SIHH 2018: as primeiras tendências

Mais uma vez, o Salon International de la Haute Horlogerie esteve à altura do nome e desvelou várias complicações mecânicas verdadeiramente prodigiosas – desde as grandes manufaturas até às marcas independentes. Paralelamente, outras vertentes que não diretamente associadas aos mecanismos foram claramente exploradas. Dos sistemas de troca rápida de bracelete até inesperadas versões de certos modelos abaixo dos 40mm, passando por uma tonalidade de azul mais aberta – aqui ficam três grandes tendências.

Após cada grande certame relojoeiro é frequente fazer-se uma análise das principais tendências. Para além das complicações relojoeiras propriamente ditas, descortinámos três claras tendências sobretudo relacionadas com o plano estético. Aqui ficam elas:

Intermutabilidade

A maneira mais fácil de alterar a personalidade de um relógio é trocar de correia ou bracelete. Sempre foi assim. Mas o simples facto de ser necessário utilizar uma ferramenta própria para puxar as molas que prendem a correia às asas desencoraja muito boa gente, havendo também uma minoria que ainda acha que mudar o visual ‘oficial’ (de catálogo) de um relógio é desvirtuá-lo. Há já algum tempo que determinadas marcas oferecem correias com molas que podem ser puxadas, mas esse sistema não é nada bom para as unhas; também já há algum tempo que algumas marcas apresentam em certos modelos um sistema integrado de troca rápida de braceletes que é simultaneamente seguro e fiável. Sabe-se que o grupo Richemont patenteou cerca de duas dezenas de sistemas do género e as suas marcas estão agora a dotar mais modelos dessa possibilidade – a Jaeger-LeCoultre tinha esse sistema nos modelos desportivos Master Compressor Extreme da década passada, agora adotou outro para a nova gama Polaris de modo a que se possa alternar rapidamente entre braceletes de cauchu, pele ou bracelete. A Cartier foi mais longe no renovado Santos: para além de um sistema de troca rápida de correias/braceletes, as braceletes metálicas estão dotadas de uns botões que possibilitam a retirada de elos para serem encurtadas sem o recurso a ferramentas ou a necessidade de ir até a um agente oficial da marca – medida tomada também a pensar para quem opta por encomendar relógios através das plataformas digitais e que não tem propriamente uma relojoaria na vizinhança. Para além dos sistemas de troca de braceletes, registe-se uma maior variedade e qualidade de oferta: a Panerai apresentou um novo sistema de troca e braceletes em material têxtil pela primeira vez, a Montblanc também estreou braceletes tipo NATO mas mais curtas e de tamanho ajustável a partir da fivela que são fabricadas numa tradicional fábrica têxtil no sul de França (afinal de contas, Davide Cerrato veio da Tudor…) e a Audemars Piguet apresentou uma bracelete metálica de malha inspirada nas Milanaise, mas mais aperfeiçoada e denominada Polonaise.

Maré azulada

Não é novidade que o tom azul seja adotado por cada vez mais marcas – é uma clara tendência que vem desde o início da década. Mas no SIHH viu-se uma tonalidade de azul mais aberta em várias coleções de marcas distintas. Porque o tom azul mais utilizado nos últimos tempos (o azul meia-noite) é facilmente confundido com o preto em determinadas condições de luz. Por isso, a Jaeger-LeCoultre lançou na sua nova linha Polaris um azul mais aberto que não possa ser confundido com a variante preta. Também o Laureato surge em versões femininas de azul mais aberto. O chamado azul royal surge num dos novos Royal Oak Offshore da Audemars Piguet, sendo que a reedição comemorativa do 25º aniversário do Royal Oak Offshore inaugural de 1993 também é logicamente azul. Mas o azul mais escuro não desapareceu: embora não tão escuro, está omnipresente nas muitas peças que compõem a coleção comemorativa do 150º aniversário da IWC (praticamente todos os modelos são apresentados com alternativas de mostrador branco e azul). Também o novo Heure d’Ici, Heure d’Ailleurs da Van Cleef & Arpels tem um mostrador azul escuro. O Freak Vision, o Diver Deep Dive e o Tourbillon Blue Grand Feu da Ulysse Nardin igualmente. O azul mais aberto de todos é o do novo modelo da Richard Mille dedicado à vedeta de polo Pablo MacDonaugh – afinal de contas, o azul celeste é a cor nacional da Argentina. E o azul mais original foi apresentado pela Montblanc no seu 1858 Pocket Watch (modelo convertível de bolso e mesa) com mostrador de pedra Dumortierite de um azul mesclado.

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1- Ulysse Nardin Tourbillon Blue Grand Feu; 2- 1858 Montblanc Pocket Watch; 3 – Jaeger-LeCoultre Polaris Automatic Azul; 4 – Audemars Piguet Royal Oak Offshore. © Espiral do Tempo

Tamanho

Que tem havido um ajuste no tamanho médio após a folia sobredimensionada que surgiu logo após a viragem do milénio não é novidade; houve um contra-movimento natural que foi não só alimentado por uma alergia ao gigantismo mas também pela afirmação do neo-rétro e pela ‘explosão’ do mercado chinês com a sua clientela de pulsos mais finos. É perfeitamente natural e até expectável que haja novos modelos mais pequenos, mas viram-se no Palexpo versões mais pequenas que não eram propriamente aguardadas – como, por exemplo, os novos cronógrafos Laureato de 38 mm a acompanharem o (re)lançamento da versão cronográfica da linha Laureato: ficam bem em pulsos masculinos menos grandes, em pulsos femininos e também agradam àqueles aficionados dos relógios vintage (tendencialmente de menores dimensões) que ocasionalmente optam por comprar um relógio moderno. Os novos Luminor de 38 mm surgem igualmente nessa linhagem, contrariando por um lado o histórico ADN da Panerai mas tornando a sua coleção mais versátil para poder satisfazer todos aqueles que gostam da marca mas que não tinham pulso para ela. E a Armin Strom declinou a estrela da companhia numa caixa mais pequena: o diâmetro de 42mm do Pure Resonance é 1,4mm mais pequeno do que o do aclamado Mirrored Force Resonance…

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Girard-Perregaux Laureato Chronograph; Panerai Luminor Due 3 days Automatic Oro Rosso. © Espiral do Tempo

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