A Rolex voltou a ser a grande protagonista do Watches and Wonders — e apresentou uma fortíssima seleção de novidades que cimentou a tradição de alguns dos seus modelos mais emblemáticos mas que também contou com algumas novidades absolutas na história da marca genebrina. Do Daytona ao Explorer, passando por bolinhas, emoticons e fundos transparentes: aqui fica uma resenha aos lançamentos mais marcantes.
Em Genebra e Monte-Carlo | O desporto favorito dos aficionados da relojoaria antes de qualquer grande certame da indústria é tentar adivinhar quais serão as novidades apresentadas pela Rolex. Acontecia antes em Baselworld, passou a acontecer no Watches and Wonders. São vários os websites da especialidade em que colegas fazem o sempre interessante exercício de vaticinar os novos modelos ou mesmo aqueles que eles pessoalmente desejariam ver lançados. Debalde. Ou de balde…
É verdade: na esmagadora maioria dos casos, o abuso do Photoshop passa completamente ao lado. Mas há sempre alguns dados que fornecem algumas pistas — e os aniversários do Explorer e do Submariner (1953) e do Daytona (1963) indiciavam que a manufatura genebrina poderia fazer algo relacionado com esses seus emblemáticos modelos. Vamos passar em revista as novidades desveladas na grande feira Genebrina e que tivemos também em mão esta semana no Rolex Monte-Carlo Masters — que tem reunido no Principado a maioria dos melhores tenistas mundiais e que se conclui este fim-de-semana.
Daytona
No sexagésimo aniversário do mítico e cobiçado Oyster Perpetual Cosmograph Daytona, a Rolex introduziu ligeiras e inesperadas alterações no seu modelo cronográfico. Já seria de esperar a atualização do movimento: o Calibre 4131 surge não só dotado do escape Chronergy e dos amortecedores Paraflex, mas também com acabamentos e decoração mais apurados. Para além disso, talvez a mais importante diferença seja a nova estrutura da luneta: em vez de ser inteiramente feita em Cerachrom, agora surge com uma calha metálica e o material cerâmico aparece introduzido nessa calha protetora. De modo mais subtil, os submostradores e os indexes aplicados foram redesenhados, tal como os tons de cor e o modo como os relógios recebem e distribuem a luz. Sim, a Rolex vai até esse pormenor.
Todos os modelos de base Daytona receberam as novas alterações técnicas e estéticas — como as ‘básicas’ versões em aço com mostrador branco e preto. Mas a estrela da companhia este ano foi naturalmente a versão em platina, que recuperou a conjugação cromática castanho/azul gélido do 50º aniversário e adicionou todas as atualizações mais algo de inédito: um fundo transparente em vidro de safira que deixa ver a nova massa oscilante em ouro maciço de 18 quilates, algo apenas visto anteriormente num ou noutro modelo Cellini Prince (relógio retangular produzido entre 2005 e 2015) e que continua a não se ver em mais nenhum outro modelo Oyster Perpetual… mas que também se vê no novo Perpetual 1908.
Para além do alcunhado ‘Platona’, a Rolex destacou também o Daytona nas suas três cores de ouro (ouro branco, ouro amarelo e Everose) com mostrador preto e submostradores contrastantes no tom da caixa. A luneta em ouro é igualmente condizente com o tipo de material precioso da caixa.
Outra referência interessante é a do modelo em ouro amarelo com mostrador dourado, submostradores contrastantes em preto e luneta preta em Cerachrom — mas com uma bracelete Oysterflex preta.
Finalmente, o modelo bicolor que mostra que a combinação do aço com o ouro continua a ser acarinhada pela Rolex: a versão Rolesor que combina o ouro amarelo com Oystersteel tem a luneta, a coroa, os botões cronográficos e o elo central em ouro — tal como os ponteiros, indexes aplicados e o delinear dos totalizadores sobre o fundo branco.
Perpetual 1908
Já se tinha notado que a Rolex tinha deixado de investir na linha ‘elegante’ redonda Cellini, com as várias referencias a saírem gradualmente do catálogo. A explicação surgiu agora sob a forma da gama que a veio substituir. O Perpetual 1908 é um dress watch que puxa pelos primórdios da marca genebrina.
A menção 1908 indica o ano em que o nome Rolex foi registado e o mostrador, com os algarismos árabes 3, 9 e 12 aplicados mais o submostrador de pequenos segundos, é inspirado num dos primeiros modelos Oyster Perpetual. O fundo transparente em vidro de safira é uma raridade no historial da manufatura e a correia de pele reforça a sua elegância, em contrasta com as braceletes metálicas que estão indelevelmente associadas ao conceito Oyster.
A menção Superlative Chronometer recorda a precisão cronométrica dos movimentos da Rolex, incluindo o novo Calibre 7140 de cinco patentes e 66 horas de reserva de corda que equipa o Perpetual 1908.
Explorer
Ainda não foi desta que finalmente surgiu o tão desejado Explorer de mostrador branco. Mas, no 70º aniversário do modelo associado à conquista do Evereste, regressou um Explorer de tamanho ‘maior’: a versão de 40mm vem substituir a de 39mm que vigorou entre 2010 e 2021, quando foi descontinuada e deu lugar a duas referências de 36mm — que agora passam a ser acompanhadas da tal versão de 40mm.
As diferenças não são enormes: têm a ver com as proporções e sobretudo com uma coroa maior e mais manejável. De resto, permanece o espírito daquele que para muitos (incluindo o autor destas linhas) é o modelo Rolex essencial.
Sky-Dweller
Novas versões do Sky-Dweller foram igualmente apresentadas. As versões em ouro branco com mostrador preto dotada de uma bracelete Oysterflex e em ouro rosa Everose de mostrador azul esverdeado foram muito apreciadas, mas talvez o favorito tenha sido o modelo em ouro branco com bracelete Oyster e mostrador verde menta.
O Sky-Dweller, dotado de um inovador calendário anual, é motorizado pelo atualizado Calibre 9002, uma variante otimizada do Calibre 9001 que já inclui o escape Chronergy, amortecedores Paraflex e massa oscilante dotada de um sistema aperfeiçoado de rolamentos de esferas.
Yacht-Master 42
O novo Yacht-Master 42 traz consigo outra raridade no universo da Rolex: a utilização do titânio — especificamente o titânio RLX, uma variante de titânio de grau 5 exclusiva da marca genebrina — na caixa e na bracelete. Mas o titânio não é utilizado de maneira qualquer: o nível de acabamento é superlativo, com partes polidas, brilhantes e sobretudo matizadas para lhe dar um visual vincadamente técnico.
Essa tecnicidade foi inspirada pelo circuito de vela SailGP (de catamarans F50 ‘voam’ a quase 100 km/h!), ao qual a Rolex está associada enquanto cronometrista oficial e que prolonga a longeva ligação da marca aos desportos. Anteriormente, o titânio havia apenas sido usado pela Rolex numa versão do DeepSea lançada no final do ano passado. Uma aposta que muitos aficionados reclamavam há já algum tempo, tendo em conta as propriedades de resistência e leveza do titânio — que a ‘sister company’ Tudor usa há já uma década nos modelos de mergulho Pelagos.
Day-Date 36
O Oyster Perpetual Day-Date é o modelo ‘presidencial’ da Rolex, seja em que tamanho for. O diâmetro de 36mm, porque é um tamanho midsize usado tanto por mulheres como por homens, tem sido ultimamente palco de exercícios de cor — e este ano surge com uma versão em ouro rosa completamente feérica que é o relógio mais ‘fora da caixa’ jamais apresentado pela tão tradicional casa helvética.
Ao mostrador multicolor em puzzle junta-se um diferente uso dos discos do dia e da data: em vez do dia da semana surgem sete diferentes palavras em inglês (do Love à Gratitude, passando pela Peace) que evocam positividade e na data aparecem 31 emojis distintos que foram especialmente concebidos pela Rolex (não só para evitar eventuais infrações de copyright mas também pelo brio de apresentar algo próprio).
O mostrador em esmalte multicolor é realizado segundo a técnica tradicional do Grand Feu e projeta uma fascinante luminosidade. As peças do puzzle simbolizam os momentos fortes que marcam uma vida, com o acréscimo das emoções do disco do dia e as reações dos emojis da data.
Oyster Perpetual
Para complementar a folia do Day-Date 36 com mostrador colorido em puzzle e palavras-chave com emojis, a Rolex apresentou uma outra inovação cromática em três tamanhos do Oyster Perpetual. Com versões em 31, 36 e 41mm, o novo Oyster Perpetual apresenta um mostrador com esferas multicolores que reproduzem os tons dos Oyster Perpetual de 2020 (rosa doce, azul turquesa, amarelo torrado, vermelho coral e verde) que haviam sido inspirados pelos chamados Stella Dials da década de 70.
O mostrador, designado ‘Celebration’ pela própria Rolex (não, desta vez não é um cognome atribuído pelos aficionados), surge povoado de balões que incidem maioritariamente na metade inferior. Mas não se trata apenas de uma celebração cromática para encher o olho: a sua realização constituiu um autêntico desafio técnico aquando da sua realização através do método da tampografia.
As nossas impressões
Muitas novidades, algumas delas absolutas. Muita cor e mesmo uma irreverência que normalmente não é apanágio da Rolex. Mas sobretudo muitos modelos desejáveis que vão ser procurados até à exaustão. Até mesmo — e sobretudo — o Day-Date 36 da positividade, talvez a talking piece da edição deste ano do Watches and Wonders pelo seu atrevimento e surpresa gerada entre os analistas/aficionados. Em breve escrutinaremos algumas das novidades da Rolex com análises mais aprofundadas… noblesse oblige!