Já cá faltava: desde 2010 que a colaboração entre a Richard Mille e Rafael Nadal tem produzido uma série de relógios ultraexclusiva com atualizações regulares, mas foi preciso esperar quatro anos para o advento do mais recente exemplar RM 27-05 Rafael Nadal. Que o campeão espanhol usou na despedida ao torneio de Roland-Garros.
Na passada segunda-feira à tarde, o planeta desportivo centrou as suas atenções em Paris — mais precisamente no complexo de ténis de Roland-Garros, onde se realiza o maior evento do mundo em terra batida e um dos quatro torneios do Grand Slam. Rafael Nadal regressava ao palco das suas maiores proezas e pairava no ar a possibilidade de que poderia ser a última participação numa prova que ganhou por 14 vezes. O campeoníssimo espanhol havia anteriormente referido que 2024 seria provavelmente a sua última época no circuito profissional e os resultados nos mais recentes torneios foram desanimadores; aos 37 anos e massacrado por lesões desde o final de 2022, apresentava uma forma física muito longe da pujança que o tornou famoso e o sorteio determinou-lhe um adversário extremamente difícil logo na primeira ronda.
Na terra batida que foi a sua terra prometida ao longo de quase duas décadas, Rafael Nadal bateu-se galhardamente mas não evitou a derrota em três sets relativamente equilibrados diante do atual número quatro mundial Alexander Zverev. Houve emoção a rodos, mas o maiorquino não arriscou dizer que não voltaria a competir em Roland-Garros porque sentiu estar a treinar e a jogar melhor. Perante a incerteza da continuidade da sua carreira, houve uma certeza evidente no Court Philippe-Chatrier: tinha um novo Richard Mille no pulso. Já era tempo. Desde o início da famosa colaboração, em 2010, que era lançado um novo modelo a cada dois ou três anos — e desde 2020 que não havia novidades. Até à passada segunda-feira.
Depois do RM 027 em 2010, do RM 27-01 em 2013, do RM 27-02 em 2015, do RM 27-03 em 2017 e do RM 27-04 em 2020, o RM 27-05 Flying Tourbillon Rafael Nadal é o novo companheiro que o espanhol irá usar nos próximos tempos. Com um visual muito diferente dos seus antecessores e novas valências técnicas que vêm contribuir ainda mais para a lenda da série apadrinhada pelo famoso tenista. E uma tiragem de 80 exemplares (as anteriores foram de 50) que rapidamente se irão esgotar… apesar de um preço acima do milhão de euros, tendo em conta os impostos a juntar à etiqueta de 980.000 francos suíços. Coisa pouca para os multibilionários habituados às exorbitâncias da Richard Mille…
Uma história de sucesso
Atleta de hábitos bem vincados, Rafael Nadal resistiu inicialmente à proposta de jogar com um Richard Mille por nunca ter usado relógio no pulso ao longo da sua carreira competitiva. E foi quando mencionou o facto, por acaso, num almoço com o rei emérito Juan Carlos que o monarca (um confesso admirador da marca) o encorajou a aceitar o desafio em 2010. Depois do piloto brasileiro Felipe Massa, o campeoníssimo espanhol foi a primeira superestrela do desporto mundial a envergar um relógio da marca no exercício da sua atividade — e contribuiu muito para a fama da Richard Mille, atualmente uma das 10 marcas relojoeiras que mais faturam.
O RM 027 Tourbillon Rafael Nadal inaugural preto causou grande rebuliço, e não apenas porque o espanhol venceu os seguintes três torneios do Grand Slam em que competiu de relógio no pulso (Roland Garros, Wimbledon e US Open, tornando-se no primeiro homem a ganhar três títulos consecutivos de Grand Slam em três diferentes superfícies); muitos fãs e membros da imprensa pensaram então que o espanhol estava a trair a sua personalidade humilde ao usar um acessório de preço estratosférico. Obviamente, não se tratava de um relógio ostensivo cravejado de diamantes; percebeu-se que era a relojoaria mecânica tradicional levada ao extremo com uma tecnologia futurista digna da NASA — um relógio de somente 20 gramas com a mais nobre e frágil das complicações, o turbilhão, mas concebido para suportar a fisicalidade brutal do ténis jogado por Rafael Nadal.
«Qualquer coisa na mão me incomoda. Achei que seria muito difícil aceitar o desafio e jogar de relógio. Mas quando entendi o que o relógio representava não hesitei», recordou à Espiral do Tempo numa entrevista em 2013. E abordou a questão do preço elevado: «Alguns compram casas ou apartamentos como investimento e não apenas para uso pessoal. O mesmo acontece com o meu Richard Mille: um relógio especial, com tecnologia de vanguarda. O Richard sempre procurou o melhor para ir mais longe no mundo da relojoaria; esforça-se para fazer sempre melhor e nunca fica satisfeito apesar do seu grande sucesso. Compartilho essa filosofia com ele. Desenvolver um turbilhão tão extremo foi muito importante para o Richard; depois trabalhámos um pouco no design, pois era praticamente impossível torná-lo mais leve do que é».
O RM 027 preto inicial pesava 20 gramas. O RM 27-01 01 cinza furtivo que se lhe seguiu pesava somente 19 gramas e incluia um sistema exclusivo de cabos de tensão para apoiar o turbilhão. Depois veio o RM 27-02 com a sua inovadora caixa esbranquiçada. Seguiu-se-lhe o RM 27-03 com uma caixa com as cores da bandeira espanhola e um touro estilizado que servia de suporte ao movimento. O RM 27-04 apresentava um peso total de 30 gramas e o movimento construído sobre uma base de cabos que evoca a encordoação de uma raqueta pesa somente 3,4 gramas, mas aguenta choques até 12.000 Gs. Foi comercializado numa edição limitada de 50 exemplares com preço de 1 milhão de dólares que esgotou imediatamente; um exemplar foi vendido no leilão de novembro de 2021 da Phillips por 1,75 milhões.
O novo RM 27-05
O novo relógio de Rafael Nadal não se apresenta tão colorido e a sua aura sóbria foi propositadamente inspirada no modelo preto inaugural, com alguns toques de dourado. Apresenta a aura stealth tão caraterística do RM 027 de 2010.
O oficialmente designado RM 27-05 Flying Tourbillon Rafael Nadal apresenta-se particularmente fino, graças ao Calibre RMUP-01 de base ultraplano e ultraleve — com uma espessura de apenas 3,75mm e um peso de 3,79 gramas. dotado de 55 horas de reserva de carga e um turbilhão volante. A maior parte dos componentes foi confecionada em titânio de grau 5 e carbon TPT para a maior leveza possível. Em vez de um vidro de safira mais pesado, a Richard Mille descobriu uma alternativa bem mais leve no PMMa, um polímero com tratamento antirrisco que também assegura um nível de transparência muito superior e que dispensa o habitual tratamento anti-reflexo. O movimento requer 4.000 horas de trabalho e acabamento.
A caixa em Carbon TPT B.4 com 37,25mm por 47,25mm e 7,20mm de espessura é estanque até metros e foi desenvolvida ao longo de cinco anos com a North Thin Ply Technology, sendo o material compósito 4 por cento mais denso, com a fibra 15% mais rígida e a resina 30% mais forte. Tudo combinado, tornou-se possível baixar o peso sem perder a rigidez. E tornar o relógio capaz de suportar acelerações/impactos na ordem dos 14.000G — uma proeza extraordinária tendo em conta a extrema sensibilidade de qualquer dispositivo turbilhão. A correia em fibra não tem revestimento de borracha para poupar… meia grama!
O novo RM 27-05 Flying Tourbillon Rafael Nadal parece ser a última edição da série que o campeoníssimo espanhol irá usar durante a sua carreira, uma vez que a sua retirada está mais ou menos eminente. O que significa que apresenta um valor emocional redobrado. Claro que posteriormente a série pode sempre continuar. Mas tudo indica que no momento da despedida o maiorquino dirá adeus com o RM 27-05 no pulso.
Aqui ficam ainda as edições lançadas anteriormente:
- Richard Mille RM 27-01 Rafael Nadal | Foto: cortesia Richard Mille
- Richard Mille RM 27-02 Rafael Nadal | Foto: Stefano Galuzzi, cortesia Richard Mille
- Rafael Nadal com o RM 27-03 no pulso | Foto: cortesia Richard Mille
- Richard Mille RM 27-04 de Rafael Nadal | Foto: Paulo Pires/ Espiral do Tempo
- Richard Mille RM 27-04 de Rafael Nadal | Foto: Paulo Pires