A marca conceptual de alta-relojoaria MB&F surpreendeu com o lançamento do SP One — o modelo inaugural de uma nova linha denominada Special Project que começa com o modelo mais pequeno na história da jovem marca fundada por Max Büsser.
A génese do novo SP One remonta a 2018. Max Büsser imaginou e desenhou o esboço de um modelo mais pequeno, mas com as caraterísticas desde sempre associadas à MB&F. «Fiz o sketch em 2018, embora só tenha tido a coragem de lançar o processo de pesquisa e desenvolvimento em 2021 porque não era nem uma Horological Machine nem uma Legacy Machine e acho que ninguém precisa de um MB&F clássico», recorda. «Mas gosto muito dele, pelo que tinha de tentar. E o SP1 — Special Project One — ganhou vida».
O instinto de Max Büsser normalmente dá resultado. Para já, o resultado surpreendeu a comunidade relojoeira. E é verdade que, ao longo das últimas duas décadas, a MB&F deu vida (a par dos modelos HM e LM) a uma série de projetos que estavam adormecidos e que na altura da sua conceção nem faziam muito sentido. Mas que, noutra conjuntura, poderiam tornar-se mais pertinentes.
À medida que a MB&F se aproximava de seu 20º aniversário, Max Büsser e Amigos lembraram-se do espírito que esteve por trás da fundação da marca — um espírito livre baseado na intuição, sem plano de negócios e sem a devida pesquisa de mercado, alicerçado na vontade de criar o inesperado e ir contra a corrente. E lembraram-se de ir à gaveta dos projetos adiados.
Risco e expetativas
«Perguntámos-nos: e se fizéssemos o que ninguém espera, um relógio elegante e clássico?», recorda Max Büsser. Tal como como o primeiro Legacy Machine, o M.A.D.1 ou muitos outros projetos da MB&F havia zero expectativas de mercado e 100% de risco. «Enquanto criadores, o orgulho é o que nos faz correr e esse orgulho não vem do caminho fácil, mas de arriscar tudo e potencialmente enfrentar um grande revés».
O primeiro esboço do SP One foi desenhado à pressa e mal — mas a essência do design e a especificidade do projeto já estavam lá. Três círculos que parecem um rosto sorridente sugeriam que a jornada seria divertida, porém complexa.
Esse esboço inicial foi depois refinado e retrabalhado com a ajuda do famoso designer relojoeiro e amigo de longa data da MB&F, Eric Giroud. Após inúmeras iterações, o conceito parecia perfeito; depois foi a vez dos engenheiros assumirem o controlo, esboçando e mapeando todo o projeto com precisão e muito critério.
Trindade transparente
Basicamente, Max Büsser decidiu aproveitar ideias adormecidas e criar uma nova dimensão no seu catálogo. A nova linha Special Projects é inaugurada pelo Special Project One (ou SP One), que se coloca algures entre as radicais Horological Machines e as mais clássicas Legacy Machines. O SP One teve inicialmente o código ‘Three Circles’ pelo facto de apresentar uma troika de elementos levitantes — o tambor de corda, a roda de balanço e o mostrador — que parecem pairar misteriosamente no centro de um anfiteatro e que são bem visíveis através das cúpulas de cristal de safira.
Ou seja, uma maravilha mecânica que transforma o pulso no palco de um fascinante desempenho que desafia a gravidade. A nova criação exala sofisticação em vez de gritar por atenção; mesmo sendo o mais pequeno e mais fino relógio da MB&F, permanece fiel à caraterística arquitetura tridimensional da marca e ao seu espírito inovador.
As dimensões assumem particular importância no que diz respeito ao novo SP One, tendo em conta o seu contido diâmetro de 38mm — nunca antes tinha havido um relógio MB&F de dimensões tão reduzidas, excetuando os modelos LM de senhora (mesmo assim, o LM Flying T tem 38,5mm). A caixa apresenta uma estrutura arredondada semelhante a um seixo e proporciona uma sensação tátil especialmente orgânica; a arquitetura sem luneta e com asas aparentemente ‘descoladas’ contribuem para a personalidade etérea do relógio e dão especial protagonismo ao seu conteúdo mecânico.
Mecânica orgânica
O movimento de carga manual do SP One, com 72 horas de autonomia e desenvolvido internamente, foi criado em torno dos três elementos-chave de qualquer relógio mecânico. A roda de balanço, sempre em destaque em qualquer criação da MB&F, oscila orgulhosamente às 2 horas e cativa o olhar do utilizador como se fosse um disco voador. Como sucede noutros relógios da marca, o mostrador é inclinado na medida certa para destacar a especialização da MB&F em engrenagens cónicas e adicionar ao conjunto uma importante vertente tridimensional.
O tambor de corda manual realça o desejado efeito de suspensão aérea. E, graças ao vidro de safira à frente e atrás, esses três elementos preponderantes — e que visualmente têm circunferências idênticas — parecem desafiar a gravidade, mas é a arquitetura do movimento que cria esse efeito de levitação mágico: as pontes do calibre são praticamente invisíveis e a maioria dos componentes está habilmente escondida sob os três elementos-chave.
O movimento de manufatura é formado por 191 componentes e está ladeado por uma flange chanfrada que destaca toda a sua complexidade. O fundo transparente permite apreciar o meticuloso acabamento manual que é tradicional na alta-relojoaria e típico da MB&F: chanfros polidos, ângulos internos, châtons generosos e gravações feitas à mão, acompanhados de um acabamento de superfície alternadamente escovado, polido e microjateado. A MB&F, apesar do seu vanguardismo e espírito fora da caixa, mantém-se como uma das raras marcas da atualidade que perpetuam o acabamento à mão segundo os parâmetros da bela relojoaria.
Em suma, o SP One é um MB&F clássico que nem tem tanto de clássico como isso. Ou seja, é um paradoxo paradoxal que — para já — está disponível em duas edições: ouro rosa de 18 quilates com orla interior antracite (EUR 64.000 + impostos) e platina 950 com orla interior azul-celeste (EUR 69.000 + impostos).
Algumas caraterísticas técnicas:
MB&F
Special Projects SP One
Ano de lançamento | 2025
Referências | SP One Platinum 950; SP One 18k Rose Gold
Movimento | calibre de corda manual desenvolvido in-house; 72 horas de reserva de carga; acabamentos à mão, incluindo anglage, ângulos interiores, gravações à mão, pontes em tom antracite com acabamento em ruténio; frequência do balanço de 18.800 alternâncias/hora (2,5Hz), 191 componentes; 31 rubis (18,000 vph)
Funções | horas, minutos
Caixa Ø 38mm; 12mm de espessura | platina 950 ou ouro rosa de 18 quilates, consoante a versão; 19 peças; vidro de safira com tratamento antirreflexos em ambos os lados; estanque até 30 metros
Mostrador | submostrador preto DLC inclinado às 6h
Correia | calfe verde ou creme com fivela em platina ou ouro rosa
PVP recomendado | ouro rosa de 18 quilates: 64.000 euros + taxas; platina 950: 69.000 euros + taxas
