Sob o lema ‘Modern Mechanical’, a Chronoswiss apresentou novas interpretações irreverentes do seu clássico modelo regulador — com mostradores de guilloché hipnotizante e cor exuberante. Tivemos algumas versões entre mãos.
Depois de ter exibido na feira de Basileia ao longo de toda a sua existência, a Chronoswiss estreou-se este ano no novo certame genebrino Watches & Wonders — realizado virtualmente devido à pandemia. Foram apresentados vários modelos em abril durante o evento digital e tivemos a oportunidade de os experimentar, confirmando como a força cromática e o hipnótico guilloché catapultaram a reinterpretação contemporânea de um histórico modelo da marca para uma nova dimensão.
Se nos últimos anos a Chronoswiss renovou de maneira contida dois incontornáveis ex-libris seus como o Opus Chronograph e o Lunar Chronograph, já com o Regulator o caminho escolhido em 2016 foi completamente diferente: o da irreverência, da inovação, do experimentalismo. A aposta no Regulator do século XXI foi tal e tão bem sucedida que rapidamente as diversas declinações passaram a dominar o catálogo da marca. E se antigamente os relógios ditos ‘reguladores’ eram utilizados para servir de referência, com a Chronoswiss tornaram-se autênticos exercícios de estilo com mostradores animados de grande personalidade. Ou seja, a Chronoswiss mergulhou na história para recuperar o seu lendário modelo e deu-lhe um espírito mais adequado aos tempos modernos.
A habitual linguagem do tempo e da relojoaria consiste num mostrador tradicionalmente redondo com ponteiros concêntricos das horas e dos minutos (e na maior parte dos casos, também segundos). Mas há muitos dialetos que expressam o mesmo tempo de maneira diferente — como se pode constatar no caso dos mostradores reguladores, que tão em voga estavam há mais de dois séculos e que no final da década de 80 ressurgiram graças à ação preponderante de Gerd-Rüdiger Lang, fundador da Chronoswiss. Quase trinta anos depois, na edição de 2016 de Baselworld e sob a batuta do proprietário Oliver Ebstein, a Chronoswiss apostou fortemente no conceito através de uma alargada panóplia de variantes preconizadas pelo designer Maik Panziera — e divididas entre modelos Regulator Classic, Flying Regulator e Regulator Jumping Hour. Entretanto, a marca de Lucerna radicalizou ainda mais essa caraterística disposição de mostrador e surgiram as declinações Open Gear, Open Gear ReSec com segundos retrógrados e ainda o Open Gear Tourbillon. Dando sempre muita relevância à cor e ao acabamento guilloché do mostrador.
Os mostradores em guilloché sempre foram um aspeto identitário da Chronoswiss, juntamente com a luneta canelada, a coroa em cebola e as asas para correia aparafusadas com o sistema patenteado AutoBlock. Sob o lema ‘Modern Mechanical’, a Chronoswiss reinventou-se e redefiniu os seus ícones — incluindo o Regulator, inspirado num relógio idealizado por Louis Berthoud no final do século XVIII cuja caraterística mais marcante era a posição descentrada do ponteiro das horas no mostrador.
Do passado ao presente
A ideia do lendário mestre relojoeiro francês visava impedir que a leitura do ponteiro dos segundos fosse comprometida; os relógios de pêndulo de alta precisão passaram a adotar esse tipo de mostrador e começaram a ser usados essencialmente em observatórios, centrais horárias, manufacturas relojoeiras, escolas e fábricas aquando da Revolução Industrial: passaram a ser a bitola onde quer que fosse importante marcar o tempo ‘ao segundo’ e controlar a precisão dos relógios. Daí a justificação do nome ‘regulador’ para um instrumento de pêndulo com segundos ao centro e no qual os ponteiros das horas e dos minutos estavam claramente afastados, a fim de evitar uma justaposição que causasse problemas de leitura a quem necessitava de uma rápida e imediata percepção do tempo.
Na fase de ressurreição da relojoaria mecânica após a crise do quartzo, o formato ‘regulador’ foi adaptado aos relógios de pulso após uma aposta pessoal de Gerd-Rüdiger Lang, que fundou a Chronoswiss em 1983 para perpetuar as linhas clássicas e o artesanato da relojoaria tradicional. Numa altura em que os relógios digitais a pilha dominavam o mercado, o mestre alemão permaneceu convicto de que existia um mercado para edições limitadas de relógios mecânicos de qualidade superlativa e inspirados em elementos de estilo de outrora; o grande salto da Chronoswiss deu-se precisamente com o ‘Régulateur’, um relógio mecânico de corda manual em edição limitada que então esgotou num ápice devido ao seu mostrador pouco usual a partir de três eixos diferentes.
A partir daí, o ‘Régulateur’ tornou-se mesmo numa linha emblemática da Chronoswiss. Em 1990, o ‘Régulateur Automatique’ dava continuidade à história de sucesso do modelo de corda manual, nessa altura já há muito esgotado e avidamente procurado entre os círculos de colecionadores. Os mecanismos foram concebidos pelo conceituado fabricante Enicar, cujo legado Gerd-Rüdiger Lang procurou preservar sob a forma do calibre C.122 que só se pode encontrar nos relógios Chronoswiss. E a linha ‘Régulateur’ foi sendo enriquecida com diferentes cores de mostrador e tamanhos de caixa, enquanto se consumava definitivamente o regresso em força da relojoaria mecânica. No dobrar do milénio surgiram o Chronoscope, primeiro cronógrafo automático de pulso com o mostrador de um modelo regulador, e o Tourbillon Régulateur, primeiro relógio turbilhão de pulso com mostrador regulador que foi então concebido para comemorar os 200 anos sobre a patente do ‘Régulateur à Tourbillon’ de Abraham-Louis Bréguet. Vinte anos depois, o regulador com turbilhão regressa de maneira espetacular ao catálogo da marca de Lucerna, tendo sido a mais relevante novidade de 2020 (a par do SkelTec).
O Open Gear Tourbillon apresenta-se completamente vestido de azul, com destaque para a sua caixa azulada de 44mm por 13,1mm a complementar o mostrador e a correia em pele de crocodilo hornback. O turbilhão volante faz-se acompanhar da configuração típica dos reguladores com os ponteiros das horas e dos minutos em eixos diferentes e utiliza os elementos de estilo habituais nos modelos Open Gear: parafusos, diferentes níveis, guilloché feito à mão. O Calibre C.303 com 60 horas de reserva de corda é semiesqueletizado e o azul dominante é apresentado em dez tonalidades distintas.
Mas o Open Gear Tourbillon é uma especialidade e, tendo em conta a inclusão do turbilhão, um exemplar mais caro. Talvez o principal modelo da coleção atual da Chronoswiss seja o Open Gear ReSec, com a sua escala de 30 segundos retrógrada — o ponteiro percorre meio minuto e salta para trás, reiniciando instantaneamente a sua marcha de 30 segundos antes do recomeço (daí o nome ReSec). E a grande estrela entre as novidades de 2021 apresentadas no salção digital Watches and Wonders é o Open Gear ReSec Paraíba, com o exótico nome de origem brasileira a definir um tom de mostrador de 42 componentes que, consoante o ângulo de visão, anda entre o verde azulado e o azul esverdeado devido aos efeitos visuais proporcionados pelo guilloché. É utilizada uma fórmula secreta de deposição de vapor químico para chegar aos tons evocativos de uma lagoa tropical. A tonalidade do mostrador é replicada no rotor visto através do fundo transparente em vidro de safira.
Para além do Open Gear ReSec Paraíba, também foi lançado este ano (um pouco antes, em março) o Open Gear ReSec Big Wave, com um azul oceânico a complementar uma caixa em aço de 44 milímetros. O guilloché feito à mão no mostrador dá precisamente o efeito de onda que justifica o nome — e a tridimensionalidade do mostrador típico do modelo Open Gear ReSec oferece o tel espírito ‘Modern Mechanical’ que surge como lema da Chronoswiss.
O Open Gear Pink Panther foi o primeiro dos relógios desvelados no âmbito da Watches and Wonders (a marca foi revelando diariamente um novo modelo) e centrou imediatamente as atenções em virtude do mostrador rosa — sendo que o rosa é claramente das cores mais inabituais na relojoaria, sobretudo em modelos de dimensões teoricamente mais adaptadas aos pulsos masculinos. O Open Gear Pink Panther tem uma caixa preta em aço de revestimento DLC com 41 milímetros de diâmetro que oferece o contraste ideal para o mostrador híbrido em rosa com revestimento CVD. O padrão guilloché é feito à mão, tal como sucede em todos os mostradores da marca, com a ajuda de máquinas seculares nos ateliers da sede da marca em Lucerna. O Calibre C.229 automático dos modelos Open Gear surge evidentemente equipado com um rotor galvanizado em cor de rosa com padrão em espiral.
Face a uma tal profusão de cores, o Open Gear ReSec Black Ice distingue-se pelo seu monocromatismo — mas também nele existe um apurado trabalho cromático, embora à volta de somente uma cor, o preto: está presente em todo o lado, desde a caixa até ao mostrador, correia e fecho de báscula. O mostrador evoca um lago gelado à noite, com areia preta. Um banho galvânico dá a aparência final. Apenas a matéria altamente luminescente nos ponteiros e indexes e o grafismo dão o contraste ao aspeto (quase) escurecido da peça. No fundo transparente em vidro de safira, o Calibre C.301 automático que equipa os modelos Open Gear ReSec surge dotado de um rotor negro a condizer.
Já em 2020 a Chronoswiss tinha investido fortemente numa alargada paleta cromática com modelos de tonalidades pouco usuais — como o surpreendente Open Gear ReSec Chocolate com caixa em castanho achocolatado e mostrador apimentado de cor chili (verdadeiramente original!), o Flying Regulator Open Gear Wasp com espetacular mostrador ‘vespa’ amarelo e preto e o fascinante Open Gear Ocean com mostrador verde azulado (com variações de tonalidade que inspiraram o mais recente Paraíba).
Para além das diversas variantes de configuração Regulator que atualmente dominam a coleção da Chronoswiss e que pudemos fotografar aquando da visita de Massimiliano Grotto (um dos diretores da marca), convém não esquecer o facelift dos históricos Opus Chronograph e Lunar Chronograph — mas, mais importante ainda, foi o lançamento do SkelTec, que elevou a esqueletização do histórico Opus a um nível ainda mais transparente. O SkelTec é um novo modelo que se afigura particularmente relevante para a estratégia da Chronoswiss; após a sua estreia em 2020, já recebeu novas variantes em 2021 e é um modelo que merece por si uma futura análise detalhada…