Say cheese!

A alta-relojoaria tem tanto de produto como de componente humana. Na Espiral do Tempo tentamos contactar com os ‘players’ do setor. Gostamos de ir ao encontro de quem pensa e de quem faz. Muitas vezes não é fácil, pois os grandes relojoeiros têm tanto de genial, como de peculiar. Gostam do isolamento, não gostam de aparecer e qualquer retrato que lhes consigamos tirar é uma conquista. Aqui ficam histórias de bastidores de alguns retratos que temos feito ao longo dos tempos.

Franck Muller

Cheguei cedíssimo. Procurei os melhores locais, fiz vários testes de exposição com flash e cálculos mentais para determinar onde estaria a melhor luz para os retratos. Montei todo o equipamento e esperei pela hora combinada com o Franck Muller. Passou-se uma hora, passaram-se duas horas e nem sinal do genial relojoeiro. Finalmente, ao longe, vejo-o a caminhar na minha direção, naquele passo de quem não tem pressa alguma. Sentou-se para a entrevista, mas avisou de imediato que nada de fotografias! Nem tirou os óculos de sol!

Franck Muller estava em Portugal para comemorar os 25 anos da marca e pelos vistos não iríamos conseguir tirar-lhe um retrato para ilustrar a entrevista. No decorrer da mesma, eis que se vira para mim e atira:

– Hey, eu conheço-te!

– Sim mestre, conhecemo-nos. Estivemos juntos no Ritz, em Lisboa, aquando do centenário do Sporting, depois, mais tarde, no centro de estágios do Benfica, no Seixal, e, por fim, em casa do empresário Jorge Mendes quando fomos entregar ao Cristiano Ronaldo o primeiro relógio da edição limitada CR7.

Franck Muller
Franck Muller | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Como tantas vezes acontece, o gelo quebrou de imediato. Começaram os sorrisos. Os óculos de sol foram postos de lado e, após alguns minutos a recordar momentos passados, o mestre Franck Muller acedeu a conceder-me uns minutos fotográficos e assim consegui fazer um retrato que quase esteve para não acontecer.

Antoine Preziuso

Estavamos em viagem na Suíça e tínhamos avião de regresso a Lisboa dali a poucas horas. Nesse tempo livre, tínhamos pensado passear por Genebra mas o meu colega Miguel Seabra recebeu um SMS do mestre Antoine Preziuso a convidar-nos para o visitarmos em sua casa! Não se recusa uma oportunidade destas nem que, para tal tivéssemos, de perder o avião. Chamámos um táxi e seguimos para a morada que nos foi dada.

Pouco tempo depois, estávamos nos arredores de Genebra, no campo, a sermos recebidos por um simpático e cordial Antoine. A sua esposa ultimava o almoço, enquanto nós seguimos para o primeiro andar da vivenda onde o relojoeiro tem o seu atelier.

Antoine Preziuso
Antoine Preziuso | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Falámos de relógios eróticos, do famoso Tourbillon des Tourbillons, de algumas aventuras que o mestre Preziuso partilhou durante as suas viagens ao Oriente e dos seus jantares com o ator Nicolas Cage, um confesso admirador da bela relojoaria. Foi uma daquelas tardes em que não nos apetecia dar por terminada a visita, tal foi a simpatia e cordialidade com que fomos recebidos. 

Jean-Marc e Nicolas Wiederrecht

Chegámos a Agenhor numa manhã de sol e confesso que a energia no ar era positiva. Estava à porta de um dos maiores mundos encantados da relojoaria. Dali a breves momentos o brilhante relojoeiro, criador de algumas das mais incríveis complicações para a Hermès, Van Cleef & Arpels ou do movimento cronográfico para a Singer Reimagined, iria receber-nos. Pois não fomos recebidos por um, mas sim por dois Wiederrecht!

Jean Marc Wiederrecht
Jean Marc Wiederrecht | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

«- Eu não digo nada, já estou reformado. Quem comanda agora as operações é o meu filho Nicolas.»

Senti que as palavras de Jean-Marc Wiederrecht estavam carregadas de orgulho. Era a passagem de testemunho e a continuação de um legado. Esse legado não se resume apenas à relojoaria, mas também a uma maneira de estar que não tem paralelo. A fama de Jean-Marc Wiederrecht como uma das pessoas mais simpáticas do mundo relojoeiro terá certamente continuação com Nicolas. A conversa demorou horas e nenhum segredo foi guardado. 

Nicolas Wiederrecht
Nicolas Wiederrecht | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Na despedida, na varanda do primeiro andar, primeiro o pai e depois o filho, acederam com um sorriso a serem fotografados. Por incrível que pareça, as constantes brincadeiras entre os dois foram a maior dificuldade, visto que cada um tentava ‘sabotar’ a seriedade do retrato do outro. 

Outras leituras