Há relógios mecânicos que não indicam os segundos. E não se descobrem assim tantos. De facto, a indicação dos segundos tornou-se habitual e há quem estranhe a sua ausência. Em última análise, abdicar dos segundos é um exercício de estilo que contribui não só para a leveza do design, como também nos ajuda naquelas alturas em que dá jeito não pensar que o tempo está a passar.
O ponteiro dos segundos é aquele que, num primeiro instante, nos indica que um relógio mecânico está ‘vivo’ e não precisa de corda ou que um relógio mecânico é mesmo mecânico — embora os relógios com os chamados ‘segundos mortos’ tenham de ser excluídos neste último caso por efetuarem o salto que associamos aos modelos de quartzo. Mas há relógios mecânicos que não indicam os segundos. E não se descobrem assim tantos. De facto, a indicação dos segundos tornou-se habitual e há quem estranhe a sua ausência. Em última análise, abdicar dos segundos é um exercício de estilo que contribui não só para a leveza do design, como também nos ajuda naquelas alturas em que dá jeito não pensar que o tempo está a passar. Aqui deixamos uma seleção de relógios mecânicos contemporâneos que se destacam enquanto modelos que não mostram os segundos.
Franck Muller Crazy Hours
Estreado em 2003, o Crazy Hours veio oferecer um toque de irreverência ao quotidiano e estabelecer uma nova filosofia do tempo, que hoje em dia pode ser vista em várias marcas de alta relojoaria sob a lírica designação de ‘complicações poéticas’. Sem a urgência dos segundos, porque o foco está noutro lado. Na verdade, o Crazy Hours denota uma loucura face à inexorabilidade do tempo que é bem mais racional do que a aparente aleatoriedade: ao invés de o ponteiro das horas seguir o seu curso normal no mostrador (a habitual rotação que acompanha a numeração sucessiva da 1 às 12), salta cinco ‘casas’ da 1 hora para as 2 horas (que estão localizadas onde habitualmente são as 6 horas), depois mais cinco ‘casas’ das 2 para as 3 horas (onde tradicionalmente são apresentadas as 11 horas) e aí por diante! O conceito estendeu-se posteriormente a outras linhas da coleção da marca de Genthod e tornou-se mais colorido nas versões Crazy Colors, mas selecionamos esta versão Cintrée Curvex monocromática de caixa e mostrador pretos.
Ulysse Nardin Freak S Nomad
Em 2001, o revolucionário turbilhão-carrossel com sete dias de reserva de corda da Ulysse Nardin estabeleceu um novo paradigma: a caixa do relógio não era propriamente caixa, e não apresentava qualquer coroa ou sequer ponteiros — o movimento rodava em si mesmo para indicar o tempo, com ajuste a partir da luneta e corda manual a partir de outra luneta no fundo da caixa. Chamaram-lhe Freak, por ser tão diferente e pela então inédita introdução do silício na composição da espiral, o toque disruptivo suplementar numa arquitetura mecânica que dispensa o incontornável escape de âncora e indica o tempo através de uma espécie de nave com dois osciladores que dá os minutos, ao passo que as horas são indicadas a partir do mostrador rotativo… dispensando o ponteiro dos segundos. O Freak rapidamente se tornou no ex-libris da Ulysse Nardin e o Freak S Nomad é uma das suas mais recentes interpretações, com um visual muito Mad Max: caixa em titânio escurecido e carbono, decoração em guilloché.
Jaeger-LeCoultre Reverso Classic Medium Duetto
De um lado da caixa, a indicação das horas e dos minutos, do outro lado, a indicação das horas e dos minutos também. O Jaeger-LeCoultre Reverso Classic Medium Duetto é mesmo isto, um relógio que, tendo na sua origem a versatilidade associada à caixa reversível de inspiração Art Déco, acaba por permitir optar ou por um mostrador, ou por outro, de acordo com a situação ou o estado de espírito. Na parte da frente da caixa, encontra-se um mostrador prateado com dois ponteiros azuis circundados por uma escala das horas com numerais arábicos. Já no reverso da caixa, descobre-se um discreto mostrador preto com acabamento soleil no centro e dois pequenos e elegantes ponteiros prateados. Sem segundos. O Reverso celebrou o seu nonagésimo aniversário em 2021 e prossegue inexoravelmente a caminho do seu centenário, mantendo todo o encanto da sua personalidade dupla.
Audemars Piguet Royal Oak ‘Jumbo’ Extra-Thin
Destacado no Grande Prémio de Relojoaria de Genebra em 2019 na categoria de relógio icónico, o Royal Oak Jumbo Extra-Thin é uma das mais cobiçadas versões de um dos mais icónicos modelos da marca. Porém, não se trata de só mais uma versão — tendo em conta que o mostrador em tom champanhe veio oferecer um lado sofisticado e até elegante a um relógio geralmente conotado com tons mais consensuais e com a emblemática cor azul do original. A indicação das horas e dos minutos através de dois ponteiros centrais é apenas acompanhada por uma discreta janela da data às 3h. Já a indicação dos segundos foi deixada de parte, tal como sucedia no primeiro Royal Oak de 1972 — cujo design, da autoria de Gerald Genta, influenciou a indústria relojoeira nas duas décadas seguintes e que voltou a estar em voga na última década.
Girard-Perregaux Laureato Flying Tourbillon Skeleton
Personificando uma ponte entre o passado e o presente, o Laureato Flying Tourbillon Skeleton é um modelo de inspiração rétro-modernista, cujo perfil geométrico evoca o Laureato original de design integrado dos anos 70 — através de uma feliz adaptação contemporânea que atualmente se traduz numa alargada coleção. A estrela deste modelo específico é, como o nome indica, o turbilhão volante localizado sensivelmente às 11h num mostrador esqueletizado e com acabamentos de exceção. Horas e minutos são as únicas funções neste relógio de pulso: a inclusão de um ponteiro suplementar dos segundos traria ‘ruído’ suplementar ao mostrador e retiraria protagonismo à espetacularidade da esqueletização ou ao efeito hipnótico do turbilhão.
A. Lange & Söhne Saxonia Thin
Apenas horas e minutos num relógio com uma pureza de design difícil de igualar. Este Saxonia Thin da manufatura alemã A.Lange & Söhne foi lançado em 2016 e surpreendeu pelo mostrador subtilmente trabalhado para melhor refletir a estética corrente da família de relógios Saxonia. Comparativamente ao modelo antecedente da coleção, os indexes das horas em formato bastão concebidos em ouro maciço foram ligeiramente aumentados e posicionados mais perto da luneta. A alteração fez com que o mostrador concebido a partir de uma placa de prata maciça ganhasse mais destaque. No interior, vive o calibre de corda manual L093.1, com uns escassos 2,9mm de espessura.
De Bethune DB28XP
O novo DB28XP é um dos modelos que celebra o 10º aniversário da coleção DB28 e combina o lado estético tão caraterístico da De Bethune com a complexidade associada à criação de um instrumento do tempo de reduzida espessura. Com um design purista, mas ao mesmo tempo futurista, o novo DB28XP tem uma caixa em titânio numa arquitetura de fusão de espaço, tempo e luz. No centro, encontra-se a platina em forma de delta que oferece iluminação adicional. O destaque vai também para o tom monocromático entrecortado pelos apontamentos azuis dos ponteiros e pelos rubis. No meio desta avalanche conceptual, as funções mais simples: apenas a indicação das horas e dos minutos por meio de ponteiros centrais.