Christian Knoop é já um nome incontornável da IWC e o diretor artístico da histórica manufatura sediada em Schaffhausen. Conversámos com ele sobre o principal lançamento da marca em 2022 e os segredos por trás dos modelos Top Gun que assumiram grande protagonismo no Watches & Wonders.
Miguel Seabra e Cesarina Sousa, em Genebra
A IWC escolheu o ano de 2022 para renovar a sua coleção-cápsula Top Gun, uma ramificação da popular linha Pilot que ao longo de décadas tem fascinado os aficionados da relojoaria em geral e da manufatura de Schaffhausen em particular. Todo esse legado histórico de relógios de aviação da IWC foi atualizado com recurso a um material de ponta como a cerâmica e colorido através de uma surpreendente parceria com a Pantone. Christian Knoop lidera o departamento de design da marca e é o diretor criativo, sendo o interlocutor ideal para nos revelar os diversos aspetos associados aos modelos protagonistas entre as novidades da marca no primeiro semestre da temporada relojoeira em curso.
A utilização da cerâmica negra faz parte da história da IWC; em 2019 surgiu a adição de uma nova cor em tons de areia inspirada pelo deserto Mojave e este ano foram estreadas duas novas cores na palete cromática da gama Top Gun: o verde florestal Woodland e o branco invernal Lake Tahoe. Essas quatro cores dominaram as novidades da marca no Watches & Wonders e reforçaram a ligação da marca de Schaffhausen à escola de aviação celebrizada pelo lendário filme dos anos 80 protagonizado por Tom Cruise — que teve este ano uma sequela. Trata-se de uma parceria mais do que evidente, tendo em conta o percurso da IWC na produção de relógios de aviador e na exploração histórica de materiais de ponta como o titânio ou a cerâmica e o desenvolvimento próprio do Ceratanium, que associa a dureza do titânio às qualidades anti-risco da cerâmica e está presente no novo Pilot’s Watch Chronograph 41 Top Gun Ceratanium (Ref- IW388106).
A IWC cimentou o seu ADN na introdução de relógios pretos — a estreia da cerâmica e a colaboração de Ferdinand Alexander Porsche, que fomentou a utilização de relógios pretos e de titânio na coleção da IWC. Parte da história da IWC tem a ver com a produção para pilotos da Segunda Guerra Mundial e esse legado depois transitou para a elite de pilotos saídos da escola americana Top Gun na década de 90 (e convém não esquecer que a IWC, sendo uma marca suíça, foi fundada por um americano), trabalhando com mais de 20 esquadrões de elite em todo o mundo. O novo Big Pilot 43mm Top Gun em cerâmica com a inscrição ‘Top Gun’ a vermelho no mostrador foi um dos relógios apresentados no Watches & Wonders.
Mas o foco das novidades centrou-se num quarteto de cronógrafos. O já mencionado Pilot’s Watch Chronograph 41 Top Gun Edition Ceratanium, o Pilot’s Watch Chronograph 41 Top Gun Edition ‘Mojave’, o Pilot’s Watch Chronograph 41 Top Gun Edition ‘Lake Tahoe’ e o Pilot’s Watch Chronograph 41 Top Gun Edition ‘Woodland’.
Christian Knoop falou-nos das razões por trás das novidades apresentadas no Watches & Wonders: «Quando apresentamos um novo relógio ou uma nova coleção tentamos sempre ligar parte da história da marca com algo que seja inédito, inesperado ou que se projete para o futuro e foi basicamente isso o que aconteceu — estamos a recordar o facto de termos uma herança de relógios profissionais, relógios para pilotos e um legado de relógios em cerâmica. Inventamos os relógios de cerâmica de cor, fomos os primeiros a apresentar relógios em 1996 com cerâmica de várias cores e temos trabalhado com a cerâmica ao longo de várias décadas. Também trabalhamos com diversos tipos de cerâmica, introduzimos cerâmica nos nossos movimentos, desde as esferas de rolamentos até aos mais diversos componentes; a cerâmica tem sido o nosso território no passado, no presente e sê-lo-á no futuro».
A adaptação da cerâmica à linha Top Gun foi natural, «o que fizemos foi pegar na linha Top Gun, que sempre foi a sub-gama mais contemporânea e virada para a performance na nossa coleção de Pilot’s Watches. Sempre tivemos relógios pretos, com um design puro e afinado, e agora enriquecemo-la com mais três tons — criámos cores inspiradas pelo mundo da aviação naval, temos trabalhado com esquadrões e com pilotos da escola Top Gun e essa associação permitiu-nos descobrir muitas mais cores no universo da aviação naval. Por exemplo, a cor areia dos fatos dos pilotos, o deserto Mojave onde fazem treinos de voos supersónicos, foi a inspiração para o tom Mojave. Todos conhecem o filme Top Gun e os uniformes brancos utilizados pelos protagonistas, mas também há o branco gelado do Lago Tahoe e eles fazem treinos de inverno nas Montanhas Nevadas — e isso deu o nome Lake Tahoe ao novo cronógrafo de cor branca. A terceira cor é denominada Woodland — inspirada nos fatos verdes de piloto mas também nas vastas florestas do norte da Califórnia onde fazem voos de maior duração».
Um quarteto fantástico com perfume histórico mas muito virado para o futuro através dos materiais, das tonalidades e dos grafismos. «Essas quatro cores são a história das quatro cores Top Gun da IWC. Trabalhámos com a Pantone, que é a referência para todos os criativos no que diz respeito a cores, e chegámos a um novo patamar onde encontramos gente que gosta de relógios de piloto mas também todos aqueles que apreciam moda, tendência, design, estilo. Estamos a enriquecer a coleção e a modernizar a comunicação da marca à volta dessas cores, a chegar a novos públicos e audiências».
Os segredos por trás de um bom produto estão não só na capacidade própria de produção mas também no recurso a fornecedores superlativos. «Trabalhamos com fornecedores de topo, temos material que desenvolvemos em casa na nossa manufatura em Schaffhausen, mas o pó de cerâmica vem de um fornecedor japonês de alta qualidade. É um processo muito complicado, o da cerâmica — é um processo muito manual, que começa com mood boards que são depois trabalhados com a Pantone para chegarmos às cores desejadas. A cerâmica é um pó que só chega à dureza através de um processo de sinterização; a cor é misturada através de óxidos metálicos que se misturam no pó de uma cor que não tem nada a ver com a cor final, que só surge após um meticuloso processo de aquecimento. Tem a ver com a mestria do processo, a experiência e o know-how do processo de cerâmica para se chegar à cor final. O processo requer um ano até à especificação de cor até termos a caixa final; depois é preciso estender a caixa aos restantes componentes do relógio —o mostrador, os ponteiros e as braceletes de materiais diferentes fabricadas com processos distintos. É um desafio para o departamento de RD para conseguir combinar as cores, há muitos protótipos e muitas rejeições até chegarmos ao resultado final com as combinações cromáticas ideais!», confessa Christian Knoop.
Quais as novidades? «Temos lançado 16 novidades por ano e estas são apenas 5 ou 6, haverá mais a lançar durante o ano mas na feira queremos apresentar uma mensagem clara — somos os inventores da cerâmica, criamos novas cores e juntamente com a Pantone queremos chegar a uma audiência mais vasta, incluindo os setores da moda e do estilo. Queremos que a IWC tenha uma imagem de marca contemporânea e que a mensagem seja clara, para além de a nossa matéria própria, Ceratanium também estar em destaque».
O som da cor e as novidades para o resto de 2022. «Vamos continuar a trabalhar nas linhas de piloto, que já trabalhamos no ano passado. Mas vamos ter algo de muito interessante a revelar na Watches & Wonders Shanghai na segunda parte do ano e no final do ano teremos o Ingenieur do Genta a regressar, faremos o anuncio lá para o final do ano».
O que faz um bom design? «Olhando à volta e vendo o que as marcas fazem, temos muitos relógios novos todas as semanas e a maior parte das marcas estão a fazer excelentes relógios com bons designs — mas o que no fim marca a diferença entre um belo relógio e um relógio bem sucedido é criarmos algo que seja reconhecível, que tenha uma identidade que possa ser logo associada a uma marca e que se destaque entre os muitos relógios que todos os dias e semanas chegam ao mercado. Por isso, talvez a reconhecibilidade seja o mais importante, a beleza não é suficiente — tem de ser um design que seja relevante, por exemplo que seja um IWC e que mais nenhuma marca o consiga, que os códigos visuais sejam legíveis e perceptíveis».
É claro que é preciso ter em conta o apelo para as novas gerações. «É precisamente isso que estamos a ter em conta ao lançar a nova coleção em cerâmica, faz parte da nossa herança sermos inovadores com a cerâmica mas não apenas ligar-nos ao passado mas olharmos como um desafio para o futuro para continuarmos a esticar as fronteiras e vermos a cerâmica de cor como um território e não uma história do passado, também como uma oportunidade e a cerâmica é um dos mais antigos materiais da humanidade, mais antiga do que o aço e o bronze mas ao mesmo tempo um material do futuro, um material que se vê ser usado por muitas companhias hi-tech e produtos de ponta, é um material que se pode imprimir em 3D. Acredito que a cerâmica é uma história fantástica para se contar, porque é um material do passado, do futuro e da IWC».
As parcerias são sempre uma importante componente para o desenvolvimento de produto e comunicação de uma marca relojoeira. «Continuamos com a Mercedes na Formula 1, dão-nos uma grande área de oportunidade com toda a sua história e carros clássicos, temos excelentes relações com o departamento AMG e depois temos a Formula 1 — três áreas muito distintas que nos dão muito espaço para trabalhar. Também temos três novos parceiros na aviação, uma companhia que trabalha em voos supersónicos no futuro, outra companhia britânica que desenvolve o futuro de corridas aéreas, e missões espaciais com civis. Estamos a trabalhar em diversas parcerias, aviação para além do Spitfire que é lendário. Universos que nos dizem algo e que digam algo aos nossos clientes».
Quais os desafios a ter em conta atualmente na indústria relojoeira? «Sermos percebidos como inovadores, ter um produto sustentável mas encontrar a comunicação e as histórias que vão perdurar, temos uma longa história e vendemos muitos relógios clássicos e essa ainda é a realidade — pessoas que compram relógios que acham que vão perdurar e que podem passar aos filhos, é algo de muito respeitável que é parte da fundação emocional do que fazemos com relógios mecânicos, mas temos de encontrar o equilíbrio entre continuarmos presentes e não exagerarmos nas inovações e no marketing».
Entre todas as novidades, Christian Knoop não se coibiu de destacar o seu relógio favorito: o Pilot’s Watch Chronograph 41 Top Gun Edition ‘Woodland’. «Porque gosto da cor verde e costumo usar muito o verde nas minhas roupas!».
