Levámos as quatro versões do novo Chronofighter Vintage Bronze para o Cais Palafítico da Carrasqueira e o resultado ultrapassou as expectativas: muita cor e textura, um material histórico que se adequou perfeitamente ao espírito ancestral do local e toda a beleza do pôr-do-sol. Aqui fica o relato e a imagética de um dia passado sobre estacas.
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Carrasqueira | Um relógio incomum num local inusual. Quando pensámos em fazer um trabalho fotográfico com a nova versão do Chronofighter da Graham, o Cais Palafítico da Carrasqueira pareceu desde logo uma boa opção porque o seu enquadramento ancestral e mesmo aquático se coadunaria com o bronze utilizado na caixa dos relógios. O resultado acabou por ser excelente, tendo em conta a panóplia de cores e texturas à disposição.
O Cais Palafítico da Carrasqueira é conhecido pela sua singular arquitetura popular, algo artesanal e aparentemente primitiva. Está situado junto à aldeia piscatória da Carrasqueira; naquela localidade das margens do Sado, nem sempre era fácil aos pescadores chegarem às suas embarcações e foi por isso que, há mais de dois séculos, começou a erguer-se um cais de madeira construído em ziguezague e sobre estacas, entre as margens baixas e lamacentas e o sapal. A construção foi reforçada nas décadas de 50 e 60, mas mantém a estrutura irregular e aparentemente frágil dos primórdios. E também mantém a sua função original, a de servir como embarcadouro aos barcos de pesca locais. Só que, entretanto, o Cais Palafítico tornou-se mais conhecido – beneficiando também da entrada ‘em moda’ da Comporta (que dista somente três quilómetros) e da vizinha zona costeira. Hoje em dia, é frequente ver-se turistas passear nos passadiços e aproveitar para tirar fotografias.
Obviamente, trata-se de uma zona protegida e integrada na Reserva Natural do Estuário do Sado e é mesmo um dos locais que mais visitantes atrai no concelho – para além de poderem apreciar o fabuloso pôr-do-sol, podem também testemunhar o acesso dos pescadores aos barcos, mesmo durante a baixa-mar. No estuário do Sado, a baixa-mar é muito vincada e os pescadores da zona sempre sentiram grande dificuldade em transpor o lodo do leito para chegar às águas do rio. Até que surgiu a ideia de construir um passadiço de madeira para contornar os obstáculos da natureza e facilitar o acesso às embarcações. Com o tempo, o Cais Palafítico foi crescendo até apresentar uma configuração labiríntica assente em centenas de metros de estacaria e arrecadações de madeira sobre os lamacentos esteiros do Sado.
E porque é que o Chronofighter Vintage Bronze combina tão bem com a construção palafítica? Afinal de contas, a sua génese funcional tem a ver com a aviação – mais precisamente com a aviação militar e a cronometragem dos tempos até à libertação de bombas. Eventualmente poderia existir uma conotação náutica no sentido em que, nos tempos de George Graham (o insigne relojoeiro inglês que deu nome à marca), os melhores relógios de precisão eram os cronómetros de marinha. Mas a escolha residiu sobretudo no facto de a mais recente versão do Chronofighter ser em bronze, uma liga que tem acompanhado a história da humanidade nos últimos milénios e que aquando do seu advento se tornou tão relevante que até mereceu uma era batizada com o seu nome.
Idade do Bronze
Cerca de seis mil anos após a sua descoberta e divulgação, o bronze chegou mesmo ao mainstream relojoeiro para acompanhar a tendência revivalista de tantos modelos de inspiração vintage – porque o próprio bronze é um material retro, com todos os seus defeitos e as suas virtudes ou mesmo a tal condição pré-histórica. Constituiu uma das primeiras ligas metálicas elaboradas pelo homem, com a associação do cobre dominante (cerca de 85 por cento) ao estanho ou outros metais (proporções variáveis de alumínio, magnésio, níquel, zinco) e mesmo matérias diferentes (do arsénico ao fósforo) para lhe dar maior rigidez ou maleabilidade; o seu surgimento em força por volta de 4.000 a.C., com o domínio Sumério no Médio Oriente e a eclosão do seu uso na índia como na China nessa mesma altura, fez com que esse período arqueológico fosse apelidado de Idade do Bronze.
Essa Idade do Bronze surgiu em força na relojoaria no início da presente década. E seduziu os aficionados. Porque o bronze evoca um mundo de aventuras e apresenta uma pigmentação mutável que o torna ‘vivo’. Foi muito utilizado nos cronómetros de marinha dos séculos XVIII a XX porque não enferruja, daí ter sido tão utilizado para fins náuticos porque resiste melhor à corrosão e à chamada fadiga metálica do que o aço. Claro que também o aço inoxidável, o mais democrático e comum dos materiais utilizados na relojoaria, não enferruja. Mas mantém-se inalterável, ao passo que o bronze ‘normal’ vai ganhando uma certa patina devido à oxidação protetora da superfície – que vai cambiando o tom dourado inicial ao longo do tempo para um manchado (que vai do castanho ao esverdeado, devido a sulfatos e carbonatos) e que o torna tão apelativo para apreciadores de antiguidades ou objetos que denotem a passagem do tempo (basta uma limpeza para que assuma o tom dourado original).
Em suma, o bronze é um material com um charme especial. Como o vinho do Porto, os relógios em bronze não envelhecem – vão melhorando com o tempo. Mas é preciso um gosto muito especial pelo verdete caraterístico, tal como também foi necessário encontrar o equilíbrio ideal nas combinações metálicas para anular os índices alérgicos ou controlar (parcialmente e mesmo totalmente) a coloração da patina. E depois vem a sua combinação muito peculiar do bronze com o Chronofighter.
Um cronógrafo com gatilho
Aquando do seu lançamento, o Chronofighter foi uma autêntica ‘pedrada no charco’ no universo conformista dos cronógrafos. Dotado de soluções estéticas e técnicas atípicas e inovadoras, destaca-se pela coroa sobredimensionada que se faz acompanhar de uma alavanca – colocada à esquerda para o início e a paragem do cronógrafo, para além de um botão colocado de modo assimétrico que recoloca o ponteiro a zero. A sua configuração original deve-se a princípios ergonómicos, permitindo uma optimização de utilização das funções cronográficas com o dedo polegar e o index da mão direita – tornando-se instantaneamente no ex-libris da Graham. Desde então e ao longo de praticamente duas décadas, foi sendo anualmente renovado com o lançamento de edições limitadas ao mesmo tempo que alargava a sua árvore genealógica a variantes distintas tanto na arquitetura como nos mostradores.
O novo Chronofighter Vintage Bronze insere-se na linha Vintage do emblemático cronógrafo e está declinado em quatro versões com uma caixa estanque a 100 metros e com 44mm de diâmetro, um tamanho mais ‘contido’ do que em várias outras versões sobredimensionadas. A liga de bronze utilizada é a CuSn8, normalmente usada na indústria naval, com acabamento microbillé e polimento alternadamente escovado e acetinado. Os ponteiros estão preenchidos com matéria luminescente branca Super-LumiNova (de grau A). Na vertente mecânica, o Calibre automático G1747 apresenta 48 horas de reserva de corda e tem certificação Chronofiable graças a uma melhorada absorção dos choques. Um produto tecnicamente sólido e esteticamente apelativo em qualquer uma das suas quatro versões, mas a variante de mostrador prateado com contadores pretos contrastantes foi seguramente a mais fotogénica. Quanto às correias e braceletes, há várias à disposição – desde o couro envelhecido para um tom mais vintage ao cauchu texturado.
Inspiração e ousadia
Mecânica à parte, foi mesmo a configuração arquitectónica da pujante caixa que catapultou instantaneamente o Chronofighter para a fama – com a sua coroa sobredimensionada colocada à esquerda e dotada de uma alavanca optimizadora das funções cronográficas, para além de um botão colocado de modo assimétrico que recoloca o ponteiro a zero. A característica alavanca do cronógrafo assenta em princípios ergonómicos para melhorar a utilização das funções cronográficas através do dedo polegar – porque o polegar é o dedo mais ‘rápido’ da mão: sendo independente dos restantes dedos, reage algumas décimas de segundo mais depressa para o arranque/paragem do contador.
Éric Loth, CEO da marca, recordou-nos a inspiração dupla por trás do surgimento do seu ex-libris: «O Chronofighter original partiu de dois vectores de inspiração: o primeiro, de um antigo relógio militar de aviação utilizado pelos navegadores preso à perna e que acionavam o cronógrafo para medir o tempo entre a largada da bomba e o impacto no alvo; o segundo partiu de um grande cliente em Itália, o senhor Barrozzi de Brescia, que me disse para ousar e fazer algo de diferente daquilo que as 20 marcas da sua loja tinham para oferecer. Esse senhor fez-me abanar um pouco e foi precisamente em Itália que o Chronofighter arrancou para o sucesso.»
A construção da caixa com o famoso gatilho protuberante não foi fácil: «A maior dificuldade técnica que encontrámos na conceção do Chronofighter está ligada à caixa estanque e ao seu sistema complicado de alavanca de arranque e paragem das funções cronográficas. O problema colocou-se principalmente relativamente às peças mais pequenas (alavanca, pontes, coroa), mas a tecnologia existente no fabrico de braceletes e fechos de báscula em aço forneceu-nos a melhor solução. A outra dificuldade teve a ver com a perceção dos utilizadores – é que se trata de um cronógrafo para destros, mas com as funções colocadas à esquerda da caixa!», sublinhou. «Na prática, concebemos o primeiro cronógrafo de pulso da história com uma ação de comando para o polegar e não para o indicador». Um relógio verdadeiramente fora da caixa… num local igualmente místico.
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