Novidades 2019: F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical

Em Genebra | O rei morreu, longa vida ao rei. A antiga frase proclamatória da sucessão real pode perfeitamente adaptar-se ao novo turbilhão do mestre François-Paul Journe: 20 anos depois, o emblemático Tourbillon Souverain é substituído pelo Tourbillon Souverain Vertical – que dá uma nova perspetiva ao posicionamento daquela que é a complicação relojoeira por excelência. 

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Durante a recente cimeira genebrina da alta-relojoaria, dividida entre o Salon International de la Haute Horlogerie e vários outros eventos realizados em simultâneo noutros locais da cidade de Calvino, não tive a oportunidade de marcar presença na apresentação que teve lugar na sede da F.P. Journe, na Rue de l’Arquebuse. Uma apresentação importante, uma vez que François-Paul Journe dava a conhecer o herdeiro de uma das duas emblemáticas peças iniciáticas que constituíram ponto de partida para a marca do mestre marselhês – o Tourbillon Souverain (sendo a outra o Chronomètre à Résonance). Mas consegui ‘apanhar’ François-Paul no SIHH e roubar-lhe o novo Tourbillon Souverain Vertical do pulso para o colocar no meu próprio pulso e perceber melhor tudo o que já havia lido sobre ele.

F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical © Miguel Seabra / Espiral do Tempo
F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical versão em platina. © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

As obras-primas com a chancela F.P. Journe sempre me impressionaram e constituem relógios de sonho para qualquer aficionado que se preze. Pelo que havia grande curiosidade em constatar que tipo de peça o fundador da marca havia tirado da cartola para substituir um modelo tão emblemático para a sua própria história. Tinha de ser diferente, tinha de ser especial – tal como será verdadeiramente transcendente o relógio celestial que ele irá apresentar para substituir o Sonnerie Souveraine, o modelo dotado de grande e pequena sonnerie que passava por ser o mais oneroso (mais de meio milhão de euros…) do seu prestigiado catálogo. O ‘sucessor’ é, de facto, diferente. E surpreendente!

F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical. Versão em platina e versão em ouro rosa. © F.P. Journe
F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical. Versão em platina e versão em ouro rosa. © F.P. Journe

O Tourbillon Souverain Vertical é mesmo uma criação especial. Tem o poder do tradicional look neo-clássico da F.P. Journe, mas com um visual algo diferente. Sente-se também de imediato no pulso uma espessura um pouco maior do que é habitual nos relógios da marca, embora em termos relativos – já que 13,6mm é uma altura bem inferior a tantos relógios de tantas marcas no mercado. Mas, para um F.P. Journe, trata-se de uma grossura inabitual e essa caraterística tem obviamente uma explicação técnica… que por sua vez está associada ao raciocínio que originou a ideia por trás da concepção: a montagem vertical do turbilhão, que dá nome ao novo modelo.

Turbilhão Vertical

F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical © Paulo Pires / Espiral do Tempo
F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical © Paulo Pires / Espiral do Tempo

E porque está o turbilhão montado verticalmente? A resposta a essa questão começa por ser encontrada na própria génese do turbilhão, inventado por Abraham-Louis Breguet no final do século XVIII e patenteado em 26 de junho de 1801, com comercialização a partir de 1805: trata-se de um dispositivo destinado a eliminar erros de exatidão provocados pelos efeitos da força da gravidade sobre o escape de um relógio, que na altura do lendário relojoeiro francês andava normalmente na vertical – fosse ele um relógio de parede, de mesa ou de bolso. “Posições estáticas”, refere François-Paul Journe.

F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical © Paulo Pires / Espiral do Tempo
A equipa da Espiral do Tempo teve a oportunidade de fotografar o novo F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical na sede da marca. © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Ao colocar o escape e o balanço com espiral numa gaiola rotativa que girasse no espaço de um minuto, a força da gravidade seria distribuída pelas várias posições assumidas durante o período de rotação e num processo equalizador que melhoraria a precisão de qualquer relógio. O hipnótico efeito visual do turbilhão levou as melhores marcas a miniaturizá-lo para o colocar nos seus modelos de pulso. Diz-se que a francesa LIP produziu um protótipo em 1931 ou 1932, a Omega lançou um em 1947 e a partir da década de 80 as manufaturas de alta-relojoaria tomaram conta da complicação para a exaltar em modelos que hoje em dia apresentam turbilhões de construção cada vez mais complexa.

F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical ouro rosa © F.P. Journe
O novo F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical ouro rosa © F.P. Journe

François-Paul Journe, que começou por se especializar precisamente no restauro de relógios clássicos e que rapidamente descobriu todos os segredos do turbilhão, pensou numa nova variante em pé ao constatar que, durante a noite, os relógios dotados de turbilhão ou estão deitados (sobre uma qualquer superfície, caso tenham uma correia com fivela) ou estão de lado com a coroa virada para cima (forçados a essa posição se tiverem um fecho de báscula na correia). No novo Tourbillon Souverain Vertical, e porque o turbilhão está colocado de modo perpendicular à platina do movimento, fica sempre vertical caso esteja deitado ou de lado – posições decorrentes da preferência do utilizador no que diz respeito ao sistema de fecho para a correia.

Estando o turbilhão sempre na vertical, o balanço vai funcionar de maneira mais constante – sem que seja afetado por alterações entre as posições verticais e horizontais. Para acompanhar o turbilhão duplamente mais rápido do que é habitual (uma rotação completa em 30 segundos, em vez do minuto), François-Paul Journe dotou o novo relógio de um mecanismo de força constante e outro de ‘segundos mortos’ para tornar o conjunto tecnicamente ainda mais aliciante e preciso. O remontoire distribui equitativamente a potência destinada ao balanço, fazendo com que a amplitude seja constante ao longo da autonomia da corda; o facto de o remontoire ser carregado uma vez a cada segundo faz também com que o ponteiro dos segundos avance em incrementos de um segundo, em vez do movimento aparentemente contínuo (embora feito por pequenos saltos, consoante a frequência do calibre) que carateriza os movimentos mecânicos (por oposição aos relógios de quartzo, cujos ponteiros dos segundos também avançam aos saltos).

F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical © F.P. Journe
F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical © F.P. Journe

Dimensão estética

F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical © Paulo Pires / Espiral do Tempo
F.P. Journe Tourbillon Souverain Vertical © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Para além do lado técnico, o relógio vale também por toda a sua dimensão estética. A caixa em platina ou ouro rosa com diâmetro de 42 milímetros (mais dois do que o antecessor) pode ser considerada grande para alguns puristas, mas está perfeitamente adequada aos pulsos modernos e ‘veste’ muito bem; para mais, não parece muito grande devido ao arranjo do mostrador, com algumas assimetrias caraterísticas da assinatura F.P. Journe, mas globalmente equilibrado. O guilloché Clous de Paris em tons acobreados do mostrador em ouro, que é também a platina do movimento, contrasta com o esmalte branco Grand Feu do submostrador das horas/minutos e do reduzido submostrador dos pequenos segundos. Paralelamente ao submostrador principal e por cima da abertura com vista para o remontoir, a abertura circular para o turbilhão é feita com um bordo espelhado que fomenta jogos de luz e reflete o funcionamento do mecanismo. E através do fundo transparente em vidro de safira é possível ver todo o nível de acabamento do calibre 1519 de corda manual, dominado por um padrão circular.

A maior espessura não surge apenas para albergar o turbilhão vertical: é também aproveitada para promover um efeito de profundidade que não existe em qualquer outro relógio F.P. Journe. De qualquer das formas, não é a primeira vez que se vê um turbilhão vertical. Por entre os vários turbilhões de múltiplos eixos ou inclinados (Jaeger-LeCoultre, Greubel-Forsey…) desvelados ao longo da última década, a marca independente Cyrus – que nunca conseguiu passar de uma marca de nicho de nicho (sim, não é gralha: nicho de nicho!) – já tinha apresentado no ano passado um turbilhão vertical central no seu Klepcys Vertical Tourbillon. Mas a abordagem da F.P. Journe é distinta, tal como o selo de prestígio de François-Paul Journe é completamente diferente. Ele que, brincando, diz que vinha trabalhando no relógio há já “quarenta anos”. Ou seja, que é mais uma peça que é uma súmula da sua experiência. E ficamos à espera da próxima adição à sua coleção…

O preço? Em francos suíços, 244.500 para a versão em ouro rosa e 248.400 para a versão em platina. Os pozinhos a mais da versão em platina (muito pouco a mais, mesmo) valem a pena – já que o reflexo metálico branco contrasta melhor com o mostrador dourado e torna o conjunto mais apelativo.

Deixamos algumas características técnicas, mas visite o site oficial para mais informações.

Características Técnicas

F.P.Journe
Tourbillon Souverain Vertical

Movimento/ Mecânico de corda manual, Calibre 1519 em ouro rosa de 19kt, 21.600 alt/h., 80 horas de reserva de corda, turbilhão Vertical com força constante e segundos mortos. Acerto das horas através da coroa às 2 horas.
Funções/ Horas, minutos, pequenos segundos e turbilhão vertical.
Caixa Ø 42 mm / Ouro rosa ou platina.
Bracelete / Pele de aligátor.
Preço/ CHF 244.500 para a versão em ouro rosa e CHF 248.400 para a versão em platina.

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