Desde que me lembro, sempre gostei de viajar.
Terá certamente a ver com a minha família e a sua curiosa propensão para emigrar. No caso do meu avô e do meu pai, a viagem sem regresso marcado foi forçada pela instabilidade política e social dos países onde tinham nascido. No meu caso, e agora do meu filho Diego, a situação muda de figura, já que emigrámos por vontade própria.
Em todo caso, sempre encarei as viagens como a melhor forma de nos obrigar a sair da nossa zona de conforto: quer numa metrópolis, ou numa ilha remota, a logística, a comunicação numa língua ‘estranha’, bem como eventuais dissabores forçam-nos a testar a nossa capacidade de adaptação.
E o que isto terá a ver com liderança e relojoaria?
Tudo.
Da minha última viagem, a visita à The Art of Watches Grand Exhibition New York 2017 da Patek Philippe, fiquei com dezenas de fotos. Tentei captar alguns dos 450 relógios expostos, o local interior bem como as filas de curiosos pacientemente à espera de ter um contacto com um dos acervos mais impressionantes da relojoaria mecânica. No entanto, de todas essas fotos, devo destacar uma em especial: o atual Presidente da marca genebrina, Thierry Stern, a receber pessoalmente alguns dos visitantes – fora, nas escadas do majestoso edifício que alberga a exposição.
Liderança pelo exemplo? Gosto pelo contacto?
Há uns anos, escolhemos ilustrar a capa da Espiral do Tempo dedicada ao tema da Inovação com uma foto de Thierry Stern, precisamente. Fomos criticados por alguns e, no entanto, para nós, fez tanto sentido. Porque longe dos holofotes óbvios de inovação que se vê pela estética arrojada, a Patek Philippe inova constantemente nas mais diversas vertentes – sem nunca se desviar do seu caminho. E até na forma de aproximação ao mundo a Patek Philippe inova. A The Art of Watches Grand Exhibition New York 2017 – bem como as grandes exposições similares que a marca tem organizado nos últimos anos – mostra isso mesmo. E a presença singular e tão pessoal de Thierry Stern na entrada da exposição também.
Quando o abordei, alguns instantes antes da abertura, não consegui evitar mencionar a figura do seu avô, Henri Stern. Um homem central na edificação da marca Patek Philippe no continente americano, e depois no mundo inteiro. De formação académica ligada às artes, adorava também o contacto, ao ponto de passar as décadas dos anos 30 e 40 a viajar nos Estados Unidos, bem como na maior parte dos países sul-americanos.
E quanto mais investigo sobre esta figura central da história da Patek Philippe, mais me fascina.
Nessa manhã, falando com Thierry Stern, não pude deixar de pensar na herança que o avô terá deixado ao neto. Uma herança que passa também por mostrar a todos de que é feito o mundo da Patek Philippe: um mundo de persistência, de fidelidade a si própria, de defesa dos valores mais tradicionais da relojoaria sem esquecer os desenvolvimentos que fazem o futuro; uma herança que vive ao mesmo tempo do contacto com outras culturas, com públicos alargados e do tentar chegar cada vez mais longe, contribuindo ainda desta forma para uma melhor divulgação das especificidades da relojoaria em geral.
Repito o que já aqui escrevi: é de louvar esta iniciativa que terá um impacto não só para a marca genebrina, como para todo o universo da relojoaria. Numa altura de grandes desafios, a Patek Philippe demonstra em Nova Iorque uma atitude única de resiliência – a mesma atitude que terá levado o fascinante Henri Stern a conquistar o mundo.
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