Patek Philippe Ellipse d’Or: proporções divinais

EdT45/ A Patek Philippe tem na sua prestigiada coleção vários modelos que se tornaram ícones da relojoaria e que são imediatamente reconhecíveis – mas há um muito especial que foge a esse lote mais óbvio: o Ellipse d’Or, escolha de verdadeiros aficionados, que está intimamente ligado à história da marca em Portugal.

Reportagem originalmente publicada no número 45 da Espiral do Tempo (inverno 2013)

Patek Philippe Ellipse d'Or © Espiral do Tempo
Patek Philippe Ellipse d’Or © Espiral do Tempo

Calatrava. Nautilus. Gondolo. Aquanaut. Twenty-4. Complicações duplas, complicações triplas, grandes complicações. Mestria relojoeira, prestígio absoluto, recordes em leilões. É incontornável: quando se evoca a Patek Philippe, entra-se de imediato no domínio do excecional e muitos são os ex-libris da marca que têm capturado o imaginário dos aficionados e colecionadores, ao longo das décadas. Mas há um modelo muito específico que escapa à lembrança imediata e que passa por ser a joia escondida na coroa da manufatura genebrina: o Ellipse d’Or.

Criado em 1968 (curiosamente 100 anos após o primeiro relógio-bracelete da Patek Philippe), o Ellipse d’Or funde o círculo e o retângulo num modelo singular destinado ao mais conhecedor dos aficionados. Um relógio que também é essencial por se cingir às horas e aos minutos, mas que, ao mesmo tempo, carrega consigo toda uma complexa bagagem mítica associada à história da civilização ocidental e que personifica, de modo simbólico, tantas virtudes da Patek Philippe. Um relógio que está além do óbvio, que requer uma sensibilidade estética especial, que exige perspetiva cultural. Apenas ultrapassado em longevidade pelo Calatrava na coleção atual da Patek Philippe, o Ellipse d’Or é o relógio de pulso elegante por excelência: fino e precioso, predestinado para as mais solenes ocasiões.

Pedro Rosas com um Patek Philippe Ellipse d'Or.  © Espiral do Tempo
Pedro Rosas com um Patek Philippe Ellipse d’Or. © Espiral do Tempo

E não é por acaso que era o relógio de eleição de David Rosas, histórico representante da marca em Portugal, e que continua a ser o relógio de eleição da sua mulher — o relógio que o filho e sucessor na liderança das relojoarias/joalharias David Rosas, Pedro Rosas, escolheu para passar em testemunho ao seu primogénito. Precisamente por ser tão especial: no Ellipse d’Or não há ponteiro apressado dos segundos, não há algarismos, tudo se concentra na utilização das linhas e dos tons escuros que realçam a forma elíptica; o efeito soleillé do mostrador acentua uma simetria radial interior com os indexes.

«É uma linha icónica da Patek Philippe e, apesar de ser uma linha de nicho dentro da coleção, tem-se mantido sempre no catálogo da Manufactura», refere Pedro Rosas. «Pessoalmente, é um relógio que me diz muito porque era o que meu pai usava no seu dia-a-dia — pelo que tenho uma ligação emocional ao Ellipse d’Or e até guardei o relógio que o meu pai usava diariamente para que o seu neto mais velho o venha a utilizar um dia».

Fórmula de eleição

©Patek Philippe
©Patek Philippe

O nome Ellipse d’Or não está diretamente associado ao metal precioso da caixa. O formato é evidentemente elíptico – mas a menção está diretamente relacionada com o chamado ‘número de ouro’, a ‘divina proporção’ descoberta pelos matemáticos da Grécia Antiga, que se baseia no rácio específico 1/1,6181033988 e que carateriza não só algumas das maiores obras-primas da humanidade (a arquitetura do Parténon, as construções de Le Corbusier), mas também muitos elementos da natureza (como o girassol). É essa fórmula que está por trás da relação entre largura e comprimento no design do Ellipse d’Or, cuja concepção terá saído de uma ideia de Georges Delessert — o diretor do departamento de eletrónica da marca que se inspirou «na forma agradável da junção de uma auto-estrada quando vista da janela de um avião». Desde logo, o formato demarcou-se dos formatos tradicionais aquando do seu lançamento em 1968: era arredondado sem ser circular e quadrangular sem ser anguloso, preconizando uma década seguinte de grande criatividade estilística, em que quase não se viram relógios redondos.

Se o modelo original se apresentava numa caixa em ouro amarelo dotada de um mostrador em ouro metalizado de azul (padrão soleillé, com indexes em ouro aplicados) que prendia a atenção quase tanto como a hipnótica forma elíptica, a Patek Philippe apresenta atualmente no seu catálogo algumas variações suplementares. Em 2008, para celebrar o 40.º aniversário do lendário modelo, foi reintroduzido o tamanho grande — vigente na coleção desde os finais da década de 60 até ao princípio dos anos 80 – numa versão exclusiva em platina. A par dos tamanhos 39,5 x 34,5 mm e 35,6 x 31,5 mm, surgiram também mostradores em ouro metalizado de castanho ou antracite, e acessórios complementares a condizer: botões de punho e até mesmo porta-chaves.

©Patek Philippe
©Patek Philippe

Sendo o Ellipse d’Or um exercício de estilo que se destaca pela estética, não se pode descurar a importância (como sempre sucede com a Patek Philippe) da mais apurada técnica relojoeira no contributo para o produto final. Porque a elegância das formas tem de ser preservada a todo o custo. Aquando do seu advento em 1968, o Ellipse d’Or estava dotado de um fino mecanismo de corda manual que, dez anos depois, foi substituído pelo Calibre 240 – um movimento automático extraplano com somente 2,53 mm de espessura, decorado com todos os elementos clássicos na cartilha da marca e alimentado por um microrrotor em ouro de 22 quilates.
Há mais de dois mil anos que a conceção de beleza inerente ao ‘número de ouro’ inspira filósofos e artistas. Na Patek Philippe, a materialização dessa ‘proporção divina’ está a caminho do meio século de vida – sempre de modo etéreo e intemporal, no Ellipse d’Or.

Destaque:
No Ellipse d’Or não há ponteiro apressado dos segundos, não há algarismos: tudo se concentra na utilização das linhas e dos tons escuros que realçam a forma elíptica; o efeito soleillé do mostrador acentua uma simetria radial interior com os índices.

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