Edição impressa | Nuno Sá nasceu em Montreal, Canadá, mas vive nos Açores. Formou-se em Direito, mas descobriu na fotografia subaquática a sua verdadeira paixão. Confessa que os relógios, para ele, estavam de lado há uns tempos, mas depois de há um ano ter voltado a usar relógio para a prática de mergulho e desde que recentemente se viu com um Oris, a perspetiva começa a ser outra. Porque, como o percurso de Nuno Sá o mostra, nunca é tarde para descobrir o que nos move. E nunca é tarde para redescobrir o prazer de usar um relógio no pulso. Passámos uns dias com o fotógrafo subaquático português e o seu Aquis Depth Gauge. Nos Açores, claro.
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Entrevista completa que complementa o Test Drive publicado no número 56 da Espiral do Tempo (edição outono 2016)
Perguntas por: Cesarina Sousa e Hubert de Haro
Fale-nos do seu percurso enquanto fotógrafo.
Eu formei-me em Direito, mas comecei a mergulhar no primeiro ano do curso. Logo no início fiquei cativadíssimo pela vida subaquática, apesar de ter sido em Sesimbra — em Sesimbra ainda não havia uma reserva marinha, pelo que não se via grande coisa. Mas toda aquela questão de estar debaixo de água, e com a influência dos filmes do Cousteau, fiquei logo cativadíssimo pelo mar. Depois, ao longo do curso de Direito, foi ficando sempre uma sementezinha na minha cabeça; fui-me apercebendo de que cada vez pensava mais no mar, em viajar pelo mundo e em passar por experiências fantásticas e cada vez menos em exercer direito. Então, tirei um ano de férias antes de enveredar por uma carreira, tendo em conta que ainda não sabia exatamente qual iria ser. Fui viajar pelo mundo todo para mergulhar — Nova Zelândia, Tailândia, Austrália e por aí fora. Mas, curiosamente, o primeiro sítio onde tinha mergulhado depois do curso de mergulho tinha sido os Açores e, quando estávamos a meio dessas viagens — a minha mulher já estava um pouco farta de viajar — pensei que, realmente, os Açores era aquele sítio onde parecia que estava tudo por descobrir. Parecia que quando uma pessoa estava no mar aquilo estava em estado selvagem e podia aparecer qualquer coisa…
E isso foi em que altura?
Isto foi em 2001. Então resolvemos vir aos Açores, dentro desse espírito de viagem, mas já com ideia de que talvez pudéssemos viver por cá. Um mês depois de cá estar, já tinha trabalho numa empresa de observação de cetáceos e entrei no curso de biologia marinha, em Ponta Delgada. Comecei a passar por momentos fantásticos e comprei logo uma máquina compacta. Começou assim o bicho da fotografia — mas mais para mostrar à família e amigos a experiência incrível pela qual estava a passar, todas aquelas aventuras.
Então, nessa altura, já fazia fotografia subaquática…
Nessa altura, já fazia fotografia subaquática: a máquina que tinha era estanque, o digital tinha aparecido há muito pouco tempo e a minha era uma câmara de três milhões de pixels — já era uma grande câmara na altura (hoje, o I-Phone tem bastante mais!) — de maneira que começou com essa coisa de registar momentos para mostrar à família. E, depois, à medida que ia todos os dias para o mar, o bicho da fotografia começou a tornar-se um vício. Já só pensava em ir ver as baleias para conseguir imagens. E isso manteve-se durante alguns anos. Estive talvez quatro anos no Wale Watching e a estudar biologia marinha; entretanto também comecei a trabalhar no centro de mergulho e fui sempre investindo o ordenado numa lente um pouco melhor, num cartão mais rápido… Depois comecei a publicar uns postais, fui convidado para fazer um livro — o meu primeiro livro sobre baleias e golfinhos — e, em 2007, estava a ler o Açoriano Oriental, e descubro uma notícia na qual se falava de um fotógrafo australiano que tinha sido premiado no maior concurso de fotografia selvagem com uma imagem tirada nos Açores — uma baleia. Perante aquilo, concorri no ano seguinte e fui premiado. Mas tudo isto sem fazer ideia de que era um concurso muito concorrido, com 40 ou 50 anos de história, e que nunca nenhum português tinha sido premiado. Nessa altura, esse prémio trouxe-me bastante visibilidade. Achei, então, que se quisesse mesmo enveredar pela fotografia como carreira, estava ali a minha oportunidade. Por coincidência, no mesmo mês, fiz o meu primeiro artigo na National Geographic Portugal — o que acabava também por ser uma espécie de sonho — e depois basicamente decidi tornar-me fotógrafo subaquático a tempo inteiro.
Mas não tinha qualquer exemplo ou qualquer ideia de como o fazer. Falei com alguns fotógrafos conhecidos a pedir alguns conselhos. Por acaso, enviei um e-mail a um fotógrafo da National Geographic internacional que me disse: «tu vives num sítio com a maior riqueza e biodiversidade do mundo e com tudo por descobrir. Portanto, o que tens de fazer é mostrar isso aos portugueses e cativar os portugueses. Há tanto por descobrir nos Açores que tu tens de te concentrar nisto.» E, realmente, o artigo que fiz na National Geographic era sobre o tubarão baleia, o maior peixe do mundo, um peixe que nunca ninguém tinha fotografado nos Açores. Esta poderia ser uma grande oportunidade. Curiosamente, no mês seguinte, estava numa viagem durante a qual estava a tentar fotografar baleias, e, no meio dessas baleias, vi uma barbatana que reconheci como sendo uma barbatana de um tubarão frade. Antes, eu tinha estado uma semana na Escócia — o melhor sítio para fotografar tubarões frade, — e nunca consegui a fotografia que queria, que era uma fotografia com um tubarão frade de boca aberta a uns centímetros de mim. Por isso, meti-me na água e esse tubarão andou à minha volta durante uma hora. Trata-se de o segundo maior peixe do mundo. Foi a primeira vez que alguém fotografou um tubarão frade nos Açores. Então pensei: «se em dois ou três meses conseguiste fotografar os dois maiores peixes do mundo e nunca o tinhas feito, este mar deve ter uma imensidão de segredos por descobrir.» Desde então, já publiquei mais de uma dezena de artigos na National Geographic e sempre coisas bastante fáceis e óbvias.
O presente passa mais pelas filmagens do que pela fotografia o que te permite trazer mais competências à tua especialização açoriana…
O vídeo acabou por vir num encaminhamento do que eu fazia na fotografia. Na fotografia sempre tentei promover ao máximo os Açores e através da promoção, tentar a sensibilização ambiental e tentar envolver-me ao máximo em tentar criar áreas marinhas protegidas, envolver-me ao máximo em tentar sensibilizar as pessoas para o facto de que realmente o arquipélago dos Açores é um sítio único a nível mundial e de que temos de protegê-lo. Somos tão privilegiados em viver aqui como as pessoas que vivem nas Galápagos. Acabei por ganhar um nome grande nos Açores e quando enveredei por este caminho comecei a fazer vídeo também. Algumas produtoras vinham cá e sabiam que eu estava a trabalhar com aquelas espécies há já alguns anos e que me poderiam contratar. Mal me meti no vídeo comecei a ter muita procura. Acabei por fazer um investimento grande em vídeo, comprar uma câmara muito avançada e comecei a filmar. Não foi propriamente uma escolha. A procura do vídeo é muito maior do que a fotografia porque o mercado da fotografia é muito competitivo. Neste momento o vídeo é mais o que paga as contas e a fotografia é mais um hobbie, o que eu faço para me divertir.
Costuma usar relógios de pulso no seu dia-a-dia?
Há muito tempo que não usava um relógio de pulso, confesso que perdi o hábito há vários anos — não sei exatamente porquê.
Mas, na altura, usava relógios mecânicos?
O último relógio que tive era mecânico, mas não me recordo da marca — já lá vão cerca de 15 anos. Gostava bastante do relógio, mas depois partiu-se a bracelete, deixei de o usar e o hábito caiu por terra. Mas confesso que, desde que comecei a usar relógio — comecei a usar relógio há cerca de um ano por causa do mergulho (um Suunto), já posso dizer outra coisa. Hoje em dia, os relógios de mergulho têm toda uma tecnologia de computador metida num formato de relógio, e aí só regressei ao relógio de pulso por causa do mergulho. Se for para um sítio em que sei que não vou mergulhar, tendo a tirar, mas em 90% do tempo estou com um relógio no pulso.
O formato de pulso dá-te jeito, então.
Sim, porque a maior parte dos computadores de mergulho são volumosos, e uma pessoa tem de se lembrar de pôr e tirar, guardar em algum lado e tudo mais. O formato de pulso é fantástico, porque mesmo que uma pessoa não tenha intenção de mergulhar, ou se estiver a fazer apneia e depois tiver intenção de fazer mergulho de garrafa, já não há necessidade de ir buscar o computador. De maneira que comecei a usar relógio outra vez, porque, no fundo, trata-se de um computador de mergulho em formato de relógio. E o hábito lá voltou. Agora, o hábito de utilizar um relógio mecânico, nomeadamente com função única das horas — que não é o caso deste Aquis Depth Gauge Chronograph —, já o tinha perdido há muito e agora estou a voltar a ganhar. E, depois, também, sinceramente muito por causa da Espiral do Tempo, hoje em dia existe uma cultura e um misticismo ligado aos relógios que é muito interessante.
Na sua perspetiva, qual a importância do relógio no mergulho e qual a importância da sua fiabilidade no contexto das suas atividades?
Hoje em dia somos completamente dependentes de computadores de mergulho. 100% porque a maior parte de nós aprende a parte teórica de profundidades, de tempos de fundo, de paragens de segurança, de patamares descompressivos, mas depois temos um computador no pulso que nos diz tudo. É como quando nos habituamos a fazer as contas no telemóvel: quando temos de fazer uma conta de dividir e já não nos lembramos porque nos habituámos ao mais fácil; o nosso cérebro torna-se mais lento. Mas o certo é que se temos uma avaria no computador de mergulho, temos de ter uma maneira de fazer cálculos e de medir tempo. Quando tirei o curso de mergulho, ainda mergulhava com uma tabela no bolso e ia controlando os metros de profundidade. Normalmente usava-se o relógio e pensava-se «posso ficar não sei quantos minutos; ou daqui a não sei quantos minutos tenho de subir». Hoje em dia estamos tão tecnologicamente dependentes que se tivermos uma avaria no computador — e não é assim tão raro, pois já tive quatro computadores que avariaram —, temos de ter uma maneira de, com os nossos conhecimentos e com o apoio de um relógio, poder sair desta situação. De conseguir determinar o tempo ou calcular o momento em que terei de fazer uma paragem de segurança, por exemplo.
Para si, como mergulhador, a função mais importante num relógio debaixo de água é o tempo…
Claramente. Embora, na minha perspetiva, seja muito importante que um relógio destes tenha um profundímetro integrado. Imaginemos que estamos a fazer um mergulho aos 30/40 metros, um mergulho com tempo limitado. Se um computador avariar na descida (como mencionei), já não temos nenhuma maneira de saber a que profundidade vamos. Se não soubermos a que profundidade é que estamos também não podemos fazer cálculos de descompressão ou de quanto tempo é que podemos ficar no fundo ou fazer paragens de segurança. A maior parte das pessoas tem manómetros, mas o computador é integrado. A única forma de conseguires sair de uma situação deste género é com profundímetro integrado na mesma ferramenta ou teres um profundímetro e um relógio.
Quais os motivos que o levaram a escolher em específico este relógio de mergulho?
Eu olho para este relógio e é um relógio 100% para mergulhador — tanto pelas cores, como pela robustez. É um relógio que, se o vir no pulso de alguém, me leva realmente a pensar que aquela pessoa deverá ser certamente mergulhador. Este Oris Aquis Depth Gauge Chronograph tem um aspeto de explorador, mas com as cores — preto e amarelo — que são também muito ligadas ao mergulho, ao Jacques Cousteau e a tantas outras coisas deste mundo. Acho que com esta bracelete amarela — [porque o relógio faz-se acompanhar de uma alternativa preta] — transmite a ideia de mergulho e confesso que, desde que o tenho, fiquei com uma curiosidade louca de experimentar o profundímetro. Experimentei, inclusive lado a lado com o do dive master que me acompanha. Comparámos os dois relógios e ambos marcavam exatamente a mesma profundidade. O profundímetro funcionou muito bem, sem qualquer dúvida.
Como tem sido a performance deste relógio? Legibilidade debaixo de água, conforto, dimensão…
O cronógrafo apresenta uma excelente legibilidade debaixo de água e revelou-se muito prático e de fácil utilização. É claramente o relógio indicado para quem gosta de relógios volumosos. É o meu caso. Gosto de um relógio robusto e volumoso, de maneira que gosto muito.
Três pontos positivos e três pontos a melhorar.
Acima de tudo, o design. Gosto muito do design. A robustez e, acima de tudo, o facto de, parece-me, ter havido um cuidado incrível na construção do mesmo. Ter um relógio que está testado até aos 500 metros é uma coisa de loucos. O recorde do mundo em profundidade são 300 e tal metros, pelo que, basicamente, dá para qualquer mergulhador do mundo. É certo que 99% de nós não vai precisar nem de metade disso, mas o facto de termos uma máquina capaz de aguentar tais profundidades transmite imensa segurança. Quanto a pontos a melhorar, nada me ocorre.
Experimentou fotografar o Oris Aquis Depth Gauge em contexto aquático. É uma boa musa inspiradora?
Achei muito interessante colocar o Oris em meio aquático e tentar transmitir por imagem aquilo que o relógio é. Eu acho que este relógio transmite visualmente tudo aquilo que é. Um relógio muito robusto e com funcionalidades e um design de mergulhador. De maneira que foi muito interessante, sinceramente, levá-lo para a água e tentar transmitir isso mesmo, fora do pulso, como se ele fizesse parte do elemento. Basicamente, a fotografia que eu tentei fazer foi com os raios de luz a tentar transmitir profundidade, porque o relógio vai até grandes profundidades, e a envolvência na vida marinha, por estar dentro do meio.
Recomenda este Oris para a prática de mergulho?
Sim, sem dúvida. Acho que tem todas as funcionalidades que um relógio para mergulhador deve ter.
Se o relógio fosse um animal subaquático, que animal seria?
Um tubarão-martelo, porque é um animal possante e robusto, mas elegante. É um animal que se vê que foi evoluindo de maneira diferente na natureza.
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