Um relógio especial: Cartier Privé Tank à Guichets

Foi imediatamente aclamado como um dos protagonistas do salão Watches & Wonders: o Tank à Guichets da Cartier é mais um exercício de estilo que pisca o olho ao passado e vai de encontro a várias das tendências atuais. Com uma referência histórica muito especial: o lendário Duke Ellington.

Beneficiando de uma conjuntura que tem colocado mais em evidência relógios de forma que são simultaneamente dress watches, a Cartier tem beneficiado de um forte élan desde o início da presente década — seja no retalho tradicional, como no mercado paralelo e até no circuito de leilões. Ou seja, a já de si pujante Maison parisiense (que é a marca best-seller do grupo Richemont) tornou-se ainda mais forte beneficiando das tendências atuais e de uma inesperada popularidade junto da Gen Z. Daí que não tenha causado surpresa que os novos exemplares Tank à Guichets da linha Cartier Privé tivessem concitado as atenções entre as muitas centenas de relógios lançados na recente edição do Watches & Wonders.

No pulso: as duas variantes do novo Tank à Guichets da Cartier | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
No nosso pulso: duas variantes do novo Tank à Guichets da Cartier | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Nos últimos relatórios anuais da Morgan Stanley, a Cartier tem surgido no segundo lugar do ranking de faturação… logo após a incontornável Rolex. Em 2024, foi primeira na Vogue Business Watches Index e também eleita, com enorme vantagem, Marca do Ano num inquérito feito a 40 especialistas da indústria (membros da coletividade designada por Watch Illuminati). Em grande parte porque há cada vez mais gente a procurar relógios elegantes de prestigiadas casas que sejam dotados de um design fora da caixa e formatos pouco convencionais, sem esquecer uma acentuada componente artística. A Cartier tem mais fama enquanto casa joalheira, mas foi fundamental na história da relojoaria ao ter promovido aquele que foi o primeiro relógio de pulso de produção regular — após Louis Cartier ter idealizado e confecionado um modelo especialmente adequado ao seu amigo piloto Santos Dummond.

As quatro versões do Tank à Guichets | Foto: Cartier
Horas saltantes e minutos deslizantes: as quatro versões do Tank à Guichets | Foto: Cartier

Entre os múltiplos lançamentos relojoeiros da Cartier no salão Watches & Wonders, o Tank à Guichets ganhou protagonismo por se tratar precisamente de um relógio de forma com configuração pouco habitual — sendo que, dentro dos modelos Tank à Guichets, há uma reinterpretação ainda mais original: o Tank à Guichets Oblique (que está a ser apelidado Tank Driver devido ao ângulo de leitura ser ideal para quem tem a mão ao volante). No total, quatro versões — Tank à Guichets em ouro branco, ouro amarelo e ouro rosa, Tank à Guichets Oblique em platina — inspiradas num modelo da década de 1920 celebrizado no pulso da lenda do jazz Duke Ellington. E que, nesse ano de 1928, foi encarado como algo de especialmente vanguardista pela disposição digital do tempo.

Versão Tank à Guichets em ouro branco | Foto: Cartier
Versão Tank à Guichets em ouro branco | Foto: Cartier

O retangular Tank à Guichets surgiu somente nove anos após o lançamento do Tank Normale (de 1919) com mostrador de configuração analógica via ponteiros das horas e dos minutos. E, como então, os novos Tank à Guichets têm a coroa às 12 horas e dimensões contidas na ordem dos 37,6mm por 24mm, com apenas 6mm de espessura. O termo francês guichet significa abertura no sentido de balcão ou janela e refere-se às aberturas na estrutura metálica que cobre o relógio — uma para o disco das horas saltantes e outra para o disco dos minutos deslizantes. Nos três modelos em outros tantos tons de ouro, os dois guichets surgem às 12 horas e às 6 horas; na versão em platina, há uma rotação de 90 graus que coloca a abertura das horas às 10 e dos minutos entre as 3h30 e as 5h30 para uma leitura lateral que faz particularmente sentido quando se tem a mão no volante para conduzir.

O twist de leitura angulada na reinterpretação Tank à Guichets Oblique em platina | Foto: Cartier
O twist de leitura angulada na reinterpretação Tank à Guichets Oblique em platina | Foto: Cartier

O grafismo utilizado nos modelos em ouro amarelo e rosa é preto, enquanto os algarismos das variantes em ouro branco e platina são acastanhados.

Inspiração histórica, calibre atual

Se a inspiração do Tank à Guichets remonta há praticamente um século, o movimento utilizado é novo. Trata-se do calibre de corda manual MC 9755 com horas saltantes que permite a disposição algo anacrónica ou mesmo contraditória da disposição do tempo analógica através de um movimento mecânico. O acabamento da superfície da fachada, que é escovada verticalmente com arestas polidas, também contribui para alguma estética ‘brutalista’ que reforça o estilo peculiar do Tank à Guichets.

Tank à Guichets em ouro amarelo e correia de aligátor verde | Foto: Cartier
Tank à Guichets em ouro amarelo e correia de aligátor verde | Foto: Cartier
Tank à Guichets em ouro rosa e correia de aligátor preta | Foto: Cartier
Tank à Guichets em ouro rosa e correia de aligátor preta | Foto: Cartier

Finalmente, uma importante nuance: o Tank à Guichets está incluído na coleção Cartier Privé destinada às criações mais exclusivas da casa parisiense, que são também as mais procuradas no mercado secundário e no circuito leiloeiro. Os modelos originais tiveram uma produção muito restrita a partir de 1928 e foram praticamente feitos por encomenda individual ao longo da década seguinte. Em 1996, foram concebidos três exemplares em ouro amarelo, ouro rosa e platina para a venda Magical Art of Cartier promovida pela Antiquorum. E, em 1997, houve uma edição limitada a 150 exemplares em platina (com coroa tradicionalmente colocada às 3h) destinada a celebrar o 150º aniversário da Cartier. Em 2005, houve uma outra tiragem limitada de 100 peças em ouro rosa e coroa à direita.

No nosso pulso: Tank à Guichets Oblique em platina e Tank à Guichets em ouro rosa | Fotos: Cesarina Sousa/Espiral do Tempo
No nosso pulso: Tank à Guichets Oblique em platina e Tank à Guichets em ouro rosa | Fotos: Cesarina Sousa/Espiral do Tempo

Mas, apesar do interesse registado aquando desses lançamentos, uma coisa é certa: nenhum deles teve tanta aclamação como a nova edição de 2025 do Tank à Guichets com coroa às 12h!

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