael Nadal – famoso por usar um milionário Richard Mille com turbilhão feito à sua medida, ultra-leve e de visual radical. Rafael Nadal estava a jogar muito bem e derrotou o nosso João Sousa nos oitavos-de-final (6-2, 6-2, 6-2), posando seguidamente para nós com o seu RM 27-03 Tourbillon Nadal com caixa em Quartz TPT e pontes estilizadas em forma de uma cabeça de touro. Mas foi depois travado nas meias-finais por um soberbo Roger Federer.
De resto, a maior parte dos jogadores de topo tem um vínculo a uma marca relojoeira e, para além de tenistas – ou de ilustres visitantes, como David Beckham, que mostrou o seu Tudor Black Bay Chronograph Steel & Gold (em destaque na mais recente edição da Espiral do Tempo) no camarote real – com patrocínios, também se vê habitualmente gente do mundo da relojoaria no All England Lawn Tennis and Croquet Club.
Como a chefe do departamento relojoeiro da Fabergé, Aurélie Picaud. Vários jornalistas, convidados ou não pela Rolex. E mesmo responsáveis de outras marcas, como Julien Tornare (CEO da Zenith), Anne-Katrin Strömer (Relações Públicas Internacional da Junghans) ou Massimo Dreifuss (filho do fundador da Maurice de Mauriac). E em Londres, durante a quinzena wimbledoniana, houve um seminário da Junghans e apresentações da Jaeger-LeCoultre e da Moritz Grossmann.
Como sempre aproveitámos para tirar vários wristshots durante alguns momentos significativos dos encontros e mesmo aproveitando o belo cenário do All England Lawn Tennis and Croquet Club. Também aproveitamos para fotografar amigos e conhecidos com interessantes relógios. Aqui fica um apanhado dessa reportagem fotográfica, começando por um momento especial protagonizado por ‘El Greco’.
—