SIHH 2018: a nossa escolha dos dias 3 e 4 (Audemars Piguet, Girard-Perregaux, Panerai e Van Cleef & Arpels)

O SIHH termina hoje e nós apresentamos a nossa última seleção de modelos que mais nos chamaram a atenção. Nos próximos tempos, iremos destacar alguns com mais pormenor e outros que ainda não mencionámos, mas é importante referir que já se notam certas tendências, algumas que até já vêm no seguimento dos anos anteriores: a aposta no azul intensifica-se, a inspiração no baú continua, a combinação de ouro rosa com antracite nota-se mais, relógios de perfil sport elegant vão dando que falar, o lançamento de complicações fora de série, a redução dos tamanhos de caixa e a variedade de braceletes. 

Audemars Piguet Royal Oak Offshore Tourbillon Chronograph 25th anniversary (etc e tal)

Coincidindo este ano com o 25º aniversário do Royal Oak Offshore, o novo ROO Tourbillon Chronograph 25th anniversary surge como uma peça comemorativa que estica o design original de Emmanuel Gueit até áreas nunca antes exploradas pela Audemars Piguet – sobretudo através de uma nova luneta minimalista, desbastada ao máximo, e um novo tipo de mostrador openworked. Não está a ser um relógio concensual, porque muitos consideram ter desvirtuado excessivamente o traço do Offshore original, mas temos de admitir que se trata de uma notável peça de relojoaria contemporânea que impressiona ao olhar pelo seu design forte e disruptivo e que causa também um indiscutível impacto em termos de utilização no pulso.

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Audemars Piguet Royal Oak Offshore 25th anniversary. © Espiral do Tempo
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Royal Oak RD#2 Perpetual Calendar Ultra-Thin. © Espiral do Tempo

Apesar dos diversos lançamentos da Audemars Piguet – nomeadamente as diversas animações na coleção Offshore, da qual se destaca uma versão com mostrador caqui e bracelete camuflada, o finíssimo Royal Oak RD#2 Perpetual Calendar Ultra-Thin (com espessura de 2,9mm…), o Ladies’ Royal Oak Concept Flying Tourbillon – acabamos por destacar mesmo o modelo de celebração em específico, acima de tudo, porque surge no seio de uma coleção mais do que estabelecida, demarcando-se enquanto membro rebelde que vem animar e agitar um percurso que tem tido altos e baixos.

Girard-Perregaux Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon e Laureato Chronograph

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Girard-Perregaux Laureato Chronograph. © Espiral do Tempo

Os novos Laureatos Chronograph da Girard-Perregaux piscaram-nos o olho – como dissemos aqui – e têm a sua relevância na coleção por serem os primeiros Laureato a surgirem com função de cronógrafo, dois anos depois de a marca ter recuperado o modelo nascido em 1975. Bem conseguidos? Parece-nos que sim. Mantendo as linhas já bem nossas conhecidas, os novos cronógrafos surgem agora com um perfil mais desportivo e descontraído, com caixas de 38 mm e de 42 mm em aço ou em ouro e mostradores prateado, preto ou azul, com contadores contrastantes. O novo tamaho de 38 mm surpreendeu, acompanhando a tendência geral para tamanhos menos grandes e suficientemente versáteis e para também satisfazer pulsos femininos ou asiáticos. Somos sinceros: os novos cronógrafos convenceram-nos à séria quase ao ponto de nos esquecermos de que a marca lançou gigantes tão relevantes como o Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon ou o Neo Tourbillon Skeleton With Three Bridges – deste último já falámos aqui em primeira mão. Em titânio e com uma construção que combina caixa e platina principal para uma melhor propagação do som, o Minute Repeater Tri-Axial Tourbillon une a função da repetição de minutos e um turbilhão que gravita simultaneamente em torno de diverso eixos, surgindo como o relógio mais complicado que  a marca lança este ano. Uma demonstração inequívoca de um grande trabalho de alta-relojoaria. Aqui está ele:

Officine Panerai Luminor Due e Luminor 1950 Tourbillon GMT Titanio 47 mm Lo Scienziato

Um Panerai Luminor de 38 mm pode soar a estranho, mesmo a estranho. Comentámos isso há uns tempos quando fomos conhecer melhor os Luminor Due que foram lançados com caixas de 40 mm e espessura reduzidas (de 17,95mm do Luminor original para 10,70mm), para grande surpresa dos aficionados da Panerai. Na altura até falámos com alguns puristas e descobrimos alguns testemunhos online que se mostravam indignados com a opção da marca, e respeitamos, claro. Agora, ainda nem procurámos as reações face a esta ainda maior redução de tamanho para 38 mm. Preferimos ser positivos na análise: está bem, este modelo foge um pouco do que a Panerai é historicamente e até identitariamente. Mas não nos incomoda. Por comparação, é o mesmo que dizer que os portugueses já foram marinheiros e donos do mundo. Sim, pois foram, mas agora não são mais e não são menos portugueses por isso. Deste lado, achamos importante seguir em frente e achamos legítimo que a marca procure cativar outro tipo de clientes. Afinal, hoje em dia os clientes Panerai não são propriamente (só) membros das forças especiais da marinha italianas. Julgamos nós. E não são só pessoas com pulso que suportam relógios de diâmetros superiores a 42 mm.

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Officine Panerai Luminor Due 3 Days Automatic Oro Rosso – 38mm. © Espiral do Tempo

Basicamente, os pulsos mais finos que gostam da Panerai vão poder sentir-se confortáveis (e as senhoras também!) numa estratégia que permitirá conquistar mais clientela… sendo que a tendência atual está bem longe do período em que os relógios sobredimensionados eram a norma, no decurso da época passada. Sejamos realistas, a marca continua a manter na sua coleção modelos de sempre e tamanhos de sempre, e vai tentando reinventar-se à sua medida. A própria coleção Lo Scienziato – que também destacamos este ano e que regressa com o Luminor 1950 Tourbillon GMT Titanio 47mm (que se distingue do primeiro modelo lançado em 2016 apenas pelos apontamentos azuis) – foge dos conceitos de simplicidade e funcionalidade associados às origens da marca. Por serem ousados e nos obrigarem a pensar de outra forma, são estes os dois modelos para os quais chamamos a atenção, com mais um apontamento obrigatório: um novo sistema de troca fácil de braceletes.

Van Cleef & Arpels Le Jardin

Tão complicado escolher… Todos os anos lá vamos nós ver o que nos espera no stand da Van Cleef & Arpels, sempre com expectativas elevadas. E todos os anos as nossas expectativas são superadas. Até fizemos uma rima e parecemos demasiado exagerados, mas é disto mesmo que se trata: de superação de expectativas. Mais do que estarmos a referir pormenores relativos aos movimentos associados às Poetic Complications®, o que nos apela sempre mais e mais é o modo como a casa francesa reinventa a arte da joalharia em relógios que se tornam verdadeiras obras de arte. Pensemos em criatividade, em beleza, em intensidade, em pedras preciosas, em engenhosidade, em perícia, em originalidade e em tanto mais. Impossível encarar estes relógios como simples instrumentos do tempo. Também impossível encará-los com algum afastamento ou imparcialidade. A razão é simples: podemos achar que não os vamos usar, podemos sentir algum desconforto a pegá-los com receio de danificar alguma parte e também podemos dizer que é o tipo de relógio para ficar guardado na gaveta, ou melhor, num mostruário. Mas temos de admitir que, no meio de tudo isto, são criações brilhantes (no sentido literal e metafórico) e que não nos deixam indiferentes. Agora, a parte difícil passa por selecionar um modelo de eleição. Não vamos por aí. Destacamos o Lady Arpels Planetarium Watch e o  Midnight Zodiac Lumineux pela espantosa e inventiva componente mecânica que lhes está associada, e a coleção Le Jardin pela impressiva variedade e beleza das peças que a compõem. Ficamos assim. E deixamos os vídeos só para acabar em grande:

Le Jardin

Lady Arpels Planetarium watch

Midnight Zodiac Lumineux watch

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