ISO 6425 e as normas dos relógios de mergulho

Verão à porta, mar à vista. Os relógios de mergulho constituem talvez a mais popular categoria para os aficionados e as suas caraterísticas personificam também o que é um relógio desportivo e um tool watch — sendo balizadas por uma norma de referência: a ISO 6425.

Precisão, robustez, fiabilidade — uma tríade que captura o imaginário dos aficionados da relojoaria e esteve por trás da lenda de históricas marcas e da afirmação de muitas micromarcas contemporâneas, da Rolex à Doxa e da Isotope à Serica. Essas premissas constituem também a essência dos relógios de mergulho, cuja estética desportiva/casual se generalizou de tal modo que acabou por moldar o estilo do relógio contemporâneo.

O Prospex 1968 Heritage Divers GMT da Seiko: relógio de mergulho com GMT | Foto: Seiko
Novidades 2025: Prospex 1968 Heritage Divers GMT da Seiko: relógio de mergulho com GMT | Foto: Seiko

Mas não é qualquer exemplar dotado da tipologia dos relógios de mergulho que pode ser ‘oficialmente’ considerado um relógio de mergulho. Não há verdadeiramente uma certificação oficial, como sucede com o COSC, mas — mesmo que hoje em dia os mergulhadores usem autênticos computadores eletrónicos — um relógio mecânico que seja utilizado em profundezas mais assinaláveis precisa de respeitar normas de exigência mais estritas porque se trata de instrumentos vitais. Uma falha mecânica ou uma falha na estanqueidade pode ter consequências bem funestas…

Rolex Submariner dentro de água
O Rolex Submariner personifica a tipologia mais comum dos relógios de mergulho | Foto: Rolex

É por isso que só podem integrar a categoria de relógios de mergulho peças com uma impermeabilidade declarada superior a 10 atmosferas (equivalente a cerca de 100 metros de profundidade); segundo os valores de impermeabilidade da Norma da Indústria Relojoeira Suíça (NHIS), cada exemplar com estanqueidade superior a 100 metros tem de ser submetido a exigentes controlos de impermeabilidade sob pressão da água e do ar. Os testes de ar implicam uma pressão de 2 atmosferas, enquanto os testes de água incluem a submersão numa solução de clorato de sódio (30 gramas por litro) a uma temperatura de 23 graus; os testes de resistência aos choques térmicos implicam variações súbitas de temperatura na ordem dos 35 graus.

Oris Aqui Chronograph | Foto: Oris

Os relógios de mergulho devem ter caraterísticas distintas que os identificam como uma categoria à parte: mostradores de assinaláveis dimensões e tratamento anti-reflexo, grandes lunetas giratórias de sentido unidirecional com algarismos gravados para balizar os tempos de mergulho e passíveis de serem vistos à distância de 25 centímetros em precárias condições de luz, coroas de rosca com assinaláveis dimensões e ainda ponteiros e índices luminescentes (atualmente com SuperLuminova, depois de o rádio e o trítio serem abolidos devido às radiações) para facilitar a leitura debaixo de água.

ISO 6425 (equivalente à NHIS 92-II)

Os dois mais recentes exemplares de mergulho da Zenith: o Defy Extreme Diver Shadow e o Defy Riveval Diver Shadow | Foto: Zenith
Novidade 2025: os dois mais recentes exemplares de mergulho da Zenith: o Defy Extreme Diver Shadow e o Defy Riveval Diver Shadow | Foto: Zenith

Um relógio de mergulho digno dessa designação tem de respeitar determinados parâmetros pré-estabelecidos. Porque qualquer designação ‘water resistant’ não significa que o modelo em questão seja um relógio de mergulho. Aliás, existem duas normas diferentes que regulam tal classificação: a ISO 2281 refere-se a relógios ‘water-resistant’, ao passo que a ISO 6425 (equivalente à NHIS 92-II) se debruça especificamente sobre o género dos relógios de mergulho — que têm de ser sujeitos a rigorosos testes, complementados com elementos técnicos que asseguram que cada exemplar se adeque à função e que contribuem para que seja infalível debaixo de água.

O novo Pelagos Ultra em titânio com estanqueidade até 1000 metros e duas propostas de bracelete | Foto: Tudor
A forte luminescência do novo Pelagos Ultra | Foto: Tudor

Os testes de estanqueidade obrigam a que o relógio seja imerso a uma profundidade de cerca de 30 centímetros durante 50 horas a uma temperatura entre os 18 e os 25 graus. Um relógio de mergulho tem de se revelar fiável debaixo de água, impedir a condensação de água no seu interior, apresentar uma coroa e dispositivos externos que resistam a forças exteriores e deverá estar preparado para manter um correto funcionamento em caso de variação brusca de temperatura.

Submersible GMT Titanio Mike Horn Experience Edition | Foto: Panerai

A norma exige também a existência de um dispositivo de pré-seleção de tempo que deve ser protegido contra uma eventual manutenção errada ou contra um movimento involuntário. A luneta rotativa unidirecional, interna ou externa, ou um indicador digital são as soluções mais utilizadas. No caso da luneta, deverá contemplar uma escala até 60 minutos, sendo que indicações de 5 minutos deverão estar bem visíveis. É fundamental a coordenação entre as marcações da luneta e as do mostrador. No caso do indicador digital, deverá estar bem visível.

Outro elemento fundamental: a existência obrigatória de um indicador do funcionamento do relógio. De um modo geral e num relógio mecânico, essa ‘missão’ cabe ao ponteiro ou indicação dos segundos.

A Doxa é uma marca completamente vocacionada para o mergulho: na imagem, o Sub 200 White Pearl Carbon de mostrador luminescente | Foto: Doxa
A Doxa é uma marca completamente vocacionada para o mergulho: na imagem, o Sub 300 Carbon White Pearl de mostrador luminescente | Foto: Doxa

Os ponteiros das horas e dos minutos, o marcador de tempo e o indicador de funcionamento do relógio (normalmente o ponteiro dos segundos)devem ser perfeitamente legíveis a uma distância de 25 centímetros no escuro. Tendo em conta o facto de que a água bloqueia a entrada de luz, quanto maior for a profundidade, menor será o espectro de cores visível.

No que diz respeito à precisão, e segundo a norma, um relógio de mergulho tem de manter uma precisão de +/- 30 segundos por dia em relação à medição feita antes dos testes de exposição a campos magnéticos. Esses testes implicam três exposições diretas a campos magnéticos de 4.8000 A/m.

Bell & Ross BR 03 Diver | Foto: Bell & Ross

Já os tradicionais testes de resistência aos choques são realizados com um martelo de plástico de 3 quilos, montado como se fosse um pêndulo, com uma velocidade de impacto na ordem dos 4.43 m/s em duas zonas: na lateral das nove horas e no vidro perpendicularmente à face.

Os testes de resistência à água salgada obrigam a imersão do relógio numa solução de cloreto de sódio (com salinidade comparável à da água do mar) a uma temperatura entre os 18 e os 25 graus durante 24 horas. Caixa e acessórios não deverão revelar qualquer alteração após o teste. Os elementos móveis, nomeadamente a luneta, deverão manter o seu perfeito funcionamento.

Material e bracelete

Opções complementares de bracelete nos novos Defy Shadow da Zenith | Foto: Zenith
Opções complementares de bracelete nos novos Defy Shadow da Zenith | Foto: Zenith

Não há uma referência relativa à utilização dos materiais da caixa, mas, como é óbvio, a exigência dos testes implica que o material em que um relógio de mergulho é concebido deverá apresentar propriedades adequadas a um ambiente extremo como as profundezas marítimas. O aço costuma ser muito utilizado, mas o titânio é considerado com o metal ideal para mergulho devido às suas propriedades anti-corrosivas e resistência ao peso.

No que diz respeito à bracelete, a norma refere que os anexos do relógio, nomeadamente a bracelete (preferencialmente metálica, em cauchu ou do tipo NATO), fechos e zonas de fixação, devem resistir a uma força de 200 N sem revelarem alterações. Por isso, algumas marcas adotam soluções como o aumento da dimensão da fivela.

Nota de destaque

Algo que convém relembrar: é forçoso contar com o envelhecimento das juntas de estanquidade (que devem ser substituídas regularmente) e da deterioração dos vidros de menor qualidade como os de plexiglass, que se tornam porosos devido às dilatações sucessivas decorrentes do calor e do frio: a temperatura de um relógio usado ao sol pode ascender aos 60 graus e de seguida sofrer uma queda abrupta com um mergulho em águas com a temperatura a 10 graus. Em suma: os relógios de mergulho devem sofrer revisões periódicas para que as suas propriedades iniciais sejam mantidas ao longo do seu período de vida.

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