Os relógios do Open da Austrália

Cada torneio do Grand Slam é uma autêntica cimeira relojoeira, com marcas e modelos para todos os gostos. A recente edição do Open da Austrália não foi exceção, mas houve muitas novidades a registar — e uma ausência muito notada.

Vista para a Rod Laver Arena onde decorreu o Open Australia 2021
A Rod Laver Arena não pôde ter as bancadas cheias como habitualmente | © Rolex

O primeiro torneio do Grand Slam de 2021 ficou concluído no passado fim de semana com muitas histórias relojoeiras para contar. Mas não foi fácil levar a cabo a 109ª edição do Open da Austrália num contexto de pandemia, tendo a organização sido forçada a adiar três semanas a prova e os jogadores tiveram de cumprir duas semanas de pandemia à chegada aos antípodas — para além de um confinamento a meio da quinzena competitiva que implicou a ausência de público durante cinco dias em Melbourne Park, sendo que nos restantes dias a lotação foi sempre restrita e as bancadas nunca puderam estar cheias como habitualmente.

Na cabine de comentários do Eurosport, com o relógio oficial do Open da Austrália (Rolex, no caso um Explorer) e um cronógrafo de mesa vintage Heuer para contabilizar a duração
Na cabine de comentários do Eurosport, com o relógio oficial do Open da Austrália (Rolex, no caso um Explorer) e um cronógrafo de mesa vintage Heuer para contabilizar a duração | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

Jogado desde 1905, o Open da Austrália é o maior evento desportivo anualmente realizado no hemisfério sul e tem a Rolex como cronometrista oficial desde 2008. A Rolex estreou-se nos torneios do Grand Slam em Wimbledon, no ano de 1978, e a seguir ao Open da Austrália completou o seu próprio Grand Slam com o Open dos Estados Unidos (desde 2018) e Roland Garros (desde 2019). A Rolex faz mesmo o pleno dos principais eventos do planeta, estando presente em todos os Masters 1000, nos torneios de encerramento de época (ATP Finals e WTA Championships) e ainda na Taça Davis e Billie Jean King/Fed Cup — sem esquecer o ‘nosso’ Millennium Estoril Open. É também a marca que tem a maior legião de jogadores entre a elite do ténis mundial. Mas este ano esteve ausente do pódio: a campeã levantou o troféu com um TAG Heuer no pulso, enquanto o campeão não usou qualquer relógio pela primeira vez desde 2011.

Entrada da Rod Laver Arena onde decorreu o Open Australia 2021
Melbourne Park: exterior da Rod Laver Arena nas sessões noturnas | © Rolex

Novak Djokovic ganhou o Open da Austrália pela nona (!) vez e somou o seu 18º título do Grand Slam, aproximando-se do total de 20 detido pelos seus arqui-rivais Rafael Nadal (que joga com Richard Mille no pulso e perdeu nos quartos-de-final) e Roger Federer (o principal embaixador desportivo da Rolex esteve ausente por lesão). Mas quando o sérvio segurou a Norman Brookes Challenge Cup foi notória a ausência do habitual relógio; após assinar com a Audemars Piguet em 2011, Novak Djokovic passou a representar a Seiko a partir de 2014 e teve o seu contrato renovado em 2017… mas a parceria ficou concluída no final de 2020. As razões da não continuidade podem ser várias, desde o simples fecho de um ciclo até motivos mais complexos: os japoneses não apreciam muito a polémica e o temperamental número um mundial esteve envolvido em várias controvérsias ao longo do ano passado, como a organização de um mini-circuito que gerou contaminação do vírus, a desqualificação no Open dos Estados Unidos por acertar inadvertidamente com uma bola numa juiz-de-linha e algumas tiradas menos felizes sobre a vacinação. O sérvio ficou livre, mas será que alguma marca estará interessada? A TAG Heuer e a Zenith têm CEOs fanáticos por ténis (Frédéric Arnault e Julien Tornare); fora isso, o preço de uma superestrela não estará ao alcance de outras marcas de menor dimensão.

Com Novak Djokovic de pulsos despojados, a grande vencedora do Open da Austrália no plano relojoeiro acabou por ser a TAG Heuer — através de Naomi Osaka, que deu a melhor resposta possível à recente parceria estabelecida em janeiro, depois de a japonesa ter estado associada à Citizen nos últimos dois anos. Naomi Osaka ganhou o seu segundo título em Melbourne Park e o seu quarto título do Grand Slam (conta também com dois US Opens no palmarés), jogando ao longo da quinzena com um Aquaracer 300M de 35 milímetros com mostrador branco e bracelete azul em cauchu.

Mas logo a seguir à final, numa situação muito provavelmente inédita na ligação entre o ténis e os relógios, optou por erguer o troféu com um Carrera 160 Years Montreal — um modelo lançado em 2020 em comemoração do 160º aniversário da marca e seguramente um dos modelos da TAG Heuer mais apreciados pelos aficionados. No entanto, Naomi Osaka não se ficou por aí; no dia seguinte envergou um terceiro TAG Heuer durante a tradicional sessão fotográfica da campeã com o troféu: um Carrera. A jovem nipónica cimentou em Melbourne o seu estatuto de superestrela, após ter sido considerada em 2016 ‘Newcomer of the Year’ no circuito feminino, de se tornar na primeira japonesa a ganhar um título do Grand Slam em 2018 e de ser a primeira asiática a chegar à liderança do ranking mundial em 2019; no início de 2020 ela era já a desportista feminina mais bem paga do planeta para a revista Forbes e os seus recentes sucessos estão a catapultá-la para a fama planetária.

Stefanos Tsitsipas a jogar durante o Open Australia 2021.
Stefanos Tsitsipas foi o embaixador Rolex que mais longe chegou na competição | © Rolex

A TAG Heuer também esteve no pulso — embora não durante o jogo — de algumas das mais brilhantes jovens vedetas do circuito masculino, como Felix Auger-Aliassime (Link), Denis Shapovalov (Carrera Sport), Alex de Minaur (Carrera Sport) e Frances Tiafoe (Carrera Sport), e está-se a assumir como a segunda marca mais representada no circuito profissional de ténis. A primeira é a Rolex, que — para além de ter os maiores torneios do mundo — apresenta uma impressionante fileira de estrelas: para além do ausente Roger Federer, Stefanos Tsitsipas foi semifinalista (escolheu um Daytona para usar durante o torneio), Grigor Dimitrov atingiu os quartos-de-final (usou um Daytona ‘Eye of the Tiger’ carregado de bling e bracelete Oysterflex) e Dominic Thiem cedeu nos oitavos-de-final (Yachtmaster com Oysterflex), tal como Milos Raonic, Garbiñe Muguruza e a jovem Iga Swiatek. Sem esquecer o antigo duplo campeão do Open da Austrália e ex-número um mundial Jim Courier, que também faz parte do lote de lendas da modalidade associadas à Rolex (como Rod Laver, Bjorn Borg, Chris Evert, Justine Hénin) e fez as entrevistas no court com um Oyster Perpetual.

Daniil Medvedev colocou no pulso para a cerimónia da entrega de prémios o seu já habitual Bovet OttantaSei Tourbillon com design Pininfarina.
Daniil Medvedev e o seu Bovet OttantaSei Tourbillon com design Pininfarina. | © Bovet

E depois há aqueles casos ‘avulso’ bem conhecidos. O finalista russo Daniil Medvedev colocou no pulso para a cerimónia da entrega de prémios o seu já habitual Bovet OttantaSei Tourbillon com design Pininfarina. O seu amigo e compatriota Andrey Rublev tem um acordo com a Bulgari e ostentou o novo Aluminium Chronograph. O australiano Matt Ebden, um conhecido aficionado da fina relojoaria, elevou o troféu de vice-campeão de pares mistos com um Maurice de Mauriac Chronograph Modern Le Mans. Outro australiano, Dylon Alcott, fez jus ao seu estatuto de número um mundial de cadeira de rodas ao vencer o torneio com um Longines Legend Diver.

O australiano Matt Ebden, elevou o troféu de vice-campeão de pares mistos com um Maurice de Mauriac Chronograph Modern Le Mans.
Matt Ebden com um Maurice de Mauriac Chronograph Modern Le Mans | © DR

E não se pode esquecer aquele que é talvez o mais famoso caso singular da relojoaria no ténis — Rafael Nadal voltou a jogar com o seu Richard Mille RM 27-04 de quase um milhão de euros estreado no passado outono e que se carateriza pelo seu mostrador em encordoação de raqueta que sustenta os diversos componentes relojoeiros e os protege dos choques. O craque espanhol foi travado nos quartos-de-final após uma épica batalha em cinco sets com Stefanos Tsitsipas, não aproveitando uma aparentemente decisiva vantagem de dois sets a zero.

Na cabine de comentários: um Rolex Explorer a acompanhar Stefanos Tsitsipas e um TAG Heuer Carrera Jack Heuer para Naomi Osaka
Na cabine de comentários: um Rolex Explorer a acompanhar Stefanos Tsitsipas e um TAG Heuer Carrera Jack Heuer para Naomi Osaka | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

Nas senhoras, Serena Williams voltou a colocar a sua parceria com a Audemars Piguet em destaque — embora, desportivamente, tenha sido travada nas meias-finais pela futura vencedora e não tenha podido lutar pelo seu 24º título do Grand Slam. Desta vez a campeoníssima americana usou um Royal Oak Offshore Diver (que já tinha estado no pulso de Stan Wawrinka aquando do seu título no Open da Austrália em 2014), embora de maneira diferente: se normalmente joga com o relógio no pulso esquerdo, este ano surgiu em Melbourne Park com o relógio no pulso direito!

Nos quartos-de-final, Serena Williams foi a algoz de Simona Halep — que há já alguns anos tem uma ligação à Hublot. A romena escolheu a sofisticação negra do Classic Fusion Black Magic para a viagem aos antípodas. E a croata Donna Vekic voltou a jogar com um F.P. Journe Élégante no pulso, desta feita com uma bracelete cor-de-rosa. A escolha mais surpreendente foi a de Barbora Krejcikova, que jogou e ganhou a final de pares mistos com um… Daniel Wellington de quartzo e bracelete NATO.

Vista para a Rod Laver Arena onde decorreu o Open Australia 2021
Melbourne Park: sessão noturna na John Cain Arena com acesso limitado do público | © Rolex

O circuito profissional passa agora dos Antípodas para a Europa mas o calendário ainda está algo incerto e muito sujeito aos condicionalismos provocados pela pandemia e às autorizações das entidades sanitárias de cada país. O que se sabe é que, de uma maneira ou de outra, o maior evento tenístico português — o Millennium Estoril Open — irá jogar-se no Clube de Ténis do Estoril entre o final de abril e o início de maio… com ou sem público.

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