Girard-Perregaux Neo Bridges

Com o Neo Bridges, a Girard-Perregaux retoma o espírito contemporâneo do Neo Tourbillon numa criação que utiliza os códigos incontornáveis da manufatura de modo ainda mais modernista – e a um preço mais acessível.


Em 2014, o Neo Tourbillon surgiu na sequência da estética do premiado Constant Escapement e representou uma evolução no design do emblemático Three Gold Bridges Tourbillon tão associado à Girard-Perregaux. Em janeiro deste ano, no Salon International de la Haute Horlogerie, a secular manufatura helvética apresentou uma proposta sucedânea que apurou os códigos modernistas então revelados numa surpreendente criação em titânio denominada Neo Bridges Automatic Titanium – colocando em evidência as emblemáticas pontes numa ligação real e metafórica entre o passado e o futuro.

Girard-Perregaux Neo-Bridges ©Girard-Perregaux
Girard-Perregaux Neo Bridges © Girard-Perregaux

A história das pontes tão associadas à Girard-Perregaux começou num relógio de bolso que a marca apresentou na exposição de Paris no final do século XIX; a estética das três pontes de ouro no mostrador, com uma delas a servir de suporte à gaiola do turbilhão, afirmou-se como componente da Girard-Perregaux ao longo dos tempos e ficou sobretudo associada a obras-primas de alta-relojoaria – sendo uma das mais recentes a Three Bridges Esmeralda Tourbillon, galardoada com o Grand Prix d’Horlogerie de Genève e com um preço lá para a casa dos 200 mil euros. A nova ramificação retro-futurista da linha promete atingir uma nova clientela mais urbana e de gostos mais depurados, sendo o Neo Bridges um perfeito e mais acessível exemplo (com uma etiqueta de 25 mil euros).

As pontes

Girard-Perregaux Neo-Bridges ©Espiral do Tempo / Susana Gasalho
© Espiral do Tempo / Susana Gasalho
Girard-Perregaux Neo-Bridges ©Espiral do Tempo / Susana Gasalho
© Espiral do Tempo / Susana Gasalho

Sim, as pontes estão lá – pelo menos duas, estilizadas com o formato tradicional horizontalmente alongado e colocadas sobre um mostrador semi-esqueletizado que hoje em dia também se apelida de ‘open-worked’; só que, em vez do turbilhão, está colocado em evidência um balanço sobredimensionado às 6 horas, ao passo que na parte superior do mostrador se descortinam duas outras pontes de configuração distinta que servem de suporte ao tambor de corda e ao micro-rotor que fornece a corda automática ao relógio. No Neo Bridges, o movimento ultrapassa o campo meramente técnico para se tornar fundamental para a estética global do relógio. Os ponteiros das horas e dos minutos (o dos segundos está ausente), esqueletizados, foram pensados de modo a não cobrir a visibilidade do movimento a partir do mostrador.

Tecno-relojoaria

Girard-Perregaux Neo-Bridges ©Espiral do Tempo / Susana Gasalho
© Espiral do Tempo / Susana Gasalho

O tom vanguardista do conjunto é reforçado pelas diferentes tonalidades e diferentes acabamentos (escovado ou polido) das superfícies acinzentadas e pretas, desde a caixa em titânio até ao mostrador estratificado. Há cerca de uma dúzia de anos, a relojoaria fina mergulhou numa era de exageros em que os tamanhos sobredimensionados e a obsessão por colocar partes do mecanismo à vista através do mostrador me levou a criar a designação ‘tecnolojoaria’ (um neologismo como qualquer outro, certo?); essa moda passou com o regresso a um maior classicismo, mas felizmente não desapareceu por completo para que se mantenha uma saudável diversificação e o que se pode dizer é que o Neo Bridges Automatic Titanium é um exercício feliz desse conceito.

Caixa

Girard-Perregaux Neo-Bridges ©Espiral do Tempo / Susana Gasalho
© Espiral do Tempo / Susana Gasalho
Girard-Perregaux Neo-Bridges ©Espiral do Tempo / Susana Gasalho
© Espiral do Tempo / Susana Gasalho

Com um diâmetro de 45mm para uma espessura de 12.18mm, pode dizer-se que as dimensões são consideráveis… mas a arquitetura e ergonomia aplicadas nunca fazem o relógio parecer (demasiado) grande, até porque as asas são relativamente curtas. O autor do design, Stefano Macaluso, é arquiteto de formação e um profundo conhecedor da marca porque nasceu praticamente ‘dentro’ dela… sendo filho de Luigi Macaluso, que comprou a Girard-Perregaux para lhe devolver toda a sua glória a partir do final da década de 80 (hoje em dia integra o Grupo Sowind, subsidiário da Kering). O vidro de safira convexo acentua a personalidade redonda do conjunto.

Movimento

Girard-Perregaux Neo-Bridges ©Espiral do Tempo / Susana Gasalho
©Espiral do Tempo / Susana Gasalho

O Neo Bridges é alimentado pelo calibre de manufatura GP08400, composto por 208 elementos e dotado de 50 horas de reserva de corda. O movimento pode ser parcialmente visto através do fundo transparente em vidro de safira, mas a perspetiva desse lado é enganadora porque pode levar o observador a induzir que se trata de um calibre de corda manual – como já foi referido, trata-se de um movimento automático cuja corda é fornecida pelo micro-rotor que se consegue descortinar através do mostrador… embora seja preciso alguma atenção: à primeira vista, parecem dois tambores de corda gémeos que fazem figura de olhos numa face que, segundo a imaginação de quem vê, também inclui uma boca (o grande balanço de 10,15mm, que bate à frequência de 21.600 alternâncias por hora), bigode e bochechas! Vejam lá se não parece:

IMG_1549 GP 3
©Espiral do Tempo / Miguel Seabra
Girard-Perregaux Neo-Bridges ©Espiral do Tempo / Susana Gasalho
©Espiral do Tempo / Susana Gasalho

O atual CEO da Girard-Perregaux, Antonio Calce, é um grande admirador do Neo Bridges e fez questão de o revelar na entrevista que nos concedeu – e que foi publicada na mais recente edição impressa da Espiral do Tempo (número 60): “Com o Neo Bridges mostrámos ser possível fazer algo de novo e diferente e no entanto vê-se que é um relógio claramente Girard-Perregaux: pudémos fazer algo de inovador e sexy, mas respeitando a nossa herança”. Depois de o ter experimentado durante algum tempo, só posso ser elogioso para com o Neo Bridges: excelentes proporções que assentam perfeitamente mesmo em pulsos menos grandes, conforto no uso potenciado pela leveza do titânio e impacto relojoeiro pelo efeito visual técnico que faz facilmente dele motivo de conversa!

© Miguel Seabra/ Espiral do Tempo
© Espiral do Tempo / Miguel Seabra

Características Técnicas:

Girard-Perregaux
Neo Bridges

Referência/ 84000-21-001-BB6A
Movimento/ Mecânico de corda automática GP08400-0001 ; 32,00 mm (14¼ linhas); 5,45 mm de espessura; 21,600 a/h (3 Hz); 208 componentes; 20 rubis; reserva de corda no mínimo de 48 horas (50 horas em média).
Caixa Ø 45 mm / Titânio; vidro de safira com tratamento antirreflexos; estanque até 30 metros.
Mostrador/ Open-worked, com indicadores suspensos; ponteiros esqueletizados e com material luminescente.
Funções/ Horas e minutos.
Bracelete/ Pele de aligátor pespontada em cor antracite; fecho de báscula triplo em titânio.
Preço/ 25.000 euros.

Consulte o site oficial da Girard-Perregaux para mais informações.

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