Espiral do Tempo 63: Editorial

Ao convocarmos o mar para esta edição de verão, repetimos a escolha dos dois últimos anos, assumindo o desígnio desta rotina. Dos instrumentos de mergulho altamente sofisticados, aos mostradores em madrepérola, a bela relojoaria continua a inspirar-se no elemento aquático. Ou melhor dizendo: nos elementos aquáticos. A pluralidade desta fonte inesgotável de inspiração foi, aliás, o mote para o tema ‘as formas da água’, num exercício de transfiguração do título do último filme de Guillermo del Toro, vencedor de quatro óscares da Academia em 2018.

Ultrapassando esta primeira leitura, o tema ‘as formas da água’ pode ilustrar, também, mesmo que metaforicamente, os mais recentes acontecimentos do setor relojoeiro.

Grupos consolidados e marcas independentes têm redobrado esforços em adaptar-se aos impactos do novo mundo digital. Verdade seja dita, alguns com mais agilidade e pertinência. Como parece ser o caso do Grupo Richemont, que anunciou, em finais de maio deste ano, a compra do Watchfinder, um site de venda de relógios em segunda mão. O acionista principal do Grupo, Johann Rupert, justificou este passo estratégico com as seguintes palavras: «O Watchfinder opera, tanto on-line, como off-line, num mercado complementar, em crescimento e ainda pouco estruturado». Composto por 200 empregados, dos quais metade afetos à indispensável assistência técnica, não será certamente a margem operacional de 6% desta empresa com sede em Londres que atraiu o gigante do luxo. A imperiosa necessidade de diversificar as suas ofertas, utilizando a universalidade das novas plataformas, permitiu, certamente, convencer um cliente que nunca compraria um relógio novo.

Estas soluções plurais ajudam a explicar a boa saúde de um setor relojoeiro que registou em Portugal, no final de abril deste ano, um crescimento de perto de 30% quanto à importação de relógios suíços (geralmente contabilizadas por ¾ do total do setor), comparando com o período homólogo de 2016. Com 26.617 relógios mecânicos suíços comprados em 2017 (para um total de 197.279 relógios), o mercado português classificou-se no 22.º lugar do ranking mundial. Uma performance amplamente justificada pelo profissionalismo dos seus atores principais e pela curiosidade da maioria dos portugueses pela bela relojoaria.

A edição de verão 2018 da Espiral do Tempo já está nas bancas, mas pode também aguçar o apetite, folheando-a aqui no nosso site.

P.S.: não poderia terminar sem deixar o meu agradecimento à Casa Fernando Pessoa que organizou, no passado dia 7 de junho, uma excelente palestra dedicada à obra As Flores do Mal, de Charles Baudelaire, num momento magistralmente dirigido pela professora Helena Carvalhão Buescu.

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