EdT 55 — «Não conheço ninguém que goste de relógios e que não goste de automóveis… e vice-versa» — palavras de Rui Catalão enquanto, sentado no seu 3 Wheeler, olhava com entusiasmo para o relógio que o convidámos a descobrir. Mantendo o espírito de dar voz a quem vibra com o melhor da relojoaria de pulso, resolvemos desafiar um dos representantes da Morgan Cars Portugal a conduzir uma das suas espetaculares máquinas com o espetacular Graham Silverstone RS GMT no pulso. Uma experiência fora de série, relatada na primeira pessoa e complementada por um vídeo a não perder.
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Originalmente publicado na edição 55 da Espiral do Tempo, complementado com mais fotos exclusivas.
Por Rui Catalão
O mundo dos relógios e o mundo dos automóveis estão de tal modo ligados que podemos dizer que fazem parte do mesmo universo. Por isso, para mim, o convite da Espiral do Tempo foi simplesmente fantástico. O facto de me terem desafiado a juntar, numa só experiência, as duas máquinas com as quais mais gosto de interagir fez toda a diferença. No fundo, acabou por ser uma oportunidade única para explorar a complexidade de um relógio de pulso apaixonante com aquela que considero ser a mais entusiasmante máquina automóvel.
«Life’s to short for boring cars ‘and watches’»
O óbvio seria dizer que as duas marcas em causa — Graham e Morgan — têm raízes inglesas e que ambas partilham a lógica de craftmanship. Mas considero também que a irreverência com ‘coolness’ assume-se como fundamental. Estas são caraterísticas que, na minha perspetiva, tornam o Silverstone RS Skeleton GMT e o 3 Wheeler peças inesquecíveis. Juntos resultam, assim, numa dupla perfeita.
Na realidade, a minha relação com os relógios é mais emocional do que técnica. Como designer de formação, dou enorme importância à forma como a linguagem visual liga com os acabamentos e ao modo como, graficamente, todos os elementos mecânicos se conjugam para criar uma peça verdadeiramente visual e que nos prenda. Esta é uma relação parecida com a que tenho com os automóveis, muito apoiada por um lema bastante britânico: «life’s to short for boring cars». Foi assim que me apaixonei pelo Graham que me convidaram a usar, com todos os seus apontamentos visuais.
Graham Silverstone RS GMT
À primeira vista, o layout do Silverstone RS GMT da Graham seduziu-me de imediato. O mostrador esqueletizado, que permite ver parte do mecanismo, mas também, de forma discreta, o anel com os números de indicação da data, liga especialmente bem com o carro, porque neste também se consegue ver parte do motor. Em ambos, no relógio e no carro, conseguimos ter acesso às suas componentes mecânicas, ao seu coração mecânico, o que é extraordinário. Depois, destaco, sem dúvida, os apontamentos vermelhos que combinam na perfeição com o tom dos interiores do 3 Wheeler. Refiro-me, assim, ao fabuloso anel texturado de alumínio, que se encontra entre a luneta e a caixa em aço do relógio, aos vários ponteiros que sobressaem claramente do mostrador e ao botão do cronógrafo flyback, na posição das 4 horas.
A este propósito, menciono que o botão flyback é aquilo a que chamo de botão fantástico. Quem faz competição em ralis de automóveis clássicos, como é o meu caso, sabe que tem sempre contas para fazer, tem médias para achar e o flyback permite esse controlo imediato. No Graham Silverstone RS, é extraordinário ver a precisão de resposta. Mecanicamente impecável, é enorme a rapidez com que atua. Neste caso, não é preciso pressionar o botão três vezes, como é mais habitual (stop, reset, start). Em vez disso, basta pressionar uma vez e o ponteiro regressa de imediato à posição zero. Um descanso para quem necessita de ações imediatas em situações de competição. Quando a Graham aplicou esta função a este modelo, como é óbvio, estaria a pensar em competições automóveis. Mas, tendo em conta o visual global do relógio, não consigo deixar de pensar no meu mundo mais específico e remeto logo para competições de automóveis clássicos, como o Mille Miglia, por exemplo. Além disso, a esta função une-se ainda a escala taquimétrica num anel na periferia do mostrador e a luneta preta com números e triângulos, em bege, que contrastam com o fundo preto e que contribuem para um toque muito gentleman driver, principalmente, tendo em conta que condizem com a espetacular correia. Mas além das funções assumidamente ligadas ao desporto automóvel, destaco ainda a indicação de um segundo fuso horário, muito útil para uma pessoa que, como eu, tende a viajar com frequência, e, às 6 horas, a janela da data com dimensões consideráveis que nos permite saber o dia do mês em que nos encontramos. No seu todo, falamos de um cocktail de pulso explosivo que não só se destaca pelo seu visual técnico e clássico, como também reúne funções práticas e utilitárias, no mundo em que me movo.
A surpresa da correia
Enquanto designer, para mim, a excelência do design, o nível de acabamentos e a atenção aos detalhes têm sempre muito valor. Neste sentido, há pormenores deliciosos no Silverstone RS GMT que fazem mesmo a diferença, como a correia em pele que, segundo a indicação que me deram, foi concebida artesanalmente de modo a estar preparada para resistir às mais diversas situações de condução e não só. E, de facto, a correia também me lembra os filmes relativos ao processo de manufatura dos automóveis Morgan e à seleção da melhor pele que é usada nos assentos. A título de curiosidade, saliento que os melhores lotes de peles se destinam à indústria automóvel; e, no tal filme da Morgan, vê-se a preocupação dos fabricantes a fazer os assentos, a técnica que utilizam, o processo de escolha das peles, entre outros aspetos. Por isso, a correia deste relógio foi, sem dúvida, um dos elementos que mais me seduziu. Além de ser acolchoada, o que associo logo ao efeito acolchoado do 3 Wheeler, surpreende pelo nível de qualidade da pele e perfeição de conceção. Sem esquecer o conforto que possibilita no pulso — bastou um simples ajuste, através do fecho de báscula, e assentou na perfeição.
Emoções à flor da pele
Em conclusão, achei este um casamento perfeito. O Graham Silverstone RS GMT revelou-se uma máquina de emoções aos mais diversos níveis. Se ao vê-lo fiquei fascinado, ao usá-lo fiquei convencido. A verdade é que, depois de pôr o relógio no pulso, comecei num exercício viciante de busca de relações possíveis entre ambas as máquinas que tinha em mãos. Não me limitei a experimentar o relógio. Usei-o no pulso enquanto parceiro de condução. E gostei dessa parceria. Senti-me muito confortável, consegui ler perfeitamente as horas, mesmo perante a variedade de elementos que oferece, consegui operar sem problemas o cronógrafo flyback e distinguir claramente o segundo fuso horário — o triângulo é perfeitamente legível, em contraste com o tom escuro do mostrador.
Por fim, reforço a preocupação estética que remete de imediato para o mundo dos automóveis desportivos, que ainda vive de forma intensa a construção verdadeiramente artesanal. Na indústria automóvel, já não são muitas as marcas que ‘usam as mãos’ no processo de construção de um carro, sendo a Morgan uma das poucas a nível mundial que ainda assume este papel. E, neste caso, mais uma vez se pode fazer a ponte com o mundo da relojoaria, tendo em conta que o aspeto de manufatura continua a fazer toda a diferença.
Se continuássemos a acelerar mais a fundo nesta relação entre o relógio e o carro, veríamos, certamente, que ambos estão ainda mais ligados do que imaginamos.
De qualquer forma, em última análise, estamos perante duas máquinas extraordinárias de espírito inglês, diferentes, sem dúvida, mas igualmente inesquecíveis.
Características técnicas
Graham
Silverstone RS GMT
Edição limitada a 250 exemplares.
Referência/ 2STDC.B08A.L119F
Movimento/ Mecânico de corda automática, esqueletizado. Calibre G1721, 48h de reserva de corda, 28.800 alt/h, 28 rubis.
Funções/ Horas, minutos, segundos, grande data, cronógrafo com função flyback, escala taquimétrica e segundo fuso horário.
Caixa Ø 46 mm/ Aço, luneta em cerâmica preta, anel em alumínio vermelho com ‘clous de paris‘ por baixo da luneta, vidro e fundo em cristal de safira com tratamento antirreflexo, estanque até 100 m.
Bracelete/ Pele bege alcochoado integrado com pontos bege. Fecho de báscula em aço.
Preço/ € 8.760
Galeria de imagens
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Mais informações no site oficial da Graham.
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