O relojoeiro faz a sua estreia enquanto criador independente com um instrumento mecânico filosófico repleto de simbologia e limitado a 25 exemplares. Antes de seguir o seu próprio caminho, Hervé Schlüchter teve Philippe Dufour como mentor e trabalhou com o mestre Georges Brodbeck, entre outras etapas de referência.
«Pode parecer estranho, mas quando tenho de explicar o propósito do meu trabalho em três palavras, ‘instrumento mecânico filosófico’ soa sempre a verdadeiro e em sintonia com a minha intenção original. Um mecanismo vivo que regista a vida (vidas) de uma pessoa, transmitindo e salvaguardando uma mensagem filosófica.»
Entre diversas palavras, é assim que Hervé Schlüchter explica em parte o L’Essentiel, o relógio que vem estrear o percurso do relojoeiro no mundo da criação independente. Na génese do projeto esteve um pedido que o seu pai lhe fez, antes de morrer, tendo em conta que o seu avô usava sempre um relógio de bolso. «O seu pedido foi simples: “Eu também gostaria de usar um relógio de bolso e, como fazes peças bonitas para os outros, ficaria muito contente se fizesses um para mim”. Não consegui honrar o seu pedido a tempo, pois deixou-nos antes de eu poder esboçar uma única linha para o seu relógio; na altura, estava demasiado ocupado e envolvido na minha função de diretor de relojoaria para uma grande marca. Ainda estava a chorar a morte do meu pai quando decidi realizar o meu sonho de independência e comecei finalmente a trabalhar no seu relógio de bolso. Este foi o ímpeto inicial para o projeto “Árvore da Vida” – e para o primeiro relógio, “L’Essentiel” (“aquilo que é essencial”). Fui pai apenas dois meses após a morte do meu pai, e senti então um profundo desejo de materializar uma filosofia de vida. Quando comecei a conceber o relógio de bolso do meu pai, imaginei quase imediatamente que teria uma mensagem filosófica… E se o relógio de bolso do meu bisavô também tivesse uma mensagem para mim – e para os meus filhos no futuro…?»
«Eu teria gostado de receber dos meus antepassados um instrumento mecânico, algo que me enviasse mensagens e guiasse os meus passos ao longo da minha existência. Inscrever os fundamentos num mecanismo da mesma forma que se esculpem verdades no mármore. É um sentimento que me dá grande conforto e alegria, porque infundir as minhas criações com estas palavras dá-me a oportunidade de fazer com que a luz continue a incidir sobre os valores da vida: Hoje, Agora, Amor e Gratidão. No relógio, escolhi o latim como testemunha do passado: Hodie (hoje) e Nunc (agora) surgem ao sol. Palavras simples e de todos os dias, mas que exprimem perfeitamente o sentimento da infância. O presente absoluto, não amanhã, não daqui a duas horas, apenas agora. Quanto à escolha das ‘palavras da meia-noite’: Amor & Gratia. Amor & Gratidão – são palavras óbvias para mim, e muito poderosas, que podem terminar um dia de forma maravilhosa.»
Nasce assim um relógio que, mais do que um relógio, é um instrumento do tempo com um propósito maior que vai além da indicação do tempo.
L’Essentiel
«O nome do relógio surgiu naturalmente – a palavra estava sempre a surgir em todas as considerações filosóficas, técnicas e de design. A inspiração para a pureza do design surgiu ao folhear um trabalho de Antide Janvier e ao deparar-me com um magnífico regulador datado de 1800. Eu ia criar um regulador. Um regulador filosófico. Numa caixa de 39mm. Começo sempre por desenhar o mostrador, depois crio o movimento que corresponde à face do relógio que desenhei. O disco das 24 horas seria assim o disco filosófico. Nele teria a mensagem do proprietário, destinada a si e às gerações vindouras.»
Limitado a 25 exemplares, o novo L’Essentiel de Hervé Schlüchter distingue-se por indicar as horas num «disco filosófico» de 24 horas. Os minutos são indicados por meio de um ponteiro regulador central e os pequenos segundos encontram-se num submostrador localizado às 6 horas.
Nas palavras do relojoeiro, «a abertura de 24 horas revela o desenrolar dos dias, com as suas palavras ‘escondidas’ para as gerações futuras. Hodie Nunc (Hoje Agora); Amor & Gratia (Amor e Gratidão). Este disco filosófico foi um verdadeiro desafio, pois é feito de aventurina, com o sol e a lua metalizados a ouro e prata, tudo impresso em tampografia. A escolha da aventurina e o seu efeito de céu estrelado adequam-se perfeitamente a esta janela aberta sobre o tempo, o nosso tempo pessoal e íntimo. Quanto aos outros mostradores, quis utilizar o esmalte Grand Feu e o guilloché na minha primeira criação. São artes mágicas e intemporais. O esmalte Grand Feu, com o seu caráter imortal, permite que os mostradores sejam abobadados, realçando a generosidade do L’Essentiel. O mostrador central é em maillechort (liga de níquel, cobre e zinco) com um guilloché torneado à mão. Um dos meus sonhos, aprender a arte da guilloché, tornou-se realidade graças à relação baseada na transmissão de savoir-faire que tenho com o mestre desta arte, Georges Brodbeck. Os ponteiros são trabalhados de forma tradicional, sendo a finesse um dos selos da elegância. O ponteiro regulador, que indica os minutos, situa-se no centro do delgado instrumento mecânico. São azulados, à moda antiga, e as ligeiras variações de cor conferem a cada um a sua singularidade.»
Já no que diz respeito à caixa em aço foi dada especial atenção à ergonomia, nomeadamente no que diz respeito à elegância das asas, inclinação correta, proporções certas e posicionamento no pulso. Na coroa, foi gravada a referência «HS», alusiva ao nome do relojoeiro, e na fivela também aço respeitou-se a mesma lógica de alternância entre superfícies polidas e granuladas.
A escolha dos materiais teve como base garantir longevidade, conforto e qualidade do exterior, tendo em vista os relojoeiros que mais tarde poderão ter de cuidar do relógio. Neste sentido, segundo o próprio Hervé Schlüchter a ideia é seguir o lema «Creare Durare» – Criar para durar. «Desta forma, os materiais seriam os que refletem a mais pura tradição relojoeira, com o mínimo possível de tratamentos galvânicos, para manter um nível de acabamento perfeito ao longo do tempo.»
No interior, vive um calibre de corda manual com 60 horas de reserva de corda. Um movimento que teve como base várias especialidades relojoeiras fundamentais e que também tem a sua história: «Eu queria a minha própria roda de balanço, com proporções idênticas às dos relógios de bolso, um escape de âncora suíça com âncora de ‘bigode’, dentes de lobo na roda de carga, rodas grandes, finas e elegantes, um conjunto de componentes em aço polido espelhado, ébauches em maillechort prateado para obter a mesma sensação natural dos maravilhosos relógios de bolso da época de ouro da relojoaria e, claro, conforto e pureza absolutos.
Depois de ter concluído os primeiros cálculos e de ter escolhido uma frequência agradável de 18.000 alternâncias por hora, debrucei-me sobre a espessura desejada para um relógio de 39mm. A espessura de 8mm, excluindo o vidro, pareceu-me que atingiria a proporcionalidade perfeita entre diâmetro e espessura. Assim começou a fase de modelação 3D, e as horas passadas a recomeçar vezes sem conta para finalmente captar esta harmonia sempre tão desejada, da fivela à coroa, e da coroa à roda de balanço.
A finalização conjunta do ficheiro técnico marca a transição entre a modelação 3D virtual e os materiais reais. Concluídas as inúmeras adaptações específicas, o trabalho real pode finalmente começar. Quando se cria o próprio calibre, a extensão de tudo o que tem de ser feito antes de se poder começar é impressionante – e não se vê em lado nenhum no produto final! Nesta etapa, é necessária uma paixão imparável e uma fé inabalável na relojoaria para continuar a avançar. Durante meses, nada acontece; o movimento não tem vida, nem sequer a mais pequena oscilação. Fazer. Testar. Modificar. Repetir. E repetir até ficar perfeito. Como o meu mestre Philippe Dufour me ensinou, não há limite de tempo para fazer as coisas corretamente. Não há espaço para aproximações nesta busca horológica no âmbito da arte tradicional da relojoaria. Todas as manhãs, o material desafia-nos de novo para a ‘Excelência’ – e sabemos que temos de estar à altura. Isto demonstra a humildade que carateriza os artesãos que estão verdadeiramente – e dia após dia – imersos nos materiais da sua arte.»
O novo L’Essentiel de Hervé Schlüchter é entregue num estojo castanho-chocolate em pele Barenia com o número de série do relógio e faz-se acompanhar de um certificado de autenticidade e de um conjunto de correias sobresselentes.