Chegar a um resultado visual e explicar o caminho que se percorreu até lá não é de todo fácil. Por vezes uma ideia surge-me do nada, outras de algo que vejo, leio ou oiço. Outras, ainda, de uma memória ou de uma experiência. Irei partilhar nas linhas seguintes a inspiração por detrás de algumas imagens que criámos para a Espiral do Tempo e não só.
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Foto de abertura: o barbeiro Unique foi a estrela da produção “Barbière”, com relógios Jaeger-LeCoultre. Esta foto foi publicada no número 50 da Espiral do Tempo. © Paulo Pires/ Espiral do Tempo
Gérard Depardieu
Quando a CVSTOS Genève nos convidou para criar uma imagem para o lançamento da sua edição limitada Proud to be Russian e nos disse que o embaixador dessa série iria ser o ator Gérard Depardieu, a primeira coisa em que pensei foi no maravilhoso filme Cyrano de Bergerac, dirigido por Jean-Paul Rappeneau (1990). Para mim, Depardieu será sempre Cyrano.
Para lá da história, toda a fotografia do filme é fantástica – sobretudo nas cenas noturnas em que Cyrano, oculto nas sombras, lá vai instruindo o seu amigo Christian nas artes dos diálogos de amor, através do seu próprio amor por Roxane.
Bem, antes que os amigos leitores fiquem com os olhos embaciados devido às lágrimas causadas pela história do nosso Cyrano e não consigam ler mais, vou avançar.
Para as fotos que tínhamos em mente, Gérard tinha de ser Cyrano; o ambiente teria de ser de inspiração noturna, uma cena visual com sombras carregadas, algo misteriosa. Eu queria aquele Cyrano sempre receoso de se expor.
A inspiração para a imagem de lançamento do CVSTOS Proud do be Russian veio portanto do filme Cyrano de Bergerac.
E aqui está ela:
Um assassino ali para os lados da Trindade
Na edição 50 da Espiral do Tempo (primavera 2015) decidimos abordar a temática do “Neo-Vintage”. Queríamos destacar na capa o novo Jaeger-LeCoultre Reverso 1948 e após as habituais discussões criativas, decidimos explorar as novas barbearias de charme que começaram a surgir muito nessa altura por Lisboa.
Encontrámos um espaço fantástico e um igualmente fantástico acolhimento por parte do Nuno Mendes (a entrevista foi publicada nessa mesma edição) e do carismático Unique, o barbeiro desse espaço.
Muito bem, tínhamos um maravilho local, O Purista – Barbière, e uma imagem de capa tinha que surgir mas qual a ideia? Qual a abordagem? Uma barbearia como O Purista tem inúmeros detalhes e instrumentos que poderiam servir para ‘compor’ uma imagem, mas, por outro lado, tesouras e navalhas podem ser elementos visualmente agressivos que habitualmente não associamos à alta-relojoaria.
Mais uma vez, a ideia surgiu de um filme: Sweeney Todd (2006), de Tim Burton.
Caros amigos, se ainda não viram, por favor coloquem na vossa lista, é uma obra visualmente magistral.
Deixamos o trailer oficial:
Com o Sweeney Todd em mente, pesquisei muitas imagens e cada vez mais me apetecia assumir o lado… mais sombrio e agressivo do nosso barbeiro de charme e, sem dúvida, que teria de incluir uma navalha de barbeiro.
O caríssimo Unique aceitou, então, o convite para ser o nosso Sweeney Todd e passámos um dia fantástico na companhia de gente boa:
E posso assegurar que uma visita ao O Purista é perfeitamente segura – ao contrário de uma visita a Fleet Street!
E aqui está uma das imagens que resultou desta aventura:
Vale a pena relembrar a galeria “Jaeger-LeCoultre: Barbière” na qual estão compiladas todas as fotos que resultaram desta produção
Ofender muita gente sem ofender ninguém
Na mais recente edição impressa da Espiral do Tempo, abordamos o tema “Atitude”. Como representar o conceito “Atitude” numa imagem? Haverá inúmeras maneiras, é certo – até porque a ideia de Atitude é muito vasta e há muitos pontos de vista possíveis -, mas a nossa teria de ser o mais minimal possível e muito focada no produto. Agradou-nos a ideia de ter uma mão, não uma mão de um modelo profissional, mas uma mão real.
Pesquisei poses e gestos até que, por graça, alguém sugeriu uma mão a fazer o clássico “dedo do meio”! Bem, seria uma Atitude forte, de facto, contudo pareceu-nos demasiado… atitude para uma capa. No entanto, a ideia de um gesto forte ganhou peso; porém teria de ter classe!
É bem conhecida a fantástica fotografia de Steve McQueen, nome muito associado à TAG Heuer, a exibir os british classic “two fingers”, no filme Le Mans! Por puro acaso, durante uma pesquisa, voltei a cruzar-me com esta imagem. Perfeita. Principalmente tendo em conta o relógio que estava selecionado para a capa.
E foi este o conceito que explorámos. No entanto, durante a sessão acabámos por captar um gesto que, não sendo tão ostensivamente óbvio, é uma mistura interessante entre um “up yours” e um V de vitória!
Eis o resultado:
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