Certificados para todos os gostos

As certificações de precisão e qualidade são sempre um fator a ter em conta e podem não só influenciar uma decisão de compra como tornar o preço de um relógio mais elevado. Aqui fica uma lista dos certificados atualmente vigentes no panorama da relojoaria mecânica.

O que é um certificado? Segundo o dicionário de língua portuguesa, é «um documento emitido por uma entidade oficial para provar um facto». No dicionário profissional da relojoaria, inicialmente realizado por G.-A. Berner em 1961 e constantemente atualizado pela Fédération de l’Industrie Horlogère Suisse, significa «procedimento pelo qual uma terceira parte fornece uma garantia escrita de que um produto, processo ou serviço está em conformidade com requisitos especificados. A certificação dos cronómetros suíços é realizada pelos Escritórios Oficiais do COSC (Contrôle Officiel Suisse des Chronomètres). Outras instituições, como o Timelab de Genebra ou a Fondation Qualité Fleurier, produzem certificações com base em diferentes requisitos».

Precisão (quase) absoluta: o Lederer 3 Times Certified Observatory Chronometer | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo
Precisão (quase) absoluta: o Lederer 3 Times Certified Observatory Chronometer | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Há variados tipos de certificações na indústria relojoeira — e cada vez há mais. Porque as certificações de precisão e qualidade são sempre um fator a ter em conta pelo cliente e podem não só influenciar uma decisão de compra, como tornar o preço de um relógio mais elevado. Há diferentes institutos e observatórios independentes com competência para atestar parâmetros tão distintos quanto a precisão ou a qualidade de acabamento, mas também tem havido um número crescente de marcas a promover os seus próprios testes de fiabilidade/qualidade como sendo mais exigentes do que os padrões das entidades independentes mais conhecidas. Qual deles o melhor e mais completo?

Certificado do Punção de Genebra | Foto: DR
Certificado do Punção de Genebra | Foto: DR

A resposta não é fácil.  O certo é que, na era digital onde o tempo exato nos é fornecido em todo o lado, a indústria relojoeira tem de oferecer um relógio mecânico de precisão consentânea com o seu estatuto de luxo; por outro lado, o controlo de qualidade e a regulação fina tornam-se fatores diferenciadores no que diz respeito à relojoaria mecânica de prestígio. O preço traz sempre consigo uma responsabilidade acrescida e a certificação acaba por ser um argumento de confiabilidade. Aqui fica uma lista dos certificados e selos de qualidade atualmente vigentes no panorama da relojoaria mecânica.

COSC (Contrôle Officiel Suisse des Chronomètres)

O mais conhecido e utilizado certificado da relojoaria mecânica. Criado em 1973 por cinco cantões relojoeiros e pela Fédération de l’Industrie Horlogère Suisse, agrupou anteriores laboratórios de controlo e é o mais conhecido dos certificados — e tem a ver com precisão, não com cronometragem. Porque um cronómetro (não confundir com cronógrafo) é um relógio (que até pode ser cronógrafo) certificadamente mais preciso devido ao facto de o seu grau de precisão ser oficialmente emitido pelo COSC.

Aquaracer Professional 300 GMT com certificação de cronómetro | Foto: TAG Heuer

Os testes do COSC incidem sobre os movimentos e têm a duração de 15 dias, nos quais os calibres submetidos estão sujeitos a sete critérios de avaliação. Os movimentos são eliminados caso não cumpram um ou mais dos critérios de precisão e regularidade em cinco posições distintas e três temperaturas diferentes (8°C, 23°C, and 38°C); os remanescentes recebem a certificação cronométrica e apresentam uma precisão diária entre -4 e +6 segundos.

Punção de Genebra

Estabelecido em 1886 e com certificação atribuída pelo laboratório genebrino Timelab desde 2009, o Punção de Genebra (Poinçon de Genève ou Geneva Seal) é um prestigiado certificado de precisão e qualidade utilizado por algumas das mais reputadas marcas de alta-relojoaria.

O selo do Punção de Genebra normalmente surge gravado nos movimentos | Foto: DR
O selo do Punção de Genebra normalmente surge gravado nos movimentos | Foto: DR

Para começar, há a limitação geográfica de os movimentos serem manufaturados no cantão de Genebra; depois, a avaliação é feita segundo parâmetros de fiabilidade (qualidade, funcionalidade, estanquidade, precisão, reserva de carga) e artesanato (acabamento estético dos principais componentes). A estanquidade tem de ser igual ou superior a 30 metros e a precisão não pode ultrapassar um minuto de diferença por semana (representando uma variação diária entre -4 e +5 segundos).

Fondation Qualité Fleurier

Fundada em 2001 em Fleurier, na Suíça, é considerada uma das certificações mais prestigiadas e exigentes do setor: não mede apenas a precisão, mas também a confiabilidade, durabilidade e acabamento do movimento e do relógio. O padrão Qualité Fleurier também exige que todos os componentes do relógio, desde o mostrador até a caixa, ponteiros e índices, sejam fabricados e montados na Suíça; a precisão do movimento deve atender aos padrões ISO 3159 (COSC).

A Chopard é uma das principais promotoras do selo Qualité Fleurier | Foto: Chopard
A Chopard é uma das principais promotoras do selo Qualité Fleurier | Foto: Chopard

O movimento tem de ter certificação prévia COSC para depois ser submetido ao teste de envelhecimento Chronofiable, realizado e certificado pelo laboratório Dubois SA, e finalmente passar no programa de teste de 24 horas no simulador Fleuritest. Membros fundadores da Fondation Qualité Fleurier: Chopard, Parmigiani, Bovet e Vaucher.

Observatoire de Besançon

Localizado em Besançon, na França (não muito longe da fronteira com a Suíça), o Observatório Astronómico de Besançon é uma instituição destinada a medir e acertar o tempo com precisão.

Observatório de Besançon | Foto: DR
Observatório de Besançon, localizado não longe da fronteira com a Suíça | Foto: DR

Fundado em 1885, fechou em 1970 e foi reaberto em 2002. Quase uma centena de exemplares, de marcas de alta-relojoaria tão conceituadas como a Akrivia ou a Voutilainen, são certificados por ano. Os relógios são testados na sua forma final montada de acordo com a norma ISO 3159 durante 16 dias em 5 posições diferentes e 3 temperaturas. O desvio médio diário aceite é de -4 a +6 segundos. Depois de passar no teste, cada relógio recebe um número juntamente com o seu certificado que é carimbado com o símbolo do observatório: uma cabeça de víbora.

Chronofiable

Os testes Chronofiable ​​começaram na década de 1970, quando as lendárias competições de observatórios estavam a chegar ao fim devido à crise do quartzo. A Federação da Indústria Relojoeira Suíça estabeleceu então o Centro de Testes de Confiabilidade para promover a precisão mecânica e registrou o termo ‘Cronofiável’. A marca Chronofiable é agora uma subsidiária do Laboratiore Dubois SA, uma instalação independente de testes de relojoaria localizada em La Chaux-de-Fonds. Os testes Chronofiable têm permanecido praticamente inalterados desde a sua estreia; duram 21 dias e reproduzem seis meses de uso. Cada relógio é verificado relativamente a choques e flutuações de temperatura.

Certificado do Observatório de Glashütte

A Alemanha, e em especial a cidade de Glashütte, produz relógios mecânicos de alta precisão há centenas de anos — mas o estatuto alemão de ‘cronómetro’ foi introduzido pela primeira vez no século 20 sob o padrão DIN 8319, que reflete de perto os padrões ISO 3159 do COSC. A diferença é que a DIN 8319 testa apenas relógios montados, enquanto a ISO 3159 testa somente os movimentos. Um relógio com a certificação German Chronometer Standard terá sempre uma elevada precisão, durabilidade e qualidade artesanal ao nível das mais elevadas exigências das certificações helvéticas, sendo atribuído pelo Observatório de Glashütte. Trata-se de uma entidade independente operada pelo Escritório Alemão de Calibração; estipula ainda que os relógios tenham uma função de paragem de segundos para que possam ser ajustados mais precisamente. A instalação, adquirida pela Wempe, possui ainda os seus próprios critérios de teste para relógios de quartzo.

METAS e Master Chronometer

A METAS surgiu em 2015, a partir de uma parceria entre a Omega e o Instituto Federal Suíço de Metrologia — resultando na certificação Master Chronometer. Mas também pode ser usada para testar independentemente relógios de outras marcas, como sucede com a Tudor.

A Omega tem a certificação Master Chronometer | Fotos: Omega

O movimento tem de ter à partida uma certificação COSC e é depois submetido a mais oito testes que envolvem o movimento desmontado e assemblado, incidindo sobre a capacidade antimagnética, estanquidade e reserva de corda. A precisão METAS situa-se entre os 0 e os +5 segundos por dia, a resistência antimagnética tem de ser de 15.000 gauss, a estanquidade mínima é de 200 metros e a autonomia de corda tem de ser pelo menos de 65 horas.

Rolex Superlative Chronometer

O selo verde Superlative Chronometer que acompanha todos os relógios Rolex | Foto: Rolex
O selo verde Superlative Chronometer que acompanha todos os relógios Rolex | Foto: Rolex

Superlative Chronometer (Cronómetro Superlativo) é uma nomenclatura exclusiva da Rolex presente no mostrador dos seus relógios, atestando que cada exemplar ‘sobreviveu’ a uma série de controlos finais específicos e realizados pela marca genebrina nos seus laboratórios e segundo critérios próprios de elevada exigência para complementar a certificação oficial COSC. A designação Superlative Chronometer foi inicialmente estabelecida em 1957 e atualizada com a implementação do selo verde em 2015, contemplando um diferencial de precisão médio de -2 a +2 segundos por dia.

Calibre 3235 e a designação Chronometer bem patente na massa oscilante | Foto: Rolex

Os testes exclusivos são relativos à precisão cronométrica após a montagem, à impermeabilidade, à corda automática e respetiva autonomia. Atualmente, representa também uma garantia de cinco anos aplicável a todos os modelos Rolex e que assegura a fiabilidade do relógio para além da janela temporal que um modelo de outra marca pode funcionar sem se proceder à sua revisão (3 a 5 anos, quase dez no caso da Rolex).

Selo Patek Philippe

O Calibre 240 PS CI J LU, no qual salta à vista o Selo Patek Philippe, equipa o Cubitus Ref.5822P | Foto: Patek Philippe

Durante praticamente um século, a Patek Philippe fazia acompanhar os seus relógios com a certificação do Punção de Genebra — até que, em 2009, passou a assegurar a sua própria certificação cronométrica através do Patek Philippe Seal, que a marca genebrina diz ser o mais exigente dos certificados. Movimentos de 20mm têm de estar dentro do limite -5/+4 segundos por dia, maiores de 20mm dentro de -3/+2 segundos por dia e turbilhões entre -1/+2 segundos por dia.

Cubitus Ref.5822P com data grande, dia da semana e fases da lua | Foto: Patek Philippe

E desde 2024 que a exigência subiu, com a obrigatoriedade de cada relógio da marca com espiral Spiromax ou Breguet estarem dentro dos valores exigidos aos turbilhões. O selo de qualidade é aplicado ao relógio totalmente acabado, o que significa que os testes incidem não só sobre o movimento mas também os outros componentes, desde a caixa aos ponteiros.

Jaeger-LeCoultre 1000 Hour Control

Estreado em 1992, envolve uma bateria de testes que dura quase seis semanas. Todos os relógios que saem da manufatura (exceto algumas peças delicadas mais exclusivas) têm de passar por uma inspeção em seis etapas com a duração total de 1.000 horas.

A menção 1000 Hours Control surge no movimento e no fundo da caixa do relógio | Foto: Jaeger-LeCoultre
A menção 1000 Hours Control surge no movimento e no fundo da caixa do relógio | Fotos: Jaeger-LeCoultre

Na primeira dessas seis etapas, cada relógio Jaeger-LeCoultre é colocado numa máquina que simula os movimentos do uso diário para garantir que todos os componentes estejam firmemente no lugar. Depois, a amplitude do balanço é testada em seis posições. A verificação da reserva de marcha garante que a autonomia dura o tempo pretendido.

A Jaeger-LeCoultre tem uma certificação própria | Foto: Jaeger-LeCoultre
A Jaeger-LeCoultre tem uma certificação própria | Foto: Jaeger-LeCoultre

Seguidamente, os testes dos efeitos da temperatura: o relógio começa a 22 graus e depois é colocado em ambientes a quatro e 40 graus. O cicloteste dura em média duas semanas, durante as quais o relógio é girado e colocado em repouso alternadamente por períodos variados de tempo para testar sua precisão de cronometragem. Finalmente, a resistência do relógio à água é testada a pressões de ar entre três e 20 atmosferas, dependendo do modelo.

Montblanc 500 Hours

Uma certificação própria implementada por Jérôme Lambert, que trouxe o conceito da Jaeger-LeCoultre. Cada exemplar só pode ser vendido após passar um rigoroso teste de 500 horas que garante a confiabilidade dos relógios da marca. O teste de três semanas simula o relógio no pulso na vida real e garante que o relógio não necessitará de nenhum reparo antes da primeira manutenção de rotina.

O selo de qualidade 500 Horas próprio da Montblanc | Foto: Montblanc
O selo de qualidade 500 Horas próprio da Montblanc | Foto: Montblanc

São cinco, os testes — começando pelo Desempenho da Corda e Controle de Montagem que dura quatro horas e verifica o desempenho da corda e se a montagem final do relógio foi feita corretamente. O Controlo de Precisão Contínua monitora a taxa de movimento em todas as posições durante 80 horas. O Controlo de Funções testa o funcionamento geral durante 336 horas. O Teste de Desempenho Geral verifica a frequência momentânea e as funções do relógio em todas as posições durante 80 horas. O Teste de Resistência à Água é feito durante duas horas.

Omega Laboratoire de Précision

Foi implementado em 2024 pela Omega, após o término da colaboração da marca com o COSC e que até fazia parte da certificação Master Chronometer.

A Omega usa a certificação Master Chronometer | Foto: Omega
A Omega usa a certificação Master Chronometer | Fotos: Omega

O Laboratoire de Précision é autorizado pelo Swiss Accreditation Service, única entidade a poder dar autorização a laboratórios de testes cronométricos na Suíça — assegurando que, apesar de ter sido estabelecido e de ser operado pela Omega, o funcionamento é imparcial na testagem de movimentos. Poderá passar a testar e certificar relógios de outras marcas do Grupo Swatch para além da Omega.

Ulysse Nardin Performance Certificate

Famosa pelos seus cronómetros de marinha utilizados em embarcações dos séculos XIX e XX, a Ulysse Nardin introduziu o seu Certificado de Desempenho em 2012 para testar dois dos seus movimentos de manufatura: o Calibre 118 e o Calibre 150 — utilizados em modelos inspirados precisamente por esses cronómetros de marinha.

O teste dura sete dias e inclui inspeção estética, teste de resistência à água e testes de vácuo e pressão onde o relógio é colocado sob pressões de ar de -0,6 bar e +2,5 bar. A parte principal consiste no teste de cinco dias de precisão, no qual o relógio é verificado em seis posições, cada uma por 20 horas, e três temperaturas (8º, 23º e 38ºC). O desvio permitido é de -2 a +6 segundos por dia, e o efeito da temperatura é de ±0,5 segundos/dia por grau.

Certificado Richard Mille

A Richard Mille introduziu o Certificado de Alto Desempenho RM 031 em 2012 para o RM 031. Para receber a certificação, o relógio deve ter um desvio de frequência inferior a 30 segundos por mês, ou um segundo/dia — após ser testado durante 61 dias consecutivos. Inicialmente, o movimento é enviado ao COSC para o teste cronométrico padrão de 15 dias. Depois de registado na APRP (Audemars Piguet Renaud et Papi), é submetido a um cicloteste de 15 dias, no qual gira uma vez por minuto e o tempo é medido diariamente. Se posteriormente o desvio da taxa for superior a 15 segundos (ou um segundo/dia), o relógio é desmontado e a montagem recomeça do zero. O cicloteste é repetido nas instalações da Richard Mille em Les Breuleux, com a duração de 31 dias. Se a variação média mensal da taxa for inferior a 30 segundos, o relógio recebe um certificado listando a taxa de cada dia. É atualmente o certificado de precisão mais exigente da relojoaria.

Grand Seiko Special Standard

É atribuída aos movimentos Spring Drive da Seiko, movimentos híbridos com uma precisão de +/- 15 segundos por mês que usam osciladores de quartzo — e que, por isso, não se enquadram no âmbito do COSC ou de qualquer padrão de movimentos exclusivamente mecânicos.

Grand Seiko Spring Drive GMT SBGE248 | Foto: Paulo Pires/Espiral do Tempo

De referir que o primeiro Grand Seiko, em 1960, tinha a designação ‘Cronómetro’ no mostrador enquanto indicação da sua superior precisão; seis anos depois, a Grand Seiko introduziu a certificação própria Grand Seiko Special Standard. Os movimentos mecânicos passam por um vigoroso período de testes de 17 dias, nos quais são submetidos a variações de temperatura e posição. Os relógios só são aprovados e designados com o Grand Seiko Special Standard se tiverem taxas de precisão de pelo menos +4/-2 segundos por dia.

JCB Seal

A marca Biver foi fundada em 2022 por Jean-Claude Biver, que estabeleceu desde logo o Selo JCB — que visa «garantir o fino acabamento artesanal na mais pura tradição relojoeira suíça». A certificação JCB é dividida em quatro parâmetros principais: movimento, exterior, testes e garantia.

Continue connosco: